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Sitra Achra

Da Relação do Diabo com a Ciência (e outros desdobramentos)

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“There is no knowledge that is not power.” – Ralph Waldo Emerson

Desde o fruto proibido no Jardim do Éden, passando pelos hereges medievais – que foram, sem sombra de dúvida, grandes magos – até os cientistas de hoje que brincam de deus e continuam sendo censurados por algumas religiões retrógradas, a figura do Diabo sempre esteve associada à ciência. Mas o que significa esta palavra, ciência? E por que ela incomoda tanto alguns? Quando lemos ou ouvimos esta palavra, geralmente nos vem à cabeça imagens de ultra-modernos laboratórios hi-tech e homens de óculos trajando jalecos brancos que falam em termos técnicos simplesmente incompreensíveis para a maioria de nós, simples mortais. Ora, e que diabos o Diabo pode ter a ver com isto, certo? Afinal, cientistas sequer acreditam na existência dele – nem eu, mas caso ele exista, com certeza este é seu maior trunfo.

Peço ao leitor que desfaça-se do conceito de ciência acima exposto. Ciência, em uma palavra, significa saber (seja lá o que for). Não à toa se diz “Você tem ciência disto?”, “Ele tinha ciência daquilo?”, etc. Pois bem, posto isto, não é nenhuma novidade que para as religiões alienadoras, quanto menos seus seguidores souberem, melhor. Elas desejam o monopólio do conhecimento, do saber. Na verdade, ao contrário do que comumente se pensa, elas não têm absolutamente nada contra a ciência em si, pois é justamente ela a fonte de seu poder. Ou seja, por incrível que pareça, elas adoram a ciência. Quanto mais ciência para elas, melhor; literalmente. Pois, obviamente, quanto mais ciência tiverem, mais poder terão. Elas são contra, isto sim, a disseminação da ciência; pois isto, inevitavelmente, tornaria todos iguais em poder. Ciência é o oposto de ignorância, por isso as religiões a repudiam tanto. E a ignorância, evidentemente, é o que lhes confere domínio sobre as massas. Prometeu, a Serpente do Éden grega, por assim dizer, roubou o fogo – uma clara alegoria para iluminação – dos deuses para dá-lo à humanidade, para que nos tornássemos iguais aos deuses, deuses também. A Serpente não estava mentindo quando prometeu isto a Adão e Eva se saboreassem a maçã. Tornamo-nos deuses, realmente. Entretanto, como um deus não vive à sombra de outro, saímos do Éden por livre e espontânea vontade, para erigir nosso próprio reino aqui na Terra. “É melhor reinar no Inferno do que servir no Paraíso”. Esta clássica citação de Paraíso Perdido, de John Milton, é geralmente atribuída ao anjo rebelde Lúcifer, ou Moloch/Mal’ak*; mas não é 666 o número do Homem? E o homem é a única causa e causador de todo mal existente sobre a face da Terra. “Woe to you, Oh Earth and Sea, for the Devil sends the beast with wrath, because he knows the time is short.” Talvez este famoso trecho do Apocalipse não se refira aos habitantes da Terra e do mar, como comumente se pensa, mas sim à Terra e ao mar propriamente ditos, literalmente. Afinal, o homem têm destruído sua própria casa, que é este planeta. É curioso observar que esta destruição iniciou-se com a Revolução Industrial justamente no final do último milênio, período em que nos aproximamos de um novo tempo, segundo alguns. Todas as peças parecem se encaixar de uma estranha e surpreendente forma: a Besta (o Homem) foi enviada à Terra pelo Diabo (a Serpente do Éden) como que para operar algum tipo de transformação, ainda que inconsciente e naturalmente como o é o lento processo de transformação da Terra por nós causado.

Ironicamente, quem foi “crucificado” e sofreu por nós não foi Jesus, mas o Diabo. Pois tanto a Serpente do Éden como Prometeu, nossos verdadeiros salvadores, redentores e libertadores, foram devida e severamente punidos por este ato de altruísmo. Eles são os mártires do Caminho da Mão Esquerda. Quando Adão e Eva, surpresos e envergonhados, vislumbraram seus órgãos sexuais, entenderam por que a Serpente havia lhes dito que tornariam-se iguais a deus. Até então, pensavam eles que somente deus tinha o poder de criar um ser humano. E aqui cabe a pergunta: Se temos o poder de criar vidas, se o homem é capaz até mesmo disto, será que existe alguma coisa que não sejamos capazes de fazer? Pois, penso eu que não exista nada mais grandioso e prodigioso do que a capacidade de criar – e destruir – vidas ao seu bel-prazer. Não é exatamente este um dos maiores, se não O maior atributo dos deuses? Não há deus senão o homem, e a Terra é o seu Reino.

A ignorância de Adão e Eva acerca da própria genitália é também uma metáfora que nos remete ao auto-conhecimento e à ignorância do próprio poder; o potencial latente intrínseco a nós. O Diabo impele o homem a saber, a descobrir a verdade abrindo a porta proibida; portanto, como podem chamá-lo e acusá-lo de ser “o pai da mentira”? Deus e suas religiões, é claro, preferem que o homem permaneça nas trevas de sua ignorância, com medo do que pode haver por detrás da porta, temendo o que pode acontecer se abrí-la, receioso do que pode lá encontrar. Mas por que desejam tanto nossa ignorância? Porque conhecimento é poder. Para poder fazer qualquer coisa, você precisa primeiro saber como fazê-la; então você pode fazê-la se quiser. Exemplo: para PODER ler, você precisa primeiro SABER ler. E além disso, conhecimento sobre o que alguém prefere esconder naturalmente lhe confere poder sobre a pessoa em questão. E quem tem poder geralmente não quer que outros também tenham, pois isto acabaria com o domínio sobre os outros. Ciência = poder. Obliteração de ciência é obliteração de poder.

Mas, voltando à porta proibida, o Caminho da Mão Esquerda é um misto de coragem, ousadia e curiosidade infantil; a vontade de SABER posta acima de tudo, uma busca desenfreada pela verdade, a busca pelo conhecimento não importando quão alto seja o preço a se pagar por ele. E o Caminho da Mão Direita, é lógico, consiste em obediência e medo, os pilares que sustentam a ignorância.

Até onde você está disposto a ir para descobrir a verdade?

Segurança e liberdade são opostos. Quanto mais você aperta o cinto de segurança, menor liberdade de movimento têm. O animal enjaulado é o mais seguro de todos, e não pensem que ele lamenta por estar privado de sua liberdade – isto só podem fazer aqueles que um dia já foram livres. Aqueles que já nascem enjaulados, inocentemente pensam que a pequena jaula que habitam é o universo todo, porque ela é tudo o que eles vêem e conhecem. Eles não correm nenhum risco. O preço da segurança é a sua liberdade, e o preço da liberdade… a sua segurança. Cães usam coleira e são fiéis ao dono; gatos são livres e pisam em lugares onde cães são – literalmente – incapazes de chegar. Aqueles que estão lá embaixo vivem nos alertando sobre o dia em que cairemos e morreremos, punidos por nossa audácia. Embora todos nós saibamos que o Juízo Final e o Inferno com seu lago de fogo ardente sejam apenas blefes em que nem eles mesmos acreditam mais, este ainda seria um preço bem baixo a se pagar por esta bela vista. Nós vemos o que eles jamais verão. Pois eles não são covardes, são simplesmente incapazes. Ou você já viu um cão caminhando sobre um telhado? E aquele que não tem asas não pode voar.

Aqui de cima do nosso telhado, nós enxergamos mais e mais longe do que eles. Os gatos não têm donos; somos donos de nós mesmos. Entretanto, sobre ver mais do que os outros, aqui vai uma palavra de advertência: Não faça alarde sobre o que você enxerga; não fale com os outros sobre o que eles são incapazes de ver por natureza. Isto, é claro, a menos que pretenda ser taxado de louco. Num mundo feito de cegos, aqueles que enxergam seriam taxados de loucos. “(…) não discuta, não convertas; não fales demais!” – O Livro da Lei. Não almeja libertar ninguém, porque ninguém pode ser liberto senão por si mesmo. Tentar convencer os outros é típico dos cães; gatos são egoístas e só se preocupam consigo mesmos; não ligam se você está numa prisão e acorrentado sem saber. “Sim, são verdadeiros os boatos de que acreditamos no Cristo. Contudo, nosso Cristo não está morto na Cruz. Após ter morrido, ressuscitado e percebido que seus esforços pelos cães foram infrutíferos, ele resolveu sair pela Terra espalhando sabedoria apenas àqueles que tem ouvidos para ouvir. Tente ensinar matemática a uma vaca e nos compreenderá. Quer conhecer nosso Cristo? Assista a um filme feito por um dos nossos, Dogville, de Lars von Trier. Nós cultuamos o verdadeiro espírito cristão que é muito diferente desta filosofia imbecil criada por Paulo de Tarso. Queremos o bem da humanidade, evolução, alegria, mas fique certo de que isto nada tem a ver com compaixão, sentimentalismo, passividade e submissão.” – Thelema, uma egrégora hardcore, Frater AD. Sim, é isto mesmo. Diga “foda-se” e dê as costas aos outros, eles são masoquistas submissos mesmo; e não é este um pleno direito deles? O prazer de alguns encontra-se em dominar, o de outros em servir e ser dominado. Irmãos predadores, dominadores, exploradores e vampiros, ouçam-me! Não há por que sentir vergonha ou culpa onde há consentimento, ainda que inconsciente. O sentimento de culpa é típico dos fracos, influenciáveis e suscetíveis às palavras dos que a inculcam. Ao devorar suas presas e alimentar-se, o leão não sente culpa nem remorso, mas prazer! Não há nada que se possa fazer a respeito, pois assim foi determinado pela bela e ao mesmo tempo cruel Mãe Natureza – e cada um tem a sua natureza. Afinal, tu és um lobo ou uma ovelha? Pois os lobos não conhecem a culpa ou pena. Lembrai-vos, a Estrela da Manhã, Cristo, disse: “vós sois deuses”. No final, quando enxergarem a verdade e descobrirem que foram enganados, não digam que não foram avisados! Por isso, apesar de sermos totalmente egoístas, temos nossas consciências tranquilas.

Num primeiro momento, se perguntadas sobre onde prefeririam viver se fossem animais, obviamente a maioria das pessoas preferiria a selva ao zoológico. Bem, acho que a coisa muda de figura quando são lembradas dos predadores e caçadores. Não haverá ninguém para cuidar de você lá fora. “O Senhor é meu Pastor, e nada me faltará”. Estas são palavras mui apropriadas para descrever aqueles que ficam no zoo. Contudo, eu acrescentaria ao final desta popular sentença: “exceto a liberdade”. A respeito disto, a verdade é muito simples e igualmente fácil de compreender: aqueles que tem medo preferem viver no zoológico.

A figura do Diabo sempre esteve associada à ciência… e à Magia também. Na verdade, ao contrário do que a grande maioria pensa, ambas são a mesmíssima coisa; apenas duas palavras diferentes para se referir à mesma coisa. Se crê (ou não) que a Magia permita ao homem realizar os mais espantosos e inacreditáveis prodígios. Ora, pois, não é exatamente isto o que a ciência tem feito? Já somos poderosíssimos deuses se comparados a nossos ancestrais. Saímos das cavernas e ganhamos as estrelas, e o homem ainda usa apenas cerca de 10% de seu cérebro. O que o futuro nos reserva? Somente o tempo dirá. O que é completamente comum para você hoje, seria espantosamente sobrenatural para todos pouco tempo atrás. O impossível de ontem é o comum de hoje; e o impossível de hoje… será o comum de amanhã.

Em qualquer época, sempre existiram homens a frente de seu tempo, detentores de um conhecimento – ou seja, cientes – ainda desconhecido para os demais, desta forma aptos a realizar os mais assombrosos e incompreensíveis feitos. Estes foram chamados de magos, pela capacidade de fazer o inconcebível e “impossível” simplesmente por saber como fazer. Não à toa as palavras inglesas wizard(mago) e wise(sábio) se assemelham. Naturalmente, numa época tão supersticiosa como a Idade das Trevas, poderes tão extraordinários e inacessíveis aos demais só poderiam ser atribuídos a um pacto com o Diabo. Alguns séculos atrás apenas, um simples isqueiro poderia lhe conferir o título de “mago do fogo”; e o que pensariam de um lança-chamas? Provavelmente julgariam seu portador tratar-se dum poderoso demônio saído diretamente das profundezas do Inferno, capaz de metamorfosear-se num ser humano. Aterrise com um helicóptero numa ilha isolada do mundo e seus atrasados habitantes pensarão tratar-se dum ser “sobrenatural”. Para mais divertidos julgamentos e encontros com a tecnologia, recomendo a leitura do livro “Os Sete” de André Vianco, onde vampiros há muito adormecidos se deparam com o mundo moderno, completamente impressionante, estranho e mágico para eles. Eis alguns trechos mui divertidos do supracitado livro: “Carruagens sem cavalos trafegavam por alamedas pavimentadas. Certamente eram levadas pelas mãos de poderosos bruxos, primos de Satã. (…) Na lápide, acima do breve epitáfio, havia cravada a mais bela pintura sobre a qual Manuel já pusera os olhos. Reproduzia um rosto humano com tamanha perfeição que distraíra o vampiro por mais de um minuto.
– Vê. Que pintura mais linda! É verdade que nunca botei os olhos no morto, mas certamente o rosto dele é isso aí. Nunca conheci artista capaz de tão fantástica técnica.
– Realmente é uma pintura impressionante. Os contornos e os traços são convincentes.” Certamente um controle remoto seria visto como uma fabulosa baqueta mágica! Hoje em dia já existem “ferramentas mágicas” capazes de permitir ao homem enxergar através de paredes, praticamente. Isto não é Magia? Talvez não seja para você, mas poucos séculos atrás, seria para todos. A propósito, isto me lembra “Vinte Mil Léguas Submarinas”. Neste clássico de Julio Verne, um colossal submarino é visto como um monstro marinho sobrenatural por estarrecidas tripulações.

A Magia sempre esteve bem na nossa frente. Se fosse preciso definir o que é Magia ou Alquimia com apenas uma palavra, provavelmente a palavra mais apropriada seria TRANSFORMAR – mudar de forma. Não estou falando de transformar príncipes em sapos. Tudo o que você vê à sua volta foi transformado pela poderosa e mágica mão do homem: computadores, prédios, etc. Tudo retirado diretamente das entranhas da Terra, transformando algo aparentemente inútil e sem qualquer valia (chumbo) em algo útil (ouro). Você já parou para pensar em como isso é simplesmente fantástico e fabuloso? Fora do domínio físico, Magia também é moldar a realidade e fazemos isto o tempo todo, inconscientemente ou não. Não há mestre do destino senão você mesmo. Helena Petrovna Blavatsky escreveu que todo homem é um mago, e concordo com ela, embora alguns evidentemente sejam mais poderosos do que outros por possuírem maior conhecimento. O Universo e a vida são como massa de modelar. Não à toa os maçons(obreiros) sempre estiveram associados à Magia, Alquimia, etc. Magia é a manipulação e transformação da matéria, e absolutamente TUDO é matéria, ainda que muito sutil. O homem é o único ser terrestre capaz de manipulá-la e transformá-la, aí explica-se por que o homem é deus. A ciência é, de fato, uma ameaça a deus, pois permite ao homem tornar-se deus. A ciência é a maior arma do Diabo. Foi este o presente com que a Serpente do Éden e Prometeu, O Portador da Luz (Lúcifer), brindaram a humanidade. A clássica definição mágica do “pior homem do mundo” diz que Magia é alterar a realidade conforme a própria vontade. Não é também este um dos maiores atributos dos deuses? Abra seus olhos (e sua mente): nós afetamos a realidade o tempo todo.

Os magos de antigamente eram cientistas… e os cientistas de hoje, são magos. Ou os magos de hoje são cientistas? Bem, não importa. O fato é que tenho que dar razão aos antigos Inquisidores: Sim, ciência é mesmo coisa do Diabo! Pensando bem, até que eles não eram tão burros e ignorantes como pareciam… Desde o início dos tempos, foi preciso desobedecer para chegar à ciência, para chegar ao que está velado. E obediência é tudo o que os escravagistas querem. A ciência rasga o véu sagrado. A ciência é o fruto da tentação e da desobediência. Para chegar à ciência, é preciso pisar onde ninguém jamais pisou, ir além do permitido e conhecido e cruzar a zona proibida. Como diz um clássico do Heavy Metal, “I’ve gone beyond to see the truth”. E quanto mais poder um conhecimento encerra, mais rígida e secretamente guardado ele é.

* A semelhança com Melek Taus, o anjo pavão rei cultuado pelos Yezidis, provavelmente não é mera coincidência. O pavão é um símbolo de orgulho; não à toa existe a expressão “pavonear-se”. E o orgulho, como todos sabemos, foi a causa da queda (voluntária) de outro famoso anjo… Lúcifer, que recusou-se a servir. Orgulho é o verdadeiro pecado original, donde provém todo “mal”, a oposição à autoridade, assim gerando conflito e desarmonia – por isso o trítono era considerado diabólico, e curiosamente ele gera uma sonoridade sinistra mesmo. Por isso se diz que o Demônio é o causador da discórdia e divisão; ele é mesmo o destruidor porque de fato quebra 1 em 2. Como sabiamente dito por Nelson Rodrigues, toda unanimidade é burra. Um Paraíso onde imperem unidade e união só poderia ser habitado por tolos e covardes. Por fim, segundo o livro principal do culto Yezidi, o Al-Jilwah(Revelações), Melek Taus rege a Terra. E quem rege a Terra senão o Homem?

Tudo isso faz-me lembrar de algo, aparentemente insano a princípio, que foi-me dito alguns anos atrás: “O DNA humano é muito semelhante ao dos demônios.” Um pouco de psicologia agora: A Serpente do Éden e a tentação estão dentro de nós, são partes intrínsecas de nossa mente. Não é necessário que qualquer ente externo tente o homem; pois ele tenta a si mesmo. Por exemplo, obviamente não seria necessário que ninguém lhe tentasse a pegar aquela maleta recheada de dinheiro esquecida no banco da praça. Você tentaria a si mesmo, ou parte de sua mente o faria, como queira. A clássica imagem do diabinho está dentro da nossa cabeça, não do lado dela – a humanidade nunca lidou bem com responsabilidade. Quem nos induz à masturbação senão a nossa própria mente povoada de pensamentos e imagens lascivas? Os demônios pervertidos e libidinosos sedentos por sexo estão lá. O homem comum, por condicionamento usualmente varre suas tentações para o porão de sua mente, um mundo inferior (inferno) e escuro onde ardem as chamas dos desejos que o torturam. Um lugar habitado por demônios tentadores, onde eles só se fortalecem e revoltam-se contra quem os prendeu lá embaixo, rugindo pela liberdade. “Hell and fire was spawned to be released”. Como sabiamente escreveu Oscar Wilde em seu mais famoso e satânico romance, a única forma de livrar-se duma tentação é ceder a ela. A única forma de aniquilar por completo o desejo ou refiná-lo é procurar realizar todos os seus desejos, não reprimí-los. Prestem atenção às minhas palavras, místicos seguidores do Caminho da Mão Direita e adeptos das escolas orientais; a ausência de desejo ainda é um desejo. A verdadeira evolução, elevação e refinamento da humanidade se dão pela indulgência, não pela abstinência. Daquele que não tem o que comer não se pode esperar, muito menos exigir, os mais excelsos desejos. A realização do desejo mundano conduz ao desejo elevado. Este é o caminho do refinamento. “(…) refina teu êxtase! (…) Excede! Excede! Luta sempre por mais!” Assim falou Aiwass. E eu vos digo: em verdade, moderação não é sabedoria, mas estagnação. Porque teu objeto de desejo será sempre o mesmo, impedindo-o de alçar vôos mais altos. Esta é a armadilha em que encontra-se aprisionada a humanidade, que ansiosamente aguarda sua dose de ração e com ela se satisfaz, desejando-a novamente e nada mais. Este é o círculo vicioso onde encontrasse aprisionada a humanidade, que nunca sai do mesmo lugar. Abstinência e moderação são os pesados cadeados que impedem a passagem pelos portões da evolução; indulgência e excesso constituem a locomotiva que despedaça os portões por completo.

por Fenix Konstant


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