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por Lilith Ashtart
“Conheça o que quero dizer por esse meio: o que em ti vê e ouve, é o Verbo do Senhor e teu Noûs é o Deus Pai; não são separados um do outro, pois esta união é que é a vida.”
Logo no início do discurso encontramos esta fala de Poimandres sobre o Verbo e a Vida. Somos o Verbo do Deus Pai quando começamos a nos conhecer e a compreender nossa verdadeira essência, o que realmente somos, e não o que aparentamos ser. Isso porque o Deus Pai está em nós, assim como somos parte dEle. Não há separação entre ambos, pois se houver, jamais poderemos conhecer a verdadeira Vida. Necessitamos nos conhecer para poder começar a conhecê-lo, nos unir a Ele em essência, não em palavras. E quando isso acontece, nossos olhos se abrem para a vida.
“Ora, o Noûs, Pai de todos os seres, sendo vida e luz, criou um homem semelhante a ele (…).O homem quis produzir, também, uma obra e o Pai deu-lhe permissão (…). Tendo então aprendido a conhecer sua essência e tendo recebido participação de sua natureza, quis atravessar a periferia dos círculos e conhecer aquele que reina sobre o fogo”.
Mais uma vez é citada a primordial busca do homem: sua própria essência, cujo conhecimento permite a ele governar e construir mundos. Sem este conhecimento ele jamais conseguirá presenciar e viver vislumbres do Pai, já que o Pai é luz e vida; e apenas a sabedoria e o conhecimento de si mesmo permitem que possamos sair da escuridão e do vazio em que estamos, que são fornecidos a nós diariamente através das ideias e conceitos de uma sociedade hipócrita e cega que tenta impor suas mentiras.
Porém, ao conhecer sua essência o homem se eleva entre os demais e não se contenta mais com as migalhas que lhe são oferecidas. Ele eleva seu intelecto e almeja o conhecimento destinado a ele desde o princípio; o conhecimento que se mantém oculto dos olhos carnais e dos homens banais, presos a seus dogmas e fraquezas. Por isso uma das obras destinadas ao homem produzir é a de construir os degraus de sua própria evolução.
“Então o Homem (…) lançou-se através da armadura das esferas e cortando seu envoltório fez mostrar à Natureza de baixo, a bela forma de Deus.”
Quando o homem rompe com as mentiras, com tudo que não faz parte de sua essência; quando ele começa realmente a viver o que é, sem máscaras já que se autoconhece, ele começa a refletir Deus em si, pois ele mesmo cultiva a divindade latente em todos nós. Ele mostra através de si atributos da divindade, pois vive a palavra do Pai. Todos podem perceber, mas poucos compreenderão o que ele realmente se tornou pelo seu autoconhecimento.
“O homem é o único que é duplo, mortal pelo seu corpo, imortal pelo Homem essencial. Ainda que seja imortal, com efeito, (…) sofre as condições dos mortais, submetido como é, ao Destino, por esta razão, assim que se colocou sob a armadura das esferas tornou-se escravo da mesma.”
Todos os homens são mortais, mas apesar de todos poderem alcançar a imortalidade através da descoberta de sua essência, nem todos a alcançaram. A vida é um veículo através da qual o homem pode se elevar, se aperfeiçoar, se aproximar novamente de sua origem para retornar a ela, ao Deus Pai. Mas a vida também pode trazer o contrário: o afastamento, a condição de fraqueza, a destruição negativa do homem. Ela possui todos os aspectos em si, e todos os homens estão submetidos a eles. Depende de cada um fazer suas escolhas, decidir qual caminho seguir e se utilizar da vida (ou não) com o propósito para o qual ela nos foi dada.
“Quanto ao Homem (…) transformou-se em alma e intelecto, a vida transformando-se em alma, a luz em intelecto (…). E aquele que possui o intelecto reconheça-se como imortal e que saiba que a causa da morte é o amor, e que conheça todos os seres.”
Esta passagem nos mostra que ao habitar no corpo, a vida e luz fornecida por nosso Deus Pai se transformou em alma e intelecto no homem, sendo estes que ele então deve conhecer e aprimorar para voltar ao seu mais puro estado original. Quem por isso almejar lutar e conseguir obtê-lo por seus méritos e vontade, se tornará imortal, pois voltará a se unir com a essência do Pai, Aquele que não possui princípio ou fim. Para poder, porém, viver a essência que possuímos é necessária coragem e o amor ao Pai: é necessário sofrer a morte. Apenas através da morte, ou seja, do abandono de tudo que pensávamos ser e não éramos, do que vivíamos e não era nossa vida, das falsas crenças e morais embutidas em nossa mente, é que poderemos renascer para uma nova vida; poderemos viver nosso verdadeiro Eu, nossa essência. E é por amor que almejamos essa morte. E como consequência, além da vida, ganhamos o controle e o conhecimento sobre todos os seres, já que obtemos o mais árduo dos conhecimentos: o de nós mesmos.
“E aquele que reconheceu a si mesmo é o bem eleito entre todos, enquanto que aquele que manteve o corpo repleto do erro do amor, permanece na Obscuridade, errante, sofrendo nos seus sentidos as coisas da morte.”
Eis o que distingue os verdadeiros Filhos dEle dos demais: o conhecimento de si mesmo, adquirido através da dedicação, compromisso, responsabilidade, amor e lealdade à Palavra; pontos chaves para a evolução da alma, para a pureza da Essência que se encontra em nós. Quem nega a luz e a vida que provêm do Deus Pai, permanece vivo porém sofrendo os ordálios da morte, sem jamais receber paz em seus dias. Não há nada além de justiça nisso: todos colhemos o que plantamos… se a semente é podre, ela jamais germinará para colhermos seus frutos.
Aqueles que negam a luz do Deus Pai para permanecerem errantes na Obscuridade jamais encontrarão descanso: permanecerão em seus vícios e fraquezas sendo dominados por estes. Os conformistas, os que preferem se abandonar a uma vida descompromissada, fácil e sem um ideal maior serão consumidos pouco a pouco pela própria vida, pois este é seu “castigo”, sua colheita: o sofrimento de viver… o vazio de não ter um significado para isso, e a morte lenta da alma.
“Porque a fonte de onde procede o corpo individual é a sombria Obscuridade, de onde vem a Natureza úmida, pela qual é constituído no mundo sensível o corpo, onde se abebera a morte.”
A Obscuridade em si não é “má” ou tem de ser negada, sendo considerada inimiga do homem. Desejar permanecer para sempre na Obscuridade sim é um erro. A Obscuridade se encontra no princípio de toda vida humana, assim que nosso corpo se cria no mundo sensível. Se ela não existisse jamais poderíamos nos maravilhar com a luz de nosso Pai. Por isso a Escuridão também é bela e essencial; ela é nossa primeira companheira em nossa jornada… uma companheira que vai se afastando à medida que se vê menos presente no caminho do descobrimento da essência de cada um. Porém, assim como é doce, ela também pode ser cruel com quem jamais a quer abandonar, por sentir-se confortável em seus braços. Sua função é ser oposta à luz para ambas poderem ser pronunciadas, existirem em harmonia. Conhecer apenas a uma é como negar a outra, o que traz o desequilíbrio, a falta de entendimento e consequentemente, o sofrimento e a dor.
“Dizes bem: a luz e a vida, eis o que é o Deus e Pai, de quem nasceu o homem. Se aprenderes então a conhecer-te como sendo feito de luz e vida e que esses são os elementos que te constituem retornarás a vida (…). Que o homem que tem o intelecto reconheça a si mesmo.”
A origem da essência humana é divina. De nosso Pai viemos e à Ele devemos desejar retornar. Ele foi nosso princípio e deverá ser nosso fim, pois se tornar novamente Uno com Ele deve ser nosso maior objetivo. Se sabemos que nossa origem está nEle, que nossa essência é parte de Sua essência, que outro meio melhor para conhece-lo do que através do conhecimento dessa essência divina que se encontra em nós? Só assim, com o aperfeiçoamento do intelecto e da alma, podemos retornar à luz e vida que é nosso Pai.
“Quanto aos insensatos, aos maus, aos viciosos, aos invejosos, aos cuspidos, aos assassinos, aos ímpios, mantenho-me longe deles cedendo lugar ao demônio vingador (…). Também este homem não deixa de encaminhar seu desejo para apetites ilimitados, lutando nas trevas sem que nada o satisfaça e é isso que o tortura e que aumenta sempre a chama que o atormenta.”
Mais uma vez está exemplificado na passagem acima que o pior dos tormentos que está reservado àqueles que não se comprometem a conhecer a si mesmos e à Palavra, é a própria vida. Ela mostra sua face vingadora atormentando cada um de seus dias; fazendo com que a má colheita nela se abrigue, aumentando cada ano mais suas consequências e a intensidade do sentimento de infortúnio e sofrimento que neles se abrigam.
Continua.
Lilith Ashtart é psicóloga, taróloga, escritora, pesquisadora e praticante de ocultismo e LHP. Editora da publicação aperiódica Nox Arcana. Autora do livro Lux Aeterna
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É através do Conhecimento de Si que ocorre o que bem está descrito no Símbolo do Yin/Yang, Puro Equilíbrio. Trevas & Luzes em Completa Harmonia para o Matrimônio Dos Contrários.