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Ayn Rand, a fonte oculta de LaVey

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Se você ainda não a conhece, Ayn Rand é foi uma escritora e filósofa russo-americana que frequentemente despera o amor e o ódio de seus leitores pela força com que se expressa. Seus romances mais famosos, “A Nascente” (1943) e “A Revolta de Atlas” (1957), são tanto obras literárias quanto veículos para sua corrente filosófica chamada Objetivismo, com ênfase no racionalismo, individualismo, o capitalismo selvagem. Rand defendeu um egoísmo racional como virtude e criticou o altruísmo emotivo, tendo uma influência significativa e controversa na literatura, filosofia e política, principalmente na California a partir dos anos 60.

E adivinha quem apareceu na California nos anos 60 divulgando uma religião baseada no egoísmo raciocinado? Pois é, Anton Szandor LaVey. Se essa “coincidência” geográfica e temporal te faz pensar que o pai do satanismo moderno teve contato com a obra de Rand, você está no caminho certo. LaVey é conhecido por ter plagiado o “Livro de Satan” da não menos polêmica obra de Ragnar Redhead, Ragnar Redhead. Também no Livro de Lúcifer vemos clara influência de Nietzsche e Jung e nem uma única nota bibliográfica. Então se por um lado Lavey entra para a vergonhosa lista dos homens que roubaram ideias de mulheres, por outro temos que admitir… ele roubava de todo mundo.

A influência de Rand é obvia para qualquer pessoa familiarizada com o Objetivismo.  Na edição de Junho de 1987 do Scroll of Set, a publicação oficial do Templo de Set, uma organização dissidente da Church of Satan, George C. Smith faz um astuto exame das Nove Declarações Satânicas à luz da obra de Rand, A Revolta de Atlas, mais especificamente no famoso Discurso de Galt.  Observe que a até mesmo a ordem sequencial das Nove Declarações Satânicas segue a ordem dessas citações:

1. Satã representa indulgência ao invés de abstinência!

“Uma doutrina que lhe dá, como ideal, o papel de um animal sacrificial buscando abate nos altares dos outros, está lhe dando a morte como seu padrão. Pela graça da realidade e pela natureza da vida, o homem – todo homem – é um fim em si mesmo. Ele existe por sua própria causa, e a realização de sua própria felicidade é seu propósito moral mais elevado.”

2. Satã representa a vida ao invés ilusões espirituais!

“Minha moralidade, a moralidade da razão, está contida em um único axioma: a existência existe – e em uma única escolha: viver. O resto procede disso.”

3.  Satã representa a sabedoria livre de preconceitos ao invés da auto ilusão hipócrita!

“Honestidade não é um dever social, nem um sacrifício pelo bem dos outros, mas a virtude mais profundamente egoísta que o homem pode praticar: sua recusa em sacrificar a realidade de sua própria existência à consciência iludida dos outros.”

Satã representa bondade para aqueles que a merecem ao invés de amor desperdiçado com ingratos!

“Reter seu desprezo dos vícios dos homens é um ato de falsificação moral, e reter sua admiração de suas virtudes é um ato de peculato moral.”

5. Satã representa vingança ao invés de oferecer a outra face!

“Quando um homem tenta lidar comigo pela força, eu respondo com força.”

6. Satã representa responsabilidade para o responsável ao invés de tempo gasto com vampiros psíquicos!

“Você tem usado o medo como sua arma e tem trazido a morte ao homem como seu castigo por rejeitar sua moralidade. Nós lhe oferecemos a vida como sua recompensa por aceitar a nossa.”

7. Satã representa o homem como qualquer outro animal, às vezes melhor, mas freqüentemente pior do que aqueles que caminham em quatro patas, e que graças ao seu “desenvolvimento intelectual e espiritual divino”  se tornou o animal mais corrupto e cruel de todos!

“A danação é o começo da sua moralidade; a destruição é seu propósito, meio e fim. Seu código começa por condenar o homem como mau, depois exige que ele pratique um bem que define como impossível de praticar. Exige, como sua primeira prova de virtude, que ele aceite sua própria depravação sem prova. Exige que ele comece não com um padrão de valor, mas com um padrão de mal, que é ele mesmo, por meio do qual ele deve então definir o bem; o bem é aquilo que ele não é.”

8. Satã representa todos os assim chamados pecados, pois todos levam à gratificação física, mental e emocional!

“Qual é a natureza da culpa que seus professores chamam de Pecado Original? Quais são os males que o homem adquiriu quando caiu de um estado que eles consideram perfeição? Seu mito declara que ele comeu o fruto da árvore do conhecimento – ele adquiriu uma mente e se tornou um ser racional. Foi o conhecimento do bem e do mal; ele se tornou um ser moral. Ele foi condenado a ganhar seu pão com seu trabalho; ele se tornou um ser produtivo. Ele foi condenado a experimentar desejo; ele adquiriu a capacidade de prazer sexual. Os males pelos quais eles o condenam são razão, moralidade, criatividade, alegria – todos os valores cardeais de sua existência.”

9. Satã é o melhor amigo que a igreja jamais teve, pois é graças a ele que ela se manteve funcionando por todos esses anos!.

“E enquanto ele agora rasteja através dos escombros, tateando cegamente em busca de uma maneira de viver, seus professores lhe oferecem a ajuda de uma moralidade que proclama que ele não encontrará solução e não deve buscar realização na Terra. A existência real, dizem eles, é aquilo que ele não pode perceber, a verdadeira consciência é a faculdade de perceber o inexistente – e se ele é incapaz de entender isso, isso é a prova de que sua existência é má e sua consciência impotente.”

Portanto, aqui estão as primeiras declarações claras e contemporâneas que levaram à glorificação do egoísmo como uma reinvindicação da racionalidade e a primeira denúncia do conceito que mata a vida chamado altruísmo. Eu adimito que talvez essa ultima citação não seja tão parecida assim. Mas é justamente essa a diferença entre Lavey e Rand. Rand era uma racionalista pura e não abria mão disso. LaVey por sua vez defendia que a vida emocional também tem sua importância, e por isso usava a abusava de símbolos religiosos dos quais Rand queria distância. O Livro de Belial e o Livro de Levitã tratam justamente disso e são provavelmente a única criação original de Lavey. Isso é claro, se ele não roubou de outra mulher.

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