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A presente epístola é dirigida a todas as formas de religião, ocultismo, esoterismo e/ou espiritualidade que se denominam “mão esquerda” e propõem um caminho de autoadoração e egocentrismo para alcançar a Iluminação. Eu sei que as escrituras satânicas podem refutar meus argumentos… sim, as escrituras. A religião na prática é outra história. Portanto, me focarei em criticar o Satanismo tal como ele é, e não como pretende ser.
Mas antes de qualquer divagação, quem é o ousado arauto desta contestação? Posso afirmar que fui um dos que andaram pelas sombras. Sim, e com convicção! Não caiam no engano de pensar que todo aquele que contesta o Satanismo seja um mão-direita arrependido. Eu estive, sim, dedicado de corpo e alma (ou apenas corpo, segundo algumas convicções), busquei, estudei, e acima de tudo: compreendi. Compreendi o engano que é colocar uma venda nos olhos e sentar num trono! “Um fraco” podem pensar de mim, pois pensem. Mas saibam que eu vi que não era essa a verdadeira “força” que deveria buscar, aliás, não é esforço nenhum ser um satanista.
Diga-me que é o Satanismo? O caminho do inimigo, “satã” do hebraico shaitan, a via ocultista que nos leva ao caminho do, assim chamado, “mal”. Vamos pensar logicamente agora: se você segue uma filosofia de vida, seja ela de qualquer natureza, você a vê como CORRETA. Ninguém faz o que julga ser errado, por mais que sejam distorcidas as diversas visões acerca do mundo, ninguém faz o que julga, intimamente, errado. Compreendendo certo e errado como implicações mentais, de vontade, desejo e realização, deixando de lado qualquer implicação legal e jurídica. Para um pedófilo, fornicar com garotas de doze anos é bom, é o certo (por mais que saiba que isso é errado legalmente, em sua mente essa vontade está correta). Para um cristão fanático, se açoitar durante as orações é bom, é o certo. Você não verá um vegetariano convicto comendo carne, nem um muçulmano shiita comendo Mc’Donalds. Seguimos nossas convicções, podemos mudá-las adiante, mas enquanto elas duram, nós a seguimos. Logo, se o Satanismo é o caminho seguido pelo INIMIGO, compreendendo a relatividade deste termo, alguém que segue uma filosofia dita “satanista” não pode se julgar um inimigo para si mesmo, pois para ele, ele está certo. Inimigo é o outro! Seu caminho não pode ser chamado, por você mesmo, de caminho do inimigo. Manter “satanismo” como rótulo para suas convicções espirituais é manter o olhar do OUTRO sobre você, prática incoerente tendo em vista o objetivo desta doutrina: se libertar de qualquer amarra social, espiritual, moral e mental. O satanismo chama a si mesmo de vilão, mas para um existir um vilão é necessário um herói, pois um depende da contraposição do outro para existir. Assim como a igreja precisa de Satanás para manter viva sua crença, o Satanismo precisa da Igreja para manter viva a sua. O que seria do Satanismo sem a o Monoteísmo Judaico-Cristão para agrilhoar as pessoas e dar a ele motivo de revolta?
Outra prática deturpada do “satanista” é se julgar o centro do universo. Inflamados por sua egolatria se exaltam como deuses imperfeitos acima de tudo. Porém, compreendendo o Universo tanto micro quanto o macrocosmicamente, uma coisa é certa: não somos o centro de ambos! Se julgar o próprio centro de seu Microcosmo é colocar sua vida em função do seu mesquinho Ego. Se julgar o centro do Macrocosmo… não vou nem tecer comentários sobre tamanha megalomania. Muitos satanistas recorrem a Psicologia Analítica do Cristo (sim, o vejo como um Cristo) C.G. Jung, para explicarem sua posições deturpadas diante do espírito. Falam de arquétipos, sincronicidades, anima e animus et cetera, mas suas palavras não passam de disparates. Nem se dão ao trabalho de, ao menos, ler sobre teoria analítica completamente. Se o fizessem, saberiam que até mesmo para o “psicólogo do ocultismo”, o homem como este se vê (ego) não é o seu próprio centro, o centro da psique é o Self (termo que já caiu nas bocas profanas do exoterismo), sendo o ego, assim como a consciência, inconsciente, e todos outros arquétipos que nos integram, apenas pedaços desta estrutura transcendental que organiza a alma humana. Tentar elevar o Ego ao estado de Self, como muitos assumem ser o caminho da iluminação dentro do satanismo, é mesma coisa que engolir um monte de ar para tentar flutuar! É o caminho do autoengano que tanto apedrejam!
Um dos, passos para atingir o Self é integrar os conteúdos obscuros dentro de nós (Sombra), isso é verdade, mas tal prática não significa viver preso à eles como fazem muitos “mão-esquerdas”, cada vez procurando um buraco mais escuro para se enfiarem, esquecendo que existem muito mais conteúdos espirituais neles a serem trabalhados do que apenas a Sombra.
E quanto a nascer satanista? Juro, que nunca vi tamanho conformismo nem mesmo dentro do “Cristianismo” das massas. Assumir que você é um escolhido de Satã (não importa a visão que se tenha dele) que veio para o mundo já pronto para ser um deus é uma afirmação de uma preguiça espiritual patológica! Ao assumir que se nasce um satanista e em certo ponto de sua vida você se descobre como um, é pegar todo o conhecimento esotérico de autoaprimoramento e jogar na lata de lixo de seu sórdido egocentrismo. É de muita presunção e preguiça afirmar que já nascemos prontos, como naturais predadores. Essa conjectura não passa de um aval para excluir o trabalho espiritual de nossas vidas e continuarmos nossas existências lânguidas e mesquinhas centradas em torno do nosso umbigo.
O caminho ao Self (que tanto falam) é longo, árduo e enganador, e além de tudo: requer humildade e força de vontade para aceitar todas as desilusões que nos serão atiradas à face. Muitas vezes acreditaremos estar vendo a Luz, mas com um olhar mais atento descobriremos que ela não passa de um reflexo de algo ainda maior, e assim continuamos nossa jornada ascendente, mas o satanista vê esse mero reflexo e se regozija bradando aos quatro ventos ter chegado a Iluminação Divina. Iluminação Divina esta que não passa de, simplesmente, nada! O satanista se julga superior por não ter dogmas enclausurando sua mente, não havendo mentiras guiando sua vida, sendo livre para buscar prazer e divina satisfação. Ou seja: um ateu hedonista. Ele é superior por descobrir algo que uma criança pode deduzir, e julga esse feito digno de admiração por coragem e ousadia. Não se aprofundam, depois disso, no estudo esotérico, pois, segundo ele, já despertaram.
Apenas peço que acordem, satanistas, e olhem ao seu redor, vejam a decadência humana e compreenda o porquê dela. Não foram os odiosos dogmas que criaram toda essa degeneração, foi a liberdade da qual agora você se embebeda numa embriaguez “divina”, foi a falsa liberdade da existência carnal sem o elemento espiritual. Praticamente todas as pessoas desse mundo moderno são “satanistas”. Veja, quantas pessoas ao seu redor estão dispostas a puxar seu tapete e quantas estão dispostas a lhe estender a mão. Será que você, de fato, está fora do rebanho? “Os escravos servirão!” É o mote de muitos, mas quem são os escravos? Aqueles mais fracos intelectualmente? O fato de alguém ser intelectualmente inferior dá direito ao satanista de poder manipular essas pessoas, afinal: os escravos servirão. O satanista por ser “mais poderoso” usa os mais fracos para fazer sua vontade. Mas pense, novamente, logicamente: se alguém usa outro, declaradamente inferior, para fazer sua vontade e alcançar seus objetivos, podemos tirar três conclusões: ou o outro não é inferior, afinal está conseguindo realizar os objetivos de alguém superior, ou a vontade não é tão superior quanto se pensa ser, pois está sendo feita por um ser “inferior”, ou AMBOS. Apenas objetivos muito banais (entenda-se materiais) podem ser realizados por terceiros. Outra pessoa pode comprar pão para você, lhe fazer massagem, aumentar seu salário, te dar sexo, et cetera, mas a Luz só é alcançada por si próprio. Obviamente, se alguém diz usar de “escravos” para realizar sua vontade, podemos ter ideia do nível de seus desejos. Usar a força da mente para manipular alguém é tão condenável quanto usar a força bruta. Se é a Lei de Talião que rege suas ações, não seria errado que alguém lhe apontasse uma arma e lhe obrigasse a fazer certas coisas, seria?
O Satanismo, creio eu, deve ser uma passagem, uma porta de entrada, para o mundo do conhecimento esotérico e não algo para se prender durante toda a vida. Do contrário será um empecilho à Alquimia da Alma, privando a psique do processo inicial de calcinação. Durante nossa jornada, várias doutrinas nos serão úteis, cada qual no seu tempo. Ater-se a qualquer uma delas pode ser um engano, afinal, a verdadeira religião está sendo edificada a cada dia de nossas vidas, por nós mesmos (não, isso não é Satanismo!). Espero que estas palavras de fogo possam despertá-lo, se não agora, futuramente, para a realização da Obra Divina.
V.G. O Sacerdote Errante de Religião
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