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Tanto a idéia de pecado quanto de carma funda-se na infusão do sentimento de culpa, que é o grande responsável pela carga perniciosa que acomete a pessoa que agiu “errado”. Ainda mais, quem nutre sentimento de culpa torna-se perfeitamente manipulável por terceiros. É fácil, basta invocar a “consciência” do afligido e o mesmo agirá de modo a readquirir a homeostase anterior, o mesmo estado de tranqüilidade que havia antes que alguém lhe apontasse a suposta falha, para tal – é claro! – cumprindo os desígnios do manipulador. Favorece, assim, o vampirismo psíquico.
É evidente que o satanista não abriga tal sentimento, porque, além de ser fútil, trabalha sempre contra si. Se o satanista percebe que cometeu um verdadeiro erro, simplesmente o corrige, e não irá cometê-lo de novo. Caso contrário, é inútil apoiar um jogo sórdido que não conduz a lugar algum e, ainda por cima, direciona o ser em direção a um rol de problemas gratuitos.
Ambos, carma e pecado, alicerçam-se em recompensas e castigos futuros, tirando a eficácia do presente. Se a pessoa comete um ato “bom” e só vai receber a recompensa no futuro, qual é a vantagem em praticá-lo? Qual é a prova que realmente existirá um futuro nos moldes que as religiões “divinas” enfatizam? Do mesmo modo, em relação a um ato “mau”, qual é a prova da existência de um castigo eterno ou de uma reencarnação expiatória? De fato, quando se posterga a conseqüência de um ato para uma “outra vida”, tira-se totalmente a responsabilidade NESTA vida, onde o castigo realmente poderia ser exemplar e surtir o efeito desejado. Destarte, torna-se cômodo ser “mau”, porque, ao menos religiosamente, não é punível no presente.
Bem e mal, cabe lembrar, são relativos, subjetivos, contudo, já que nadamos dentro do mar da ilusão, algumas detalhes devem ser levados em conta. O entendimento do caráter ilusório da dualidade permite maior liberdade, mas não permissividade. Quem resolve fazer tudo o que deseja, certamente irá pagar um preço, já que a vida não perdoa a estupidez.
A partir daí, é possível entender que há certas regras, dentro da ilusão, que não devem ser quebradas, sob pena de retaliação imediata. Chama-se isto reciprocidade. A reciprocidade trabalha com a fórmula “tratar os outros como gostaria de ser tratado”. Assim, se alguém quer cordialidade, amizade, respeito, busca dar o exemplo em primeiro lugar; caso contrário, que assuma as conseqüências.
As vantagens da reciprocidade são:
- Efeito imediato. Tanto a gentileza quanto a agressividade, ao gerar uma ação recíproca, são imediatos, pois dão satisfação a quem os devolve. No primeiro caso, na retribuição da gentileza, dá-se a continuidade de uma relação, seja de amizade, de amor, de emprego etc. No segundo, pela resolução de um conflito, pois, ainda que saia perdedor, a pessoa não ficará lamentando sua passividade como um covarde.
- Efeito preventivo. A reciprocidade permite a prevenção de inúmeros problemas, pois, se a pessoa está ciente da idêntica retribuição, agirá de forma mais responsável e consciente, contribuindo para um melhor convívio entre as pessoas. Portanto, se a pessoa sabe que dando uma bofetada em alguém levará outra, pensará duas vezes antes de passar à ação.
- Efeito gratificante. Torna-se prazeroso ver pendências resolvidas. Tudo que é deixado por resolver causa inquietação. Se alguém lhe dá um presente e, depois, você dá outro, ambos saem satisfeitos. Da mesma forma, se alguém lhe dá um tapa e você devolve, não ficará se remoendo por não ter retribuído à altura; sairá, sim, satisfeito por ter agido como deveria.
- Efeito geral. Se alguém comete um crime, tendo a grande probabilidade de ser condenado de forma justa, rápida e exemplar, então evitará cometê-lo. Tal contribuirá para uma sociedade com maior qualidade de vida. Apenas um adendo: a sociedade ainda não alcançou este status quo.
- Efeito concreto. Não se delega a um futuro ilusório a aplicação do castigo: este é aplicado no presente, tão logo sejam sanadas quaisquer dúvidas em relação ao criminoso.
A reciprocidade possui uma exceção. Algumas vezes, é necessário esperar o momento adequado para retribuir a ofensa. Astúcia, segundo Ben Caria, “é receber o mal e calar, e dar o golpe na boa oportunidade”. Em outras palavras, aguardar um momento mais satisfatório para devolver o presente na mesma moeda.
Sendo a reciprocidade uma evolução da lex talionis, assenta-se na mesma proporção do mal causado e não apenas imitar a ofensa. Assim, se determinado indivíduo comete um estupro, uma forma de retribuir ao mal causado seria acabar com a vida sexual do mesmo definitivamente. O melhor método é uma injeção na base do pênis, sem necessidade de mutilar o órgão genital. Possui as seguintes vantagens:
- Previne o crime, diante do capitulação da pena exemplar.
- Dá perfeita satisfação à vítima e sua família.
- Castiga-se adequadamente o criminoso, que nunca mais cometerá o mesmo delito.
Aos melindrados que opõem-se a tais medidas, dizendo que violência gera violência, respondo que a sociedade, em si, já é violenta, e discursos intelectualóides não resolvem nada. Um discurso pode ser bonito e ao mesmo tempo imbecil, então é melhor colocá-lo num quadro, pois não funciona. Na vida, são necessários o pragmatismo e a funcionalidade. Cirurgicamente, um câncer se arranca, e o criminoso é um câncer social.
A guerra é uma das maiores aplicações da reciprocidade, já que nenhum país permanece inerte diante de uma agressão não provocada, a não ser em caso de capitulação e, ainda assim, é curial haver resistências, como a francesa na 2a. Guerra Mundial, quando minava os nazistas diante de inúmeras ações terroristas.
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