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Sagrado, Secreto e Sinistro – 666

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Fr.’. Adriano C. Monteiro

O “temível” e suspeito número 666 parece causar muito burburinho quando mencionado em rodinhas de “amigos”, encontros sociais (nem tão sociais assim) e almoços de família (com suas idiossincrasias). As pessoas ignorantes (que ignoram), com base em suas ideias equivocadas oriundas de dogmas enganosos seculares, acreditam piamente que o número seiscentos e sessenta e seis seja satânico, “sujo” e sinistro. Os textos bíblicos disseminaram muitas ideias que seriam motivo de sarcasmo por parte de Satã, se ele realmente existisse como a maioria das pessoas imagina. Se tal número é da besta, besta maior seria o homem, segundo o texto bíblico, pois “(…) calcule o número da besta, pois é o número do homem (…)”. Em essência a espécie humana é animal. De fato, e de modo geral, o homem se apresenta como uma besta humana cuja compreensão parece não ir além de interpretações limitadas e condicionadas. E todo o mal que existe no mundo apenas existe por causa do homem, de maneira direta ou indireta; não há nenhum Diabo nisso tudo.

Mas, sem divagar em teorias conspiracionistas e preconceitos religiosos, o número 666 encerra significações cabalísticas draconianas, ocultistas e psicológicas, o que nada tem a ver com o Diabo ou com o mal do mundo.

O texto bíblico diz que o homem foi criado no sexto dia, o que podemos deduzir que a besta de fato é o homem que em seus primórdios no planeta se comportava como qualquer animal instintivo, impulsivo e sem raciocínio; sua evolução se deu gradativamente ao longo de eras, mas, até então, o homem era simplesmente um animal, uma besta. Mas antes da besta humana aparecer, os animais sempre foram as formas de vida mais antigas e primitivas da Terra, surgiram muito antes da espécie humana bestial, e são, portanto, umas das primordiais manifestações da sabedoria no mundo manifestado. A cristandade substituiu a besta humana pelo dragão como a Grande Besta do mal (como muitos assim entendem).

Por outro lado, seis é o número da esfera do Sol, o que representa em nível humano o Eu Superior em seu aspecto luminoso, a inteligência manifestada, a mente expandida. O Sol e o número seis também podem ser representados pelo hexagrama e pela cruz (um símbolo bastante antigo e pré-cristão), que é desdobrada e desenvolvida a partir do cubo, que é um sólido geométrico de seis lados. O Sol está situado, na Árvore da Vida e da Morte cabalística, nas esferas de Tiphareth/Thagiriron (a Beleza e o Ardente Sol Negro), que é um nível de evolução onde o indivíduo atinge um alto grau de autoconhecimento e autoconsciência. Mas para que a evolução seja completa e a sabedoria seja internalizada é preciso conhecer o lado sinistro do sagrado e secreto Eu Superior (pois nada existe somente com uma face). E esse lado sinistro do Dragão de Sabedoria, do Eu Superior, é expresso pelo número 666 ou 999, já que sua multiplicação e soma finalmente resultam sempre no número noturno da Lua, ou seja, 9. A Lua representa a noite, o oculto, o secreto, o subconsciente e o sinistro (sombrio e “esquerdo” como o aspecto feminino e sexual do universo e da psique humana). Entenda-se que “sinistro” não é aquilo que é maligno, malévolo ou coisa semelhante; sinistro é “esquerdo”, e no contexto prático e metafísico draconiano indica a presença de elementos sexuais, femininos, instintivos e subconscientes (a maior fonte de poder de um iniciado e de um filósofo oculto). Portanto, nada há de maligno e nem tem a ver com qualquer fantasia paranoica do Diabo (pois este não existe). Afinal, nós temos o lado direito e esquerdo de nosso corpo, temos a mão direita e a esquerda, o lado direito e esquerdo do cérebro, etc.; fique só com o lado direto e você verá o quão simétrico, equilibrado, harmonioso e belo você parecerá!


Na prática da filosofia oculta e também do draconismo, 666 é o número da força sinistra do Eu Superior, o número do aspecto sombrio da Inteligência Solar do Daemon individual. Mas é também o número de Sorath, o Espírito do Sol, a força solar agressiva e impetuosa que impulsiona a evolução. Esse número, 666, pode ser extraído do Quadrado Mágico Solar, ou Kamea, que é dividido em 36 partes, ou quadrados menores numerados, cuja soma total é 666, que é o número do próprio nome de Sorath extraído pelo cálculo de suas letras hebraicas. Desse quadrado, para fins práticos, também é extraído o sigilo de Sorath. Sorath é a verdadeira e espiritual Besta da Revelação, a revelação do próprio Eu com seu animalismo (não confundir com animismo) natural, primitivo e intrínseco que se torna autoconsciente; é a revelação do conhecimento com compreensão, da Gnose, e da sabedoria das sombras (o subconsciente e o aspecto feminino, Sofia, Shakti, Shekinah).

O número 36 (3×6, 666) igualmente resulta em 9, a Lua, a consorte do Sol Negro (a Grande Besta, o Dragão de Sabedoria), demonstrando assim o equilíbrio entre as forças duais (como dois pilares) do universo e do ser humano, a união entre o feminino e o masculino, entre as trevas e a luz, entre o subconsciente e o supraconsciente, etc. A Lua é a yoni (vagina) de Shakti e o Sol Negro é o linga (pênis) de Shiva; a união de 999 com 666 que resulta finalmente em 9, a esfera do sexo, não somente o sexo humano, fisiológico e anatômico, mas principalmente o sexo metafísico e cósmico de todas as forças que são unidas para criar algo no universo e na natureza visíveis e invisíveis.

Tal união, como toda união entre forças opostas deveria ser, resulta em uma terceira força que é, no ser humano, o nascimento da autoconsciência e o renascimento do autêntico e completo ser humano em seu alto grau evolutivo, ou seja, o Homo veritas (o humano verdadeiro). As forças opostas não se opõem, mas se unem para criar. E o ser humano verdadeiro autoconsciente, não um mero humanoide autômato, cria a si mesmo a cada etapa evolutiva.

O número 666, portanto, é de fato o número do Homem, do Anjo e da Besta (o Eu Superior, o Dragão) com suas forças em equilíbrio e com a sabedoria das Sombras e da Luz.

Assim, todos têm a escolha de querer ser uma simples besta humana ignorante, simplória e “profana”, ou querer ser a Grande Besta sábia, superior e sagrada, pois o 666 é a verdadeira face sagrada, secreta e sinistra do Ser autoconsciente.

Adriano Camargo Monteiro é escritor de Filosofia Oculta, Draconismo, Mão Esquerda e é estudioso de simbologia e mitologia comparadas. É membro de diversas Ordens e possui diversos livros publicados. Escreve também para a Revista Universo Maçônico, para o Jornal Madras, para o Projeto Morte Súbita, para o Zine Lucifer Luciferax e para blogs pertinentes.

 


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