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Sitra Achra

O poder das Trevas – Satanomicon

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Se alguém retirar todos os astros do universo, só permanece a escuridão. Se você fechar os olhos é a escuridão que você vê. Do mesmo modo, é no interior da terra, no seu breu, que a semente tem tranqüilidade para se desenvolver. É no interior do útero materno, bem escuro, que o feto se desenvolve em segurança. É neste segredo, neste silêncio, neste vazio, nesta escuridão, que as coisas acontecem. Na realidade, a luz só existe para confirmar a existência das trevas.

Se você fecha os olhos, a escuridão está lá. Contudo, ela é mágica. Pouco tempo depois, você começa a perceber umas luzes, algumas formas, pode até ouvir vozes, começa a ocorrer a recriação do seu cosmos interno.

As trevas universais têm recebido inúmeros nomes, dependendo do enfoque. Só para citar alguns:

  • em Qabalah, fala-se no Ain Soph Aur, luz negra ilimitada, de onde surgem todas as emanações
  • em Thelema, menciona-se Nuit, como o imenso negrume criativo do universo, a consciência absoluta
  • em ensaios junguianos, trabalha-se com a Sombra, esta parte reprimida no interior humano, que se traduz num potencial altamente criativo

Na escuridão da noite, ninguém vê a pessoa, ela permanece oculta. Daí o arquétipo da cor negra estar associado à neutralidade, proteção, e não ao mal que os adeptos das religiões divinas sempre lhe atribuíram. Como o verde é a imagem da rica variedade da natureza, vincula-se à idéia do dinheiro. O vermelho é sempre sinal de fogo na mata, logo é usado nas placas sinalizadoras de atenção ou perigo, como o semáforo do trânsito impondo a parada obrigatória do veículo no sinal. Afinal, um incêndio florestal é sempre perigoso, bem como uma batida no trânsito.

Uma planta só nasce, porque as suas raízes estão ocultas dentro do solo, no útero de Gaia, a mãe Terra, à espera do sêmen representado pela chuva. Na realidade, a semente é um óvulo e a chuva, o espermatozóide. É neste segredo, neste útero debaixo da terra, nesta sombra, que ela cresce. Quando a árvore cresce e você colhe os frutos, é também na sombra que vai sentar para comê-lo, e não sob o sol escaldante. A sombra refrigera!

Alguém está com uma meta na mente. Empolgado, conta a todo mundo indiscriminadamente: família, amigos, desconhecidos… Com certeza vai malograr, porque dissipou toda a energia que devia ser guardada através do silêncio. Às vezes, conversar com algumas pessoas que estão no mesmo barco, que podem cooperar, ajuda. Não obstante, este não é o caso na maioria das vezes, então inúmeras interferências ocorrem, bloqueando a realização do objetivo pretendido. O silêncio é substancial, possui uma força enorme e sempre lhe ajuda. O segredo é a sombra que lhe protege. A sombra é a chave. Se você não possui a compulsão de revelá-lo, as chances estarão a seu favor.

O satanista busca guardar segredo. Revelar sua intimidade, projetar suas reações em nada acrescenta e só traz transtornos. Primeiro, porque a grande maioria das pessoas está preocupada com os seus próprios problemas e não se interessa pelos dos outros, a não ser hipocritamente. Em seguida, porque a maioria vai sentir inveja da sua meta e, conseqüentemente, lhe enviar cargas perniciosas. Depois, quando um segredo permanece com a pessoa, o poder é seu; se revelado, o poder passa às mãos dos outros: tudo pode acontecer.

S., uma amiga minha, pelo simples fato de gostar de ler histórias de vampirismo, teve a sua casa cercada por evangélicos armados de cruz, estaca e alho. Fico pensando: Será que eles achavam que se tratava de uma vampira igual às das lendas do Conde Drácula? Portanto, se você é satanista, evite revelar sua condição, a não ser no meio de pessoas muito íntimas, com mente sadia, ou entre os irmãos da nossa doutrina. Se sair por aí como um poseur, arrumará uma miríade de complicações, talvez alguma realmente grave. Os grupos e ordens da via esquerda não se deixam entrevistar facilmente pela imprensa, pois os membros primam pelo anonimato, de forma a preservar a sua vida pessoal, diante de parentes, amigos, vizinhos, colegas de trabalho. Não se esqueça de que a massa é ignara em relação a tais assuntos e, portanto, adversa. Acrescento também que o fanatismo cega até as pessoas mais inteligentes.

Para possuir autocontrole, basta uma vara mágica chamada amor-próprio. O amor-próprio afasta qualquer tipo de compulsão, como os vícios. Nenhum vício pode sobreviver diante do amor-próprio, contudo é difícil tê-lo. Todo o sistema atual se baseia na renúncia de si mesmo. Se você vive rejeitando o seu ser, porque é pecador, então nunca terá amor-próprio e, mesmo que não saiba, sempre trabalhará contra si. Esta é a essência do instinto de tanatus, de que Freud falava, ou seja, do instinto de morte.

Infelizmente, os primeiros padres, associando o pecado ao instituto da confissão, impedia que houvesse qualquer segredo contra a Igreja. Não se pode olvidar que os dogmas religiosos tinham o poder de lei. Na natureza, todos os animais utilizam o segredo, a escuridão, espontaneamente. Nela não há pecados, não há doenças, frutos do stress causado pela sociedade humana. O animal se aceita totalmente.  De que adiantam as virtudes, se seus defeitos estão prontos para lhe engolir num momento de fraqueza? De que adianta uma cidade toda iluminada, se surge um black out e ocorre uma onda de vandalismos e assaltos?

Se você já fez algum tipo de meditação, é na sombra interna, no sossego do seu quarto, que você busca os insights. Ë impossível esta comunhão consigo mesmo sem passar pelo caminho da matéria. Precisa primeiro relaxar o seu corpo, o seu lado terreno, para depois focalizar a sua mente num mantra ou algo similar, tudo em segredo, em silêncio. Se algum ruído externo, como uma conversa, estiver presente, então apenas o seu tempo será gasto.

Imagine um depósito entulhado de lixo. Se você quiser fazer dele a sua morada, dificilmente ficará satisfeito se, antes, não jogar muita coisa fora e depois der uma limpeza em regra neste ambiente. Contudo, se você reparar a sua vida, é bem provável que esteja passando por isto neste momento. Há muito lixo nela e é praticamente impossível retirá-lo ou limpá-lo, mas… por quê? Porque a opinião dos outros já tomou conta de você. Cada ato que você tenta realizar, sempre surgem os apólogos da contradição. Pense bem: a vida é sua! Se você é realmente livre, respeita a esfera dos outros e impõe respeito à sua. Ninguém deve lhe dizer como conduzir a sua vida, a não ser você mesmo.

Mesmo não existindo a morte, talvez você só passe uma vez por aqui. Gostaria de voltar ao Éter como um fracassado ou como um vencedor? A opção continua sendo sua.

É preciso viver no sistema, na sociedade, mas sem ser manipulado. Você pode trabalhar, estudar, se divertir, amar, fazer as coisas do dia-a-dia, e, ainda assim, preservar-se das mil ilusões e cadeias que existem por aí. Exemplo: você lê um artigo de propaganda e sente compulsão de comprar uma roupa nova, que está na moda. Pergunte sempre a si mesmo: isto é necessário para mim ou estou apenas sendo induzido pelo sistema? Vai me trazer problemas futuros? Cuidado com a propaganda, ela é um dragão que se alimenta de pessoas. Este dragão trabalha usando a linguagem subliminar, que penetra na camada escura da sua mente, passando a lhe dominar. O fenômeno é cíclico, acompanha as estações. É óbvio que você deve comprar roupas para se sentir bem, dar expressão à sua vaidade pessoal, mas não porque o sistema está lhe impondo isto. Seja sempre Sua a opção!

A parte clara da sua mente você conhece: é revelada pelos pensamentos e hábitos usuais, razão por que ela é chamada Consciente. A parte mais profunda, o Inconsciente, é mais difícil de ser contactada. Ocorre este encontro através dos sonhos, do hipnotismo, da meditação ou em situações peculiares. No entanto, ela está sempre presente, você está sempre projetando tudo no mundo ao seu redor. Permanece oculta apenas aparentemente. É preciso eliminar os limites entre o consciente e o inconsciente, ainda porque estes limites também são ilusórios.

Na formação do ego, desde a mais tenra infância, os pais, a escola, a religião começam a moldar a personalidade de mil e uma maneiras. A repressão de certos comportamentos e o condicionamento de certas atitudes são importantes para a própria segurança da criança e de quem está a seu redor. Se um garoto fica com vontade de atirar uma pedra numa vidraça, deve-se evitar que tal aconteça, pois a sua falta de maturidade acarretará problemas.

Contudo,  as repressões tornam a sombra uma espécie de arco retesado, quando menos se espera vêm à tona, dispara a flecha, muitas vezes de forma errada. Por outro lado, a sombra é extremamente criativa, razão por que é utilizada nos rituais satânicos de forma a mudar eventos de conformidade com a vontade do mago. Lembre-se: é necessário trabalhar sempre a sombra primeiro: o resto é a porta, por onde você vai entrar. Descubra a sombra, guarde segredo e, se estiver atento, uma porta estará aberta para você, em direção ao seu objetivo. O segredo é saber que a escuridão é sempre luminosa.

Este é o momento de trazer à baila duas definições. A primeira é a de arquétipo, extraída de um livro[1], que é coletânea de psicanalistas junguianos sobre a evolução humana através do trabalho com a Sombra: “Os arquétipos são estruturas inatas e herdadas no inconsciente – ‘impressões digitais’ psicológicas – que contêm características formadas de antemão, qualidades pessoais e traços compartilhados com todos os outros seres humanos.” Eles são forças psíquicas vivas dentro da psique humana. De acordo com o Critical Dictionary of Jungian Analysis, ‘Os deuses são metáforas de comportamentos arquetípicos e os mitos são representações arquetípicas’. O decurso da análise junguiana envolve uma percepção crescente dessa dimensão arquetípica da vida de uma pessoa.”

 

Outra definição importante é sobre a egrégora, que foi retirada de uma página da Internet, cujo autor é Alexander Rhamanna Ferritt. Infelizmente, perdeu-se o endereço da página. “Egrégora poderia ser definida como uma energia resultante da união de várias outras energias.  A nível de exemplo, podemos citar o amor de um núcleo familiar, a energia que mantém uma família unida.  Caso essa egrégora fosse dissipada, a família se dissiparia, pois não haveria identificação entre seus membros. Não haveria, assim, vínculo entre eles.”

 

De certa forma, os dois conceitos estão interligados: enquanto arquétipo impera no nível mental, egrégora o faz no nível emocional. Ambos emanam do logos, que é a consciência cósmica.


[1] Ao Encontro da Sombra, org. Connie Zweig


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