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Os rituais aqui contidos são descritos com um grau de franqueza usualmente não encontrado em um livro/curso de magia. Todos eles tem uma coisa em comum: reverenciam os elementos realmente representativos que estão do outro lado.
O Diabo e suas obras há muito tempo assumiram várias formas. Até recentemente, para católicos, protestantes eram demônios. Para protestantes, católicos eram demônios. Para ambos, judeus eram demônios. Para o oriental, o ocidental foi um demônio. Para o colonizador americano do velho oeste, o pele vermelha foi um demônio. O repulsivo hábito do homem de elevar a si mesmo difamando outros é um infeliz fenômeno, aparentemente ainda necessário para o seu bem-estar emocional. Ainda que essa regra de proceder esteja perdendo um pouco de força, para praticamente qualquer um algum grupo representa a encarnação do mal. Quando um ser humano cogita a possibilidade de que alguém possa considerar seu modo de agir errado ou maligno, ou que sua existência custe caro ao mundo, esse pensamento é rapidamente banido. Poucos querem carregar o estigma de vilão.
Mas espere aí… Nós estamos passando por um daqueles períodos únicos na História em que o vilão logicamente torna-se o herói. O culto do anti-herói têm exaltado o rebelde e o malfeitor.
Devido ao fato de que o homem não faz nada moderadamente, uma aceitação seletiva de novas e revolucionárias correntes é inexistente. Consequentemente tudo é caos, e qualquer coisa que for contra as diretrizes estabelecidas acaba valendo, mesmo que ela seja irracional. As causas são muitas. Como causa, frequentemente o interesse e gosto pela rebelião sobrepujam uma verdadeira necessidade de mudança. O oposto tornou-se desejável, e esta tornou-se a Era de Satã.
Isso pode parecer terrível, mesmo quando a poeira das batalhas baixa, revelando que o que realmente precisava ser mudado o foi. Os sacrifícios, humanos e outros, terão sido oferecidos, para que o desenvolvimento a longo prazo possa então continuar, e a estabilidade retorna. Tal é a odisséia do século vinte. A aceleração do desenvolvimento humano atingiu um ponto épico de mudança. As evasivas teologias do passado recente foram necessárias para sustentar a raça humana enquanto o homem superior desenvolveu seus sonhos e materializou seus planos, até que o esperma congelado de seu descendente mágico pudesse nascer sobre a Terra. Este descendente emergiu sob a forma de Satã – o opositor.
Os que passaram frio e fome no passado produziram a colheita da primavera distante preparando os campos e trabalhando nos moinhos. Eles não mais sentirão frio e a fome deve acabar, mas eles produzirão menos filhos. O fruto da semente congelada do magista que nasceu sobre a Terra irá desempenhar as tarefas dos humanos que no passado produziram a colheita da primavera. Agora o papel do homem superior é produzir as crianças do futuro. Agora qualidade é mais importante do que quantidade. Uma estimada criança que possa criar será mais importante do que dez que possam reproduzir algo – ou do que cinquenta que possam acreditar! A existência do homem-deus será visível até para o mais simplório ignorante, que verá os milagres de sua criatividade. A velha crença de que um ser supremo criou o homem e seu cérebro pensante será reconhecida como um engano ilógico.
De modo geral, é muito fácil rejeitar o Satanismo como uma total invenção da Igreja Cristã. Tem sido dito que os princípios do Satanismo não existiam antes da propaganda política sectária ter inventado Satã. Historicamente, a palavra Satã não possuía um significado vil antes do Cristianismo.
As escolas de bruxaria “seguras”, com uma rígida adesão à síndrome do deus chifrudo símbolo de fertilidade, consideram as palavras Diabo e Satã anátemas. Elas negam qualquer associação. Elas não desejam comparações vinculando suas crenças “Murrayanas-Gardnerianas-neo pagãs-tradicionais” com Diabolismo. Elas eliminaram as palavras Diabo e Satã de seu vocabulário e promoveram uma incansável campanha para dar dignidade à palavra bruxa, apesar dela sempre ter sido sinônimo de atividade nefasta, quer seja como witch, hexe, venifica ou outra. Elas aceitam de todo coração a avaliação cristã da palavra Satã, e ignoram o fato de que o termo tornou-se sinônimo do mal simplesmente porque (a) era de origem hebraica, e qualquer coisa judaica era do Diabo, e (b) porque ela significa adversário ou opositor.
Com todo o debate sobre a origem da palavra bruxa e as claras origens da palavra Satã, alguns logicamente a aceitarão por ser um termo melhor explicado*. E se alguém reconhece a inversão de caráter empregada transformando Pã(o bom sujeito) em Satã(o mau sujeito), por que rejeitar um velho amigo só porque ele tem um novo nome e um estigma injustificado? Por que tantos continuam sentindo-se obrigados a negar qualquer conexão com o que pode ser considerado satânico, ainda que fazendo uso de artes que foram por séculos consideradas de Satã? Por que o cientista, cujas primeiras teorias e práticas sofreram acusações de heresia, se diz contra o Cristianismo e ao mesmo tempo rejeita o conceito de Satã quando o homem da ciência deve sua herança ao que foi por séculos relegado ao domínio do Diabo?
As respostas para essas perguntas podem ser resumidas a um único fardo pesado: eles não podem admitir uma afinidade com qualquer coisa que leve o nome de Satã, pois ao fazer isso teriam que virar seus crachás de bons sujeitos. E o que é ainda pior, os seguidores da escola de “Bruxaria-NÃO-Satanismo!” nutrem a mesma necessidade de elevar a si mesmos denegrindo os outros exatamente como fazem seus ex-inquisidores cristãos, a quem eles pedem que os deixem em paz.
Os ritos deste livro invocam o nome de demônios – demônios de todas as formas, tamanhos e inclinações. Estes nomes são usados com deliberada e apreciativa consciência, para que então se possa puxar para os lados a cortina do medo e entrar no Reino das Sombras. Os olhos logo se acostumam e muitas estranhas e maravilhosas verdades são vistas.
Se alguém é realmente bom por dentro ele pode invocar os nomes dos Deuses do Abismo livre de culpa e imune de se machucar. Os resultados serão muito gratificantes. Mas não há volta. Aqui estão os Ritos de Lúcifer… para aqueles que ousam remover seus mantos de bondade.
Anton Szandor LaVey
A Igreja de Satã
25 de dezembro VI Anno Satana
*A controvérsia sobre a origem da palavra inglesa witch(bruxa) é válida quando consideramos a etimologia do termo em outros idiomas: venifica(latim), hexe(alemão), streghe(italiano), etc. Somente em sua forma inglesa a palavra assumiu uma origem benigna: se diz que a palavra wicca veio de “wise”(sábio). Qualquer debate deve concentrar-se nas recentes alegações que dão um significado positivo e socialmente aceitável para um termo que em todas as épocas e muitos idiomas significou “envenenadora”, “assustadora”, “encantadora”, “lançadora de feitiços” ou “mulher maldita”.
Antropologistas têm mostrado que mesmo em sociedades primitivas, principalmente os Azande, a definição de bruxa carrega conotações malignas. Portanto, assumiremos que as únicas bruxas “boas” no mundo foram as bruxas inglesas? Mas até isso, entretanto, torna-se difícil de aceitar quando consideramos o termo wizard(hoje significando mago), que provém da palavra do inglês medieval wysard(sábio), contra a palavra do inglês antigo wican, que significa dobrar, e de onde a palavra witch supostamente é derivada. No mais, parece ser uma tentativa infrutífera tentar legitimar uma palavra que provavelmente se originou de uma onomatopéia – uma palavra que proferida tem o som daquilo que ela pretende significar.
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