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Igualdade ou seletividade – Satanomicon

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A igualdade deve ser apenas de oportunidade, ou seja, estar na base. O resto do processo deve ser e é seletivo, não só na natureza, como na selva humana. Por exemplo, se há um concurso público, deve-se dar oportunidades a todos que preencham os seus requisitos básicos, sem qualquer tipo de discriminação, para que possam se inscrever. Isto é a igualdade. Contudo, é uma minoria que passa nas provas, pois o processo se resume na filtração. Isto é a seletividade. A avaliação é importante para aferir a competência do candidato, caso contrário daria margem ao nepotismo e apadrinhamento – mais comum do que se pensa -, em vez de se voltar para o profissional preparado para exercer a função escolhida.

A teoria da igualdade não cabe mais nos dias de hoje, pois leva a absurdos. Dois profissionais diversos ganham o mesmo salário e trabalham na mesma carga horária. Um é cavoqueiro, outro é agente administrativo. Vamos supor que ambos trabalham oito horas e ganham R$500,00. O cavoqueiro, por lidar com dinamite, possui estresse acentuado, assim a carga elevada de horas de trabalho põe a si e aos demais em perigo. Do mesmo modo, o trabalho deve ser melhor remunerado, dado o potencial risco de vida. O agente administrativo, malgrado a responsabilidade do seu cargo, não possui o mesmo nível de estresse do cavoqueiro, o seu mister é muito mais tranqüilo. Interessante é que ocorre justamente o contrário.

O Direito tende a reformular a fórmula arcaica da Revolução Francesa, baseada em igualdade, para o sentido de que igualdade é tratar os desiguais na exata medida da desigualdade verificada. Já dizia Karl Jaspers que tentar igualar os homens além de assegurar-lhes oportunidades iguais é a maior injustiça.

A seletividade é cruel? Pode ser, mas é verdadeira. Darwin refletiu muito bem acerca do assunto, através da sua teoria da evolução das espécies. A sobrevivência é a dos mais aptos, ou seja, dos mais capazes, dos mais inteligentes, dos mais fortes, dos mais espertos. É como um jogo de cartas, onde todos iniciam com o mesmo cacife, depois é o modo de jogar que revela o vencedor. Por que alguns jogadores sempre vencem? Pelo seu modo de jogar: invariavelmente, a audácia é que comanda o espetáculo, já dizia Virgílio – audentes fortuna juvat[1]. Arthur Schopenhauer fala que a personalidade do homem indica antecipadamente o grau de sua fortuna. O mesmo ocorre em todos os campos sociais.

Há vários exemplos de seletividade, alguns abomináveis como o sistema de castas hindus e o feudalismo medieval, onde imperava a imobilidade absoluta. A verdadeira seletividade está em dois campos, o da natureza, que é – como o nome diz – uma seleção natural, espontânea, baseada também na cadeia alimentar, entre outros fatores. A seleção da sociedade moderna está baseada na inteligência e na luta para vencer. Daí o preparo nas escolas. Esta seleção é artificial, contudo pode se transformar num modo de valorização do indivíduo, se este conseguir agir por si mesmo, sem se enredar pelas armadilhas da irreflexão imposta pelo próprio sistema. O espírito da coisa é auscultar a realidade per si, de forma a o homem ir sempre além de si mesmo.

Pelo lado político, hoje em dia não existem mais governos, eles são simples fachadas das empresas multinacionais, que são quem, em verdade, detêm o poder por detrás dos Governos. A antiga União Soviética descobriu demasiadamente tarde que não há motivação alguma em servir o Estado por altruísmo, razão pela qual o poderoso sistema comunista, baseado apenas em igualdade, entrou em colapso. Onde não existe seletividade baseada na competição e sobrevivência dos mais aptos não pode haver progresso, pois o homem resigna-se a uma situação de mero comodismo e ineficácia, não dá o melhor de si. As empresas, sabiamente, investem pesado em Recursos Humanos, de forma a aproveitar a capacidade máxima de cada funcionário. LaVey citou que todo homem de grande sucesso é um satanista, mesmo sem o saber.

Qualquer sistema social baseia-se na adaptação, na estabilidade, como aparência externa catequizada pela elite dominante. Interessa sempre manter o estado atual das coisas, seja em política, religião, economia, ciência, moda e modo de vida. Vence quem joga o jogo do sistema, adaptando-se, mas mantendo a própria integridade. Vence quem cultiva profundo amor por aquilo que faz, seja no trabalho, seja na família e, acima de tudo, desenvolve uma auto-estima e um auto-respeito. É sentença de Thelema – amor é a lei, amor sob vontade.

 


[1] A sorte favorece os audaciosos.


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