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Sitra Achra

A senda maldita

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Jorge Flores*

“Em meu caminho de feiticeiro pastoreio as ânsias, o amor-paixão, o sonho do povo, o medo, os feitiços e bruxedos. Gargalhadas de fantasmas andam sempre comigo, mas eu uso como defesa especial cruz-amuleto. Carregando-a comigo estou sempre protegido de malefícios estranhos”.
-São Cipriano “O Bruxo”

O consciente coletivo é algo realmente intrigante, para o sociólogo francês Émile Durkheim trata se entre tantas outras coisas como “Conjunto das crenças e dos sentimentos comuns à média dos membros de uma mesma sociedade que forma um sistema determinado com vida própria.”

Para algo “vivo” e eternizado modifica-lo é uma luta desigual, pois ele determina amplamente a existência dos seres, primordialmente no quesito religiosidade.

Homens comuns se irmanaram em um proposito único; Criar um deus!

E assim foi se moldando o caráter de um deus único, onisciente e onipresente, para que nada pudesse passar por ele despercebido.
Para pôr em pratica seus fundamentos criaram-se então a bíblia (Do grego “biblion”, que significa “livro”, “rolo”).

O corpo principal estava criado, contendo a quantia de 613 mandamentos, ou seja, as leis para que seus adeptos seguissem e assim teriam a promessa da vida eterna nas hordas celestiais.
Estes livros verteram por todo o globo, e a humanidade injetou cada versículo maldito em suas veias, e pronto, a grande ideia deu certo.
Porem o ser humano é como uma criança e apenas ter fé em algo não era o suficiente, era preciso amedronta-los, então outro corpo tomou forma e este seria chamado de Satanás.

Narrado como “preferido” de deus seu nome era cheio de luz, Lúcifer, o portador da luz sentindo inveja da criação do homem rebelou-se com auxílio de mais alguns anjos ocasionando a expulsão destes seres do “paraíso”.

Assim lhe foi entregue pelos homens o título de inimigo de deus, o opositor, satanás.

Pintores, artistas e eclesiásticos no período medieval passaram a retratar em suas telas algo que remetesse as mentes miúdas a verdadeira forma satanás.

Obra dos irmãos Linbourg (1385–1416) detalhe no canto esquerdo da tela em que um sacerdote católico esta sendo puxado e castigado por demônios, mostrando que todos devem seguir fielmente a deus caso contrario seus destinos seriam de tormento eterno.

Todavia a igreja sempre foi conivente com os absurdos exercidos pelos seus sacerdotes, mas pregava que a lei era para todos e assim o medo era instaurado.

Na mitologia Grega rica em deidades uma chamou atenção por sua forma e inspirou na criação do satanás bíblico com chifres e cascos de bode.

O deus PÃ foi de grande influência para uma imagem de um “inimigo” Esse personagem foi pego pelos cristãos até transformá-lo em uma representação da maldade suprema.

Dizem os mitólogos que os chifres de Pã representam os raios do Sol; a vivacidade de sua tez exprime o fulgor do céu; a pele de cabra estrelada que usa sobre o estômago representa as estrelas do firmamento; enfim os seus pés e as suas pernas eriçados de pelos designam a parte inferior do mundo, – a terra, as árvores e as plantas.

Pesquisando mais sobre esse mito, descobri o seguinte: Pã era um deus irreverente, que gostava de assustar com seus gritos pessoas que transitavam sozinhas pelas florestas. A palavra pânico tem sua origem nesse mito, por sua característica física assustadora e suas atitudes totalmente irreverentes. Posteriormente passou a ser adorado dentro de cavernas escuras, o que causava medo e terror. Então, podemos concluir que a energia arquetípica de Pã faz emergir de nossas cavernas escuras nossos desejos secretos, o que causa espanto, terror, e ao mesmo tempo nos fascina.

Mais à frente seria usado também na formação do ídolo Baphomet (que falaremos mais a frente)

Pintura moderna Deus Pã e Obra “Ações do diabo, Espanha séc.14

Estas imagens permanecem no imaginário da grande maioria, tendo até vulgos satanistas que elevam adorações para algo puramente cristão.

O caminho para o conhecimento deve ser iniciado primordialmente pelo “reaprendizado”, ou seja, esquecer o que o consciente coletivo induz e passar a pensar e agir por si mesmos.
Dentro dos parâmetros cristãos satanás é o responsável por toda mazela do ser humano, instigando a todos ao pecado para afrontar a deus. Porem o titulo de “senhor da morte Pertence ao Demiurgo.
O cético e estudioso da Bíblia Steve Wells anotou todas as mortes registradas nas sagradas escrituras cometidas direta ou indiretamente por Deus, ou em nome Dele, e as somou. Deu o total de 2.552.452.
Seus seguidores não ficaram atrás instaurando a inquisição ou o “santo oficio”, o santo oficio de matar. A Inquisição foi criada na Idade Média (século XIII) e era dirigida pela Igreja Católica Romana. Ela era composta por tribunais que julgavam todos aqueles considerados uma ameaça às doutrinas (conjunto de leis) desta instituição. Todos os suspeitos eram perseguidos e julgados, e aqueles que eram condenados, cumpriam as penas que podiam variar desde prisão temporária ou perpétua até a morte na fogueira, onde os condenados eram queimados vivos em plena praça pública, aos perseguidos, não lhes era dado o direito de saberem quem os denunciara.

Muitos cientistas também foram perseguidos, censurados e até condenados por defenderem ideias contrárias à doutrina cristã. Um dos casos mais conhecidos foi do astrônomo italiano Galileu Galilei, que escapou por pouco da fogueira por afirmar que o planeta Terra girava ao redor do Sol (heliocentrismo). A mesma sorte não teve o cientista italiano Giordano Bruno que foi julgado e condenado a morte pelo tribunal.

Não se tem um registro exato sobre a quantidade de mortos pela igreja, mas estimasse em mais de 30 milhões de pessoas no mundo todo. Não vou aqui transformar o satanismo num paraíso pois também tivemos nossos “personagens” que muitas vezes não pertenciam a nenhuma ordem e exerciam apenas a maldade que lhes era apreciada.

Um dos mais notórios assassinos a “serviço” do diabo foi Richard Ramirez, o “Night Stalker”. Ramirez aterrorizou Los Angeles com seus crimes aparentemente aleatórios. Ele atacava mulheres, estuprava e por fim as matava. Às vezes ele também deixava desenhos de pentagramas atrás das costas. Ramirez fez 14 vítimas e quando foi preso alegou a polícia que ele era um servo de Satanás enviado à Terra para realizar atrocidades para o diabo.

“Os satanistas não acreditam no sobrenatural, nem em Deus e nem no Demônio. Para o satanista, ele é seu próprio Deus. Satã um símbolo do homem vivendo da forma como dita sua natureza carnal e magnífica. A realidade por trás de Satã é simplesmente a força obscura e evolucionária da entropia que permeia toda a natureza e dá os meios para a sobrevivência e propagação inerente a todas as coisas vivas. Satã não é uma entidade consciente a ser adorada, mas uma reserva de poder dentro de cada ser humano para ser tomada à vontade. Assim, qualquer conceito de sacrifício é rejeitado como uma aberração cristã — no Satanismo não há divindades por quais se sacrificar.”

Satanism: The Feared Religion (Satanismo: A Religião Temida), o atual líder da Igreja de Satã, Peter H. Gilmore.

Anton Lavey fundador da igreja de Satan (Church of Satan) percebeu no satanismo uma forma de alavancar seguidores, aproveitando-se do momento que viviam que a juventude soltou o grito da garganta, sufocados por anos de regimes totalitários e cristãos.

A musica tomava novas formas e o Rock foi o elo que faltava na corrente, com letras que protestavam e ideias que emergiam com força.

Adversários de um sistema castrador, nascendo assim os SATANISTAS!

Lavey teve sua importância dentro do satanismo, o ser humano tem por necessidade um líder e naquele momento este líder foi Anton Lavey pois muitos tímidos perceberam nele a rebeldia que haviam neles e passaram então a segui-lo.

Porem Lavey na visão de um estudioso das ciências negras foi apenas um “Herético” sua única maneira de explorar o satanismo foi fazer um revés da igreja católica, empregando a mesma didática com mandamentos, pecados, orações, missas e assim por diante.
Uma apresentação bastante minimalista e vaga de ideias satanistas, Lavey era um showman que não oferecia perigo para igreja.

Mas como dito acima Lavey teve importância no satanismo pois despertou pensamentos de tantos outros que não se “encaixavam” ao restante da sociedade e que não viam no satanismo moderno algo que os alimentasse, que respondesse suas muitas questões acerca do que é a magia, o mundo paralelo e até sua própria existência.
E também não sentiam algo em relação ao satanismo tradicional, este mais voltado para a devoção, doutrina e dogmatismo.

A grande maioria das pessoas se inclinam a apenas um lado, e, portanto, só veem os extremos de tudo desconhecendo assim caminhos alternativos, porem há indivíduos que desde sua infância percebiam que havia algo além do básico.

Grande parte destes indivíduos percebiam-se fora desta rotina maçante e rasa, muitos no desespero de se encontrar buscavam tribos, religiões, seitas, mas nada os preenchia era sempre o “mais do mesmo”.

Em determinados momentos chegam a acreditar que o problema eram eles mesmos e que se encaixar não fazia parte da sua realidade, então no silencio de seus quartos em que a única companhia eram seus fantasmas muitos colocaram um ponto final nisso tudo acabando com a própria vida.

Estes eram chamados de loucos, esquisitos, estranhos e não lhes davam a oportunidade de cinco minutos de conversa, aqueles que não optavam pelo fim de tudo se tornavam seres totalmente hostis pois esta era a única maneira que encontraram para defender a sua existência.

Não podiam contar suas visões, sonhos, premonições sem que o olhar do julgamento caísse sobre eles e recebessem como único auxilio aquela velha palavra “Você precisa ir pra igreja”.

Alguns na ânsia de se entender acabam concordando e passam a frequentar igrejas e templos e como manda a cartilha cristã a única sentença era a de que “está possuído pelo demônio”.

Diante desta fera chamada sociedade não há porque estranhar a quantidade de pessoas depressivas e tristes, a liberdade de ser quem você realmente é se tornou um devorador de mentes que tinham tudo pra ter uma vida saudável e uma espiritualidade mais saudável ainda.
Em minha jornada encontrei muitas pessoas assim, e suas ideias quando deixadas fluir se transformavam em um manancial de inteligência temperadas com ódio e rancor.

Eu estudei muitas filosofias e sistemas práticos de magia e o adversário verdadeiro não é aquele que aceita o básico, mas sim aquele que é rebelde ate contra a própria rebeldia, falar que você é um satanista não lhe faz satanista.

O perfil do satanista não consiste em causar espanto trajando roupas pretas e cruzes invertidas reproduzindo comportamentos sem ao menos compreende-los, mas ao contrário, causa espanto pela grandeza de suas ideias, por sua eloquência, pelo nível intelectual e cultural seletivo.

Compreender o Acausal como algo vivo mas que não está ao alcance de profanos limitados a este plano, pois para eles o Acausal se oculta, se esconde, se protege.

O satanista é discreto por natureza e grande parte do que “cai no gosto” do povão é considerado por ele um fluxo de futilidades, seus pensamentos são complexos demais para receber algo sem o mínimo de profundidade.

É analítico e usa sempre tudo a seu favor, coloca a frase certa na hora certa e está sempre atento a sua intuição, elemento solido que ele adquiriu através de práticas de expansão mental.

Em suma o satanista não é nenhum pouco parecido com o que a mídia, a igreja e os profanos acreditam ser.

Não se deixa ludibriar por falsas promessas de feitiços milagrosos pois ele entende que a magia é pura e simplesmente para o aumento das probabilidades e não algo que ira brotar dos confins do inferno para lhe trazer o que você deseja.

Ser um satanista é um trabalho árduo pois para isso terá que renascer a cada novo estudo, a cada novo conhecimento, peneira-lo, absorver o que lhe é proveitoso e se desfazer do que naquele momento ele não precisa.

E saber principalmente de COMO É BOM SERMOS NÓS MESMOS!

Você não é um prisioneiro em cativeiro, mesmo que seus filtros mentais tendam a levá-lo a padrões antigos. Perder-se em lugares familiares é uma vulnerabilidade natural que todos temos; usar sua mente e sua capacidade de estar ciente é como você pode encontrar o seu caminho. Paciência e persistência serão seus amigos neste caminho para uma maior liberdade.

“Todo cidadão  tem direito à liberdade de pensamento, consciência e religião; esse direito inclui a liberdade de mudar sua religião ou crença e a liberdade, sozinha ou em comunidade com outras pessoas e em público ou em particular, de manifestar sua religião ou crença no ensino, na prática, no culto e na observância.”

Liberdade de pensamento está listada no Artigo 18 na Declaração Universal dos Direitos Humanos


*Jorge Flores,
https://www.facebook.com/jorgericardo.flores.10/
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