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Sitra Achra

A Prática Satânica: Epístola Segunda aos Satanistas

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E como praticar o Satanismo? Como criar e exercitar essa comunhão com Satã? Da única forma possível, em primeiro lugar encontrando Satã.

Apenas o tolo busca encontrar algo para então usando uma ferramenta, seja a lógica ou a ignorância, desmontar o que encontrou na tentativa de justificar seus atos. O Satanista sabe que as trevas existem na ausência plena e não apenas na ausência de bom-senso,  sente que elas tem uma existência própria, além de qualquer explicação ou compreensão. É nessas trevas que encontraremos aquilo a que chamamos Satã.

Existem várias maneiras de alcançarmos este lugar que não é exatamente um lugar, um deles é simplesmente olhar para dentro. Já dissemos que existe um Satanismo para cada Satanista, não há uma receita para se chegar ao coração da Escuridão. E isso é uma bênção, pois já desencoraja aqueles que apenas desejam juntar carimbos em seu “passaporte do ocultismo”, parecem escoteiros colecionando medalhas apenas pelo prazer de poder as exibir depois.

Para alguns as Trevas estão no silêncio da meditação, para outros na obliteração do ascetismo, existem aqueles que com práticas xamânicas ou caóticas chegam nelas, seja qual for o caminho deve-se encontrá-las e nelas apenas ouvir e deixar-se submergir. Essa prática deve ser constante e repetitiva. É um tolo aquele que acredita que uma primeira impressão seja real. Quantos pseudo Satanistas, quantos macacos de Thoth, não saem por ai se sentindo abençoados por Satã por realizarem um ritual e sentirem, supostamente, seu toque sombrio?

A repetição da prática, conhecida como escalda para o vazio (seja qual for o caminho escolhido pelo Satanista) tampouco tem o objetivo empírico de comprovar a validade da experiência e sim ir familiarizando o praticante com o ambiente que ele passará a freqüentar cada vez mais. É preciso primeiro saber encontrar o escuro, depois saber se distinguir do escuro e finalmente passar a perceber o que habita o escuro vazio. É lá que encontrará a voz que o guiará. Se o praticante percebe essa voz como sua ou como algo externo não interessa, Satã é percebido de forma diferente por cada um. Aceitar o próprio ponto de vista é aceitar a si mesmo.

Essa prática acaba criando no Satanista uma interação muito mais ampla com a existência, pois ele aprende que apesar da sua percepção de Satã ser real ela não é a única, o Satanista sabe que não existe algo como Verdade Absoluta, por isso a perda de tempo de tentar encaixar Satã em alguma categoria, de tentar dar forma àquilo que em um primeiro momento é inominável.

Aguçando essa sua visão sombria aquilo que antes lhe parecia sutil surge com mais força, com mais definição. Seria o equivalente de exercitar a vista até ser capaz de enxergar estrelas mesmo no céu iluminado durante o dia. É um ajuste fino nos órgãos sensoriais. Logo aquilo que parecia apenas uma sensação se torna em uma intuição aguçada. O que antes perecia algo fora do campo de visão dos olhos se torna uma presença real, o que antes pareciam pensamentos desconexos se tornam certezas. E é óbvio que isso não acontece da noite para o dia, não importa o quanto tentemos nos convencer que sejamos especiais, tenhamos nascido com algum dom, ou sejamos inclinados para o oculto. Ma pessoa pode nascer um músico nato, pode ter o talento e o ouvido afinadíssimos para a música. De que adianta isso sem prática? Como a pessoa se desenvolve? Mesmo alguém que não nasceu com tantas vantagens pode ultrapassar este prodígio com prática e dedicação. Com Vontade e perseverança o amadorismo se torna experiência. E ai cabe ao praticante seguir os próprios passos ao invés de ficar comparando seus resultados com os de outros para criar uma tabela de comparação e evolução.

Apenas você pode seguir o seu caminho. Isto deve ser claro o tempo todo na mente de cada um que mergulha nessas trevas, como disse LaVey:

“Ele [Satã] é um imenso reservatório intocado ao qual poucos tem acesso graças à habilidade que possuem de saber usar uma ferramenta sem antes ter que desmontá-la e então classificar cada uma das partes que a faz funcionar.”

E dizer que poucos tem acesso é, de fato, afirmar que das multidões que erguem a bandeira da religião dos fortes apenas alguns sabem realmente por onde estão caminhando.

Rev. Obito, Templo de Satã


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