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A Bíblia sempre apoiou a escravidão humana e a submissão total às autoridades. Iniciando por Romanos 13:1, “Toda pessoa esteja sujeita às autoridades superiores, pois não há autoridade que não venha de Deus”. Através dessa fórmula se justificou a degradação do indivíduo perante as autoridades do clero e da política. A submissão impediu o questionamento perante as mesmas, e a pessoa “rebelde” era vista como “tomada pelo demônio”.
Em Colossenses 3:22, “Vós, servos, obedecei em tudo a vossos senhores segundo a carne, não servindo só na aparência, como para agradar aos homens, mas em simplicidade de coração, temendo a Deus”. Na verdade, servo e escravo é a mesma coisa, porque ambos não possuem total liberdade, o eufemismo empregado é apenas sinal de hipocrisia. Além disso, a Bíblia parece ser um manual perfeito para contentar e apaziguar o escravo na sua situação infame, enquanto dá pleno direito ao seu senhor. A prova disso está em Pedro I 2:18- 19, quando declara: “Vós, servos, sujeitai-vos com todo o temos aos vossos senhores, não somente aos bons e moderados, mas também aos maus. Pois isto é agradável, que alguém, por causa da consciência para com Deus, suporte tristezas, padecendo injustamente.” Outra se encontra em Tito 2:9-10, quando “exorta os servos a que sejam obedientes a seus senhores, sendo-lhes agradáveis em tudo, não os contradizendo, não defraudando, antes mostrando perfeita lealdade, para em tudo sejam ornamento da doutrina de Deus, nosso Salvador.” Por aí pode-se perceber a verdadeira face dessa obra hedionda, tremendamente negadora da liberdade e da vida.
Vejamos mais algumas pérolas desta natureza: “todos os servos que estão debaixo do jugo considerem seus senhores dignos de toda a honra, para que o nome de Deus e a doutrina não sejam blasfemados” (Timóteo I 6:1); “vós, servos, obedecei a vossos senhores segundo a carne, com temor e tremor, na sinceridade de vosso coração, como a Cristo” (Efésios 6:5); “não obedeçais a vossos senhores apenas quando estão olhando, só para agradar a homens, mas como servos de Cristo, fazendo de coração a vontade de Deus”. Note que, ao mencionar tudo o que o servo deve fazer, o autor desses textos coloca sempre, ao final, que a condição servil é para agradar a Deus. O senhor pode tratar mal o servo, mas este necessariamente precisa ser bondoso, leal, paciente e nunca se revoltar contra a sua condição.
Vejamos Êxodo 21:20-21: “Se alguém ferir a seu escravo, ou a sua escrava com pau, e os feridos morrerem debaixo da sua mão, certamente será punido., mas se ficarem vivos por um ou dois dias, não será punido, porque é dinheiro seu.” O texto não diz qual é a punição do senhor, se o escravo vier a falecer imediatamente. Além de ser uma atrocidade bíblica, há um absurdo também, pois o escravo que morre imediatamente não sofre tanto. Por outro lado, enquanto se estimula a manutenção do sofrimento do escravo, faz desaparecer a punição do senhor.
Continuando em Êxodo 21:2-6: “Se comprares um escravo hebreu, seis anos servirá; Mas ao sétimo ano sairá de forro, de graça. Se entrou sozinho, sozinho sairá; mas se era homem casado, com ele sairá a sua mulher. Se o seu senhor lhe houver dado uma mulher, e ela lhe houver dado filhos ou filhas, a mulher e os filhos dela serão do senhor, e ele sairá sozinho. Mas se esse escravo expressamente disser: Eu amo a meu senhor, e a minha mulher, e a meus filhos, e não quero sair forro, então o seu senhor o levará perante os juízes, e o fará chegar à porta, ou à ombreira, e o seu senhor lhe furará a orelha com uma sovela. Então ele o servirá para sermpre.” Aqui se dá ao escravo uma chance de liberdade, mas ao mesmo tempo lhe impede de continuar com a mesma família, caso a houvesse constituída em cativeiro. Da mesma forma, lhe impõe o estigma degradante de ter a orelha furada e se submeter definitivamente ao jugo do amo.
De toda forma, a permissão expressa em adquirir e manter escravos está em Levítico 25:44-46: “Quanto a teu escravo ou a tua escrava que tiveres, serão das nações que estão redor de vós; deles comprareis escravos e escravas. Também os comprareis dos filhos dos forasteiros que peregrinam entre vós, deles e das suas gerações que estierem convosco, que tiverem gerado na vossa terra, e vos serão por possessão. Deixá-los-ei por herança para vossos filhos depois de vós, a fim de que os possuam como propriedade perpétua. Tê-los-ei como escravos, mas sobre vossos irmãos, os filhos de Israel, não dominareis com rigor.”
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