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María Lionza é a figura central de um dos novos movimentos religiosos mais difundidos na Venezuela. O culto de María Lionza começou no século 20 como uma mistura de crenças africanas, indígenas e católicas. Ela é reverenciada como uma deusa da natureza, amor, paz e harmonia. Ela tem seguidores em toda a sociedade venezuelana, desde pequenas aldeias rurais até Caracas, onde uma estátua monumental está em sua homenagem. O Monumento Natural Cerro María Lionza (também conhecido como montanha Sorte), onde uma importante peregrinação acontece todo mês de outubro, foi nomeado em sua homenagem.
LENDA E SÍMBOLOS:
Segundo a lenda principal, María Lionza nasceu nos séculos XV e XVI como filha de um chefe indígena da região de Yaracuy. Seu pai a mandou morar na serra da Sorte. Um dia, enquanto ela estava no rio, uma anaconda a atacou e a devorou. De dentro da serpente, María Lionza implorou ajuda à montanha. A montanha concordou, María Lionza assim se desintegrou e se fundiu com a montanha Sorte. Às vezes, diz-se que a anaconda explodiu e causou as chuvas torrenciais que são comuns na região.
María Lionza às vezes é retratada como uma mulher indígena e às vezes como de pele clara com olhos verdes, geralmente cercada de animais. Ela é frequentemente retratada nua montando uma anta.
María Lionza às vezes é chamada de Yara, um nome alternativo indígena. Segundo algumas versões, Yara teria tomado o nome de Santa María de la Onza Talavera del Prato de Nívar ou simplesmente Santa María de la Onza (“Santa Maria da Onça”) sob influência católica durante a colonização espanhola da Venezuela. Posteriormente, seu nome teria sido encurtado para “María Lionza”.
CULTO E PEREGRINAÇÃO
Os ritos de María Lionza acontecem na montanha Sorte, perto da cidade de Chivacoa, no estado de Yaracuy, Venezuela. As origens do culto são incertas, é um sincretismo de crenças indígenas, católicas e africanas. Tradições de comunicação em transe (que buscam canalizar a alma dos mortos em um corpo vivo) podem ter começado por volta dos séculos 19 e 20 na América Latina, popularizadas pelos ensinamentos do francês do século 19 Allan Kardec. Angelina Pollok-Eltz, da Universidade Católica Andrés Bello da Venezuela, que já trabalhou sobre o assunto, conta que os rituais em Sorte começaram no início da década de 1920 e foram levados para as áreas urbanas uma década depois.
Os seguidores de Maria Lionza viajam para a montanha por uma semana a cada 12 de outubro durante o Dia nacional da Resistência Indígena. Em 2011, as estimativas indicavam que cerca de 10% a 30% dos venezuelanos eram seguidores do culto. Na época, as autoridades venezuelanas indicaram que cerca de 200 mil seguidores participavam das tradições, incluindo estrangeiros vindos das Américas e da Europa. Em 2011, Wade Glenn, antropólogo da Universidade de Tulane, nos Estados Unidos, estimou que cerca de 60% da população venezuelana pode ter participado do culto de María Lionza em algum momento. Glenn argumenta que o aspecto conversacional dos rituais pode ter efeitos terapêuticos.
Membros de todas as classes sociais venezuelanas participam dos rituais. Em relatórios locais, os rituais foram considerados ligados ao falecido presidente da Venezuela Hugo Chávez, mas há pouca ou nenhuma evidência. O próprio Chávez disse que não participou, e alguns seguidores de María Lionza disseram que o apoiam, enquanto outros não gostam de Chávez. Alguns analistas argumentam que o declínio do poder político da Igreja Católica durante Chávez, juntamente com a crise na Venezuela, pode ter levado muitos venezuelanos a buscar ajuda e aderir ao culto. A hiperinflação na Venezuela que começou em 2016 afetou os rituais, pois muitos não conseguem acessar os materiais necessários para realizar as cerimônias.
TRADIÇÕES E ESPIRITISMO
Os seguidores se chamam Marialionceros e referem-se a María Lionza como a “Rainha” (espanhol: La Reina). As pessoas vão à serra da Sorte em busca de força, cura e contato com as almas dos mortos. Durante a peregrinação, os principais xamãs e sacerdotes de María Lionza se reúnem para prestar homenagem. Muitos seguidores usam trajes indígenas e realizam uma dança tradicional de caminhadas sobre o fogo chamada “dança das brasas” (espanhol: baile de las brasas).
Vários espíritos também são adorados durante os rituais ao lado de santos católicos e da Virgem Maria. María Lionza é uma das principais “três potências” (espanhol: Tres Potencias), que também inclui Guaicaipuro, um lendário líder da resistência indígena do século XVI, e Negro Felipe, um soldado negro afro-americano que supostamente participou da Guerra de Independência. Os espíritos inferiores, geralmente chamados de irmãos (espanhol: hermanos) pelos peregrinos, são organizados em ‘tribunais’, divididos por identidade: indígena, africano, viking, libertador. Os espíritos incluem fazendeiros, criminosos modernos e figuras históricas famosas, como o libertador da Venezuela do século XIX Simón Bolívar.
Os participantes se purificam nos rios lamacentos para receber os espíritos. Os xamãs assumem o papel de médiuns entre os peregrinos e os espíritos, e geralmente exigem que seus seguidores entrem em um estado de transe que muitas vezes os leva a falar em línguas ou se machucar. Os xamãs e os Marialionceros empregam bênçãos, maldições, tocar tambores, fumar charutos, mascar tabaco e licores locais durante os rituais anuais. Várias fontes relataram avistamentos de xamãs, às vezes usando capacetes com chifres, alegando ter contatado o lendário viking Eric, o Vermelho, o primeiro explorador nórdico a descobrir a Groenlândia.
Muitos membros de outras religiões nativas da América Latina e Venezuela estão presentes, principalmente Santeros (um sincretismo entre as crenças iorubás africanas e o catolicismo, conhecido por sacrificar animais para homenagear os Orixás) e Paleros (uma religião afro-cubana sincrética centrada na comunicação com os morto).
MONUMENTO EM CARACAS
Um dos retratos mais emblemáticos de María Lionza é o monumento de 1951 na Rodovia Francisco Fajardo, em Caracas, do escultor venezuelano Alejandro Colina. Retrata María Lionza como uma mulher nua e musculosa, montada em uma grande anta que está de pé sobre uma cobra. Lionza segura uma pélvis feminina, representando a fertilidade, bem acima de sua cabeça.
A estátua foi feita para os Jogos Bolivarianos de 1951, para ficar do lado de fora do Estádio Olímpico da Universidade Central da Venezuela (UCV), e a chama olímpica foi mantida na pélvis no topo da estátua durante este evento. A estátua foi encomendada pelo ditador Marcos Pérez Jiménez, que queria fazer de Maria Lionza um símbolo da Venezuela. A estátua foi transferida para a estrada em 1953, depois que a universidade e Pérez Jiménez ficaram preocupados que a localização acessível do campus permitiria que os devotos de María Lionza se reunissem e espalhassem a religião indígena na Venezuela. Em 2004, a estátua original foi transferida para um armazém da universidade e uma nova fundição foi colocada em seu lugar.
Não há registro do negro Felipe em documentos históricos. Pode ser uma mistura entre outras figuras negras de resistência como Negro Primero e Negro Miguel, também espíritos do culto.
Texto enviado por Ícaro Aron Soares.
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Uma resposta em “O Culto à Maria Lionza”
Muito me interessa este Culto, que me foi apresentado no ano de 2018 em videos do YouTube, nos quais recebe o nome de Quibayo. A Logística dos Rituais é, para mim, bastante fascinante e profundamente densa em Poder Mágicko.