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Gilda Bretas
Falar sobre o Caminho de Santiago representa uma tarefa fascinante para todos aqueles que já o percorreram alguma vez. É uma experiência incrível porque, ao falarmos sobre ele, abordamos mistérios sempre presentes, que se renovam com cada peregrino que passa por essa rota. Contemplamos séculos de história narrados em cada pedra, igreja, capela ou catedral — enfim, é um mundo novo e místico, cuja existência nem sequer suspeitamos, a menos que tenhamos a coragem de abandonar nosso conforto e nos aventurarmos pelo mundo, leves de bagagem e com uma mochila às costas. No entanto, as experiências interiores vivenciadas durante a peregrinação nunca poderão ser fielmente traduzidas em palavras, mas apenas esboçadas de forma tosca.
Não é minha intenção compartilhar aqui experiências pessoais, mas falar resumidamente sobre o aspecto oculto do Caminho.
Trata-se de uma rota trilhada, há muitos séculos, por cristãos, místicos, ocultistas e outros buscadores da Verdade. Quase todos os templos ao longo do caminho foram construídos por templários e companheiros construtores. Essas duas linhagens de buscadores uniram-se para preservar uma tradição pré-cristã, erigindo templos carregados de símbolos, onde deixaram gravados sua história e seu conhecimento. Souberam, no entanto, aliar-se aos novos tempos cristãos, e a Rota Jacobéia pôde, assim, tornar-se útil para todas as vertentes.
“O Caminho da Oca” e a “Via Láctea” são outras denominações para o mesmo trajeto que atravessa vários países da Europa, principalmente o norte da Espanha, terminando em Finisterre, no Oceano Atlântico. O principal ponto desse caminho é Santiago de Compostela, lugar de fé, devoção e história.
São vários os tipos de peregrinos que percorrem essa veia telúrica impregnada de magnetismo sob a Via Láctea: cristãos (em sua maioria católicos, que buscam penitência e purificação de suas almas aflitas) e místicos (magos, alquimistas, ocultistas e outros), sedentos de conhecimento interior e certos de que encontrarão a Iluminação após passarem por duras provas iniciáticas. O mais importante é que todos — absolutamente todos — que se atrevem a percorrer o Caminho nunca mais se esquecerão dessa experiência e nunca mais serão os mesmos. Terão se modificado profundamente ao término da viagem e carregarão para sempre, no fundo de suas almas, a grande mensagem do conhecimento iniciático do Ocidente.
De pedras e espinhos, de encontros inesquecíveis, ele é um caminho sagrado que conduz ao despertar da consciência, e a iniciação que ele proporciona transcende tudo o que alguém pode ensinar. O peregrino deve caminhar com os olhos bem abertos e um espírito livre de preconceitos para ir descobrindo os mistérios escondidos em cada amanhecer e as chaves secretas de cada pôr-do-sol.
As formas mais tradicionais de percorrê-lo são a cavalo, mula ou a pé. Também são considerados peregrinos com direito a refúgio gratuito aqueles que fazem o trajeto de bicicleta.
Para aquele que tem os olhos abertos, a iniciação se faz presente já nos primeiros dias de caminhada, e as duras provas a que ele é submetido são colocadas pelo Grande Iniciador, que não é uma pessoa, mas um poder invisível que concede ao candidato os testes necessários.
O Fogo, a Água, a Terra e o Ar estão ali presentes, assim como as armas capazes de vencê-los, tais como a fé, a coragem, a oração (o nome de Deus), a humildade e a sabedoria. Nenhum dos elementos é deixado de lado e, conforme as etapas vão sendo vencidas, o aspirante sobe em direção à Luz Maior, pois sabe que essa ascensão depende unicamente de seus esforços, vontade e disciplina.
Assim, ele atravessa a ponte que leva do visível ao invisível, até chegar à morte simbólica ou morte iniciática, que marca o fim de sua vida anterior para ressurgir em uma nova existência marcada pelo conhecimento superior. Ao término de sua caminhada, ele percebe claramente que algumas vidas se passaram nesses poucos dias e descobre que o Caminho foi apenas um meio para chegar a um fim, e que esse fim é a União com o Divino, com o Deus do Amor.
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