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Os historiadores costumam chamar os diferentes períodos da antiguidade segundo o material central que impulsionou a civilizações daquele período. Dai a Idade da Pedra, Idade do Bronze e a Idade do Ferro. Talvez no futuro o período que vivemos seja chamado de Idade do Petróleo. Uma época em que toda economia e toda produção, tudo o que usamos e fazemos está de alguma forma ligado aos combustíveis fósseis. Uma época que está desastrosamente chegando ao fim. Em pouco tempo a vida na terra pode estar completamente transformada. E se não nos prepararmos antes, voltar para as pedras poderá acabar se tornando uma alternativa razoável.
As contas simplesmente não batem. Há uma clara tendência de mais de quarenta anos na qual cada vez menos reservas são encontradas enquanto a demanda aumenta diariamente. Em 2008 a produção mundial alcançou o pico máximo de produção. A partir de então, a cada ano a extração de petróleo vai se tornar mais cara e difícil, embora nossa dependência e consumo se tornem maiores e mais necessários. Não importa quão lucrativo tem sido a indústria até hoje, no dia em que for necessário gastar um barril de petróleo para extrair um barril de petróleo, o fornecimento vai entrar em colapso.
E o que pode acontecer?
A não ser que você seja um mendigo, more na selva ou viva isolado no Himalaia (não é má ideia, ainda dá tempo!) sua vida poderá mudar bastante nos próximos anos. Entre os efeitos mais significativas são as Quatro Grandes Crises que em efeito dominó derrubaram os pilares que sustentam nosso modo de vida atual:
• Crise de Energia: Corte gradual e permanente do combustível fosseis.
• Crise nos Transportes: A crise de energia causará interrupções graduais e maciças em todas as vias de transportes.
• Crise Econômica: A crise na energia e nos transportes por sua vez causarão um impacto no comércio mundial. A indústria e os mercados enfrentará uma queda nunca antes vista, com taxas bem altas de desemprego e eventual colapso da própria extração de petróleo por falta de investimento.
• Crise Política: As crises de energia, transporte, econômica afetarão diretamente as atividades empresariais e governamentais. Se nada for feito o abismo entre ricos e pobres de hoje parecerá uma rachadura perto do que está por vir. Aumento da violência, agitação social e até conflitos armados são as consequência esperadas em todos os locais que não se prepararem.
Estas Quatro Grandes Crises se refletirão na humanidade de quatro formas bem claras:
• Fome: Hoje a agricultura depende pesadamente do petróleo. Tanto no maquinário de plantio e colheita, como os fertilizantes e pesticidas sintéticos a base de petróleo são grandemente responsáveis por ter feito Malthus encolir as própias palavras temporariamente. Isso sem contar toda logística de transporte e distribuição. Não estamos prontos para alimentar toda população do mundo sem petróleo. Os preços vão subir muitíssimo, todos os alimentos ficarão mais escassos e mais caros causando fome numa escala global.
• Guerra: A demanda pelo escasso petróleo restante deve continuar a levar algumas nações para a Guerra. Desde que foi descoberto o petróleo tem causado e sustentado a guerra pelo mundo. Mas a medida em que fica mais raro não apenas o tradicional exército estadunidense deve continuar suas campanhas, mas outros países devem começar suas ofensivas. Alguns países se protegerão com nacionalismo, outros usarão o nacionalismo para invadir. A fome por petróleo de monstros como Estados Unidos e Rússia já é notória mas a de gigantes como a Índia e a China parece estar só começando.
• Peste: Desnutrição causada pela fome e falta de saneamento causada pela Guerra já bastariam para uma explosão na proliferação de diversas doenças pelo mundo. Mas o buraco é bem mais embaixo. Vivemos hoje em guerra contra infecções e doenças causadas por microorganismos. Esta batalha é mantida em grande parte por produtos feitos a base de petróleo, como produtos de higiene e esterelização que simplesmente não estarão mais disponíveis (veja próxima seção). O resultado será desastroso, especialmente na primeira pandemia que enfrentarmos nesta situação.
• Morte: Fome, Guerra e Peste mostram que o fundo da questão é que os custos vão aumentar tanto que simplesmente a vida dos 7 bilhões que existem hoje serão insustentáveis. Não é certo ainda quantas pessoas terão que morrer até que o sistema se equilíbre as novas condições. David Pimentel em “How many people can the Earth support?” estima que só poderemos manter cerca de 2 bilhões de pessoas. Ou seja, 5 bilhões de seres humanos terão que ir embora e você tem 70% de chances de ser um deles.
O fim da vida como a conhecemos
Esquecemos de mencionar que sem o petróleo haverá um corte em mais de 500.000 produtos industrializados derivados deles. Incluindo eletrônicos e farmacêuticos. Não só o fornecimento de petróleo irá diminuir, mas a escassez e os preços elevados atrapalharão toda a indústria. E não estamos só falando dos chicletes que gostamos de mascar, vão desaparecer das prateleiras:
• Produtos Alimentícios: Como dito acima, teremos um problema sério de produção e distribuição de comida. O geologista Dale Allen Pfeiffer em seu artigo “Eating Fossil Fuels,” calculou que usamos cerca de 10 calorias dos combustíveis fósseis para produzir uma única caloria em alimentos.
• Embalagens em geral. Borracha sintética, isolamento, vedação e tudo que é feito de plástico ou borracha sintética.
• Produtos Farmacêuticos: Muitos remédios são dependentes do petróleo incluindo muitos analgésicos (como a aspirina) e anti-inflamatórios (como o ibuprofeno). Não apenas a produção, mas o transporte, conservação e esterelização ficarão comprometidas. Sem contar as seringas, luvas cirúrgicas, próteses, embalagens de soro e sangue e demais apetrehcos hospitalares.
• Minérios: Cobre, ouro, prata, platina e muitos outros minearias são descobertos, transportados e processados usando maquinário pesado que queima combustível fóssil. Sem cobre e prata não é possivel construir motores solares ou eólicos. Sem urânio, não é possivel produzir energia nuclear.
• Eletrônicos: Smarthphones, televisão, video-games, tablets e computadores usam a energia e componentes que só temos graças ao petróleo e aos minérios mencionados acima.
• Produtos de beleza: batons, base, rímel, delineador, protetor solar, hidratante, perfumes e gel de cabelo
• Vestuário: Roupas e tecidos feitas de fibras sintéticas como o acrílico, laycra, nylon, jeans, tactel, elastano, stretchy, poliéster e algodão revestido formaldeído. Também então na conta os sapatos, tênis e chinelos que usam borracha sintética ou outro derivado.
• Produtos de Limpeza e higiene: como detergentes, antisepticos, sabonetes, condicionador de cabelo, xampu e creme dental
• Construção: Seja no campo da construção civil ou industrial o petróleo é usado para produção de asfalto, tintas, solventes e outros produtos.
• Distribuição de Gás: O nome oficial do gás de cozinha é GLP, que quer dizer: Gás Liquefeito de Petróleo. Nada mais precisa ser dito aqui.
• Distribuição de Água: Por ser essencial a construção a falta de petróleo também afetará a construção e manutenção de diques, represas, estações de tratamento, barragens, canalizações e mesmo poços.
• Distribuição Elétrica: Considere que hoje todos os fios são isolados com petróleo. Todas as tomadas e plugues são de plástico e mesmo as usinas hidrelétricas dependem de diques, computadores, isolantes e turbinas que exigem manutenção.
Ou seja. Desde que você nasceu não passou um único dia sem consumir alguma coisa que dependeu direta ou indiretamente do petróleo. Os que sobreviverem as Quatro Grandes Crises, e a Fome, Guerra e Peste terão que se adaptar a um estilo de vida bem menos extravagante. Pessimistas como petrolífero americano Richard Duncan acha que entraremos em uma fase que ele chama de “Idade da Pedra Pós-Industrial”, outros mais otimistas como Jean H. Laherrere, petreolífero francês, imagina que o mundo entrará em uma era semelhante a Europa da década de 1950.
Quando isso tudo vai acontecer?
Já esta acontecendo. O ano do início da crise se deu quando pela primeira vez na história a produção mundial de petróleo chegar em seu limite. Isso foi em 2008. Depois disso a tendência é que a produção comece a decair, até o ponto de colapso quando a oferta mundial falhar em atender a demanda global. Dr. Colin Campbell, Ph.D em geologia pela Universidade de Oxford e geólogo chefe da Amoco, afirma que agora a taxa de produção deve cair em torno de 3% ao ano a partir de 2009 e segundo a IEA o consumo mundial sobe cerca de 1.5% todos os anos. Desta forma em meados de 2040 todos os efeitos esperados já serão claramente perceptíveis.
Em um artigo no Globe and Mail de março de 2000 (jornal canadense). Dr. William Rees afirmou que “Diversos estudos recentes sobre a produção de petróleo devem chegar ao pico em 2013 ou antes. Mesmo a necessariamente conservadora Agência Internacional de Energia, afirmou no World Energy Outlook de 1998 que a produção mundial deve começar a declinar entre 2009 e 2012 e então cair rapidamente.
Então o petróleo vai acabar?
Não exatamente. O que acontecerá é que estamos entrando em um período em que a cada ano ficará mais difícil extrair o petróleo para manter nosso modo de vida atual. Talvez sempre teremos um pouco de combustível fóssil, mas ele se tornará tão difícil e caro de se produzir que se tornara inviável. Para usarmos uma ilustração. Será como se você tivesse que abastecer o tanque do seu carro num posto tão longe que quando voltasse para casa já tivesse queimado o dobro de gasolina.
Podemos descobrir mais petróleo?
Dificilmente. Professor Steven Dutch, da University of Wisconsin em sua pesquisa sobre as reservas mundiais, trouxe números nada encorajadores. 80% do petróleo utilizado hoje são de reservas descobertas antes de 1973. Apesar da intensa tecnologia e dinheiro investido a taxa de descoberta de novas reservas está caindo assustadoramente desde 1940. Em 1938 reservas com mais de 10 milhões de barrils perfaziam 19% das descobertas, mas em 1948 a proporção caiu para 3%. Hoje a maior parte das reservas tem menos de 10 milhões de barris, menos do que os Estados Unidos consomem em um único dia. A descoberta de novas reservas está cada vez mais rara, e mais cara.
Podemos nos salvar com fontes alternativas de energia?
Infelizmente não. Os meios de energia alternativos atualmente disponíveis são grosseiramente inadequados para repor a demanda tanto em quantidade quanto versatilidade. No longo prazo talvez essa substituição ocorra, mas não há mais tempo disponível para adaptações e prevenções, que amenizem ou anulem os efeitos da crise que está por vir. Estas mudanças deveriam ter sido feitas no início do anos 70. A maior dificuldade está no fato de que todo o maquinário atual foi projetado para operar apenas em combustíveis fósseis. Só para dar um pequeno exemplo, todas de 11 mil linhas aéreas existentes no mundo nenhuma delas pode operar a base de energia nuclear ou outra qualquer. Mesmo os aclamados bio-combustíveis são sempre alguma coisa mais petróleo. Por fim nenhuma das fontes de energia alternativa podem substituir os mais de 5000 mil produtos que usam o petróleo na manofatura industrial.
A indústria pode se esforçar para resolver o problema com novas tecnologias?
Sim. E poderíamos acabar com o arsenal nuclear se houvesse boa vontade por parte dos poderosos. Não há. Podemos sempre ter esperança que alguém produza alguma tecnologia capaz de produzir o mesmo tanto de energia que os combustíveis fósseis, mas não há mais tempo hábil de mudar os eventos terríveis da próxima década, e pior, não há interesse! Ironicamente os magnatas e sheiks do petróleo são tão absurdamente ricos que estarão entre os poucos a se safar das consequências que afetarão a população em geral. Não lhes importa tornar a vida aceitável para o futuro, mas sim fazer o máximo de lucro enquanto dá tempo. Numa sociedade assim fica fácil entender porque as indústrias tem que ter cada vez mais combustível e porque as pessoas preferem pagar mais impostos para adiquirir um ipad hoje do que se certificar que haverá como plantar e colher uma alface daqui há 10 anos.
Quanto tempo este inferno vai durar?
Para sempre. Na verdade a queda nas reservas começou quando o primeiro posso foi cavado. A produção de petróleo não é trivial pois é formado em milhões de anos de decomposição de pequenas plantas e animais marinhos. O petróleo que extraímos hoje tem entre 90 e 140 milhões de anos e não pode ser reposto. Não haverá volta para trás. Não podemos fazer nada para evitar esta transformação, mas podemos tornar a transição mais civilizada. Teremos que nos adaptar aos novos tempos e redesenhar nosso conceito de civilização para vivermos sob estas novas condições. Os problemas de hoje, como obesidade e trânsito e compras de natal, vão dar lugar a problemas mais parecidos com que nossos bisavós tinham. Você estará pronto?
O que posso fazer para me preparar?
1 – Inicialmente procure se informar o máximo sobre o Pico do Petróleo e como a sua vida cotidiana poderá ser transformada com ele. No final deste artigo há uma série de indicações de filmes, sites, artigos e livros sobre o assunto.
2 – Informe as outras pessoas sobre o que está para acontecer. Se não se sentir ainda preparado pode simplesmente indicar este texto para as pessoas.
3 – Procure ou forme um Grupo de Transição em sua localidade. O impacto será proporcional ao nosso despreparo enquanto sociedade.
Fontes e indicação inicial de leitura:
Sites:
- http://transitionbrasil.ning.com/
- http://ecocentric.blogs.time.com/2011/02/09/energy-wikileaks-says-that-peak-oil-could-be-coming-soon/
- http://208.240.253.224/campbell.htm
- http://dl.dropbox.com/u/6282629/end%20of%20cheap%20oil.PDF
- http://www.theoildrum.com/files/We%20have%20lots%20of%20oil%20but%20.%20.%20..pdf
- http://www.chevron.com/explore/science/crude/
- http://www.oilcrashmovie.com/
- http://www.theoildrum.com/ e especialmente http://www.theoildrum.com/node/7464
- http://www.hubbertpeak.com/Campbell/commons.htm
Livros e Artigos:
- A última crise do petróleo por David Strahan
- Global Catastrophes and Trends – The Next Fifty Years, por Smil, Vaclav
- Eating Fossil Fuels, Dale Allen Pfeiffer
- The Coming Oil Crisis, por C. J. Campbell
- Out of Gas: The End of the Age of Oil, por David Goodstein
- The Party’s Over: Oil, War and the Fate of Industrial Societies, por Richard Heinberg
- Life After the Oil Crash, Matt Savinar
Thiago Tamosauskas
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