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“Kaspar Hauser não era deste mundo. Ele havia sido trazido para junto de nós mas era oriundo de outro planeta, talvez de um outro
universo”. Essas palavras não são de um autor contemporaneo de ficção cientifica , mas de alguem que acompanhou de perto a surpreendente aventura: Feuerbach. O mesmo Feuerbach que foi tão energicamente combatido por Marx e Engels e que era um adversário à sua altura.
Que se passaria de tão extraordinário para que esse homem que viveu antes de Julio Verne e não conhecia Edgar Poe e, ainda muito menos os discos voadores e a ficção cientifica, tenha feito tão estranha afirmação? Lembremos os fatos.
Num dia de maio de 1828, em Nuremberg, um agente de policia observou uma aglomeração que pareceria, em linguagem de hoje , de jovens deliquentes. No centro, um jovem de aproximadamente 16 anos mal vestido , que tentava em vão falar. O policial se dirigiu a ele. O jovem imitou desajeitadamente suas palavras, como teria feito um papagaio, sem nada compreender. Era visível que ele ignorava que a linguagem serve para a comunicação. O estranho jovem foi levadoà policia e revistado. Em suas roupas foram encontrados dois bilhetes contráditórios . Um deles dizia:
“Cuide de meu filho. Ele é batizado. Seu pai é um soldado do 6º Regimento de Cavalaria”.
Um exame revelou que a tinta desse bilhete não era tão velha como deveria ser de datasse de há 16 anos. Além disso , o 6º Regimento de Cavalaria acabava de chegar a Nuremberg onde não estivera na época provável do nascimento do jovem. Evidentemente o bilhete era falso.
O segundo também o era . Escrita com mão pouco hábil , dizia que sendo operário se ocupara de Kaspar Hauser desde 7 de outubro de 1812. Era tão suspeito quanto o primeiro. Sobretudo , quanto aos erros de ortografia que pareciam daqueles que teriam sido cometidos a proposito por um homem instruido para dissimular sua cultura.
A policia decidiu acusar o jovem de vagabundagem para poder examina-lo a vontade. Esse exame demonstrou que ele mal sabia andar, que se colocassem um obstáculo , como uma cadeira, diante dele ele se chocava contra o obstáculo e caia. Sua visão era perfeita , sua pele brqanca e, conforme as aparencias, ele jamais trabalhara. A planta de seus pés tinha a pele fina como a de um bebe. Quando o encontraram , ele usava sapatos de mulher, de saltos altos, que não lhe serviam bem.
Ele aprendeu depressa a falar e contou que ficara preso sob a terra , que o alimentava, lhe davam brinquedos de criança e que, finalmente , fora retirado do local em que se encontrava e posto dentro de um carro que o levara para o centro de Nuremberg.
Interrogaram-no . Os policiais encontraram um pescador que, em 1826, havia encontrado uma garrafa dentro da qual havia uma mensagem pedindo socorro, enviada por um prisioneiro fechado em uma cela às margens do Reno. A mensagem era assinada por Hares Sprauka . Um dos policiais identificou esse nome como uma anagrama de Kaspar Hauser. Procurou-se o prisioneiro , mas sem resultado.
Foi então que uma primeira tentativa de assassinio foi feita contra Kaspar Hauser. Um desconhecido entrou em sua cela e lhe deu uma punhalada no lado esquerdo do peito. O jovem nada sofreu. Começou-se a sentir interesse pelo caso. Um nobre ingles , o conde de Sanhoupe, contratou um cientista, o professor Daumer para estudar o caso. Surgiram romanticas conjecturas , segundo as quais Kaspar Hauser era o filho de uma familia nobre . Nenhuma foi, entretanto, confirmada. A 14 de dezembro de 1833, Kaspar Hauser foi assassinado em um parque em Hanspach , provavelmente por um desconhecido que marcara um encontro com ele , sob pretexto de lhe revelar seu segredo.
Todas as hipotese românticas , que se ajustavam tão bem à atmosfera geral da época, quando os bastardos das familias nobres faziam parte do folclore popular, como hoje em dia James Bond , desmoronaram uma depois da outra. E o mistério permaneceu.
Kaspar Hauser não conhecia o leite. O professor Daumer afirmou que, da primeira vez em que Kaspar foi a sua casa , tentou pegar a chama de uma vela . Não percebia a terceira dimensão, e foi preciso inculcá-la nele. Jamais se pôde encontrar o local onde ele estivera sequestrado. Jamais se conseguiu analisar a matéria sobre a qual haviam sido escritas as duas falsas mensagens. Não se tratava nem de papel nem de pergaminho, mas sem dúvida , segundo as descrições , de uma espécie de couro ultrafino. Teria sido interessante tentar defini-la, por meio de radiocarbono, mas infelizmente essa técnica ainda não era conhecida.
Mandou-se fazer , por diversos pintores , retratos de Kaspar Hauser que foram distribuidos por toda a Europa. Nenhuma
identificação foi possivel. Algumas eram romanticas, como a de Kaspar Hauser com o principe herdeiro de Baden , que
desaparecera em 1812 do palacio de Karlsruhe, levado por um fantasma. O vento soprava através das chaminés e das janelas do velho castelo. Os criados juraram que o fantasma, carregando a criança , passara através de uma parede. É uma bela história fantástica como se poderia encontrar em Dumas , ou Féval, mas que nada tinha a ver com Kaspar Hauser., mas este foi assassinado antes que ela o conseguisse ver.
Seria necessário um livro para reproduzir a lista completa das obras consagradas a Kaspar hauser. E dois capitulos como este para fazer a lista das obras de ficção baseadas em sua aventura, sendo as mais interessantes Kaspar Hauser , de Jacob Wassermann , e Je suis d’ailleurs, de H. P. Lovecraft.
Tqlvez seja possivel propor uma explicação extraterrestre . Em minha opinião, depois do período de simples comtrole e registro do que se passou sobre a Terra, veio o periodo , iniciado há alguns séculos, em que as Inteligências decidiram fazer experiencias. Essas experiencias consistem em introduzir , em nosso meio, seres suscetiveis de provocar as reações as mais diversas e estudar, a seguir , a maneira pela qual nos comportamos, como se estuda o comportamento de ratos em labirintos artificiais.
Pedir-me-ão para explicar como a experiencia Kaspar Hauser é unica. Mas , exatamente ao contrário, ela não é unica. Encontra-se, periodicamente, relatos sobre casos de pessoas que não se sabe de onde vieram. No século XVIII, existiu na Inglaterra uma jovem que pretendia ser a princesa Carabo, de um país que não está registrado em nenhum mapa . Ao fim de certo tempo , ela fez uma confissão que se verificou ser falsa. Depois disso desapareceu e jamais se ouviu falar nela.
Em seguida houve o caso do amnésico encontrado em Paris, no começo do século XX, que tinha em seu bolso o mapa de uma terra que não era o nosso planeta. E, mais recentemente, a história e Tuared, de tal beleza que não me canso de repeti-la. Em 1954 houve no Japão, disturbios tão violentos que o representante pessoal do Presidente dos Estados Unidos não pode desembarcar. O governo japonês confessou-se incapaz de manter a sua segurança. Desejando provar que esses disturbios eram provocados por agitadores estrangeiros, o governo mandou que se verificasse os passaportes de todos os estrangeiors residentes no Japão. Encontrou-se em um hotel uma pessoa que possuía um passaporte aparentemente em ordem: nem rasura nem palavras acrescentadas. A fotografia conferia com o dono, assim como a suas impressões digitais. Havia apenas uma dificuldade , mas importante: o passaporte fora concedido por autoridades do país de Tuared, que não existe na superfice do globo.
O homem foi interrogado . Segundo ele, o Tuared ia, em nossos mapas, da Mauritânia ao Sudão, incluindo-os e compreendendo também uma boa parte da Argélia. Foi no Tuared que se organizou a verdadeira Legião Árabe destinada a libertar da opressão todos os povos árabes. Ela viera ao Japão comprar armas.
Indignado pelo fato de se duvidar da existencia do seu país, concedeu entrevista a imprensa , depois da qual todos os jornalistas se preciptaram para os Altas e a seguir teletipos. Telegrafou-se às nações Unidas, à Liga Árabe , à UNESCO , a toda parte. Ninguem jamais ouvira falar do Tuared. Ele não era mais absurdo do que qualquer outro Estado africano; apenas não existia.
De qualquer modo, não em nosso planeta. Antes de ser internado em um sanatório de doenças mentais, no Japão, o emissário do Tuared deu entrevista, em particular à imprensa inglesa. Não conseguia compreender porque ninguem acreditava nele. O passaporte , examinado , revelou-se inteiramente normal. Era redigido em lingua árabe. O unico problema é que o país que o havia expedido não existia!
Esse personagem , periodicamente interrogado pela imprensa , insistia em dizer sempre a mesma coisa. Evidentemente
poder-se-ia encontrar para esse fato explicações racionais, como aliás para não importa que coisa. Explicava-se outrora que os meteoritos eram de pedras inteiramente normais que haviam sido atingidas pelo raio. Explicava-se que o raio era provocado pela corujas que, tendo no oco de uma arvore apodrecida, se haviam impregnado de uma matéria fosforescente. Mas não se compreendia bem como as corujas podiam entrar na cabine de um avião voando a oitocentos quilometros por hora e depois explodir, o que o raio faz frequentemente. Contudo a explicação pareceu satisfatória aos meios cientificos até 1965, isto é durante dois séculos.
Por esse motivo eu ( J. Bergier) sou um tanto cético quanto uma explicação unicamente psicológica da história de Kaspar Hauser ou da história do Tuared. A proppósito da explicação psicológica, permita-me citar uma anedota:
Há aproximadamente 15 anos realizava-se em Chicago um Congresso de Engenheiros de Aeronáutica. Tecnicos da casa Sperry tinham levado , em uma maleta, um girosçopio o qual , aparelho de experimentação, podia ser posto em funcionamento ligado a uma tomada de corrente comum. Alguns brincalhões , depois de um bom uisque puseram o giroscópio em funcionamento, completamente silencioso , depois do que puseram a tomada de corrente para dentro e fecharam a maleta. Depois pediram a um empregado do hotel que retirasse a maleta do quarto do hotel. O empregado não teve a menor dificuldade para levantar a maleta mas lhe foi impossivel voltar-se para passar pela porta. Isso porquw , uma vez em funcionamento , o giroscópio mantém o seu plano
de rotação e resite a qualquer tentativa de modificar esse plano. O que permite utiliza-lo para estabilizar navios, aviões e foguetes.
O infeliz empregado se encontrava , assim, diante de uma maleta aparentemente enfeitiçada, que se recusava a virar-se para transpor a porta aberta, Depois de algumas tentativas , ele deixou cair a maleta , voltou-se para os engenheiros e lhes disse em tom escandalizado: “Os senhores estão bebados”. O que me parece o próprio tipo de explicação psicológica aplicada a um fato físico.
Se pessoas como Kaspar Hauser são introduzidas em nossa civilização para provocar fenômenos psicologicos observáveis , qual a sua origem? Parece-me simples responder a essa pergunta; segundo dados estatísticos de diversas autoridades policiais, dois milhões de pessoas desaparecem a cada ano sem deixar traços.
E alguns desses desaparecimentos são tão estranhos que levam imediatamente a pensar em uma explicação para normal. O caso que passaremos a narrar ocorreu na Grã-Bretanha, no País de Gales. Um menino de onze anos, chamado Oliver Thomas , estava na fazenda de sua familia . Além de seus pais havia alguns convidados : um pastor e sua mulher, o veterinário da região , um oficial de justiça. Pessoas sérias , que não tinham de nenhum modo se excedido na bebida. Enfim , uma noite familiar entre pessoas de bem . Todas essas pessoas deveriam , mais tarde , prestar sólidos depoimentos . Tudo se apssava em 1909, época em que não havia água encanada na região. As 24 horas pediram a Oliver que fosse buscar um pouco de agua fresca no poço. Ele saiu com o balde . Dez segundos mais tarde ouviram-se gritos de socorro e todo mundo se preciptou para fora . O pastor teve a presença de espirito de levar uma lanterna que iluminava fortemente o pátio. Ninguém . Mas ouviam-se gritos que vinham do alto e a voz do jovem Oliver que gritava : “Socorro, estão me levando.” Depois, nada mais. Na neve , as pegadas de Oliver que iam da porta até a metade do caminho do poço e desapareciam bruscamente.
A cidade mais próxima se chama Rhayader. Foram chamar a polícia , Esta mandou sondar o poço , revistar todas as casas da região. Distribuiu por toda parte o retrato do menino. Sessenta anos mais tarde ainda não havia sido encontrado para esse desaparecimento uma explicação racional.
Um condor gigante pode levar um menino como na história Os filhos do Capitão Grant, de Julio Verne. Mas nenhum pássaro desse genero jamais foi visto na Inglaterra. Em 1909 não havia helicópteros. Supondo-se que a criança possa ter sido apanhada por meio de uma corda pendente de um balão, foram localizados todos os balões. Nenhum sobrevoara a região , nem mesmo a Inglaterra naquela noite. Chamoa a atenção dos apreciadores dos discos voadores: nenhum disco voador , nenhum engenho não-identificado foi observado na Inglaterra naquele ano , nem no ano anterior nem no ano seguinte.
Casos como esse são mais frequentes do que se possa acreditar, mas em geral são abafados. Todavia, eles se repetem
periodicamente, aumentados com peripécias que deixam de existir quando se volta aos documentos originais. Nesse caso de Oliver Thomas havia um só detalhe suplementar mais patético: durante vários anos, na igrejinha local , na qual era pregador o pastor que assistira ao desaparecimento da criança , rezou-se “pela libertação de Oliver Thomas, mantido prisioneiro por homens ou coisas desconhecidas”. Esperemos que o jovem Thomas não seja muito infeliz se é que ele ainda vive.
Lembremos, de passagem, que é o receio de desaparecer sem deixar traços , receio que constitui um tema permanente de folclore, que determina e faciliat a propagação de rumores como os que surgiram em Amiens, onde minorias raciais ou religiosas eram responsabilizadas por esses desaparecimentos.
Observemos também que , proporcionalmente, esses desaparecimentos são mais frequentes no mar: navios inteiros se volatilizam , ou tripulações ; e no ar: aviões inteiros desaparecem no ar ou em terra. Além disso certas regiões do mar , sobretudo um triangulo ao largo da Bernudas , são teatro de numerosos desaparecimentos. Sua frequencia atinge vinte a trinta vezes a frequencia normal.
Não se tem , desse fenomeno , a menor explica;cão. O mais que se pode fazer é imaginar que esses desaparecimentos são
submetidos , em algum lugar, a uma lavagem cerebral e são reintroduzidos entre nós , a título de experiencia, em circunstancias destinadas a nos desconcertar. Se imaginamos, o que não é dificil, técnicas de lavagem cerebral mais aperfeiçoadas do que as nossas , pode-se admitir a possibilidade de uma transformação completa da personalidade, e de uma inserção de falsas lembranças muitas vezes destinadas a nos confundir. Depois do que nos atiram um osso; uma explicação racional que mal nos satisfaz. Por outro lado, é preciso admitir que não somos curiosos , muito menos do que os ratos em seus labirintos , que reproduzem o que faz o experimentador e a mordem sempre que podem faze-lo.
No entanto, uma teoria que explica , a um elevado nível de raciocinio, alguns acontecimentos por experiencias feitas conosco, ganha cada vez mais terreno . Ele foi inteiramente proibida por um matematico inglês muito sério , Erving J. Good . Ele não excluia a possibilidade de que essa teoria acabe por chamar a atenção dos cientistas e nós veremos então a defesa de teses de doutoramento sobre as intervenções dos extraterrenos na história . Então esses desaparecimentos serão estudados de perto, assim como as aparições , as possiveis concordancias entre eles; finalmente , a volta de certos desaparecidos que, por outro lado , passaram séculos distantes , mas para os quais apenas alguns meses se escoaram. A história de Enoch mereceria ser reexaminada.
Segundo a tradição, as pessoas raptadas por fadas voltam séculos mais tarde, mas tem a impressão de que se passaram apenas alguns meses , talvez , alguns dias . Essas lendas existem há milenios em todos os países e continentes. No que concerne aos tempos modernos, um caso é particularmente chocante: o do duplo desaparecimento do soldado Jerry Irvin. Quando estava ele em gozo de licença, foi encontrado insconsciente, em 2 de maio de 1959. Parecia ter sido submetido a um tratamento psicológico tão estranho que se dicidiu suspender a autorização que ele dispunha para entrar em certos edificios militares reservados. Ele deixou o hospital e só voltou a ser encontrado a 19 de junho do mesmo ano, sem que pudesse dizer o que fizera desse intervalo de tempo. O soldado foi de novo submetido a exame e internado na secção psiquiátrica de um hospital militar. A 1 de agosto de 1959 ele desapareceu do hospital . E nunca mais ninguem o viu. Foi considerado desertor e como tal intensamente procurado. Mas tudo em vão.
A Idade Média é cheia de casos desse gênero. Oacebispo de Lyon, Agobard (779-840), fez uma pesquisa e descobriu que esses desaparecidos pretendiam ter visitado um país a que chamavam Magonia . Sendo um arcebispo racionalista, recusou-se a acreditar nisso e chegou a mandar apedrejar tres homens e uma mulher que pretendiam ter ido a Magonia em naves aéreas. Qual pessoa de bom senso que poderia acreditar em naves aéreas?
Esses infelizes haviam afirmado que, para eles, decorrera muito pouco tempo durante a viagem e que transcorrera muito mais tempo para o mundo exterior. O que é digno de nota: a contração do tempo para um objeto que se desloca a grande velocidade é um fenomeno de laboratório, perfeitamente estabelecido. Não há nenhuma razão para manifestar , diante desses fenomenos, o ceticismo do “estupido século XIX”.
Bem entendido, é preciso não esperar encontrar de novo todos os desaparecidos . Alguns , por motivos que fogem a nossa compeensão, podem ser mantidos no lugar para onde foram levados.Meu grande e saudoso amigo, o biologista inglês J. B. S. Haldane refletia muito sobre essa possibilidade de rapto por seres extraterrestres e publicou a esse respeito uma nota que sempre me pareceu muito inquietante. Ele observa que nós, terrenos , dispomos de capacidade que nós mesmos desconhecemos, caso que não se manifetam na Terra, mas podem interessar alguém que não nós. Ele citava como exemplo as focas que tem a capacidade de manter em equilibrio sobre o nariz uma bola de futebol. Capacidade que elas lamais tiveram a possibilidade de manifestar no seu habitat ártico ou antártico. Mas elas divertem os homens que raptam seus filhotes , ensinam-nos a manter a bola em equilibrio sobre o nariz e os exibem nos circos. Sem que o conjunto dessa operação possa ser explicada às focas, cuja linguagem não comporta ,sem dúvida, nenhuma palavra para significar circo ou futebol.
Talvez saibamos , sem sermos disso conscientes , fazer coisas inteiramente incompreensiveis e inexplicaveis , mas por causa das quais merecemos ser raptados. Essa conjectura é talvez inquietante, mas muito dificil de rejeitar , tanto o exemplo das focas é convicente.
Estamos certos de que algumas coisas nos são impossiveis , mas outros podem saber, sobre nós, mais do que nós mesmos. Citemos a esse respeito a história do espanhol Gil Perez. A 25 de outubro de 1593, ele montava guarda diante do palácio do governador , em Manila, nas Filipinas. Inesperadamente, percebeu que fora transportado. Ele se preciptou para os soldados que guardavam o palacio do governo e perguntou, antes de mais nada , onde se encontrava. Não queria acreditar que estava no México. Contou sua história, na qual ninguém quis acreditar. Em seguida apresentou uma prova: “Na noite anterior, S. Excia. Dom Gomes Perez das Marinas , governador das Filipinas , fora assassinado a golpes de machado . Quando voces receberem a noticia, serão obrigados a verificar que não sou um mentiroso.”
Levaram Gil Perez às autoridades eclesiásticas pois que, evidentemente tratava-se de um caso de magia ( bem-aventurados aqueles que sabem distinguir entre a magia e as leis naturais). Ao fim de dois meses um navio chegou das Filipinas trazendo a noticia da morte do governador. Perez foi posto em liberdade mas nunca se teve, nem na época , nem mais tarde, a explicação dessa aventura. Teria sido uma experiencia de extraterrestres? Ou uma manifestação de poderes humanos inteiramente desconhecidos e que não são normalmente exercidos?
Nào pretendo responder a questão . Mas acredito que o estudo dos “fatos malditos” fugirá um dia ao dominio da simples
compilação para entrar no dominio da teoria. Então, um livro como este se revelará não de todo inútil.
O interesse do caso de Kaspar Hauser provém do fato de ele ter sido bem estudado. Mas talvez não tenha sido da maneira mais indicada. Concentraram-se os estudos sobre a hipótese puramente romantica de uma criança de boa familia raptada em consequencias de uma conspiração contra uma dinastia, ou de um bastardo de origem nobre que se deseja esconder. É preciso, de uma vez por todas, rejeitar esse genero de hipóteses que jamais pode ser comprovada, difundir os fatos que se encontram expostos em numerosos estudos e admitir a probabilidade das hipóteses as mais fantásticas.
Afirmou-se muitas vezes que o caso Kaspar Hauser constituía um dos grandes enigmas clássicos, juntamente com o de Marie-Céleste. Apesar das numerosas páginas que lhe foram consagradas, talvez não seja inteiramente inútil voltar a examinar este ultimo, dentro do espirito desta obra.
A 15 de dezembro de 1862 , no Atlantico , o navio Dei Gratia descobriu completamente abandonado o navio Marie Céleste. Sua tripulação , que partira de Nova York composta de sete homens , o capitão, sua mulher e um filho de tenra idade, desaparecera. Isso acontecera a 38º20′ de latitude norte e 17º15′ de longitude oeste , na região dos Açores. Os desapare3cidos não tinham levado nada do que possuíam , nem mesmo dinheiro. Não se descobriu nenhum indício de motim.
Inumeros livros publicados a respeito propunham explicações mais ou menos racionais: por exemplo , um polvo gigante arrebatara toda a tripulação. Os maiores escritores de livros de mistério e de ficção cientifica, Conan Doyle, Henry Georges Wells, publicaram novelas que apresentavam explicações engenhosas mas nada concludentes. Em nossa época , o escritor Yves Dartois, em um romance intitulado Le démon des bateaux sans vie ( O demônio dos barcos sem vida) propõe como explicação um cogumelo raro que se desenvolve na madeira dos navios e cujos esporos envenenariam os
tripulantes e os passageiros que então se lançariam ao mar. Dartois elaborou uma lista de outros navios, todos de madeira, em que ocorreram aventuras semelhantes. Essa foi, indiscutivelmente , uma das mais inteligentes hipóteses sobre o assunto , mas não pode se demonstrada.
Além disso, tripulações inteiras desapareceriam em navios modernos metálicos. O último desses casos de que eu ( J. Bergier) tomei conhecimento ocorreu em 1962, no Pacifico. Depois disso, outros sem dúvida foram registrados. Enquanto não se der explicação inteiramente convincente, que possa ser demonstrada, parece-me perfeitamente legítimo admitir , com Charles Fort, Eric Frank Russel e outros pensadores originais , que a tripulação do Marie-Céleste foi raptada. Essa não é, evidentemente , a unica explicação possivel , mas é sem dúvida uma explicação que se pode aventar.
Caso igual ocorreu com a tripulação de um balão utilizado pelo exercito norte-americano durante a Segunda Guerra Mundial na luta contra os submarinos alemães . Esse balão , que era mantido sob constante observação, foi entretanto encontrado vazio. Os tres homens que se encontravam em seu barquinho tinham desaparecido. Eles dispunham de rádio e poderiam , se fosse ameaçados , ter dado um sinal de alarma.
Outro caso semelhante foi o do desaparecimento de trinta e tres militares norte-americanos cujo avião se preciptou ao solo nas Montanhas Rochosas. Foram encontrados os destroços do avião mas nenhum traço de cadáveres ou dos sobreviventes. Eles se encontram, sém dúvida, em algum lugar , mas não se sabe onde. É dificil incluir nesta lista os aviões desaparecidos : seu desaparecimento pode ter uma explicação inteiramente normal . É frequente encontrar-se mais tarde a verdadeira explicação. Assim , soube-se apenas há dois ou três anos que a aviadora norte-americana Amélia Earhart, desaparecida no Pacifico pouco antes da Segunda Grande Guerra Mundial, era agente do serviço secreto dos Estados Unidos. Assim tem-se todos os motivos para crer que ela tenha sido fuzilada pelos japoneses. Em
compensação, um caso muito nítido pode ser acrescentado à nossa coleção : o da aldeia esquimó de Angikuni, da qual todos os homens , mulheres e crianças, mas também sete cães presos a uma árvore morreram de fome. Ora, jamais um esquimó deixaria um cão morrer de fome.
Mais surpreendente ainda: os túmulos tinham sido abertos e os cadaveres dos aldeões mortos haviam desaparecido. O exame das groselhas nas cozinhas demonstrou que dois meses antes da chegada do caçador Joe Labelle, que descobriu a aldeia abandonada , esta ainda era habitada. Isso porque essas groselhas não amadurecem senão durante um curto espaço de tempo perfeitamente determinado. Ose esquimós haviam deixado seus fuzis, o que é uma prova ainda mais convicente de que não tinham partido voluntáriamente, pois esses fuzis são o seu bem mais precioso. Haviam desaparecido cerca de trinta pessoas. Nenhuma explicação pôde ser encontrada. O famoso ditado segundo o qual a policia montada canadense jamais encontra um obstáculo intransponivel se revelou inteiramente falsa. Os outros nativos da região dizem que os habitantes de Angikuni foram raptados por Wendigo , criatura que habita a floresta canadense e que eles se recusam a descrever.
Mas esse caso não foi o recorde dos desaparecimentos em massa: em 1872 , num grande rio norte-americano , o navio a vapor , ultramoderno para a época , Iron-Mountain desapareceu . O navio tinha sessenta metros de comprimento, dez de largura e levava cinquenta e cinco passageiros e os membros da tripulação. Ele desapareceu completamente sobre um rio, sem que jamais se encontrasse dele o menor traço. Um outro caso, muito chocante, data de 1928; é o do navio escola dinamarquês Kobenhaven. Muito moderno , equipado com rádiso, levava, além de uma tripulação muito bem treinada , cinquenta alunos oficiais da marinha de Guerra dinamarquesa . todos excelentes marinheiros. O navio também se encontrava em perfeito estado e fora cuidadosamente inspecionado por especialistas. A 14 de dezembro de 1928 ele deixou o porto de Montevidéu. E nunca mais se soube dele.
Dispomos de menor numero de documentos sobre um desaparecimento ainda mais importante que se passou durante a interminável guerra sino-japonesa pouco antes da Segunda Grande Guerra Mundial. A 10 de novembro de 1939, depois da queda de Nanquim, um regimento de três mil homens , comandado pelo Coronel Li Fu Sien , foi enviado para conter o avanço dos japoneses. O regimentodesapareceu inteiramente e seus rádios deixaram de emitir . Foram encontrados armas e restos de fogueiras de campanha . Os arquivos japoneses que hoje podem ser consultados não mencionam a captura de nenhum regimento inteiro nessa época. E se o regimento tivesse desertado em conjunto , as familias
dos soldados teriam sabido ou pelo menos ouvido falar disso.
Trata-se de uma bela história , mas era preciso ter-se a certeza de que esse regimento realmente existiu pois , antes de Mao, reinava no exército chinês a maior confusão . Se os fatos se passaram realmente desse modo , o caso bate todos os recordes de desaparecimento.
Mas , pode-se estar certo disso? Quanto a mim , acredito mais facilmente nas histórias de desaparecimento em que as vitimas são menos numerosas, mas tem um motivo para desaparecer, motivo que se prende mais de perto ao objeto deste livro. Por exemplo, a história do faiscador de ouro norte-americano J, C, Brown . Este pretendia , em 1904 , ter descoberto nas Montanhas de La Cascade, na Califórnia , um túnel até chegar a uma câmara subterranea cujos muros eram revestidos de cobre . Essa camara continha esqueletos humanos, jóias de ouro e, nas paredes , hieróglifos que o
faiscador de ouro não conseguiu decifrar.
Como não desejava que o tomassem por louco, Brown esperou fazer fortuna para falar . E nesse interim passaram-se trinta anos. Em 1934, ele chegou a Stockton , na Califórnia , a cidade mais próxima de seu tunel e organizou uma expedição. Já havia contratado oitenta pessoas quando, na noite de 19 para 20 de junho de 1934 , despareceu . Depois disso nunca mais foi visto por ninguém.
A policia investigou para saber se, por acaso, ele não havia tomado de empréstimo importancias que pretendesse pagar com o tesouro que ia procurar. Suspeitaram dele injustamente. Brown não devia a ninguem . Não tinha a menor razão para desaparecer . . . a menos que . . .
A menos que ele tenha chegado muito perto de certos segredos e que tenha sido eliminado para que a humanidade não tomasse conhecimento , cedo demais, de certas observações.
Um outro mineiro , chamado Tom Kenny, de Plateau Spring , não desapareceu . Mas , a descoberta que fez , em 1936, é estranha. A quatro metros de profundidade , ele encontrou uma estrada, pavimentada de pequenas placas quadradas de aproximadamente oito centimetros de lado e das quais não se tem outros exemplos em nenhuma civilização conhecida.
Mais tarde , em 1960 , em Blue Lick Springs, no Kentucky , uma estrada semelhante foi descoberta, também pavimentada com muito cuidado. Nos dois casos, as escavações e buscas não foram levadas longe bastante para se saber se os desenhos dessas estradas eram parecidos aos de Nasca ou de outras vias desaparecidas , ou mesmo a esses campos de aterragem ou decolagem.
Circulam , nas duas Américas , numerosas lendas relativas a vastos domínios subterraneos . Segundo eles, os incas eram pelo menos dez milhões antes da chegada dos espanhóis. Quarenta anos mais tarde, em 1571, um recenseamento feito pelos espanhóis atribui aos incas o número de aproximado de um milhão. Sem dúvida , os espanhóis massacraram muitos incas e mataram muitos mais com trabalhos forçados nas minas. Mas “nove milhões” – a cifra parece exorbitante. A hipotese de um dominio subterraneo onde os incas se tivessem refugiado não é, a priori, completamente absurda. Em
1802, Alexandre von Humboldt encontrou descendentes dos incas que acreditavam nisso.
Mesmo nas épocas históricas , desaparecimentos numerosos e inexplicaveis constituem um fato suficientemente estabelecido para que se possa admitir a título de hipotese , a existencia de uma Inteligencia ou de Experimentadores que capturam e depois deixam em liberdade , a título experimental , certos seres humanos.
No entanto, o fenômeno Kaspar Hauser é, em si mesmo , suficientemente interessante. Charles Fort recolheu um grande numero de exemplos de desaparecimentos misteriosos, e encontram-se outros em outros livros mais ou menos sérios.
Parece que casos desse genero sempre existiram . Evidentemente, no passado eles eram menos fáceis de reconhecer do que hoje. Em Paris ou em Londres da Idade Média, um homem ou mulher que não se sabia de onde vinham nem para onde iam , chamavam menos atenção. Hoje , os passaportes, os vistos , as impressões digitais , os impostos e outros tantos controles tornam mais evidentes e mais rapidamente os casos estranhos.
Á pergunta que se deve fazer no fim deste capítulo : “De onde foram afastados Kaspar Hauser e outros?” É evidente que eles foram expulsos de algum lugar, mas onde fica esse lugar? É facil , portanto, nos deixarmos levar por fantasias de ficção cientifica sobre os “Grandes Galácticos“.
Extraido do livro Os Extraterrestres na História de J. Bergier – Editora Hemus – 1970
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