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Por Aaron Baggett e Erika Van t’ Veld.
Histórias assustadoras são uma tradição de verão japonesa. Então, que melhor maneira de se refrescar do calor brutal do verão do que com uma história arrepiante sobre um túnel assombrado em Kyushu ou uma boneca possuída em Hokkaido?
Podem parecer que vêm de filmes de terror japoneses sobre seus típicos yurei e yokai (fantasmas e espíritos mitológicos) – mas são baseados em histórias reais – em sua maior parte.
Aqui estão sete lendas urbanas japonesas para te dar calafrios durante as noites quentes de verão.
1. INUNAKI – O TÚNEL UIVANTE:
O verdadeiro mistério da Vila Inunaki é se ela existiu ou não. Rumores sobre isso persistem no Japão e online desde a década de 1990. Supostamente localizada nas profundezas da zona rural de Inunaki, na província de Fukuoka, em Kyushu, diz-se que esta vila abandonada só é acessível através do Túnel Inunaki.
As histórias dizem que todos os que entram na aldeia estão condenados a uma morte violenta. Esses mitos e contos também parecem mencionar que há algum tipo de sinal “oficial” afirmando: “A constituição japonesa não está em vigor aqui”, o que significa que todos os que entram estão por conta própria para enfrentar os horrores reais ou sobrenaturais que os aguardam.
Os contos, no entanto, provavelmente foram inspirados por um assassinato brutal que realmente ocorreu no túnel Inunaki. O túnel, sendo remoto e raramente usado pelo trânsito, era um local popular para gangues. Em uma tarde de dezembro de 1988, um grupo de adolescentes sequestrou, roubou e torturou Umeyama Kouichi, de 20 anos, antes de queimá-lo vivo no fundo do túnel.
Hoje, o Túnel Inunaki, ou “túnel do cão uivante” em japonês, é considerado um dos lugares mais assombrados do Japão. Grandes tijolos de concreto bloqueiam sua entrada (embora os aventureiros consigam entrar, independentemente). Os moradores dizem que dispositivos eletrônicos e até mesmo seus carros costumam quebrar ao redor do túnel, e os sons de cães latindo e gritos medonhos emanam do fundo do túnel.
A lenda do túnel e da vila foram até inspirações para o filme A Vila dos Uivos, em inglês, Howling Village (犬鳴村) de 2020, do criador de Ju-on (o Grito), Takashi Shimizu.
2. A BONECA NA QUAL CRESCE CABELO HUMANO:
Esta história conta que em 1918, em Hokkaido, Eikichi Suzuki comprou para sua irmã mais nova, Kikuko, uma boneca tradicional japonesa “okappa” (de penteado bob). Infelizmente, Kikuko morreu de resfriado e a família manteve a boneca em um santuário para sua filha e a chamou de Okiku. No entanto, a família notou algo estranho na boneca com o tempo – seu cabelo estava ficando mais comprido.
A família acreditava que a boneca possuía o espírito inquieto de sua filha falecida e assim cuidou dela até confiá-la aos cuidados do Templo Mannen-ji. Lá a boneca permanece, crescendo lentamente o cabelo humano.
Você pode visitar Okiku, mas a fotografia não é permitida. Hoje, mesmo depois de alguns cortes dos sacerdotes do templo, o cabelo da boneca cresceu até os joelhos. Também supostamente aumentou seu terror. Os sacerdotes afirmam ter pesadelos com Okiku e os visitantes dizem que a boca da boneca está se abrindo lentamente – e nascendo dentes de leite.
3. O SACRIFÍCIO HUMANO NO CASTELO DE MARUOKA:
O “Hitobashira”, um tipo de sacrifício humano, foi praticado no Japão até o século XVI. Os senhores emparedariam as vítimas vivas em pilares, represas e outras fundações de construção para apaziguar os deuses, que protegeriam o edifício de ataques e desastres naturais. Também era um termo para trabalhadores enterrados vivos.
O Castelo de Maruoka em Sakai, Prefeitura de Fukui, é o lar de uma das mais famosas histórias do hitobashira. Uma das paredes do castelo continuou desmoronando durante a construção, por mais reforçada que fosse. Foi então sugerido ao senhor do castelo fazer um hitobashira.
Uma camponesa caolha com filhos chamada Oshizu foi escolhida para o sacrifício. A pobre mãe apenas pediu que seus filhos se tornassem samurais após o ritual. Os senhores concordaram e Oshizu foi enterrada sob o pilar central da torre de menagem do castelo.
Infelizmente, os senhores do castelo não cumpriram sua promessa, e seus filhos nunca se tornaram samurais. Após isso, o fosso transbordava a cada chuva de primavera, quando chegava a hora de cortar as algas. Os moradores pensaram que eram as lágrimas de tristeza de Oshizu e ergueram uma tumba para apaziguar seu espírito. Um poema também foi transmitido através das gerações:
“A chuva que cai quando chega a estação de corte de algas é a chuva que lembra as lágrimas de tristeza da pobre Oshizu.”
4. A MALDIÇÃO DE RED ROOM, O QUARTO VERMELHO:
Esta lenda urbana moderna começou a partir de uma animação em flash com “tema de morte” intitulada “The Red Room (O Quarto Vermelho)”. Tornou-se popular nos cantos escuros da internet depois que uma menina de 11 anos em Sasebo, Nagasaki, esfaqueou seu colega de classe até a morte na escola. O assassino era fã da animação Red Room.
A maldição começa com um pop-up na tela do computador da vítima quando ela está sozinha em uma sala. Tem um fundo vermelho com letras pretas perguntando: “あなたは〜好きですか?” (Você gosta de ~?) Enquanto a vítima tenta freneticamente fechar o pop-up, mais palavras aparecem até que se leia: “あなたは赤い部屋が好きですか?” (Você gosta do quarto vermelho?)
A tela inteira fica vermelha e uma lista de vítimas anteriores aparece. Se algo sobrenatural vem ou a vítima é compelida a fazer a ação por conta própria, não se sabe. Independentemente disso, elas são mortas e seu sangue cobre as paredes da sala. Daí a maldição do “quarto vermelho”.
5. AKA MANTO – O FANTASMA DA CAPA VERMELHA:
Aka Manto (capa vermelha) encontra as vítimas quando elas estão mais vulneráveis: no banheiro. Ele usa uma máscara branca e uma longa capa vermelha. Existem muitas variações para a lenda. Ele segura papel higiênico vermelho e azul em algumas histórias, mas está apenas com sua capa em outras. Porém, ele sempre pede para a vítima escolher uma cor: vermelho ou azul?
Como a mulher da boca rasgada do Japão que pergunta: “Eu sou bonita?” não importa o que você responda, pois Aka Manto o mata de qualquer maneira – escolher o vermelho o recompensa com uma facada, derramando seu sangue por toda o chão. Se você responder azul, Aka Manto o sufoca ou suga seu sangue, deixando você com o rosto azul e morto no chão. Portanto, sua melhor aposta é ignorar o demônio ou fugir.
Essa lenda é popular o suficiente para aparecer em vários filmes, videogames e na série de TV americana de 2015 Scream Queens. Alguns acreditam que Aka Manto é baseado em um assassino da vida real chamado “ao getto” (o cobertor azul) na província de Fukui de 1906, mas essa é mais uma lenda urbana.
As origens de Aka Manto são um mistério, mas provavelmente são inspiradas nos banheiros das escolas japonesas onde ocorrem os terríveis assassinatos. No Japão, todo professor de inglês pode atestar estar em uma escola estranhamente grande, mas vazia, com um banheiro mais distante dos outros – velho e descuidado. Além disso, quem quer responder a perguntas enquanto tenta fazer o número dois?
6. HANAKO – A MARIA SANGRENTA JAPONESA:
Falando em horror do banheiro, o Japão também tem sua própria lenda urbana de Bloody Mary (Maria Sangrenta, ou a Loira do Banheiro). Toire no Hanako-san, ou Hanako do banheiro, é um espírito convocado muito parecido com seus homólogos ocidentais. Se o corajoso (ou estúpido) entrar em um banheiro no terceiro andar, bater na terceira cabine três vezes e perguntar: “Hanako, soko ni imasu ka” (“Hanako, você está aí?”), Você pode obter uma resposta.
A porta se abrirá lentamente para revelar a pequena Hanako em uma saia vermelha. Seu cabelo está preso em um coque de estilo tradicional. Então ela agarra sua vítima e a arrasta para o banheiro, para nunca mais ser vista.
Em outras versões, Hanako pergunta às crianças se elas precisam de uma amiga. Independentemente de sua resposta, Hanako arrastará as crianças para baixo da chão e para sua destruição. Nunca confiem em um fantasma japonês, crianças.
Como Aka Manto, as origens de Hanako não são claras, embora o folclorista Matthew Myers diga que sua história é tão recente quanto a década de 1950. A maioria dos relatos diz que ela é o fantasma de uma criança que se escondeu no banheiro de sua escola e morreu em um bombardeio durante a Segunda Guerra Mundial.
É provável que seja apenas mais um caso de banheiros escolares muito mais assustadores do que deveriam ser.
7. O INFERNO DE TOMINO – O POEMA AMALDIÇOADO:
O Inferno de Tomino é um famoso poema de Yaso Saijo. Escrito em 1919 depois que Saijo perdeu sua família durante a Primeira Guerra Mundial, o verso conta a história de uma criança que desce ao inferno e inclui imagens assustadoras e perturbadoras. Recomenda-se que não se leia o poema em voz alta, pois podem ocorrer coisas estranhas na vida do leitor.
O poema diz:
“A irmã mais velha vomita sangue,
a irmã mais nova cospe fogo
enquanto a doce e pequena Tomino
apenas cospe contas de vidro.
Sozinha Tomino
caiu nesse inferno,
um inferno de escuridão total,
sem nem mesmo flores.
É a irmã mais velha de Tomino
aquela que a chicoteia?
O propósito da flagelação
paira obscuro em sua mente.
Amarrando-a e espancando-a, ah!
Mas nunca se estilhaça o suficiente.
Um caminho seguro para Avici,
o inferno eterno.
Naquele mais sombrio dos infernos
para orientá-la agora, eu rezo…
para a ovelha dourada,
para o rouxinol.
Quanto ela colocou
naquela bolsa de couro
para se preparar para sua caminhada para
o inferno eterno?
A primavera está chegando
ao vale, à floresta,
aos abismos em espiral
do inferno mais obscuro.
O rouxinol em sua gaiola,
as ovelhas a bordo da carroça,
e lágrimas bem nos olhos
da doce e pequena Tomino.
Canta, ó rouxinol,
na vasta e enevoada floresta…
ela grita que só sente falta de
sua irmãzinha.
Seu lamento desesperado
ecoa por todo o inferno…
uma peônia de raposa
abre suas pétalas douradas.
Descendo as sete montanhas
e os sete rios do inferno…
Esta é a viagem solitária
da pequena e doce Tomino.
Se neste inferno elas forem encontradas,
que elas venham até mim, por favor,
aqueles espinhos de punição afiados
da Montanha das Agulhas.
Não apenas por um capricho vazio
É a carne perfurada com alfinetes vermelho-sangue:
elas servem como placas de sinalização infernais
para a doce e pequena Tomino.”
Embora Saijo tenha deixado a interpretação para o leitor, acredita-se que seja sobre uma criança que assassinou seus pais. No poema, Tomino desce aos níveis mais baixos do inferno budista, reservado para aqueles que assassinam seus pais. Outros interpretam o poema como sobre guerra ou abuso infantil.
Independentemente de seu verdadeiro significado, as pessoas afirmam que o poema causa dores de cabeça, doenças e até a morte se o poema completo for lido em voz alta. Em 1974, o diretor Terama Shuji lançou um filme baseado no Inferno de Tomino, Den-en ni shisu (Pastoral: Morrer no Campo). O diretor morreu posteriormente devido a uma doença hepática, gerando rumores sobre o poema.
No entanto, o provável catalisador para essa lenda urbana foi em 2004, quando o autor Yomota Inuhiko escreveu Kokoro wa Korogaru Ishi no you ni (Meu coração é como uma pedra rolando) baseado no Inferno de Tomino. Lá, Inuhiko escreveu: “Se por acaso você ler este poema em voz alta, sofrerá um destino terrível do qual não poderá escapar”.
Existem outras lendas urbanas japonesas assustadoras que você conhece que perdemos? Deixe-nos saber nos comentários! Este artigo foi escrito em colaboração com Erika Van t’ Veld. Foi atualizado em 11 de agosto de 2021.
Fonte: https://blog.gaijinpot.com/7-t
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