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Queer Magic

Queer Magick e Magia de Gênero

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Tamosauskas

Transexualidade é a condição do indivíduo cuja a identidade de gênero diverge do sexo físico biológico e dos papeis definidos para ele pela sociedade em que nasceu. Se como Crowley disse “Magick é a Ciência e a Arte de fazer com que a Mudança ocorra em conformidade com a Vontade” então, sem sombra de dúvida, todo transgênero tem um talento natural para magia. Não é surpresa que Baphomet, que segundo Eliphas Levi é a grande imagem representativa das artes ocultas, seja uma figura não-binária com falo e seios.

Quando uma transição é bem sucedida temos para todos os efeitos aquilo que Peter Carroll chama no Liber Null de Iluminação, um dos cinco atos mágicos. A definição para  iluminação não poderia ser mais precisa: “A  deliberada auto-modificação pela magia”. Os demais atos mágicos como Adivinhação, Encantamento, Invocação e Evocação podem ser realizadas para inspirar a direção desta transformação.

O que podia ser subentendido nos textos mais antigos, na magia contemporânea, principalmente a partir de Phil Hine temos todos os esqueletos tirados dos armários no que ele chamou de ‘Queer Magick’. E o que exatamente significa Queer? Em seu livro Caos e Além ele diz que “Queer pode ser lido como um termo guarda-chuva, abrangendo uma multiplicidade de posições de identidade onde talvez o único ponto em comum seja os vários graus de comprometimento em recusar/resistir a imposições binárias de gênero heteronormativo.” Mas o significado pode ser mais profundo para todos os magistas (mesmo para aqueles que se identificam com o gênero que lhes foram atribuídos).  Hine diz que como verbo “Queering pode ser se assumido como todo processo de disrupção, perturbação e questionamento  de tudo aquilo que foi assumido como certo, atemporal, sólida e fundamental e expõe assim suas lacunas, fissuras, resistências, instabilidades e diferentes possibilidades e surpresas.”

Queer Magick é alquimia pura, é o exato oposto de uma lavagem cerebral. Transformar um dia ruim em um dia bom é útil e relativamente fácil de fazer. Mudar de religião pode parecer desafiador para caoista que está começando, mas temos que aplaudir de pé quem tem coragem e fibra o bastante para mudar o gênero que foi imposto a sua pessoa.

A chave está sempre na supremacia da vontade contra a tirania das convenções. Toda operação mágica é baseada na dança entre desejo, percepção e imaginação. Como coloca Carroll, “Imaginação é o que ocorre quando o desejo e a percepção se estimulam mutuamente”, todavia quando percepção e desejo não se bicam temos o que se chama disforia, e no tocante ao que nos interessa neste artigo a Disforia de Gênero. Trata-se de um desconforto com relação as características sexuais ou marcas sociais que remetam ao gênero atribuído ao se nascer. O objetivo deste pequeno ensaio é portanto utilizar algumas ferramentas magicas tradicionais para banir a disforia e afirmar o gênero (ou a ausência de gênero) que esteja mais afim com sua Verdadeira Vontade para que como Nietzsche (e Rogerio Betonni) gosta de dizer, você possa “Tornar-se quem tu és.”

Adivinhação

Usaremos uma tiragem do tarô por ser provavelmente o meio oracular mais popularizado e de mais fácil acesso. Quando a disforia aparecer a primeira coisa a se fazer é entender sua natureza. Tire três cartas para buscar respostas as seguintes perguntas:

1° carta: O que desencadeou minha disforia?

Use esta carta para identificar o que foi que disparou o problema. Algum acontecimento, pessoa, algo que o próprio corpo desencadeou? Ou é um acúmulo de pequenas coisas?

2° carta:. O que posso fazer sobre isso agora?

Uma mudança nos hábitos ou na forma de se arrumar é uma coisa. Às vezes, o gatilho são as palavras preconceituosas de alguém. Posso você pode bloquear/evitar essa pessoa, confrontá-la ou se preparar para a próxima vez que interagir com ela. O tarô pode lhe ajudar a encontrar estas respostas dentro de você.

3° carta: Como posso evitar/lidar com isso no futuro?

Conselhos sobre como se antecipar à disforia pois as as vezes não há algo que você possa fazer no momento imediato. Talvez você precise começar buscar um psicoterapeuta competente, talvez seja a hora de sair da casa dos pais ou tomar outra atitude de longo prazo. Cirurgias e hormonoterapia não algo simples de se realizar da noite para o dia. Mesmo assim a resposta deve ser registrada e considerada no longo prazo.

Defesa Psíquica

Qualquer técnica de auto-defesa psíquica pode ser usada para banir  especificamente a disforia (pois muitas vezes as duas coisas são uma coisa só). Além disso mesmo se este for um problema exclusivamente interno a simbologia envolvida na projeção dos conflitos pode ser purgativa. A rotina abaixo foi adaptada de Israel Regardie:

1. Feche os olhos e lentamente gire no próprio eixo até sentir a direção simbólica ou real de onde a disforia se origina. Uma vez encontrada esta direção abra os olhos e encare-a firmemente. Permaneça orgulhosamente de pé e visualize em sua testa pentagrama de elétrico-azulado.

2. Agora, traga as duas mãos até a testa. Com polegares e indicadores unidos as mãos devem formar o triângulo do fogo com a ponta para cima. Este triângulo deve envolver o pentagrama.

3. Respire profundamente a ao mesmo tempo em que exalar o ar avance com o pé esquerdo como se fosse dar um passo e arremesse suas mãos para frente ao mesmo tempo.

Ao fazer isso visualize o pentagrama em sua testa sendo projetado rapidamente na direção que você está olhando. Isto terá o efeito de expulsar a disforia ou qualquer ataque psíquico real ou imaginado de sua aura. Para impedi-la de retornar, faça imediatamente o Ritual do Pentagrama, da Caosfera ou outro ritual de banimento.

O próprio Ritual do Pentagrama pode ser usado como ferramenta de auto-defesa psíquica. Para isso você deverá seguir seguir os passos normais do ritual clássico (Cruz Cabalística, Traçar dos Pentagramas, etc..) quando terminar, mas antes de encerrar faça o passo 1 da prática de banimento ensinada acima para identificar a origem dela. Em seguida dê uma forma para que a disforia seja visualizada. Essa forma transfóbica deve ser posta logo atrás do pentagrama da direção de onde ela veio específica. Após vibrar o nome divino daquela direção imagine o pentagrama incendiando poderosamente e ampliando seu fogo em direção ao infinito de modo a consumir em chamas e destruir completamente a disforia desintegrando-a completamente.

Encantamento

Para os que tem uma identificação binária de gênero, não bastará banir a disforia e as imposições sociais de modo geral. Talvez seja preciso usar algum tipo deum encantamento é feita sobre outras pessoas que se quer influenciar, mas pode ser usada em objetos e lugares para que sirvam de apoio aos trabalhos de iluminação. É exatamente o que faremos aqui. Aqui o espaço para exploração é enorme, abaixo alguns exemplos.

Encantamento a Marte (energias masculinas)

Ingredientes:

– Algo para encantar à sua escolha (relógio, sapatos, gravata)
– Vela Azul ou Vermelha
– Topázio
– Âmbar
– Folhas de bordo ou outras plantas ligadas a marte
– Sal
– Caneta permanente, Tinta (ou ferramentas de escultura).
– Barbante

Procedimento:

– Reúna seus ingredientes e encontre um espaço para trabalhar.
– Em sua vela, desenhe, pinte ou esculpa o símbolo masculino ♂
– Acenda sua vela.
– Crie um ramalhete usando as folhas e barbante.
– Junte seu topázio e âmbar e coloque-os em cima de suas folhas.
– Polvilhe um pouco de sal.
– Adicione o item em que você está encantando
– Enrole tudo nas folhas e use o barbante para amarrar tudo.
– Aproxime tudo da sua vela e concentre-se na energia com a qual pretende imbuía-la.
– Deixe tudo em seu altar ou em um lugar especial durante a noite, mas apague a vela antes de ir para a cama.
– De manhã, pegue seu item encantado e use-o conforme necessário para dissipar a disforia e trazer confiança.

Encantamento a Vênus (energias femininas)

Ingredientes:

– Algo para encantar (Batom, colar, sapatos, etc)
– Vela Verde ou Rosa
– Quartzo Rosa
– Quartzo Verde
– Rosas ou outras plantas ligadas a vênus
– Canela
– Caneta permanente, Tinta (ou ferramentas de escultura).
– Barbante

Procedimento:

– Reúna seus ingredientes e encontre um espaço para trabalhar.
– Em sua vela, desenhe, pinte ou esculpa o símbolo de Vênus em sua vela ♀.
– Acenda sua vela.
– Crie um ramalhete de rosas com o barbante.
– Junte os quartzos e coloque-as dentro do ramalhete
– Polvilhe um pouco de canela.
– Adicione o item em que você está encantando
– Enrole tudo nas folhas e use o barbante para amarrar tudo.
– Aproxime tudo da sua vela e concentre-se na energia com a qual pretende imbuía-la.
– Deixe tudo em seu altar ou em um lugar especial durante a noite, mas apague a vela antes de ir para a cama.
– De manhã, pegue seu item encantado e use-o conforme necessário para dissipar a disforia e trazer confiança.

Conclusão

As ferramentas dadas acima poderão ser poderosos auxílios para o magistas transgêneros. Mas a própria luta por respeito e reconhecimento é uma batalha mágica.  É novamente Peter Carroll que diz que “As principais técnicas de iluminação são aquelas que enfraquecem a influência da sociedade, da convenção e do hábito sobre o iniciado, bem como aquelas que conduzem a uma visão mais ampla.” Uma sociedade que não respeita não merece ser respeitada, por isso o sacrilégio, a heresia, a iconoclastia são ferramentas mágicas.

Peter fala ainda de bioestecisimo mas não dá o próximo passo e falha em reconhecer que o próprio corpo é algo que pode precisar ser superado. Isso demonstra que a magia pode ajudar na transformação dos magistas, mas os magistas também devem atuar na transformação da magia. Considere que a Illuminates of Thanateros – uma da vanguardas do ocultismo atual – foi fundada em 1987, três anos antes de Judith Butler publicar seu primeiro livro. Não está tudo escrito. As respostas não estão todas prontas. Nossos modelos precisam constantemente ser revistos e ampliados para se tornarem – e nos tornarem – mais livres, mais sábios e mais fortes.


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