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Na seção anterior foi dito que a filosofia e a psicologia orientais – poéticas, indeterministas experienciais, de visão interior, vagamente evolucionárias e com o fim em aberto – são mais facilmente adaptadas às descobertas da ciência moderna que a silogista, segura, experimental e externalizantemente lógica psicologia ocidental. A última imita os rituais irrelevantes das ciências energéticas mas ignora os dados da física e da genética, os significados e implicações.
Mesmo Carl Jung, o mais penetrante dos psicólogos ocidentais, falhou em entender a filosofia básica do Bardo Thodol.
Totalmente em contraste estão os comentários do Lama Anagarika Govinda ao manual tibetano.
Sua afirmação de abertura à primeira vista faria um psicólogo judeu-cristão bufar de impaciência. Mas um olhar mais atento a essas frases revela que ela são a afirmação poética da situação genética como atualmente descrita pelos bioquímicos e pesquisadores do DNA.
Pode ser argüido que ninguém pode falar da morte com autoridade, se não está morto; e desde que ninguém, aparentemente, tenha alguma vez retornado da morte, como pode alguém saber o que a morte é, ou o que acontece depois dela?
O tibetano responderá: “Não há uma pessoa, por isso, não há ser vivo que não tenha retornado da morte. De fato, nós todos já morremos muitas vezes, antes desta encarnação. E o que nós chamamos nascimento é apenas o lado inverso da morte, como um dos dois lados de uma moeda, ou como uma porta a qual chamamos de ‘entrada’ de fora e ‘saída’ de dentro de uma sala.”
O lama prossegue e faz um segundo comentário poético sobre as potencialidades do sistema nervoso, a complexidade os computador cortéxico humano.
“É muito mais assombroso que nem todos se lembrem de suas mortes anteriores; e, por causa dessa falta de memória, muitas pessoas não acreditam que tenha havido uma morte anterior. Mas, igualmente, elas não se lembram de seu último nascimento – e ainda assim não duvidam que tenham nascido. Elas se esquecem de que a memória ativa é apenas uma pequena parte de nossa consciência normal, e que nossa memória subconsciente registra e preserva toda impressão passada e experiência que nossa mente desperta falha em relembrar.”
O lama então procede a fatiar o significado esotérico do Bardo Thodol – aquele significado central que Jung e por conseqüência a maior parte dos orientalistas europeus falhou em apreender.
“Por esta razão, o Bardo Thodol, a libertação garantida pelo livro tibetano do estado entre a vida e o renascimento, – estado chamado pelo homem de morte, – foi transmitida em linguagem simbólica. É um livro selado com os sete selos do silêncio, – não porque o seu conhecimento pudesse ser mal-entendido e, portanto, tenderia a induzir em erro e prejudicar aqueles que não estão preparados para recebê-lo. Mas o tempo veio para quebrar os selos do silêncio; pois a raça humana chegou neste momento ao ponto em que deve decidir se vai se contentar com a subjugação do mundo material ou se vai se esforçar para conquistar o mundo espiritual, pela subjugação dos desejos egoístas e pela transcendência das limitações auto-impostas.”
O lama a seguir descreve os efeitos das técnicas de expansão da consciência. Ele está falando aqui sobre o método que conhece – o iogue – mas suas palavras são igualmente aplicáveis à experiência psicodélica.
“Há aqueles que, em virtude da concentração e de outras práticas iogues, são capazes de trazer o subconsciente ao reino da consciência discriminante e, dessa forma, se debruçar sobre a tesouraria irrestrita da memória subconsciente, onde estão guardados não apenas os registros de nossas vidas passadas, mas os registros do passado de nossa raça, o passado da humanidade, e de todas as formas pré-humanas de vida, senão da própria consciência que torna possível a vida neste universo.
Se, por obra de algum truque da natureza, os portões de um subconsciente individual fossem se abrir subitamente, a mente despreparada seria sobrecarregada e esmagada. Entretanto, os portões do subconsciente são guardados pelos iniciados, e escondidos sob o véu de mistérios e símbolos.”
Numa seção posterior do seu prefácio, o lama apresenta uma elaboração mais detalhada do significado interior do Thodol.
“Se o Bardo Thodol fosse para ser considerado como sendo meramente baseado em folclore, ou como consistindo de especulação religiosa sobre a morte e um hipotético estado pós-morte, ele seria apenas do interesse de antropólogos e estudantes de religião. Mas o Bardo Thodol é muito mais. É uma chave para os mais profundos esconderijos da mente humana, e um guia para os iniciados, e para aqueles que estão procurando por uma via espiritual de libertação.”
Embora o bardo Thodol seja nos dias de hoje normalmente usado no Tibete como um breviário, e lido ou recitado na ocasião da morte – razão pela qual foi chamado de “O Livro Tibetano dos Mortos” – não deve-se esquecer de que ele foi originalmente concebido para servir como um guia não só para os moribundos e mortos, mas igualmente para os vivos. E aqui está a justifica para termos tornado o Livro Tibetano dos Mortos acessível para um público mais amplo.
Não obstante, os costumes e crenças populares que, sob a influência das antigas tradições de origem pré-budista, cresceram em torno das profundas revelações do Bardo Thodol, ele tem valor apenas para aqueles que praticam e realizam seus ensinamentos durante suas vidas.
Há duas coisas que têm causado confusão. Uma é que os ensinamentos parecem ser endereçados aos mortos ou moribundos; a outra é que o título contém a expressão “Libertação Pela Audição” (em tibetano, Thos-gnol). Como resultado, chegou-se à crença de que é suficiente ler ou recitar o bardo Thodol na presença de uma pessoa moribunda, ou mesmo de uma pessoa que tenha acabado de morrer, de modo a efetuar a sua libertação.
Tal mal-entendido só poderia Ter se dado entre aqueles que é uma das mais antigas e universais práticas do iniciado atravessar a experiência da morte antes de poder renascer espiritualmente. Simbolicamente, ele precisa morrer para o seu passado, e para o seu antigo ego, antes que possa tomar seu lugar numa nova vida espiritual na qual tenha sido iniciado.
A pessoa morta ou moribunda é endereçada no Bardo Thodol por três razões principais: (1) quem pratica intensamente esses ensinamentos deve considerar cada momento de sua vida como o último; (2) quando um seguidor desses ensinamentos estiver morrendo realmente, ele deve ser lembrado de suas experiências da ocasião da iniciação, ou das palavras (ou mantra) do guru, especialmente se a mente do moribundo perder a atenção durante os momentos críticos; e (3) alguém que ainda estiver encarnado deve tentar envolver a pessoa moribunda, ou que tenha acabado de morrer, com pensamentos a morosos e esperançosos durante os primeiros estágios do novo estado de existência, ou estado pós-morte, sem permitir que a afeição interfira ou faça surgir um estado de depressão mental mórbida. Assim sendo, uma função do Bardo Thodol parece ser mais ajudar aqueles que foram deixados para trás a adotar a atitude correta diante dos mortos e diante do fato da morte do que assistir aos mortos, que, de acordo com as crenças budistas, não se desviarão de seus próprios caminhos cármicos…
Isto prova que devemos agir com a própria vida e não somente com uma missa para os mortos, à qual foi reduzido o Bardo Thodol nos últimos tempos.
Sob a aparência de ciência da morte, o Bardo Thodol revela o segredo da vida; e aqui jaz o seu valor espiritual e o seu apelo universal.
Aqui está a chave de um mistério que se tem perpetuado por mais de 2500 anos – a experiência de expansão da consciência – o rito da morte pré-morte e do renascimento. As sagas védicas conheciam o segredo; os iniciados eleusianos o conheciam; os tântricos o conheciam. Em todos os seus escritos esotéricos eles sussurraram a mensagem: é possível ir além da consciência do ego, sintonizar-se a processos neurológicos que operam na velocidade da luz, e tornar-se consciente da enorme tesouraria de antigos conhecimentos raciais soldada no núcleo de cada célula do seu corpo.
A moderna química psicodélica proporciona uma chave para este reino esquecido da consciência. Mas da mesma forma que este manual sem a consciência psicodélica na é nada senão um exercício acadêmico de tibetologia , assim também a poderosa chave química é de pequeno valor sem os conselhos e ensinamentos.
Os ocidentais não aceitam a existência de processos conscientes para os quais eles não tenham um termo operacional. A atitude predominante é: – se você não pode rotular uma coisa, e se ela está além das noções atuais de espaço-tempo e de personalidade, então ela não está aberta à investigação. Assim vemos a experiência da ego-perda confundida com esquizofrenia. Assim vemos os psiquiatras dos dias atuais declarando as chaves psicodélicas perigosas e produtoras de psicoses.
A nova química visionária e a experiência pré-morte-morte-renascimento podem ser mais uma vez empurradas para as sombras da história. Olhando para trás, nos lembramos de que todo administrador político na Europa e no Oriente Médio (com exceção de certos períodos na Grécia e na Pérsia) tem, nos últimos três mil anos, se apressado em impor leis contra qualquer processo transcendental emergente, contra a sessão de pre-mortem-morte-renascimento, seus adeptos, e contra qualquer método de expansão da consciência.
O presente momento da história humana (como disse o Lama Govinda) é crítico. Agora, pela primeira vez, possuímos os meios de prover o esclarecimento a qualquer voluntário preparado (o esclarecimento sempre vem, nós lembramos, na forma de um novo processo energético, um evento físico, neurológico). Por essas razões preparamos esta versão psicodélica do Livro Tibetano dos Mortos. O segredo é disperso novamente, num novo dialeto, e nos sentamos calmamente para observar se o homem está pronto para se mover adiante e fazer uso das novas ferramentas proporcionadas pela ciência moderna.
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