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Sobre a Clarividência

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Entre os camponeses da Escócia e mais especialmente da Dinamarca, não é raro encontrar-se pessoas, em cujas famílias o dom a que eles chamam de segunda vista tem sido transmitido desde séculos. Segunda vista não é senão a segunda denominação daquilo que agora chamamos clarividência e parece ser o reflexo do conhecimento intuitivo que tem sido conferido a certos indivíduos, graças ao seu anormal estado mental. Ainda que, a tal respeito, a clarividência seja assaz comum, ela pode, no en-tanto, ser desenvolvida pela hipnose e muitas profecias admiráveis tem sido anunciadas pelos pacientes clarividentes sob a influência hipnótica. Isto mostra, pois, que não se deve confundir a força em si mesma com o poder de ler no espírito das pessoas presentes ou das pessoas afastadas.

Diferença entre a clarividência e a transmissão do pensamento. -O que distingue a clarividência da telepatia é que esta última não se ocupa senão das coisas que se deram ou estão se dando no mesmo instante, pelo conhecimento das pessoas que estão em relação com o paciente; enquanto a clarividência se ocupa mais particularmente da profecia ou da predição de sucessos que estão ainda por vir.

Os fenômenos de clarividência são variados e maravilhosos até o extremo e quando se vos der as instruções necessárias para produzirdes a clarividência nos melhores pacientes, tomarei a liberdade de citar, entre os anais da história, um dos numerosos casos do poder da clarividência concedido a seres humanos e aparentemente recusado a outros.

Como desenvolver a clarividência nos pacientes. -Para conseguirdes desenvolver a clarividência nos pacientes, importa, antes de tudo, que façais uma boa seleção dos Vossos melhores sonambulistas, porque tereis muito mais probabilidade de achar entre estes últimos quem possa tornar-se clarividente do que naqueles que não caem senão nos casos de hipnose muito ligeira. Se achardes um paciente que, ao despertar, não se lembre de nenhum dos fatos que se têm passado durante o seu sono, que segue integralmente as sugestões pós-hipnóticas e no qual podereis à vontade fazer passar o fenômeno da ilusão dos sentidos, esse paciente poderá, pelo entrenamento, entrar nas condições mais profundas da vista clara ou da clarividência. Semelhante pessoa será não somente capaz de produzir os sucessos com uma precisão extraordinária, senão que poderá ainda dar uma súmula exata das coisas que se passam ao longe, podendo aparentemente e à vontade lançar

o seu espírito à aventura, enquanto o seu corpo fica inativo sobre a cadeira. Prova de clarividência. -Para fazerdes a experiência da clarividência no paciente, começai por mergulha-lo num sono profundo, e então, estando a seu lado, dizei-lhe: “Afastaivos cada vez mais, dormi profundamente e libertai o vosso espírito de todo embaraço para permitirdes que viaje a seu bel prazer por onde lhe aprouver, com o fim de dar-vos informações do que se passa em países onde nunca esteve”. Nesse momento, tornai o sono mais profundo, fazendo novas sugestões e dizei: “Contar-me-eis tudo o que virdes, dir-me-eis tudo o que estais presenciando com os olhos do espírito no caminho que seguis. Vou, agora, fazer-vos atravessar o mar e ides dar-me uma narração exata do que se está passando em minha casa, na Inglaterra, e uma descrição das pessoas e dos lugares que visitardes. O espírito tem asas e ides imeditamente levantar o vôo. Agora atravessaque visitardes. O espírito tem asas e ides imeditamente levantar o vôo. Agora atravessareis o mar e chegareis; dizei-me onde estais e o que estais vendo”.

Uma viagem de clarividência. -Deste modo, fareis, por assim dizer, passar por diante dos olhos do vosso paciente um panorama da viagem que o seu espírito fizer, conforme o vosso desejo. De maneira confusa, ele vai fazer-vos uma narração das coisas que se vê e não poderá descreve-las perfeitamente senão depois de tentativas repetidas. Inteirai-vos bem da evidência dos seus dizeres e não o desanimeis por uma palavra nem por um olhar, criticando-o. Para chegar a desenvolver nele a clarividência, deveria fazer-lhe as sugestões mais animadoras. Ele deve ler a tentação do valor do ato que está realizando e as Vossas instruções deverão ser reforçadas por um aviso, a fim de fazer-lhe saber que não há de repelir senão o que está vendo; e socorrei-o constantemente com os vossos conselhos.

Evitai o crítica Severa. -Neste caso, cumpre-vos pôr de parte toda obstrução e todo criticismo particular a cada investigador. Não deveis esquecer que estais tratando, não com um individuo normal, mas com um organismo sensível no mais alto grau, fortemente acessível à menor suspeita e muito disposto a se opôr a toda injustiça. Não tereis muita razão de desconfiar da honestidade dos pacientes que houverdes assim desenvolvido pelo hipnotismo. É muito melhor tomar um paciente novo para desenvolvê-lo do que experimentar com um profissional. No primeiro caso, obtereis verossimilmente informações dignas de confiança, embora queira crer que a maior parte dos médiuns de profissão se-jam perfeitamente honestos na sua opinião e nas suas comunicações.

História autêntica de um fenômeno raro de clarividência. -A narração seguinte, representando alguns fenômenos de clarividência que se reproduziram no ano de 1842, foi garantida como autêntica pelo Rev. Leroy Sunderland, investigador bem conhecido; citamo-los aqui não porque os fenômenos mencionados não tenham sido reproduzidos nos tempos modernos, mas porque o próprio fato já não se encontra, hoje em dia, na prática e porque me caiu às mãos de modo curiosíssimo. Depois de alguns pormenores dados sobre os fenômenos do magnetismo, o autor prossegue:

“Ninguém, a não ser eu próprio, é capaz de acordá-la. Ela não poderá falar a ninguém, a menos que eu consinta que o faça, ponde de antemão a terceira pessoa em contato com ela pela junção das mãos.

Suspensão do sentido da audição. -“Ela não poderia ouvir senão a minha voz ou um ruído feito por mim; ouvidir-se um tiro de espingarda a 30 centímetros da sua cabeça, sem que ela manifestasse o menor sinal de haver percebido o som. Com os olhos fechados, ela dirá exatamente quando eu como e quando bebo, quando deixo o meu quarto e quando volto a ele. É bom lembrar-vos que nenhum de nós tinha sido testemunha de tal coisa e não estava preparado para a maior parte destes fenômenos.

Transmissão do gosto. -“Uma noite, enquanto ela dormia assim, passaram-se maçãs, uvas e nozes. Eu comia uma maçã, quando ela fez esta observação: “Estas maçãs estão magnífícas”. Tomei algumas uvas e perguntei-lhe o que eu estava comendo; respondeu-me sem se enganar. G. ofereceu-me vinagre que eu saboreava, quando ela exclamou: “Que intentais fazer com esse líquido?” G. deu-me, em seguida açúcar, e assim por dian”Que intentais fazer com esse líquido?” G. deu-me, em seguida açúcar, e assim por diante, até que nos persuadimos de que tinha consciência de tudo quanto eu comia e saboreava. Ela estava colocada numa posição tal que não poderia ver com seus olhos o que eu comia, mesmo abrindo-os.

Transmissão da sensação. -“Descobrimos, em seguida, que embora ela própria fosse insensível à dor corporal, experimentava, não obstante, cada dor que me era infligida. Supondo que me picavam na mão, ela se lançava no mesmo instante para trás e esfregava-se na mesma parte em que eu tinha sido picado. Se me puxavam pelos cabelos, ouvi-la-íeis perguntar logo: “Quem me está puxando os cabelos?”

Transmissão do pensamento. -“Percebi, mais tarde, que ela era levada a falar de coisas nas quais eu estava pensando no mesmo instante e, finalmente, numa noite em que púnhamos à prova o seu estranho poder, pus um pedaço de maçã na boca, declarando: “Como são boas as uvas que estou comendo!” e ela respondeu-me: “Não vos deis ao trabalho de me enganar, pois conheço as vossas intenções e pensamentos; sim, conheço exatamente cada um dos vossos pensamentos”. “Pedi, então, a uma terceira pessoa que escrevesse num pedaço de papel diversas questões que versavam sobre coisas que não a interessavam e tais que ela não poderia naturalmente responder. Tomei, pois, o papel e, assentando-me ao lado dela, fiz-lhe mentalmente cada pergunta, isto é, sem falar ou fazer bulha. Quando eu ia fazer a mim mesmo estas perguntas, ela se põe a falar e a responder às perguntas uma, após outras.

“Notai que não disse uma só palavra desde o momento em que recebi o papel até àquele em que respondeu à última pergunta. “Por essas experiêncías e outras subseqüentes, ficamos convencidos de que ela estava inteiramente consciente de tudo quanto se me passava no espírito.

Vista do mecanismo interno da corpo. -“Uma noite em que eu me achava ligeiramente endefluxado e com tosse, coloquei-a naquele estado. Perguntaram-lhe se podia curar-me

o defluxo, ao que ela respondeu: “Deveis prestar-lhe muita atenção para evitar que o defluxo se estabeleça nos pulmões; porque estou vendo que eles estão inflamados”. Fazendo-1he outras perguntas, fiquei convencido de que ela via e conhecia o meu organismo interno tanto quanto o dela. Chego, agora, a um fenômeno que parece dos mais extraordinários. Quero referir-me à clarividência ou ao poder de ver o que te passa ao longe. Nesta faculdade ou no exercício desta faculdade, ela me parece fazer progresso em cada sessão, absolutamente como alguém que, pela prática, chegaste a aperfeiçoar-se em cada ação; as nossas experiências ainda não estavam muito adiantadas no momento em que ela entrou a cair por si mesma nesse sono. Experiência de clarividência. -“Pode-se, entretanto, deduzir dai o bastante para provar que ela seria capaz de dizer o que se estava passando num aposento pegado ou a uma distância de quatro quilômetros; ora, assim sendo, por que não poderia ficar em estado de fazê-lo a maior distância? Ao suas tentativas que, aliás, mostraram a evidência mais cabal desse poder, podem ser relatados pela forma seguinte: O primo G. ou L. dirigia-se para o aposento contigo e desarranjava os móveis, virava a mesa, punha as cadeiras sobre a cama e fazia outras modificações na posição atual das coisas. Pedindo-lhe que olhasse para aquele aposento, ela exclamava: “Por que aquelas cadeiras estão sobre a cama? Por que se acham em semelhante desordem aquelas coisas?” Interrogada mais atentamente, ela descrevia a situação exata das coisas. Enviei de novo o seu espírito ao meu quarto, situado no hotel da cidade baixa, distante cerca de quatro quilômetros, e ela nos pintou o seu conteúdo, dando-nos até a descrição de um quadro que estava dependurado na pare-de. Ela nunca tinha posto os pés naquele aposento. “Muitas tentativas desta natureza nos demostraram que ela possui, de alguma sorte, consciência de coisas de que nunca havia recebido percepção natural pelos sentidos. Em ocasiões repetidas, ela me informou do estado das coisas na casa de meu pai e na do capitão W.; se ai houvesse estado, ela não teria pintado da maneira mais natural. Entretanto, como não tinhamos tomado disposições para nos assegurarmos da veracidade dos seus dizeres, não podiamos estar perfeitamente certos do que ela avançava. cama e fazia outras modificações na posição atual das coisas. Pedindo-lhe que olhasse para aquele aposento, ela exclamava: “Por que aquelas cadeiras estão sobre a cama? Por que se acham em semelhante desordem aquelas coisas?” Interrogada mais atentamente, ela descrevia a situação exata das coisas. Enviei de novo o seu espírito ao meu quarto, situado no hotel da cidade baixa, distante cerca de quatro quilômetros, e ela nos pintou o seu conteúdo, dando-nos até a descrição de um quadro que estava dependurado na pare-de. Ela nunca tinha posto os pés naquele aposento. “Muitas tentativas desta natureza nos demostraram que ela possui, de alguma sorte, consciência de coisas de que nunca havia recebido percepção natural pelos sentidos. Em ocasiões repetidas, ela me informou do estado das coisas na casa de meu pai e na do capitão W.; se ai houvesse estado, ela não teria pintado da maneira mais natural. Entretanto, como não tinhamos tomado disposições para nos assegurarmos da veracidade dos seus dizeres, não podiamos estar perfeitamente certos do que ela avançava.

Viagem da alma. -“Entretanto, na véspera do Natal, mandei-lhe que fosse à casa de W-Começou desde logo pela forma seguinte: “Almira está doente”. Quando lhe perguntaram se essa pessoa, mencionada estava muito doente, respondeu: “tia tem um defluxo e alguma febre, mas vai melhor e não se acha tão doente como a principio julguei”. Perguntada sobre o que estavam fazendo as outras pessoas da casa, replicou: “O sr. W. pai está assentado ao pé do fogo, tirou os sapatos e está aquecendo os pés. A sra. W. mãe está assentada junto ao fogo e tem o pequerrucho nos braços- Elisa está lá em cima, prestes a vestir-se ou a despir-se”. Naquele momento, podiam ser nove horas da noite.

“Nunca indaguei a fim de saber se tudo isso era exato ou não, mas recebi uma carta de minha mãe, a 7 ou 8 de Janeiro, datada de 24 de Dezembro, véspera do Natal, na qual ela me dizia: “Almira teve um ligeiro acesso de febre acompanhada de inflamação, mas acha-se melhor agora”. A uma pergunta que lhe foi feita a fim de saber se ela tinha visto tais coisas, respondeu: “Não me parece have-1a visto com os meus olhos, mas eu as conheço. Como eu as conheço é que não posso dizer”.

Estado lúcido. -Tais foram os fenômenos provocados numa paciente sensível, sob a influência da hipnose. Os clarividentes possuem outra qualidade particular, aquela que se chama a faculdade de poder diagnosticar uma moléstia pelo conhecimento espiritual A esta condição tem-se denominado lucidez e, em certa época, consideravam-na como sendo um resultado da hipnose prolongada. Não a tenho encontrado senão raramente, mas nem por isso é menos verídica e inexplicável, conforme a teoria da sugestão simples.

Quando o paciente se acha mergulhado num sono profundo hipnótico e quando o fazeis passar desse estado para aquele que dá o Poder da clarividência, ele é freqüentemente capaz de ver, com a sua vista espiritual, os orgãos interno do corpo e de diagnosticar a moléstia por meio desta intuição maior. Se, por exemplo, lhe pedis que vos examine e vos diga o que tendes, ele responderá mais ou menos o seguinte: “Eu vejo distintamente o Vosso cérebro”; vejo o vosso coração”, “parece estar mais volumoso”, ou “ele se me afigura normal”. “Estou vendo os vossos pulmões, um deles está perfurado; suponho que está afetado da tuberculose”.

Diagnóstico pela clarividência. -Deste modo ele passará em revista todos os órgãos do corpo e, posto que a vossa credulidade não seja obrigada a aceitar tudo quanto os vossos pacientes vos digam, talvez encontrareis algum fenômeno que tenha a aparência de reve. -Deste modo ele passará em revista todos os órgãos do corpo e, posto que a vossa credulidade não seja obrigada a aceitar tudo quanto os vossos pacientes vos digam, talvez encontrareis algum fenômeno que tenha a aparência de revelação e que não possais vo-lo explicar.

Tende em conta a indicação que vos é dada, porque é, talvez, a única entre as demais que melhor vos compensará o vosso trabalho.


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