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Imagine a seguinte cena: você acorda no meio da noite ou logo de manhã e, antes de qualquer coisa, pensa que será um dia como qualquer outro. Mas ao tentar abrir os olhos percebe que eles não obedecem ao seu comando. Pior do que isso, ao tentar mexer qualquer parte do seu corpo nota que está absolutamente imóvel como se estivesse morto, enterrado em pixe, cada movimento precisa de uma vontade e uma força fora do comum e mesmo assim quase não há resposta do seu corpo. Bate o desespero, seus sentidos estão ligados, você consegue ouvir os barulhos do ambiente e sentir os lençois da cama. Absolutamente consciente, mas sem nenhum controle de seus músculos, não consegue sequer gritar ou falar falar. Não resta nada a fazer, a não ser tomado pelo pânico. Para piorar em alguns casos existe a nítida sensação de que você não está sozinho.
Muitas pessoas não precisam imaginar esta cena, elas já a vivenciaram, e algumas pessoas com certa frequência. Caso você seja uma dessas pessoas, parabéns! Você é mais uma vítima da Paralisia do Sono.
Um caso que serve para ilustrar centenas de experiências individuais é o de Ronald Seigel, documentado na revista Fator X: “Eram 4:20 da madrugada quando Ronald Seigel foi despertado pelo barulho da porta do seu quarto. Ouviu passos que se aproximavam e uma respiração ofegante. Paralisado de medo, só conseguiu ficar deitado, olhando para cima enquanto sentia o fétido odor da entidade que se aproximava. Parecia que havia uma tenebrosa presença. ‘Tratei de tentar retirar os lençois e pular para fora da cama, porém estava preso a ela. Sentia uma forte pressão sobre o peito, meu coração batia forte e minha respiração estava difícil. Cada palavra saía de uma boca que cheirava a tabaco. Sua linguagem era estranha, parecia um inglês dito ao contrário. Havia um forte clima sexual. A entidade deitou em cima de mim. Comecei a perder a consciência e logo a voz cessou’.”
Folclore e explicações sobrenaturais
Durante séculos, pessoas de diferentes culturas descreveram ataques semelhantes. Normalmente ocorrem a noite, justamente no momento de dormir ou despertar. Estes ataques iniciam-se invariavelmente submetendo suas aterrorizadas vítimas a uma paralisia total, uma pressão forte sobre o peito e uma intensa atividade sexual, muitas vezes de natureza sodomita.
Uma das mais antigas tradições africanas a respeito do fenômeno lhe presta o nome de Popobawa, um espírito que submete as pessoas enquanto estas dormem e as faz “gritar sem voz”. Já no Canadá “Old Witch” é o termo cunhado para se referir a assustadora figura que aparece durante os ataques noturnos. Na Alemanha, o nome para o fenômeno é “Mare”, enquanto que os escandinavos a chamam de “Mara” e os gregos de “Mora”, sendo que todas estas palavras são derivações do saxão antigo para “Pesadelo”; a própria palavra pesadelo sendo derivada de ‘pesado’ usado para designar um sonho penoso com sensação de peso no peito. No Japão é o Kanashibari que usa de sua magia para paralisar suas vítimas. Na idade média este amante noturno recebia o nome de íncubo, do latim “incubare”, “estar sobre”. O incubo foi muitas vezes descrito como um angustiante peso sobre o peito que traz a sensação de excitação sexual. Modernamente é muito comum ligar a paralisia do sono com relatos de abduções e visitas alienígenas.
A semelhança universal dos casos sugere que o fenômeno seja real. Porém de onde vêem estas “entidades”? Se formos acreditar nos casos descritos pelo folclore e no que dizem os pesquisadores paranormais, o que acontece é que ao dormirmos nossa alma se separa do corpo e visita diferentes mundos espirituais. Algumas vezes ao acordarmos o processo de união da alma e do corpo pode não ser perfeito e ficamos presentes ao mesmo tempo no mundo material e espiritual, resultando dai a paralisia do corpo físico. Segundo esta teoria isso chama a atenção de espíritos malévolos presos a terra que se aproveitam desta situação e nos atacam durante o sono para relembrar e reforçar seu apego as coisas terrenas, em especial ao sexo.
Abordagem científica da paralisia sonora
A visão científica atual propõe uma visão menos assustadora do fenômeno. Também chamada de Catalepsia do Sono, este é um problema mais comum do que as pessoas imaginam. Isto porque, todas as noites, quer lembremos ou não, sonhamos. Ao sonharmos é essencial que as funções motoras do corpo estejam desligadas. Caso isso não acontecesse as consequências poderiam ser desastrosas, imagine cada vez que você sonhasse que está caminhando, caso seu corpo não estivesse com as funções motoras desligadas provavelmente acordaria a quilómetros de sua cama, ou tentaríamos correr, nadar e voar no mundo real a cada sonho que sugerisse a ação, nos expondo a muitos perigos e acidentes. A catalepsia é portanto um avanço evolutivo para nossa própria segurança. Pessoas que falam dormindo apresentam algum grau de dificuldade em manter a catalepsia, e assim são justamente estas pessoas que podem se expor aos momentos de paralisia em sonho. Normalmente ao acordarmos esta paralisia cessa, mas em algumas raras ocasiões esse mecanismo pode falhar.
Esta paralisia noturna é normalmente acompanhada de taquicardias, dificuldade de respiração e pânico. A experiência é penosa pois a vítima está semi-consciente do que acontece a sua volta e pode adentrar no que os cientístas chamam de alucinação hipnagógica: um estado entre o sono e a vigília, no qual os sonhos são bastante realistas. O estado de paralisia pode produzir hipervolemia e a sensação de opressão no peito. A restrição de oxigênio estimula os centros de prazer sexual do cérebro. Nestes casos a imaginação preenche a estranha realidade da paralisia com seus próprios medos e fantasias.
Normalmente, o primeiro sintoma da Catalepsia Noturna é a paralisia em sonhos. A pessoa pode ouvir um estranho som, as vezes descrito como um silvo ou um uivo. Também são ouvidos passos, ruído de motor ou mesmo uma “respiração profunda”. O aspecto mais assustador da paralisia durante os sonhos é a sensação de uma presença próxima. É possivel que nada esteja sendo visto, porém tem-se a sensação de que existe alguém mais no quarto. Algumas vezes esta presença se aproxima e a vítima pode sentir seu toque na pele, apertos, sacudida e contorsões.
Como lidar com a paralisia do sono
A tentativa de racionalizar a paralisia noturna, não a torna menos assustadora. Não explica, por exemplo, porque, se os conteúdos dos pesadelos são tao variados, por quê o conteúdo dos casos de paralisia são tão semelhantes, independente da cultura de cada indivíduo. David J. Hufford, professor e diretor do Centro Kienle de Medicina Humanística da Universidade da Pensilvânia, sustenta em seu livro, “The Terror that comes in the Night”, que existe algo a mais do que apenas truques produzidos pelo cérebro. O que é mais curioso é o fato desses ataques terem sido denunciados por pessoas sãs e consciêntes do mundo inteiro. Pessoas que nunca tinham tido contato com as tradições populares e negam possuir qualquer interesse por fenômenos paranormais.
Seja como for é fato sabido que nos casos de paralisia noturna o melhor a se fazer é não se debater, nem se esforçar, pois isso pode levar a um ataque de pânico, seja a origem da paralisia um espírito malicioso ou uma alucinação hipnagógica. Se ao invez disso, simplesmente a pessoa tentar voltar a dormir sua mente pode descansar livre de angústia e o corpo pode em instantes retomar o processo natural de despertar. Tenha em mente que por pior que seja a experiência todos os relatos coincidem em um ponto: eventualmente a pessoa volta a ter o controle sobre o corpo e a vida segue seu rumo.
Alberto Grosheniark
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