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Os psicopatas: frios e sem consciência

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Eles vivem entre nós, parecem fisicamente conosco, mas são desprovidos deste sentido tão especial: a consciência.

Muitos  seres  humanos  são  destituídos  desse  senso  de  responsabilidade  ética,  que deveria ser a base essencial de nossas relações emocionais com os outros. Sei que é difícil  de  acreditar,  mas  algumas  pessoas  nunca  experimentaram  ou  jamais experimentarão a inquietude mental, ou o menor sentimento de culpa ou remorso por desapontar, magoar, enganar ou até mesmo tirar a vida de alguém. Admitir que existem criaturas com essa natureza é quase uma rendição ao fato de que o “mal” habita entre nós, lado a lado, cara a cara. Para as pessoas que acreditam no amor e na  compaixão  como  regras  essenciais  entre  as  relações  humanas,  aceitar  essa possibilidade  é,  sem  dúvida,  bastante  perturbador.  No  entanto,  esses  indivíduos verdadeiramente  maléficos  e  ardilosos  utilizam  “disfarces”  tão  perfeitos  que acreditamos piamente que são seres humanos como nós. Eles são verdadeiros atores da vida real,  que mentem com a maior  tranquilidade,  como  se estivessem contando a verdade  mais  cristalina.  E,  assim,  conseguem  deixar  seus  instintos  maquiavélicos absolutamente imperceptíveis aos nossos olhos e sentidos, a ponto de não percebermos a diferença entre aqueles que têm consciência e aqueles que são desprovidos desse nobre atributo.

Por esse motivo, é natural que você esteja agora se perguntando, de forma íntima e angustiada, se as pessoas com as quais convive ou que fazem parte do seu mundo são dotadas de consciência ou não. Por isso, neste exato momento proponho um passeio virtual  (mental).  Pare  e  pense  nos  seus  vizinhos;  nos  jovens  nas  escolas;  nos trabalhadores da sua rua; nos profissionais de várias áreas; nos amigos dos seus amigos; nas mães que zelam pelos seus filhos; nos líderes religiosos e nos políticos de sua nação. Pare e pense agora nos seus familiares, no seu chefe, no seu subordinado. Será que todos, sem exceção, são dotados de consciência?

Torcemos para que SIM! Contudo, lamentavelmente, não é bem assim que a realidade se mostra.  Poderíamos  responder  a essa  mesma  pergunta  com  um vigoroso  NÃO! Qualquer uma das pessoas mencionadas como exemplo poderia, de fato, ser desprovida de quaisquer vestígios de consciência. Em outras palavras, elas estão absolutamente livres de constrangimentos ou julgamentos morais internos e podem fazer o quiser, de acordo com seus impulsos destrutivos. Estamos  pisando  agora  num  terreno  assustador,  intrigante  e  desafiador:  a  mente perigosa dos psicopatas. Como já foi exposto na introdução deste livro, eles recebem outros  nomes,  tais  como:  sociopatas,  personalidades  anti-sociais,  personalidades psicopáticas,  personalidades  dissociais,  entre  outros.  Muitos  estudiosos  preferem diferenciá-los, com explicações ainda subjetivas que, no meu entender, poderiam apenas confundir o leitor. Devido à falta de um consenso definitivo, a denominação dessadisfunção  comportamental  tem  despertado  acalorados  debates  entre  muitos  autores, clínicos e pesquisadores ao longo do tempo. Alguns utilizam a palavra sociopata por pensarem que fatores sociais desfavoráveis sejam capazes de causar o problema. Outras correntes que acreditam que os fatores genéticos, biológicos e psicológicos estejam envolvidos na origem do transtorno adotam o termo psicopata. Por outro lado, também não  encontramos  consenso  entre  instituições  como  a  Associação  de  Psiquiatria Americana (DSM-IV-TR)1 e a Organização Mundial de Saúde (CID-10).2 A primeira utiliza o termo Transtorno da Personalidade Anti-social, já a segunda prefere Transtorno de Personalidade Dissocial.

Em face de tantas divergências e com o intuito de facilitar o entendimento, resolvi unificar as diversas nomenclaturas e empregar apenas a palavra psicopata. Seja lá como for, uma coisa é certa: todas essas terminologias definem um perfil transgressor. O que pode suscitar  uma pequena diferenciação  entre elas é a intensidade com a qual os sintomas se manifestam. É importante ressaltar que o termo psicopata pode dar a falsa impressão de que se trata de indivíduos loucos ou doentes mentais. A palavra psicopata literalmente significa doença da mente (do grego, psyche = mente; e pathos = doença). No entanto, em termos médico-psiquiátricos,  a psicopatia  não  se  encaixa  na  visão  tradicional  das  doenças mentais. Esses indivíduos não são considerados loucos, nem apresentam qualquer tipo de  desorientação.  Também  não  sofrem  de  delírios  ou  alucinações  (como  a esquizofrenia) e tampouco apresentam intenso sofrimento mental (como a depressão ou o pânico, por exemplo). Ao contrário disso, seus atos criminosos não provêm de mentes adoecidas, mas sim de um raciocínio frio e calculista combinado com uma total incapacidade de tratar as outras pessoas como seres humanos pensantes e com sentimentos. Os psicopatas em geral são indivíduos frios, calculistas, inescrupulosos, dissimulados,

mentirosos, sedutores e que visam apenas o próprio benefício. Eles são incapazes de estabelecer vínculos afetivos ou de se colocar no lugar do outro. São desprovidos de culpa ou remorso e, uitas vezes, revelam-se agressivos e violentos. Em maior ou menor  nível  de  gravidade  e  com  formas  diferentes de  manifestarem  os  seus  atos transgressores, os psicopatas são verdadeiros “predadores sociais”, em cujas veias e artérias corre um sangue gélido.

Os psicopatas são indivíduos que podem ser encontrados em qualquer raça, cultura, sociedade, credo, sexualidade, ou nível financeiro. Estão infiltrados em todos os meios sociais  e profissionais,  camuflados  de  executivos  bem-sucedidos,  líderes  religiosos, trabalhadores, “pais e mães de família”, políticos etc. Certamente, cada um de nós conhece ou conhecera algumas dessas pessoas durante a sua existência. Muitos já foram manipulados por elas, alguns vivem forçosamente com elas e outros tentam reparar os danos materiais e psicológicos por elas causados.

Por isso, não se iluda! Esses indivíduos charmosos e atraentes frequentemente deixam um  rastro  de  perdas  e  destruição  por  onde  passam.  Sua  marca  principal  é  a impressionante  falta  de  consciência  nas  relações  interpessoais  estabelecidas  nos diversos ambientes do convívio humano (afetivo, profissional, familiar e social).  O jogo deles se baseia no poder e na autopromoção às custas dos outros, e eles são capazes de atropelar tudo e todos com total egocentrismo e indiferença. Muitos passam algum tempo na prisão, no entanto para a infelicidade coletiva, a grande maioria deles jamais  esteve  numa  delegacia  ou  qualquer  presídio.  Como  animais  predadores, vampiros ou parasitas humanos, esses indivíduos sempre sugam suas presas até o limite improvável de uso e abuso. Na matemática desprezível dos psicopatas, só existe o acréscimo unilateral e predatório, e somente eles são os beneficiados. Cabe aqui uma breve ressalva. Todos nós dotados de consciência podemos, em um momento  qualquer  da  vida,  magoar  ou  insultar  o  próximo;  cometer  injustiças  ou equívocos e, em casos extremos, matar alguém sob forte impacto emocional. Afinal, somos humanos e nem sempre estamos com nossa consciência funcionando a 100%: somos influenciados pelas circunstâncias ou pelas necessidades. Além disso, vivemos numa sociedade com valores distorcidos, competitiva, de poucas referências, que nos levam a querer tirar vantagens aqui e acolá. Essas derrapagens e

esses deslizes a que estamos sujeitos em nossa jornada, definitivamente, não nos tornam psicopatas. Um belo dia o senso ético nos faz refletir sobre nossas condutas, voltar atrás e rever nossos conceitos do que é certo e errado. Caso contrário, o remorso vai nos perseguir, torturar e, dependendo da extensão, jamais nos deixará em paz. Por isso, é sempre bom que o leitor tenha em mente que aqui me refiro às pessoas de má índole, que cometem suas maldades por puro prazer e diversão e sem vestígios de arrependimento.  Esta  última  palavra  simplesmente  não  existe  no  parco  repertório emocional dos psicopatas.

Como exemplo de uma pessoa capaz de assassinar alguém, tomada por violenta emoção – e nem por isso pode ser considerada uma psicopata -, cito o caso da dona de casa Maria do Carmo Ghislotti, de 31 anos. Em fevereiro de 2006, ela matou o adolescente Robson Xavier de Andrade, de 15 anos, com uma facada no pescoço, por este ter estuprado seu filho de apenas 3 anos. Maria do Carmo e seu marido flagraram Robson cometendo o delito sexual quando ouviram o choro e os gritos no quintal da casa deles. Na Delegacia de Defesa da Mulher em São Carlos, interior de São Paulo, horas depois do estupro, Maria do Carmo se reencontrou com Robson e o atacou.  Ao ser questionada sobre seu ato, ela declarou: “Na delegacia achei uma faquinha velha  num cantinho. Coloquei na cintura. O rapazinho me falou: ‘Não vai dar nada, sou demenor.’ Ele me olhava e dava risada. Perdi o juízo. Quando vi, já tinha feito. Ele estragou a vida do meu filho. Qual mãe ia aguentar?”.

Maria  do  Carmo  foi  inocentada  pelo  júri  popular,  que  acatou  os  argumentos  dos advogados de defesa Hélder Clay e Arlindo Basílio. Eles alegaram que no momento do crime Maria do Carmo ainda estava sob forte abalo psicológico, em função da violência praticada contra seu filho.

É claro que não estou, em absoluto, defendendo que façamos justiça com as próprias mãos.  Mas,  no  meu  entender,  essa  trágica  história  é  perfeitamente  compreensível. Considero Maria do Carmo uma vítima que, no calor da emoção, agiu por amor ao seu filho.

O fenômeno da psicopatia precisa ser exposto e explicitado a toda sociedade da forma como o tema é de fato: um enigma sombrio com drásticas implicações para todas as pessoas “de bem”, que lutam diariamente para a construção de uma sociedade mais justa e  humana.  Após  séculos  de  especulações  e  décadas  de  estudos  –  a  maioria  deles baseados na experiência dos seus autores -, esse mistério começa a ser revelado. Segundo o psiquiatra canadense Robert Hare, uma das maiores autoridades sobre o assunto, os psicopatas têm total ciência dos seus atos (a parte cognitiva ou racional é perfeita), ou seja, sabem perfeitamente que estão infringindo regras sociais e por que estão agindo dessa maneira. A deficiência deles (e é aí que mora o perigo) está no campo dos afetos e das emoções. Assim, para eles, tanto faz ferir, maltratar ou até matar alguém que atravesse o seu caminho ou os seus interesses, mesmo que esse alguém faça parte de seu convívio íntimo. Esses comportamentos desprezíveis são resultados de uma escolha, diga-se de passagem, exercida de forma livre e sem qualquer culpa.

A mais evidente expressão da psicopatia envolve a flagrante violação criminosa das regras  sociais.  Sem  qualquer  surpresa  adicional,  muitos  psicopatas  são  assassinos violentos e cruéis. No entanto, como já dito, a maioria deles está do lado de fora das grades, utilizando, sem qualquer consciência, habilidades maquia-vélicas contra suas vítimas, que para eles funcionam apenas como troféus de competência e inteligência. Reafirmo que é comum depararmos com pessoas de boa índole (até mesmo de alto nível intelectual e cultural) que duvidam que os psicopatas possam existir de fato. Para sanar essa  dúvida,  basta  observar  a  grande  quantidade  de  pessoas  mostradas  na  mídia diariamente: assassinos em série, pais que matam seus filhos, filhos que matam seus pais, estupradores, ladrões, golpistas, estelionatários (os famosos “171”), gangues que ateiam fogo em pessoas, homens que espancam as esposas, criminosos de colarinho branco, executivos tiranos, empresários e políticos corruptos, seqüestradores…

Todos os crimes cometidos por esses indivíduos, de pequena ou grande monta, deixamnos tão perplexos que a nossa tendência inicial é buscar explicações que sejam nomínimo razoáveis. E aí especulamos: “Ele parecia tão bom, o que será que aconteceu?”, “Será que ele não regula muito bem, estava drogado ou perturbado?”, “Será que foi maltratado na infância?”. E, mergulhados em tantas perguntas, incorremos no erro de justificar e até entender as ações criminosas dos psicopatas. Passe a ler os jornais sob esse novo prisma (a falta de consciência) e você perceberá rapidamente que a extensão desse problema é amedrontadora. Convenhamos, não é chocante saber que tais comportamentos moralmente incompreensíveis são exibidos por pessoas aparentemente “normais” ou comuns?

É preciso estar atento para o fato de que, ao contrário do que se possa imaginar, existem muito mais psicopatas que não matam do que aqueles que chegam à desumanidade máxima de cometer um homicídio. Cuidado, os psicopatas que não matam não são, em absoluto, inofensivos! Eles são capazes de provocar grande impacto no cotidiano das pessoas e são igualmente insensíveis. Estamos muito mais propensos e vulneráveis a perder nossas economias ao cair na lábia manipuladora de um golpista do que perder a vida pelas mãos dos assassinos.

Dizem que a vida imita a arte e vice-versa. Desse ponto de vista, costumo acreditar na segunda opção: a arte imita a vida. Se observarmos bem, existem diversos filmes em que os personagens principais ou secundários dão vida, voz e ação aos diversos tipos de psicopatas, sejam eles golpistas ou estelionatários, grandes empresários ou políticos inescrupulosos,  ou  ainda  os  assassinos  cruéis  e  impiedosos  que  agem  de  forma repetitiva e sistemática (os ditos serial killers).

Desde que o cinema existe, os psicopatas sempre estiveram presentes entre seus grandes personagens. Sob esse aspecto, os filmes sobre vampiros são, a meu ver, os que sempre tiveram os psicopatas como os grandes astros em cena. Assim como os vampiros da ficção, os psicopatas estão sempre de tocaia. Nesse exato instante em que você lê este livro, eles estão agindo por aí: nas ruas, em plena luz do sol, procurando suas  “presas”,  às  mesas  de seus  escritórios  envolvidos  em  negociações  escusas  ou mesmo sob o teto acolhedor de um lar que em instantes será devastado.  Eles estão por toda parte, perfeitamente disfarçados de gente comum, e assim que suas necessidades  internas  de prazer,  luxúria,  poder e controle  se manifestarem,  eles  se revelarão como realmente são: feras predadoras.

Os psicopatas são os vampiros da vida real. Não é exata-mente o nosso sangue que eles sugam, mas sim nossa energia emocional. Podemos considerá-los autênticas criaturas das trevas. Possuem um extraordinário poder de nos importunar e de nos hipnotizar com o objetivo maquiavélico de anestesiar nosso poder de julgamento e nossa racionalidade. Com  histórias  imaginárias  e  falsas  promessas  nos  fazem  sucumbir  ao  seu  jogo  e, totalmente entregues à sorte, perdemos  nossos bens materiais  ou somos dominados mental e psicologicamente.

O mais surpreendente é que, a princípio, os psicopatas aparentam ser melhores que as pessoas comuns. Mostram-se tão inteligentes, talentosos e até encantadores como o próprio conde romeno que o cinema imortalizou como o Conde Drácula. Inicialmentenos despertam confiança, simpatia e acabamos por esperar mais deles do que das outras pessoas. Ilusórias expectativas! Esperamos, mas não recebemos nada positivo e, no fim das contas, amargamos sérios prejuízos em diversos setores das nossas vidas. Sem nos darmos conta, acabamos por convidá-los a entrar em nossas vidas e quase sempre  só  percebemos  o  erro  e  o  tamanho  do  engodo  quando  eles  desaparecem inesperadamente, dei-xando-nos exaustos, adoecidos, com uma enorme dor de cabeça, a carteira  vazia,  o  coração  destroçado  e,  nos  piores  casos,  vidas  perdidas.  Para  os psicopatas, essa sucessão de fatos irresponsáveis é absolutamente “normal”. Afinal de contas, seduzir e atacar uma  “presa”  é  seu  objetivo  maior,  e  tal  qual  o  escorpião  da  fábula  ilustrada  na introdução do livro, essa é a sua natureza!

Apesar de todo o estrago, muitas pessoas vitimadas por eles ainda se perguntam e exclamam: “Será que o erro foi meu ou foi dele?”, “Onde foi que eu errei para que aquela pessoa que era tão boa e fascinante se transformasse num monstro sem escrúpulos?”. “Meu Deus, a culpa disso tudo é minha?!”

Tenha absoluta certeza: o problema são eles. São vampiros humanos ou, se preferir, predadores sociais. Eu adoraria dizer que encontrá-los por aí é algo raro e improvável, mas se assim eu fizesse, estaria agindo como um deles: mentindo, omitindo a verdade e impossibilitando-o de se precaver contra suas maldades e perversidades.  Essa diferença entre o funcionamento emocional normal e a psicopatia é tão chocante que, quase instintivamente, recusamo-nos a acreditar que de fato possam existir pessoas com  tal  vazio  de  emoções.  Infelizmente,  essa  nossa  dificuldade  em  acreditar  na magnitude dessa diferença (ter ou não ter consciência) nos coloca permanentemente em perigo.

Moreno alto, bonito e sensual

Andréa estava separada havia um ano quando conheceu Rafael numa festa. Tratava-se de um advogado comum, com roupas despojadas, jeito sedutor e com um sorriso que contagiava todo o ambiente. Seus cabelos escuros, lisos e bem tratados emolduravam o belo rosto com olhos castanhos e encantadores.  Ele se aproximou de Andréa e iniciaram um papo animado como se já se conhecessem há muito tempo. Ela narrava sua última viagem aos Estados Unidos, onde se “refugiou” para esquecer os últimos acontecimentos. Rafael, por sua vez, contava com riqueza de detalhes sobre a Europa e por que o Velho Mundo o fascinava tanto.

Rafael delicadamente  lhe  servia  drinques,  canapés  e,  vez  por  outra,  contava  piadas absolutamente engraçadas que a faziam rir como nunca. Ele era habilidoso e performático em narrar histórias divertidas e ela se via cada vez mais encantada com aquele homem tão especial, que estava a um palmo de distância.Outros encontros vieram, e sempre tão agradáveis quanto o primeiro. Andréa pensou: “Meu Deus, isso é tudo de bom! Encontrei o homem que toda mulher sonha em ter ao seu lado!” Ela estava se apaixonando novamente e deixando para trás a amargura do casamento fracassado.

Com alguns meses de namoro, Andréa ainda não conhecia a casa e a família de Rafael. Sabia que ele morava com a mãe viúva, que ele alegava ser uma pessoa muito difícil, possessiva e indelicada com suas namoradas. Por isso, não queria novamente que sua felicidade  fosse  “ladeira  abaixo”  com  o  ciúme  doentio  de  sua  mãe.  Andréa compreendeu.

O tempo passou e algumas atitudes de Rafael começaram a intrigá-la: ao mesmo tempo em  que era  amável  e sociável,  ele  se mostrava  intolerante,  impulsivo  e,  às  vezes, preconceituoso. Um dia, ao fazerem compras juntos, agarrou um garoto pelo colarinho, simplesmente porque o menino esbarrou no seu carrinho de compras.

“Por que você foi tão agressivo com ele?”, ela perguntou. “Porque não fui com a cara dele”, foi a resposta. Ao saírem do supermercado, um funcionário se ofereceu para colocar as compras no carro. Rafael o empurrou com tanta força que por pouco o rapaz não tombou indefeso no meio da calçada. Partindo com o carro, constrangida, Andréa ainda ouviu o rapaz gritar: “Você está louco? Eu só quis ajudar!”

Não tocaram mais no assunto. Apesar do que aconteceu, Rafael estava calmo e dirigia com cuidado como se nada tivesse acontecido. Ligou o rádio, comprou flores pelo caminho e contou mais algumas piadas. Dessa vez ela não achou a menor graça. Andréa comentou com seus amigos sobre esses e outros episódios contraditórios, mas ninguém deu muita importância: “Ele parece ser um cara legal, deve ser apenas uma fase de estresse”,”Não fique tão preocupada, todos nós temos defeitos e vocês formam um belo casal”. Dois meses depois, Rafael quis trocar de carro e convenceu Andréa a emprestar suas economias. Estava prestes a receber seus honorários e em poucos dias devolveria o dinheiro. Ela não questionou, apenas confiou e raspou sua poupança. Ele nunca mais deu sinal de vida.

Em pouco tempo, toda a verdade foi descoberta: Rafael é um impostor, um tremendo picareta! Não é advogado, nunca trabalhou e jamais colocou os pés na Europa. Apesar de sua inteligência, na fase escolar só estudava para passar aos trancos e barrancos. Seus pais adoravam cachorros, mas abriram mão desse prazer porque Rafael os maltratava e ria enquanto sua irmã mais nova chorava em defesa dos cães. Havia poucos anos seu pai morrera de um enfarte fulminante e lhes deixou uma gorda pensão.  Rafael já era um homem feito e ainda apelava para o bom coração de sua mãe, que lhe assegurava uma boa mesada.Andréa não foi a primeira e certamente não será a última pessoa do mundo  a ser enganada por ele. Provavelmente Rafael jamais matará alguém (isso só o tempo dirá), mas continuará vivendo de golpes “baratos”, aproveitando-se de mulheres fragilizadas e se divertindo com seus feitos. Com sua habilidade de ludibriar, seduzir e até assustar, sente-se superior a todos e os vê como tolos. Alvos fáceis. Rafael não se importa com ninguém. Rafael é um psicopata.

A piedade e a generosidade das pessoas boas podem se transformar em uma folha de papel em branco assinada nas mãos de um psicopata. Quando sentimos pena estamos vulneráveis emocionalmente, e é essa a maior arma que os psicopatas podem usar contra nós.

Ana Beatriz Barbosa Silva. Excerto do livro ‘Mentes Perigosas’


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