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A mentira conseguiu se libertar do Primeiro de Abril e se tornou uma pop star. Seriados como House – “todo mundo mente!” – ou Lie To Me popularizaram a mentira nos últimos anos mais do que as revistas de fofoca nas últimas décadas. Quem mente mais, o homem ou a mulher? Por que mentimos? Esse tipo de pergunta se tornou obsoleto, não porque de fato todos somos capazes de mentir e sim porque somos praticamente incapazes de viver só de verdades. E isso não é algo ruim como pode parecer, inclusive coloca na verdade um peso, um valor, que lhe dá um status: contamos a verdade para quem merece e não a disperdiçamos com qualquer um a qualquer hora.
Você já arrumou seu quarto? Terminou de estudar? Enviou o relatório? Falou mal da fulana? Psiquiatras e psicólogos tratam o ato de mentir como uma defesa, dizem que mentimos para quem amamos muitas vezes para evitar confusão desnecessária – “fico gorda com essa roupa?”, ou para não cair em discussões em cima de algo que uma das pessoas dá valor mas que não tem peso para a outra – “você estava falando com o seu ex?”. Isso tudo nos mostra apenas uma coisa: que até quando falamos de mentiras, mentimos para nós mesmos. Não mentimos para nos proteger, evitar brigas nem nada assim, mentimos porque a mentira é uma força real que existe não em nós, mas em praticamente todo ser vivo.
Certa tarde Koko, a gorila, foi confrontada por seus treinadores depois de uma explosão de raiva na qual ela arrancou uma pia de aço do lugar onde ela estava presa. Não se sabe neste caso quem é mais estúpido, se a “pessoa” que tenta esconder um fato óbvio ou a pessoa que vai tirar satisfações com uma gorila capaz de arrancar uma pia de aço da parede onde estava chumbada, mas ao ver que seus treinadores estavam chateados – para dizer no mímino – com o acontecido, a gorila sinalizou na Língua de Sinais Americana, “o gato fez isso, ” apontando para seu pequeno gato de estimação.
E a coisa não para por ai, cientistas descobriram que bebês humanos com apenas seis meses de idade já fingem que estão chorando para conseguir algo. É isso ai, você já aprende a mentir antes mesmo de aprender a falar. E não é apenas isso, eles – nós – também fingem estar rindo para receber atenção, se a coisa parasse por ai ainda poderíamos dizer que o bebê não está mentindo, ele é apenas inocente, mas a coisa não pára. Bebês humanos – nós – são capazes inclusive de, ao perceber que fizeram algo errado, criarem distrações para desviar a atenção dos adultos da área.
Pense nisso, em um mundo onde gorilas e bebês fazem isso, há como realmente atribuir algum valor moral para a mentira?
Como se tornar um detector de mentiras
As pessoas dizem que a ignorância é uma bênção. Mas as pessoas geralmente são ignorantes. E muitas vezes ser capaz de mentir bem se torna tão crítico quanto conseguir saber quando estão mentindo para você. Mentiras nem sempre tem um objetivo, quantas vezes você já não respondeu que fez ou deixou de fazer algo que nem afetaria seu dia ou sua vida caso tivesse mesmo feito ou não? “Alguém ai tem uma borracha?” – vários nãos vem de gente que nem quer parar para pensar se tem ou não uma – “Você sabe quem fez isso?” – e a resposta vem sem que você pare de pensar o que é isso, apenas responde a primeira coisa que vem à mente. Quantas vezes mentiu que não gostava de algo quando simplesmente não queria aquele algo naquele momento? Em contrapartida existem momentos que uma mentira pode ter um valor estratégico que vai além de manter um relacionamento, evitar uma briga ou não levar uma bronca. Em uma entrevista de emprego um “claro que estou familiarizado com isso!” pode ser a diferença entre uma contratação ou mais dias indo de um lugar ao outro, e mesmo que você não saiba do que o seu futuro contratante está falando em alguns dias você pode se familiarizar com o processo e até mesmo ficar muito bom nele. Uma mentira pode salvar vidas ou evitar perdas. Já foi dito inclusive, que uma mentira repetida muitas vezes se torna uma verdade e que os maiores magos são os maiores mentirosos.
Se não consegue ser com mais ninguém, tente ser sincero ou sincera consigo mesmo/a agora, não tem mais ninguém dentro da sua cabeça além de você. Muitas vezes algo tem tanto valor que deve ser escondido atrás de uma mentira certo? E é ai que você tem que saber se está escondendo algo muito bem ou se algo está sendo escondido de você.
A mentira é uma energia tão poderosa que causa reações em nosso corpo que nem mesmo nós somos capazes de notar, e são essas reações que podem entregar quando alguém está mentindo ou sendo sincero. Antes de começarmos tenha duas coisas em mente:
1- Nenhum sinal desses é uma garantia de mentira, achar que alguém está mentindo quando está apenas nervoso é um grande erro quando você precisa de uma certeza, explicaremos a cada passo o que mais pode causar tal reação.
2- As técnicas apresentadas não são usadas apenas pela polícia, psicólogos forenses e experts em segurança, mas em muitas áreas da vida profissional. Gerentes de negócios, vendedores, funcionários, pessoas abordadas por desconhecidos, etc…
Primeiro Passo – Estabelecendo uma Base
Chamamos de Base a maneira como uma pessoa se comporta quando não está mentindo, ou seja quando está sendo sincera. É importante que você estabeleça uma base antes de dar início às suas observações. Para descobrir qual a base de uma pessoa, conhecida ou não, faça perguntas simples, como qual o nome dela ou onde vive. Além disso é importante desconstruir qualquer barreira que a pessoa tenha inserindo perguntas simples mas aparentemente sem sentido, aqui vão algumas:
1- Você já comeu guacamole?
2- Você prefere banho de chuveiro ou de banheira?
3- Se pudesse ter um super poder, qual seria?
4- Você já fez aulas de dança?
5- Você tem medo de alturas?
6- Você já foi picado por uma abelha?
7- O que almoçou ontem?
8- Qual a comida que você mais odeia?
9- Você já pediu comida chinesa por telefone?
10- Qual seu seriado favorito na televisão?
11- Você sabe quantos anos a Hebe tem?
12- Qual o seu Muppet favorito?
13- Qual o seu récorde de tempo sem dormir?
14- Quando você precisa de um conselho, quem procura?
15- Prefere Cindy Lauper ou Madonna?
16- Como comemorou seu 13o aniversário?
17- Torce para o Papa-Léguas ou para o Coiote?
Essas perguntas são importantes por que obrigam a pessoa a pensar e geralmente elas não tem que mentir a esse respeito. Como você verá, saber distinguir quando alguém está tentando se lembrar de algo de quando alguém está inventando algo será muito importante. Caso você não tenha a necessidade de prescrustar algum desconhecido imediatamente, você pode fazer essas perguntas para as pessoas aleatóriamente e ir criando uma base de dados mental de como elas se comportam quando as respondem. Caso a necessidade se faça na hora, não se acanhe, pergunte e veja como a pessoa reage a cada uma delas, e preste muita atenção a como o corpo dela se comporta, veremos agora o que você deve procurar.
Segundo Passo – A Linguagem Corporal da Mentira
Por mais que a pessoa tente esconder uma mentira, o corpo dela sabe que está mentindo e se comporta como tal. É preciso muito treino para condicionar o seu corpo para mentir também e caso acredite que mentiras importantes para pessoas importantes terão um papel fundamental em algum momento de sua vida, você deve condicioná-lo.
Para sermos extremamente claros sobre o que queremos dizer por linguagem corporal aqui vai uma lista de reações de um corpo para uma mentira sendo dita:
– Expressões físicas que se tornam limitadas e rígidas, com poucos movimentos de braços e mãos;
– Movimentos de mãos, braços e pernas são feitos em direção ao próprio corpo;
– As mãos ficam tocando o rosto, garganta ou boca;
– Tendência a coçar o nariz, a nuca ou atrás da orelha;
– Dificilmente tocam o peito ou o “coração” com a mão aberta;
– Pessoas que mentem suam mais;
– Pessoas que mentem evitam encarar nos olhos.
Evidentemente esses sinais também são indicadores de que a pessoa está nervosa, e nem sempre alguém fica nervoso por estar mentindo. Existem casos em que a pessoa não sabe o que responder ou como responder a pergunta. Também em caso de pessoas tímidas muitos desses sinais podem surgir.
Os Olhos são a Janelas da Alma
Embora uma pessoa que sabe que foi pega em uma mentira tente a todo custo evitar contato visual – olhos nos olhos – existem muitas razões para que uma pessoa sincera também não encare seu interrogador. Quando está tentando se lembrar de algo as pessoas tendem a tentar encarar o vazio, diminuindo a quantidade de informação em que tem que se concentrar. É normal também que pessoas que se sintam constrangidas tentem desviar o olhar. Naturalmente conversas que tem contato visual prolongado tendem a ficar mais intensas ou violentas, assim case se sinta indimidada uma pessoa mais dócil interromperá o contato.
Mesmo assim ainda há como usar os olhos como indicadores de mentiras. Tente se lembrar quando foi a última vez que leu um gibi da mônica. Agora tente se lembrar a última vez que comeu algo que nunca havia provado antes. Repare que seus olhos se movem. Qual era o telefone da casa que morou quando era criança? Repare novamente. Geralmente pessoas destras viram os olhos para a própria esquerda – a direita para quem observa. Agora tente imaginar qual seria o gosto de um smurf frito, ou tente criar um slogam para uma marca qualquer de preservativos. Normalmente os olhos das pessoas destras se viram para o próprio lado direito – o lado esquerdo de um observador – quando elas estão imaginando algo, ou seja pensando em algo que não existe ou, para nossos propósitos práticos, mentindo. Em pessoas canhotas acontece o inverso, elas olham para a esquerda – a sua direita – quando se lembram e para a direita – a sua esquerda – quando estão inventando algo.
Um alerta! Geralmente pensamentos associados com sensações (como olfato e tato) fazem a pessoa destra olhar para a direita, da mesma forma quando alguém acessa o seu diálogo interno – falam consigo mesmas – tendem a olhar para a esquerda, No primeiro caso elas estão se lembrando de algo e não inventando algo, no segundo elas não necessariamente estão pensando na verdade. (em canhotos a resposta é invertida).
Logo de cara é necessário descobrir se a pessoa sendo questionada é canhota ou destra para você poder afinar as reações oculares delas.
Outro fato interessante sobre os olhos é a dilatação e contração das pupilas. Pense agora no gato de botas do filme Shrek. Sempre que desejava desarmar alguém, crescia os olhos e dilatava suas pupilas até que se tornassem quase negras. Geralmente quando estamos sendindo prazer nossas pupilas se dilatam e curiosamente somos atraídos por coisas que sentem prazer, por isso pupilas dilatadas são consideradas atraentes por quase todas as pessoas. Pense em mangás, cartões de bebês animais, no filme bambi… pupilas dilatadas amolecem nosso coração. Um fato histórico curioso era o uso de extrato de belladonna por mulheres, elas o pingavam nos olhos para dilatar as pupilas e se tornar mais atraentes de um minuto para o outro e assim conseguir a atenção de seus alvos. Caso encontre uma pessoa e perceba que suas pupilas se dilataram ao te ver pode apostar que ela está se sentindo atraída por você, mesmo que ainda não tenha percebido – nossa que pupilas grandes! É pra te ver melhor! Uma aplicação óbvia disso é perceber quando uma situação está dando prazer a alguém que diz não estar sentindo nada ou estar se sentindo horrorizado com o que está sendo descrito.
Gestos Emocionais
Tente procurar por micro expressões. Micro expressões são expressões faciais que surgem e desaparecem num piscar de olhos e podem revelar as emoções reais que a pessoa está sentindo no momento. Uma pessoa que mente geralmente se sente angustiada quando interrogada, mas obviamente vai tentar se mostrar calma e despreocupada. Certas questões podem aumentar a angústia de ser apanhada e isso pode fazer, por exemplo, com que suas sobrancelhas se ergam para se tocarem no topo do nariz. Por mais que a pessoa tente parecer calma e forçar uma aparência despreocupada, rugas podem surgir e desaparecer em sua testa.
Além disso outras evidências de uma mentira são:
– Timing e duração de gestos emocionais fora do normal. A demonstração de uma emoção demora para acontecer, perdura por mais do que seria normal e então, subtamente, desaparece;
– Expressões e gestos emocionais parecem estar fora de sincronia com o que a pessoa responde, ela diz algo para então expressar a emoção do que está dizendo ou demonstra uma emoção de algo que ainda nem sequer começou a falar;
– Gestos e expressões não coincidem com o que está sendo dito;
– Quando alguém está fingindo emoções, suas expressões se concentram apenas nos movimentos da boca e não no rosto todo;
– Algumas pessoas quando mentem, inconscientemente mexem em objetos de forma a colocá-los entre os interrogadores e si mesmas;
– Não é incomum a pessoa que mente não apenas evitar contato visual como se virar de lado ou de costas para não ficar de frente com o acusador.
Um outro fator que surge também é o corpo dizer a verdade enquanto a boca mente. Em perguntas que a resposta é um simples sim ou não, observe a cabeça da pessoa, se ela diz sim e a cabeça se mexe discretamente de um lado para o outro, o corpo está contestando a resposta, se ela responde não e a cabeça se move sutilmente para cima e para baixo também.
A Voz da Razão
Da mesma forma que o corpo reage, a maneira com que a pessoa se comunica também é afetada pela mentira.
– Uma pessoa culpada assume uma postura defensiva, uma pessoa inocente se torna ofensiva;
– Um mentiroso normalmente precisa de tempo para elaborar sua história, por isso geralmente repetem suas questões para ganhar tempo. “Você quer saber se fui eu que matei a prostituta que vocês acharam morta no porta-malas do meu carro? Não… não fui eu. Nunca ví ela antes”. Da mesma forma, uma resposta que repete as palavras da pergunta podem indicar uma mentira: “Foi você que comeu aquele sanduiche que estava com uma etiqueta de ‘não coma’ na geladeira?”, “Não, não fui eu que comeu aquele sanduiche que estava com uma etiqueta de ‘não coma’ na geladeira!”. Geralmente um simples “não” é mais honesto;
– Uma das maneiras mais simples de se evitar mentir e assim não ser pego mentindo é evitar dar respostas diretas que sejam mentiras, o mentiroso apenas dá respostas indiretas e implícitas;
– Pessoas que mentem também podem acabar dando mais informações do que são necessárias, enchendo suas respostas de detalhes desnecessários para tentar convencer de que estão falando a verdade;
– Muitas vezes uma mentira é apresentada de forma que a resposta acaba sendo mais confusa do que deveria, sua entonação e sua gramatica tropeçam uma na outra fazendo a pessoa parecer que está resmungando ou não fazendo sentido;
– Pessoas mentirosas se sentem extremamente desconfortáveis com pausas longas ou momentos de silêncio na conversa, pois isso dá a impressão que algo do que disseram está sendo analizado e não confere com a realidade, esses momentos de silêncio devem ser introduzidos sempre que possível na conversa para usar o desconforto contra o mentiroso.
O tempo da resposta também é importante. Em alguns casos a pessoa pode estar desconfortável em simplesmente falar o que sabe, ou então a resposta precisa de alguns detalhes que precisam de algum tempo para serem organizados na cabeça da pessoa interrogada, mas a regra dita que perguntas que pedem uma resposta simples não precisam de tempo para serem respondidas, aqui a estratégia de repetir a pergunta como se estivesse tentando entendê-la, de forma lenta ou repetitiva mostra que a pessoa está tentando ganhar tempo e não simplesmente preocupada em responder ou em se lembrar de todos os detalhes.
Outra estratégia interessante são mudanças bruscas no assunto. Um mentiroso consegue mudar de assunto e se mostra interessando e dar as novas informações como se continuasse falando da mesma coisa, uma pessoa culpada quer que o assunto da conversa mude, enquanto uma pessoa inocente muitas vezes se torna confusa com a mudança e vai querer voltar ao assunto que estava sendo tratado.
Além disso todos nós falamos em um padrão de voz próprio e identificável. Quando ficamos nervosos ou angustiados ou começamos a mentir, esse padrão se altera sem que nos apercebamos disso. Sua voz faz isso automaticamente, geralmente a voz espontaneamente se torna mais aguda e aflita, então quando percebemos a mudança é natural começarmos a falar mais pausadamente do que o normal e em um tom mais gutural e mais baixo, numa tentativa de controlarmos a velocidade e o tom, tentando trazê-los de volta ao normal.
Uma pessoa que está mentindo também tem uma tendência de assumir um tom sarcástico ou divertido tanto para evitar o assunto discutido quanto para poder mudar constantemente o tom de voz para não ser apanhado.
Por Stella Maris
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