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Metanoia e o nascimento da alqui-feminista

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Clarissa De Franco[1]

Olá. Esse texto vai abrir uma conversa sobre Alquimia, gênero e metanoia, três grandes e complexos temas que têm me atravessado nos anos recentes. A Clarissa que tece esta escrita tem sido impactada por um contexto chamado de metanoia.

Metanoia (substantivo feminino). Mudança, transformação de caráter ou na maneira de pensar. (…) Modificação espiritual; conversão. Modo novo de conceber ideias, de se comportar, de enxergar a vida e a realidade. Do grego metánoia. “mudança de sentimentos”. (Dicio).

Sim, estou em reforma. Mas não para melhor atender ninguém, senão a mim mesma e ao meu processo de autoconhecimento, o que, espero, provavelmente se reverta em algo melhor para o mundo também. Para a Psicologia Junguiana, a metanoia refere-se à parábola de “descida” da vida. Na meia-idade, como lembra Jung (2013, p. 778) “o Sol começa a declinar e este declínio significa uma inversão de todos os valores e ideias cultivados durante a manhã (…) A luz e o calor diminuem e por fim se extinguem”. A metáfora aciona o anoitecer da alma. Neste momento da vida – segue Jung com sua sabedoria: “só aquele (ou aquela) que se dispõe a morrer conserva a vitalidade, porque, na hora secreta do meio-dia, se inverte a parábola e nasce a morte” (p. 800). Um mergulho em Nigredo.

Dizem que a vida começa depois dos quarenta. Neste momento que posso chamar de recolhimento crepuscular, descobri-me consciente do que parece desde sempre ter estado ali como semente, dentro de mim, e me coloquei diante de um retorno ao início de mim mesma, aspectos que de forma inconsciente ou negligente permiti serem levados para longe nas marés cotidianas. O “empurrão metanoico” que agora o inconsciente está promovendo para a consciência se expandir em meio às reviravoltas de roteiros da vida, conduziu a este reencontro com pedaços meus que deixei para trás, em benefício de qualquer pessoa ou situação que não a mim mesma. Clarissa Pinkola Estés (minha xará!) fala do distanciamento que o patriarcado vai impondo à nossa natureza selvagem de mulher, fazendo com que nos adaptemos para além de nossos limites.

Agora, olho para meu quintal, revisando minhas práticas, falas e escolhas e refletindo sobre a quais senhores têm servido meus (nossos) suores formatados. Percebo-me, finalmente, uma alquimista feminista, ou, com licença poética, uma alqui-feminista, já que tanto a Alquimia, quanto a compreensão dos processos ligados ao ser mulher, às relações de gênero e suas marcas desiguais, têm sido as ferramentas libertadoras da minha história recente. Vejo-me diante de outras mulheres em transformação profunda e agradeço por fazer parte dessa caminhada coletiva de consciência feminista.

Esclareço que a metanoia não inaugurou em mim a Nigredo da alma. Faz muitos anos que choro. Tentando, com a dissolução, lavar as dores, mas parece que nunca chego a coagular. A máxima alquímica Solve et Coagula não tinha sido até então atingida por mim.

Passei todas as noites dos anos de 2006 até o início de 2023 chorando. Dezessete anos chorando, o que contabilizam seis mil, duzentas e nove noites, se minha matemática de anos bissextos estiver funcionando. Assim como Jung, eu “brincava” comigo mesma em relação ao meu próprio comportamento, alegando existir a Clarissa do dia: ativa e cheia das ideias, mãe, pesquisadora, terapeuta junguiana, astróloga, professora, taróloga, escritora – e a Clarissa da noite, que chorava no escuro, recorrendo ao tarô, à Astrologia, ao I Ching e às análises de sonhos para acalmar os pensamentos repetitivos, obsessivos e dominantes, enquanto todas as demais pessoas da casa dormiam. Por metade da minha vida, acostumei-me a dormir de duas a três horas por noite, ciente dos prejuízos cognitivos e espirituais que a longo prazo tal situação poderia me trazer.

Como psicóloga, claro que busquei muitas formas de tratamento, compreensão sobre os sintomas e encaminhamentos terapêuticos múltiplos e contínuos. Recebi em um momento desafiador da vida o diagnóstico de Transtorno Bipolar do tipo 2, que não chega a ser tão grave ou causar grandes prejuízos como o tipo 1. No “meu” tipo, episódios de hipomania (euforia, agitação mental, excitação, alta produtividade, insônia) são combinados com episódios depressivos leves, como o choro com pensamentos repetitivos e negativos. Busquei auxílio em xamãs, médicas e técnicas de vários tipos: ayahuasqueiras, benzedeiras, cartomantes, psicólogas, psiquiatras, médiuns, acupunturistas, meditação, mindfulness, conselho de mãe de santo, passe espírita, terço, mudras, yoga, mapa astral, melatonina, entre muitas outras tentativas. Coloco tais especialistas e técnicas lado a lado, porque prezo verdadeiramente pela horizontalidade entre saberes e viveres, e reconheço cada uma das “magias e suas eficácias”, sejam científicas ou de saberes tradicionais e populares. Tais conhecimentos me ajudaram a seu tempo e modo, com imagens que foram sedimentando camadas de conscientização sobre meu desenvolvimento psíquico.

Embora tenha recebido o diagnóstico há cerca de vinte anos, nunca fui de me prender a ele. Acabei vivendo, de forma a atribuir o choro da Clarissa da noite a uma experiência traumática do passado ligada ao amor e não à fase depressiva do Transtorno Bipolar. No início da vida adulta, vivenciei acontecimentos que acabaram se tornando um peso grande de se carregar, envolvendo amores, amizades, e desencontros de muitas ordens. Foram situações marcantes, solitárias e doloridas, que nunca consegui enfrentar de forma equilibrada. Vivi assim, por anos, em uma relação ambígua com a espiritualidade e comigo mesma, oras xingando a vida, oras agradecendo, mas em geral com uma dor que não saía da alma.

Essas idas e vindas se encontram em sinergia com o ideal alquímico de “fluxo e refluxo”, uma das Leis Herméticas. Na Alquimia, esta ideia é expressa nas ilustrações medievais das lavadeiras, ofício que foi representado em manuscritos alquímicos, como Atalanta Fugiens e Splendor Solis. Ao evocar a imagem deste ofício, somos convidadas(os) a refletir acerca do processo de imersão e emersão das roupas.

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Dentro das águas, o tecido tal como a alquimista, adentra um mundo especial regido por outras leis, e ressurge das águas cada vez mais purificado. Eis o processo de alvejar ou tornar o tecido livre das impurezas, nas idas e vindas entre a Nigredo e Albedo, para ser tingido posteriormente pelo vermelho da Rubedo.

Nessas idas e vindas, em fevereiro de 2023, com quarenta e dois anos de idade, após vinte e cinco anos de relacionamento amoroso com a mesma pessoa, meu parceiro decidiu encerrar o que ele entendeu ser uma “tristeza sem fim”, já que eu chorava ininterruptamente (mesmo trabalhando, produzindo, vivendo, viajando e amando) e a interpretação de parte da “causa” estava ligada a ele e à nossa relação. Temos dois filhos adolescentes, na época com 11 e 13 anos. Foi algo muito surpreendente para mim. Lutei para tentarmos mais, pedi, mas dentro de cinco meses, estávamos separados. Foi, claro, uma mistura grande de sentimentos. De novo, as voltas por Nigredo e Albedo. Reconhecimento do fim, luto (Mortificatio). Lágrimas e tentativas de dissolver as dores (Solutio). Trabalho de organização e separação do que é meu e do outro (Separatio).

Na linha do tudo ao mesmo tempo agora, atuando há anos como psicóloga analista de sonhos, criei um jogo terapêutico, chamado Símbolos do Inconsciente, baseado em fundamentos da Psicologia Junguiana ligados ao estudo dos sonhos e com base em alguns fundamentos alquímicos. O jogo trabalha com cartas contendo relatos de sonhos e também com imagens, e envolve uma dinâmica interpretativa e projetiva que aprofunda a consciência sobre um tema de vida. Não por acaso, o jogo veio também a partir de um sonho, em que via os relatos de sonhos de pacientes meus e minhas se tornarem cartas e caírem em uma grande roda com elementos (água, fogo, terra, ar…). Ali começou uma caminhada vagarosa de transformação da minha relação com a espiritualidade e com a alquimia.

As imagens arquetípicas que traremos a seguir são desse processo recente, que culminaram no nascimento da alqui-feminista Clarissa e foram colhidas em madrugadas acordadas e catalogadas pela Clarissa da noite por meio de sessões com o jogo Símbolos do Inconsciente. O roteiro que seguimos faz parte da dinâmica interpretativa do jogo. Convido vocês a adentrarem na experiência a seguir e também despertarem para a caminhada de consciência alquímica e de gênero que tem sido minha pedra filosofal.

 (Jogo 1): Tema de Vida escolhido (TV): “Por que a história aconteceu dessa forma, com tanta dor? Por que eu fui tratada assim pela espiritualidade?” Como se pode ver, a pergunta do primeiro jogo pós-divórcio contém elementos de um discurso vitimista.

Carta 1: 7.I: Nabucodonosor, William Blake

História (H): “Havia uma pessoa presa que tinha ficado louca. Ela enlouqueceu por conta da prisão na caverna por anos. Ficou isolada, foi tratada como um animal. Algo do passado foi mal compreendido e a pena foi muito maior do que seria justo. Ela tinha feito algo, mas todos deram as costas e a isolaram. Ela foi ficando magoada, perdida e louca”. Emoções e Palavras-Chave (EPCH): “mágoa, loucura, isolamento, solidão, injustiça, desproporcionalidade, prisão, estar perdida”. Título (T): “A destruição de uma vida”. Personagens (P): “1) Pessoa isolada, perdida, louca, se sentindo injustiçada e incompreendida. 2) Pessoas do passado que agiram com injustiça”. Desfecho pós-história (D): “Ela conseguiu sair da caverna com ajuda de uma pessoa de fora que entrou na caverna para pesquisar. Ela foi cuidada em um hospital, recebeu apoio, mas demorou para se recuperar”. Fase Alquímica (FA): “Coagulatio: preparo para uma nova vida, dar forma ao que se quer, compreender o próprio desejo para sair do caos”. Não por acaso, a primeira carta traz a perspectiva de coagular, uma operação do elemento terra, já que até então, essa etapa havia sido infrutífera ou insuficiente em minha caminhada. Símbolo escolhido (S): “Caverna: distorção da realidade (Mito da Caverna, Platão), limitações, prisão, também proteção, segurança, útero”. Será que eu interpretei a realidade de uma maneira equivocada até ali? O que mais tinha lá fora para ser descoberto? Talvez eu mesma tenha me fechado e não somente o movimento veio de outras pessoas. Relação da carta com o tema de vida (RTV): “Acontecimentos do passado entendidos como injustiça. Choros noturnos e pensamentos repetitivos compreendidos como uma forma de “loucura” em consequência do isolamento. Limitações impostas a si mesma, afinal a pessoa poderia ter saído da caverna pelas próprias pernas”. Imagens arquetípicas numinosas: “Caverna: talvez existam outras realidades além da realidade que é percebida no momento”.

Carta 2: 17.I: Puer, de Peter Birkhäuser

História (H): “A menina tinha um segredo. Ela conseguia ir até o céu de noite e ver o sol antes dele aparecer. Ela fazia isso todas as noites. Sabia o que aconteceria no outro dia, porque o sol contava para ela”. Emoções e Palavras-Chave (EPCH): “segredo do universo, visão, mistério, compreensão maior das coisas”, Título (T): “O movimento de enxergar o que não pode ser visto e pedir cumplicidade do universo”. Personagens (P): “1) Menina que quer ver tudo, compreender todos os mistérios e segredos do universo”. 2) Sol: portador dos mistérios do universo”. Desfecho (D): “Ficou durante anos fazendo isso. Depois, conseguiu autorização do Sol para publicar a história”. Fase Alquímica (FA): Sublimatio: “enxergar a partir de outros pontos de vista, mudar a perspectiva, ampliação de consciência, arejar”. Operação alquímica do elemento ar que nos convida a uma consciência transformada, salto de consciência. Símbolo (S): “Sol: luz, força, consciência, identidade. Sol, dia, masculino, animus: perceber seu lugar no mundo. Lua, noite, feminino, anima: percepções mais profundas, intuição, emoções. Clarissas do dia e da noite. Relação da carta com o tema de vida (RTV): “Comportamento noturno da Clarissa da noite, que abre tarô e seu jogo em busca de compreensão e cumplicidade do universo”. Imagens arquetípicas numinosas: “Sol: consciência, força, lugar de brilho no mundo. Noite: reinterpretação do sintoma da Clarissa da noite: lugar de acessar conhecimentos sensíveis, de tocar o Anima mundi (a alma do mundo)”.

Carta 3: 4.N e Desenho (DS) da autora para a carta

Destaques do Desenho (DS): “profundeza, variedade, conhecimento”. Emoções e Palavras-Chave (EPCH): “mortos (passado), estudos, busca por conhecimento”. Título (T): “Aprofundando a compreensão das coisas”. Personagens (P): “1) Eu em exercício de compreensão e aprofundamento das coisas da vida. 2) Ossos de animais pré-históricos: mortos, passado”. Desfecho (D): “Eu faço registros das descobertas, continuo estudando e depois publico os achados”. Fase Alquímica (FA): Mortificatio: “Aceitar o fim, a vida tem ciclos. Reconhecer os restos como os padrões que vão e voltam. O passado são histórias para serem contadas e não revividas. A morte pode adubar a terra”. Símbolo (S): “Ossos: estrutura, aquilo que sobra de uma existência, pode ser a força do passado que persiste, mas pode ser também os resquícios e registros que permanecem como aprendizados”. Relação da carta com tema de vida (RTV): “O passado pode ser visto como histórias interessantes e curiosas. Tanto nessa carta quanto na anterior, o Desfecho aponta para tornar públicos os acontecimentos. Dimensão pública da história privada pode fortalecer a pessoa em processo de aprendizado”. Imagens arquetípicas numinosas: “Mortificatio: ossos. O que fica e o que vai. O que de fato sobra”.

Jogo 2: Tema de Vida (TV): Como curar o pensamento obsessivo relativo a pessoas do passado? Observação: dificuldades com grupos, rivalidade no amor, rejeição, traição, solidão, dor.

Carta 1: 26.N e Desenho (DS) da autora para a carta

Destaques do Desenho (DS): “Merda que vem do alto. Merda sagrada”. Emoções e Palavras-Chave (EPCH): “Choro, destino, Deus “cagando” para quem se preocupa com ele, deboche”. Título (T): “Espalhando merda”. Personagens (P): “1) Deus: o filho da puta que espalha merda. 2) Merda: o que estava ruim se espalhou e tudo foi piorando. 3) Igreja: comunidade que é agredida, o grupo, nós, as pessoas envolvidas”. Desfecho (D): “A comunidade se reuniu para limpar a Igreja. A fé não foi abalada”. Fase Alquímica (FA): Novamente Mortificatio: “Aceitar o fim, os ciclos. As fezes podem virar adubo”. Símbolo (S): “Igreja: conectar-me aos locais, valores e pessoas com quem me sinto acolhida. Qual é a minha Igreja? Dimensão de pertencimento. Novos grupos e conexões”. Relação da carta com tema de vida (RTV): “Parênteses abertos: meu inconsciente foi odiado por mim no momento em que trouxe no Desfecho que a fé não foi abalada. Como não foi abalada diante de um Deus cruel e debochado como o que aparece na Carta? A relação é óbvia, entendia que Deus e a espiritualidade cagaram em nossas cabeças”. No entanto, a interpretação abre espaço para uma reconstrução de grupos de pertença”. Imagens arquetípicas numinosas: “Deus cruel, debochado, com prazer em espalhar merda em grupos que se preocupam com a espiritualidade. Destino como agente cruel. Novos grupos de pertença. Comunidade reconstroi”.

Carta 2: 13N e Desenho (DS) da autora para a Carta

Emoções e Palavras-chave (EPCH): “aparição, algo antigo, passado, realidade estranha, horário, repetição, doze, treze, cinco, sol, cruz (sacrifício)”. Título (T): “A aparição do passado que sempre se repete”. Personagens (P): “1) Cavaleiro ou aparição: fantasma, passado, algo fora de lugar no tempo e espaço, que sempre se repete, como um pensamento obsessivo ou um espírito obsessor. 2) Eu: vendo o que ninguém mais percebe, solitária. 3) Voz que confirma aparição: legitimadora, única testemunha da história é um agente espiritual ou uma força de dentro de mim”. Desfecho (D): “A aparição vai se distanciando e some no horizonte”. Fase Alquímica: Separatio: “organizar os processos internos e externos, separar e discriminar o que é meu e o que é do outro. Fazer cortes”. Escolha do Símbolo (S): número 13: a amplificação trouxe o arcano 13 do tarô: “morte, transformação, aceitação dos ciclos da vida, ‘tem que morrer para germinar’” Relação da carta com o tema de vida trazido (RTV): “Para mudar a forma de enxergar o que aconteceu em minha história, preciso entender que a tristeza envolve uma aparição do passado que volta sempre no mesmo horário (no meu caso, nas madrugadas). Mas é preciso ser capaz de aceitar o fim do ciclo para me transformar. Essa aparição que carrega a cruz no peito, símbolo do sacrifício, não tem mais razão de estar”. Imagens arquetípicas de numinosas: “1) Aparição ou fantasma: presença de alguma entidade ou que sempre reaparece. Ligada à história do meu passado, aos pensamentos repetitivos. 2) Cruz como sacrifício, remetendo ao sacrifício de Jesus na cruz e a meu próprio sacrifício em relacionamentos”.

Carta 3: 25.N e Desenho (DS) feito pela autora para a carta

 

Destaques do Desenho (DS): “Céu refletido na água. O que está em cima é como o que está embaixo. Princípio hermético. Semelhanças e correspondências entre mental, espiritual, material e emocional. Eu e pessoas do passado temos mais semelhanças do que eu gostaria de admitir. Todas queríamos ser admiradas, amadas e reconhecidas em nossa potência de ser no mundo.”. Emoções e Palavras-Chave (EPCH): “Horizonte, olhar, laranja, beleza”. Título (T): “O que está em cima é como o que está embaixo”. Personagens (P): “1) Céu, Terra e Água: três planos: espiritual, físico e emocional”. Desfecho (D): “Pessoa volta para a casa com a sensação de que está tudo alinhado em seu lugar, em equilíbrio, está tudo bem”. Fase Alquímica (FA): Coniunctio: “Agradecer, colher o que importa, a essência da vivência, integrar as experiências boas e ruins”. Símbolo (S): “Céu: inspiração, convite para elevar a consciência, buscar sonhos, o sagrado em mim. Há olhos reconhecendo os processos da Terra”. Relação da carta com tema de vida (RTV): “Acalmar os pensamentos sobre pessoas do passado. Reconhecer semelhanças, ser capaz de integrar bem e mal”. Imagens arquetípicas numinosas: “Céu como fonte de inspiração, elevação de consciência e reconhecimento. Planos integrados, tudo acontecendo em equilíbrio. O que está em cima é como o que está embaixo”.

Jogo 3: Tema de Vida (TV): Quais seriam, então, imagens da sabedoria que devo cultivar nesse momento?

Carta 1: 26.I: Baleia, de Bia Teixeira

História (H): “Foi uma surpresa. Duas amigas estavam passeando de barco e uma aparição aconteceu. Uma baleia gigante surgiu de repente. Elas ficaram maravilhadas e ao mesmo tempo com medo, mas isso fez o passeio valer a pena. Pareceu algo como um presente do destino”. Emoções e palavras-chave (EPCH): “surpresa, aparição (de novo!), maravilhamento, medo, valeu a pena”. Título (T): “O que fez valer a pena”. Personagens (P): “1) Amigas: parceria de vida. 2) Baleia: fenômeno repentino, surpreendente e gigantesco”. Desfecho pós-história (D): “A baleia voltou para o fundo do mar e as duas passaram um tempo ainda tentando processar tudo que tinha acontecido”. Fase Alquímica (FA): Solutio: “dissolver as mágoas, aceitar o fluxo, misturar minhas dores nas dores do mundo, para poder nascer de novo”. Símbolo (S): “Baleia: Jonas, Pinóquio, útero, novo nascimento, preparação para um novo ciclo”. Relação da carta com o tema de vida (RTV): “De novo: a aparição. Dessa vez, mostra que a aparição pode ser algo bom. Observar o que fez a história valer a pena. O fenômeno repentino, gigantesco e surpreendente (baleia e talvez divórcio?) pode trazer coisas boas. Aceitar o fluxo, preparar-se para o novo”. Imagens arquetípicas numinosas: “Fenômeno surpreendente como presente do destino. Baleia: fenômeno tremendo e fascinante, renascimento, útero. Reinterpretar significado do divórcio”.

Carta 2: 30.N e Desenho (DS) da autora para a carta

Desenho (DS): “pluralidade, facetas, fases e arquétipos do feminino: 1) criança (ingenuidade, espontaneidade, leveza e potência de vida), 2) ‘donzela’ (arquétipo ligado à mulher em sua juventude e início da vida adulta, descoberta sexual, beleza, foco no amor romântico e em encontrar seu lugar no mundo), 3) mãe (mulher grávida, capaz de gerar, criar, cuidar, nutrir, independentemente de ser um/a filho/a ou projetos no mundo, no auge de sua potência), 4) velha (sábia, espiritualizada, recolhida em seu próprio processo, consciente do caminho).  Emoções e Palavras-chave (EPCH): “Percepção, consciência, organização, escolhas, reconhecimento das várias mulheres Clarissas que habitam em mim”. Título (T): “Exercício de reconhecimento e preparação para dividir e compartilhar com o mundo”. Personagens (P): “Várias Clarissas: Octógonos: infinito, ciclos, poder, espírito e matéria. Pentágonos: mudanças, centro, criatividade, caos, desafios. Responsabilidade com várias facetas”. Desfecho pós-história (D): “Organizar uma nova teoria a partir de mim e de meus aspectos”. Fase Alquímica (FA): “Separatio: caminhos, consciência, escolhas, analisar, organizar, escolher o que fica e o que vai, participação ativa na construção dos processos. Causa e efeito: responsabilidades”. Escolha do Símbolo (S): “Cerâmica: olhar para o feminino e estratégias do feminino (arte em cerâmica, vaso, em que cabem os sonhos)”. Relação da carta com o tema de vida trazido (RTV) e imagens arquetípicas de numinosas: “Sabedoria veio pelas imagens do feminino em suas várias idades e arquétipos (criança, mulher ou donzela, mãe e velha)”.

1.      Respiro final       

Em conclusão, aponto para a grande tarefa que temos em nossas mãos. A alquima é um conhecimento que precisa ser melhor integrado à vida cotidiana, às escolhas, aos processos emocionais, às perspectivas de gênero.

A alqui-feminista que nasceu dentro de mim compreendeu que as imagens arquetípicas numinosas de uma mulher na metanoia que se apresentaram em meu processo fazem consonância a essa reivindicação da correspondência. O que está em cima é como o que está embaixo. A parábola de descida da vida (metanoia) retorna a Nigredo para dessa vez dessa vez conseguir avançar para o amarelecimento e a vermelhidão da consciência.

Enfim, uma mulher na metanoia, as Clarissas do dia e da noite, encontram-se para celebrar as instabilidades de sua caminhada espiritual. Grata ao escurecer da vida.

REFERÊNCIAS:

DICIO. Dicionário online de Português. Disponível em: https://www.dicio.com.br/. Acesso em 22/08/2024.

EDINGER, Edward. A anatomia da psique. O simbolismo alquímico na psicoterapia. São Paulo: Cultrix, 2006.

ESTÉS, Clarissa Pinkola. Mulheres que correm com lobos. Mitos e histórias do arquétipo da Mulher Selvagem. São Paulo: Rocco, 2018.

FRANCO, Clarissa De. Livro do Jogo Símbolos do Inconsciente. São Paulo: Ludens, 2024. Disponível em: www.simbolosdoinconsciente.com.br.

FRANCO, Clarissa De; BALDASSARIS, Rafael Siqueira Beraldo. A Jornada Psicológica da/o Alquimista. Revista Caminhos Junguianos. No prelo.

JUNG, Carl Gustav. A natureza da psique. 10ª ed. Petrópolis: Vozes, 2013.

SPLENDOR SOLIS. London, UK: Watkins Publishing, 2019, p. 137. (Trabalho original publicado em 1582). Disponível em: https://www.alchemywebsite.com/images/SS21.jpg. Acesso em: 16/05/2025.

[1] SPLENDOR SOLIS. London, UK: Watkins Publishing, 2019, p. 137. (Trabalho original publicado em 1582). Disponível em: https://www.alchemywebsite.com/images/SS21.jpg. Acesso em: 16/05/2025.


Clarissa De Franco é psicóloga junguiana, analista de sonhos, alquimista, taróloga, astróloga, feminista. É professora de mestrado e doutorado em Psicologia e Ciências da Religião. Facilitadora de Círculos de mulheres, criadora do jogo terapêutico junguiano Símbolos do Inconsciente, criadora do oráculo Runas Alquímicas, autora de livros e artigos e fundadora da Katabasis: Escola Junguiana Feminista de Alquimia e Sonhos.

www.simbolosdoinconsciente.com.br

www.katabasis.com.br


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