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Em 1966, os pesquisadores em psicodélicos de Harvard-Millbrook decidiram explorar a metáfora religiosa a fim de encorajar as pessoas a terem o comando das suas próprias funções cerebrais. Eu estava inquieto sobre cair novamente no paradigma religioso. Por 40 anos eu vinha sendo condicionado a responder negativamente à palavra “Deus”. Em qualquer momento que alguém começasse a clamar a respeito de Deus, eu automaticamente esperava ser imposto ou ameaçado por algum hipócrita semi-alfabetizado. Nós tentamos evitar essa palavra-chave insidiosa. Deus sabe, em um ponto, nós falamos sobre LSD como uma “vitamina cerebral” ou suplemento dietético – mas esse rótulo mais preciso soava espertalhão naqueles tempos – quem sabe, talvez isso fosse ser estiloso nessa era de mega-suplementos, smart drugs e extensão da vida. Entretanto, contudo, porém e não obstante, a dieta do autocontrole não era para tornar-se respeitável até a medicina holística dos anos 70.
Nossos próprios compromissos e modelos de características eram sempre científicos. Por exemplo, nós fomos bem sucedidos em treinar prisioneiros analfabetos a exercerem as funções de – e falarem como – psicólogos. E nossos campos de treinamento de verão no Hotel Catalina em Zlhuatenjo, México, efetivamente ensinaram uma grande gama de intelectuais a como “reimprimir” seus programas cerebrais. Nossa lógica parecia clara – “brain-activating drugs” expunham as pessoas a poderosas e intensas experiências que destruíam idéias convencionais sobre a realidade. Se deixada de lado pela sociedade, nossa Fundação Internacional para Libertação Interna (IFIF) teria sido bem sucedida em treinar diversos milhares de neurologistas que, em suas próprias comunidades poderiam ter treinado mais centenas de milhares de americanos a usarem suas próprias cabeças.
Mas espertamente ou estupidamente, nós fomos desencorajados a ter esse acesso científico. Depois de sermos expulsos de Harvard, do México, da Antiguia e da Dominica na última primavera de 1963, nós covardemente decidimos que as autoridades não estavam prontas para o conceito do século 21 – Todo Cidadão um Cientista. Então, caímos de volta ao lugar familiar histórico em cima do qual grande parte dos recentes movimentos de Libertação vem lutando a batalha – a religião.
ATIVANDO A DIVINDADE INTERIOR
Apesar de ser contra, a lei para cidadãos americanos responsáveis usarem plantas psicoativas e drogas para mudarem seus cérebros, com certeza, 400 anos de civilização ocidental devem apoiar o direito dos americanos de adorarem a divindade interior, usando sacramentos que funcionem para eles. Nós estudamos o significado da palavra sacramento normalmente definida como algo que relaciona pessoas à divindade. Uma das mais ofensivas, e excêntricas características dos usuários de ácido dos anos 60 era sua compulsão a balbuciar sobre suas novas visões de Deus, novas respostas para o Último Segredo do Universo.
Por milhares de anos, indivíduos, cujos cérebros foram ativados, tagarelavam sobre “últimos segredos” no contexto da revelação religiosa místico-pessoal. Nós éramos forçados a recordar que, para grande parte da história humana, a ciência e a filosofia eram a província da religião. E mais especificamente, todas as referências àquilo que agora chamaríamos de “psiconeurológico” era descrito em termos religiosos.
Nossas experiências políticas em Harvard também nos empurram em direção da metáfora religiosa. Quando se tornou sabido no campus, que um grupo de
psicólogos estava produzindo reveladoras mudanças cerebrais, nós esperávamos que astrônomos e biólogos viessem correndo em volta para aprender como usar essa nova ferramenta para expandir a percepção. Mas os cientistas, compromissados com manipulações externas, estavam desinteressados. Ao invés disso, fomos inundados de requerimentos da Escola de Divindade.
TABOO DA MUDANÇA CEREBRAL
Nosso problema – típico de viajantes no tempo lidando com culturas primitivas – era que uma mudança dramática na neurologia devesse ser gentilmente introduzida na linguagem que uma cultura tradicionalmente usa para aqueles “misteriosos, desconhecidos, poderes elevados”, os quais a ciência não havia ainda explicado. Uma revisão da literatura do século XX mostrou que havia obviamente um forte taboo contra a “mudança-cerebral”. Em 1960, realmente, o cérebro tinha substituído as genitais como o órgão proibido que não deve ser tocado ou ligado pelo seu dono. A única maneira pela qual experiências de mudança de consciência poderiam ser discutidas era em termos filosófico- religiosos. Até o Budismo, um método psicológico ateísta de autocontrole, se permitia ser classificado como uma religião.
DE VOLTA À SABEDORIA DO ORIENTE
Então era religião. Eu me lembro do momento de decisão – Durante uma longa sessão selvagem noturna de LSD na nossa mansão nos subúrbios de Boston, Richard Alpert veio até mim, olhos pipocando, e anunciou: “O Oriente! Nós devemos ir à sabedoria do Oriente!”
Os advogados concordaram. Não havia aparentemente nada na Bill of Rights (Constituição de Direitos Norte-Americana) para proteger a liberdade religiosa. A Constituição foi escrita em uma – cavala-e-defeituosa era pré- tecnológica. Mas havia uma Primeira Emenda de proteção da liberdade de religião. Porém, padres católicos eram permitidos comungar o vinho durante a Proibição. Então eu concordei com a postura religiosa – com condições: não poderia haver ajoelhamentos, dogmas, homens divinos, seguidores, igrejas, adorações públicas ou oferecimentos financeiros…
Timothy Leary
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