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Os Oito Circuitos de Consciência são um mapa mental proposto por Dr. Timothy Leary e publicado pela primeira vez em 1977 no seu livro Exo-Psychology. Assim como a Cabala e a Astrologia fizeram na época em que foram criados, este modelo é uma tentativa de entender e interagir com o que, nos tempos modernos, é chamado de Inteligências ou Consciência. É importante ressaltar que Leary não inventou o sistema, mas sim o construiu a partir das “Lei das Oitavas” curiosamente presente tanto no ocultismo europeu, como no sufismo e nos trigramas taoístas, enriquecendo-as com seus conhecimentos de psicologia e bio-química contemporâneos. Desde que foi publicado pela primeira vez, este modelo recebeu algumas contribuições valiosas, notoriamente por parte de Robert Anton Wilson e Antero Alli. Pouco antes de morrer o próprio Timothy Leary revisou o modelo e publicou, em 1994, ‘Info-Psychology’, atualizando a obra com sua a própria experiência profissional em neuro-ciência.
O modelo de Leary apresenta oito estados de consciência que são retratados como interações neuro-químicas, sem quaisquer hierarquias entre si, mas como uma rede de transmissões que interagem entre si e se desdobram, algo muito semelhante ao modelo físico chamado de ‘bootstrap’, onde cada estado está conectado e ao mesmo tempo que influencia é influenciado pelos outros. Não é objetivo deste texto detalhar cada um deles – para isso consulte leia o texto básico e consulte a bibliografia ao final. Este artigo é destinado aos que já conhecem o modelo e querem explorá-lo.
Para isso, foi criado um guia com a zona cerebral correspondente, os outputs mentais que indicam deficiência ou equilíbrio em cada um dos circuitos e, mais importante ainda, os catalizadores – químicos ou não – capazes de criar ou refazer os imprints de cada circuito.
Nota sobre os Equivalentes Químicos, “Drogas”
A dose correta da droga certa pode dar a você uma experiência, uma amostra grátis se quiser, de como é ter um Circuito de Consciência bem desenvolvido, mas a droga em si não causa. Uma xícara de café, pode realmente fazer você se sair melhor em um exame, mas não fará você mais inteligente. Algumas cervejas podem lhe tornar um pouco mais sociável, mas só por uma noite. Além disso, existe o perigo de ficar preso dentro de uma destas experiências, isso acontece quando alguém se torna viciado em um destes catalizadores e então não consegue mais experimentar um estado de consciência específico sem o auxílio destas substâncias. A maçaneta vira uma muleta. Nosso cérebro é perfeitamente capaz de produzir toda bioquímica necessária para ser bem sucedido em qualquer um ou em todos os oito circuitos de consciência, mesmo aqueles aparentemente sobre-humanos. Assim, proceda a leitura por sua própria conta e risco. O domínio real e completo de um circuito de consciência só pode ser conseguido por meio de auto-exame e auto-aprimoramento contínuo, tradicionalmente conhecido no ocidente, como “Iniciação” e no oriente como “Iluminação”.
I. Circuito de Bio-sobrevivência
O primeiro circuito tem cerca de 3 bilhões de anos e teve início com o desenvolvimento da vida na terra. Ele se preocupa com a segurança e integridade física do ser biológico. Está presente em todos os seres vivos e gira em torno das necessidades básicas de nutrição e segurança. No cérebro, quando satisfeito, este circuito produz sensações de felicidade infantil do bebê nos peitos da mãe. Está presente nos níveis mais primários de existência: sono, comida e abrigo. Quando não satisfeito o circuito intensifica a busca por segurança e alimentos, podendo se tornar uma obsessão e, finalmente, um vício. Uma pessoa viciada em segurança e conforto expressa um estado obsessivo neste circuito. Quando este circuito está operando de maneira eficiente o organismo vê a si mesmo como alguém capaz de sobreviver e com alguma habilidade de socorrer e proteger os demais.
ZONA CEREBRAL: Tronco encefálico, cerebelo e porções basais do telencéfalo, o “Cérebro Reptiliano.”
OUTPUTS DEFICIENTES: “Eu quero morrer”, “Eu estou morrendo”, “Estou sempre doente”.
OUTPUTS EQUILIBRADO: “Eu vou viver para sempre ou morrer tentando.”, “A Vida é Boa.”
CATALISADORES: Comida, água, abrigo, sono, massagem, 3 a 6 horas de Televisão, boiar na água, banho de banheira.
EQUIVALENTES QUÍMICOS: Leite materno, Opiáceos, valium, prozac, sedativos, nicotina, analgésicos, PCP, morfina e heroína. Qualquer droga capaz de melhorar e/ou diminuir a respiração.
SINTOMAS DE OVERDOSE: Síndrome do Pânico, Vício em Conforto, Ansiedade de Sobrevivência. Medo de Morrer, Viver, Comer (bulemia & anorexia), Sujeira ou Bagunça, Obesidade, Desnutrição.
II. Circuito Emocional Territorial
O segundo circuito surgiu há 500 milhões de anos com a evolução de vertebrados territorialistas. É baseado nas emoções enquanto sinais territoriais. É o que lhe diz se você está entre amigos ou em terra estranha. Está presente em todos os animais vertebrados. No cérebro, quando satisfeito, produz sensação de “estar em casa” e desdobra-se em liberdade pessoal e de expressão. Quando não satisfeito este circuito reaje com conflito, fuga ou tentativas de forjar alianças. Uma pessoa dependente da aceitação dos outros ou viciada em julgar os demais expressa um estado obsessivo neste circuito. Quando este circuito está operando de maneira eficiente o organismo é seguro de si e desenvolve certa habilidade para estimular, motivar e provocar outras pessoas.
ZONA CEBEBRAL: Base do telencéfalo, Diencéfalo, Sistema Límbico, o “Cérebro Mamífero”.
OUTPUTS DEFICIENTES: “Todos me intimidam”, “Não é seguro lá fora.”, “A liberdade dos outros me incomoda”. Preconceitos em geral…
OUTPUTS EQUILIBRADOS: “Viva e deixe viver”, “Podemos ser amigos”, “Vive la différence”
CATALISADORES: Gritaria, Chilique, Marchas militares, Artes Marciais, Rock’n’roll, Música Alta, Eventos Esportivos, Slamdancing, Terapia Reichiana.
EQUIVALENTES QUÍMICOS: Álcool, Nitrato de Amilo. Adrenalina, Qualquer outra droga capaz de relazar inibições ou estimular catarses emocionais.
SINTOMAS DE OVERDOSE: Ansiedade, Hipertensão, Histeria, Dissipação Emocional, Comportamento anti-social, ou apatia.
III. Circuito Conceitual Semântico
O terceiro circuito tem cerca de 2,5 milhões de anos e surgiu em nosso planeta quando os hominídeos começaram a se diferenciar dos outros primatas. Ele dedica-se a ligações cognitivas capazes de construir uma estrutura semântica que explique a realidade. Desenvolve conceitos para resolver problemas, definir termos, fazer mapas e articular significado ao mundo. Quando não satisfeito este circuito faz o cérebro se sentir “estúpido”, “insano” e “mal informado”, podendo reagir com uma urgência pelos fatos, curiosidade ou uma retirada ao circuito II e I. Quando satisfeito produz sensações de entendimento e clareza tornando o individuo capaz de se comunicar com eficiência e persuasão.
ZONA CEREBRAL: Córtex Telencefálico, áreas e Broca e Wernicke, o “Cérebro Humano”.
OUTPUTS DEFICIENTES: “Isso é coisa de nerd”, “Não posso resolver os meus problemas”, “Já aprendi o bastante”, “Isso é impossível de entender”, “Isso não tem utilidade prática para mim”.
OUTPUT EQUILIBRADO: “Estou aprendendo mais sobre tudo, incluindo sobre como aprender mais.”, “Não canso de aprender.”
CATALISADORES: Escrita, leitura, conversação, video-games, matemática, cabala, especulação, oratória, programação, solução de problemas, tocar instrumentos musicais.
EQUIVALENTES QUÍMICOS: Cafeína, cocaína, anfetaminas, açúcar, chocolate e estimulantes em geral.
SINTOMAS DE OVERDOSE: Nervosismo, fala-pensamento rápido demais, hiperatividade, exaustão mental, neuroses.
IV. Circuito Moral-Social
O quarto circuito tem cerca de 12 mil anos e surgiu com os primeiros agrupamentos nômades da história. Dele nascem as necessidades de pertencer/fazer parte, sociabilidade, romance, cortejo, amizade, matrimônio, família e parcerias, domesticação, bem como também é o responsável pelo surgimento da moral e ética que mantêm e tornam possíveis estes interesses. Quando não satisfeito o indivíduo experimenta alienação, marginalização e abandono. Ao ser satisfeito o quarto circuito premia o cérebro com o prazer da aceitação de um indivíduo “bem ajustado” tornando-o, e muitas vezes, um líder.
ZONA-CEREBRAL: Córtex pré-frontal medio e frontal ventromedial, o “Cérebro Adulto.”
OUTPUTS DEFICIENTES: “A liberdade dos outros me incomoda”, “Estou condenado a morrer sozinho”, “Tudo o que eu gosto é ilegal, imoral ou engorda”, “Queimem a Bruxa!”
OUTPUTS EQUILIBRADOS: “Amor é a lei, amor sob vontade”, “Faze o que tu queres”
CATALISADORES: Rituais coletivos, festas, casamentos, reuniões. Eventos culturais, concertos, igrejas, partidos políticos, organizações não governamentais. Religiões organizadas. Mídia de massa, publicidade, moda.
QUÍMICOS: Testosterona, Estrógeno, afrodisíacos ou qualquer droga que aumente o status social. Ex. Tabaco na Europa do século XIX.
SINTOMAS DE OVERDOSE: Comportamento de rebanho, perda de personalidade, autonomia e independência. Complexo de culpa, confusão entre moralidade do grupo e ética pessoal.
V. Circuito Neurossomático
O quinto circuito tem cerca de 8 mil anos de idade e surgiu quando as primeiras civilizações desenvolveram uma classe que podia se dedicar ao lazer, coincidindo com o excedente agrícola da Revolução Neolítica. Ele lida com o desfrute do “aqui e agora” além das barreiras físicas, emocionais, mentais e morais. Uma vez desperto este circuito, se não satisfeito, dará dará ao cérebro o descontentamento “espiritual” de estar preso ao próprio corpo e às necessidades mundanas. Contudo ao ser satisfeito ele premiará o organismo com o êxtase da existência, o Nirvana e um estado de carisma magnético faz-se aparecer na personalidade, tornando-o uma celebridade, xamã ou artista dependendo do seu contexto social.
ZONA-CEREBRAL: Zonas subcorticais do lóbulo frontal e área septal e segmento mesencefálico.
OUTPUT DEFICIENTE: “Que Tédio”, “A vida é um saco”, “Nada para fazer…”
OUTPUT EQUILIBRADO: “Indulgência em vez de abstinência”, “Sou Aqui e Agora”, “Carpe Diem”, “Isso é divertido!”
CATALISADORES: Pranayama, meditação, devoção religiosa, orações, música como lazer, surf, dança e teatro ao vivo, hatha-yoga, tantrismo, gravidade-zero, queda-livre, giros sufis, Ciência Cristã, rituais pagãos de êxtase.
EQUIVALENTES QUÍMICOS: Cannabis, pequenas doses de Psilocibina, Haxixe, Empatógenos (MDMA, etc..)
SINTOMAS DE OVERDOSE: Perda de conexão com a “realidade consensual”, desorientação espaço-temporal. Negligencia das crenças e moral alheias. Dificuldade de articulação (“Tipo, woooww, veio.”, “Ulah bada kubana hallelujah”)
VI. Circuito Neurogenético
O sexto circuito surgiu há cerca de 6 mil anos com o desenvolvimento das primeiras “religiões místicas” no vale do rio Indo e as escolas de mistérios do antigo Egito. Nele o sistema nervoso central se identifica com os sinais do DNA, despertando uma consciência biológica mais ampla, interpretada como reencarnações, inconsciente coletivo ou memorias raciais, entre outras, dependendo do contexto em que surgir. Quando desperto e satisfeito este circuito dá à mente um senso de união com todas as coisas vivas, quando não satisfeito um senso de desorientação e vazio extremo se manifesta no ente. Sanidade é redefinida pela imaginação e necessariamente expressa em termos poéticos, simbólicos e mitológicos.
ZONA CEREBRAL: Lobos temporais.
OUTPUTS DEFICIENTES: “A Evolução é cega e impessoal”, “Life is a bitch”
OUTPUTS EQUILIBRADOS: “A minha evolução futura depende de minhas decisões presentes”, “Nós somos nossos genes”
CATALISADORES: Meditação Transcedental, Kirtan, Paternidade/Maternidade, conversões religiosas, experiências místicas, despertar do kundalini, magia do caos de Peter Carroll, Magick de Aleister Crowley, Respiração Holotrópica do Stanislav Grof.
EQUIVALENTES QUÍMICOS: Fortes doses de Psilocibina, LSD, DMT, Datura
SINTOMAS DE OVERDOSE: Complexo de messias, megalomania, delírios de grandeza.
VII. Circuito Meta-Programador
Embora provavelmente mais antigo, o sétimo circuito atingiu sua massa de manobra apenas cerca de 2500 anos atrás com o intercâmbio global, iniciado no período helenístico, e especialmente ligado ao surgimento dos primeiros grupos “ocultos” que floresceram na rota da Seda. Relaciona-se com conceitos historicamente chamados de “Iluminação” ou desenvolvimento do “sexto sentido”. Refere-se ao sistema nervoso tomando conhecimento de si mesmo. Uma vez desperto este circuito dará ao indivíduo a sensação de conhecimento além das ilusões, sonhos e fantasias dos circuitos anteriormente citados. Entretanto quando não-satisfeito o ser experimenta uma desagradável sensação de atrofia mental, sentindo-se preso dentro de sua própria mente.
ZONA CEREBRAL: Glândula pineal. Lobos frontais.
OUTPUTS DEFICIENTES: “Por que eu tenho tanto azar?”, “Eu não posso estar errado”, “A realidade é uma piada de mal gosto”
OUTPUTS EQUILIBRADOS: “Nada é Verdadeiro, Tudo é Permitido”, “Eu faço as minhas próprias coincidências e sincronicidade, sorte e destino”, “Eu sou o que sou”
CATALISADORES: Kundalini e raja yoga, meditação caótica de Rajneesh, perda de entes queridos e experiências próximas a morte, privação sensorial, clausura, retiros budistas, vida de hermitão, rituais parateátricos de Antero Ali, edição e produção de filmes, ficção, teorias da conspiração, RPG, charlatanismo.
EQUIVALENTES QUÍMICOS: Psilocibina, mescalina, peyote, doses pequenas de LSD.
SINTOMAS DE OVERDOSE: Paranóia, Esquizofrenia, Psicose.
VIII. Circuito Quântico Não-Local
O oitavo circuito embora claramente presente em alguns indivíduos notáveis ainda é novo demais para ter deixado um registro massivo relevante na história, de forma que não podemos dar-lhe uma idade. Assim como o circuito anterior se identifica com tudo o que é vivo, este identifica-se a tudo o que existe e a consciência amplia-se para o nível subatômico. O oitavo circuito dá ao ser a consciência não-local, semelhante à consciência onírica de Castanheda ou ao Ciberespaço de William Gibson. Uma vez desperto este circuito não pode ser não-satisfeito, mas apenas perdido.
ZONAS CEREBRAIS: Lobo parietal e junção temporotariental.
OUTPUTS DEFICIENTES: “Eu não tenho poderes paranormais e eu duvido que alguém seja”, “Eu sou meu cérebro.”
OUTPUT EQUILIBRADOS: “Tudo é um”, “O que está acima é como o que está abaixo”, “O Tao que pode ser descrito não é o Tao verdadeiro”
CATALISADORES: Experiências próximas à morte ou “fora do corpo”, viagens astrais, sonhos lúcidos, técnicas de Eckankar, trabalho onírico dos Senoi malasianos, walkabouts aborigenes, realidade virtual, tecnologias de imersão.
EQUIVALENTES QUÍMICOS: Doses pesadas de Óxido Nitroso, DMT, Ketamina, Estramônio, veneno de sapo do deserto (Bufo alvarius) ou qualquer droga que simule experiências próximas a morte ou produza a sensação física da morte. (exemplo: venenos “zumbis” haitanos. )
SINTOMAS DE OVERDOSE: Morte, Comatose, perde parcial ou completa de funções corporais.
Bibliografia:
Exo-Psychology, Dr. Timothy Leary, 1977
A Ascenção de Prometeus, Robert Anton Wilson
Angel Tech, Antero Alli
Info–Psychology, Dr. Timothy Leary, 1994
Towards 2012 The Journal of Millenial Mutation Part II: Psychedelica, 1996
Tamosauskas
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