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Santiago Boavista
A memória é a capacidade que temos de relembrar o passado, fixar mentalmente o presente e imaginar o futuro. Esses três aspectos são essenciais para compreender a memória em sua totalidade. No entanto, geralmente, associamos memória apenas à lembrança do passado, esquecendo que, para dominá-la completamente, é preciso integrar os três tempos: passado, presente e futuro.
Muitas pessoas acreditam conhecer seu passado, mas, na verdade, lembram apenas fragmentos difusos, que se tornam cada vez mais vagos com o passar dos anos e a chegada de novas experiências. Se tivéssemos uma memória verdadeiramente eficiente, nossas possibilidades na vida seriam muito maiores. Durante a infância, quando nossa mente ainda está cheia da energia cósmica que trazemos ao nascer, nossa memória é mais forte, permitindo-nos recordar fatos com clareza e antecipar, com mais precisão, o que é importante para a vida. Contudo, com o passar do tempo e a chegada da velhice, essa capacidade diminui, e o esquecimento se intensifica, evidenciando que, para muitos, a memória é uma faculdade subdesenvolvida, um potencial não explorado.
No estudo esotérico, a importância de desenvolver uma memória robusta é enfatizada, uma memória que nos permita recordar o passado com clareza e manter presentes os eventos mais marcantes de nossas vidas. Além disso, é essencial que sejamos capazes de fixar os acontecimentos atuais, de modo a nos preparar para o futuro. Mas como superar os obstáculos que obscurecem nosso passado? Diariamente, esquecemos detalhes dos eventos ocorridos no mesmo dia. Isso acontece porque essas memórias são armazenadas no subconsciente e não no centro visual, resultando em uma mente que prefere operar em um nível inferior, em vez de exercitar ativamente sua capacidade de memória. Na infância, a curiosidade alimenta a memória, canalizando energia para o centro hipofisário. A falta de memória, portanto, está diretamente relacionada à falta de interesse pela vida. O ser humano tende a lembrar apenas o que é necessário para suas atividades diárias, negligenciando o restante. Daí a importância do exame retrospectivo, uma prática que reorganiza os eventos do dia, permitindo que sejam fixados de forma clara no subconsciente.
Entretanto, o exame retrospectivo diário não é suficiente para desenvolver uma boa memória. Assim como um comerciante não se contenta apenas em revisar suas contas diárias, precisando também de balanços periódicos, é necessário realizar uma revisão mais profunda dos eventos passados. Um exemplo clássico é o de Inácio de Loyola, cujos exercícios espirituais salvaram a Igreja Católica do colapso. Esses exercícios envolviam uma pausa na rotina para revisitar o passado, fixando os pontos mais importantes, de modo que se tornassem fontes de energia para o futuro. Loyola não se limitava à simples recordação mental; ele exigia que os fatos fossem minuciosamente anotados, para uma análise mais detalhada. Esse é o propósito do retiro espiritual, onde, ao menos uma vez por ano, os estudantes devem se afastar das preocupações do mundo e se dedicar completamente à introspecção, fixando os acontecimentos mais importantes em sua memória.
Esses exercícios não apenas ajudam a desenvolver a memória, mas também podem levar à descoberta de novas missões ou à solução de dilemas complexos. Sigmund Freud, em seus estudos de psicanálise, buscava curar doenças incentivando a exploração da memória subconsciente em busca da causa original dos problemas.
No presente, a memória pode ser aprimorada pela observação e pela atenção. As crianças, com sua curiosidade insaciável, exemplificam como a observação atenta pode se transformar em memória precisa. Em contraste, os adultos tendem a observar apenas o que lhes interessa, deixando de lado o resto. Para desenvolver uma memória mais precisa, é necessário ter uma visão ampla e detalhada do que se observa. Mestres espirituais costumam aplicar exercícios específicos para treinar a observação. Um desses exercícios consiste em fazer o estudante passar rapidamente por um aposento e, em seguida, anotar tudo o que viu. No início, ele esquecerá muitos detalhes, mas, com a prática, será capaz de captar o panorama completo com um simples olhar. Outro exercício envolve observar um objeto atentamente e depois listar todas as suas características. Inicialmente, poucas características serão lembradas, mas com o tempo, a lista crescerá substancialmente.
Essa prática de observação melhora significativamente a atenção, permitindo que o estudante enriqueça seu conhecimento e melhore sua memória sem grandes esforços. Um exemplo disso é quando um mestre religioso pede a um estudante distraído que observe uma cortina branca. No início, o estudante vê apenas a cortina, mas, após uma observação mais cuidadosa, começa a notar detalhes que antes passavam despercebidos, como os desenhos formados por traças na cortina.
Quanto ao futuro, uma memória clara e precisa serve como um espelho que reflete o que está por vir. Para alguém que vive em um estado de esquecimento, é difícil construir um futuro sólido. Contudo, aquele que lembra seu passado com clareza é capaz de prever os resultados de suas ações. Uma história interessante ilustra esse ponto: um rei hindu visitou um yogue solitário na selva e, antes que o rei pudesse falar, o yogue adivinhou seus problemas atuais com base em uma conversa que tiveram três anos antes, mostrando como a lembrança do passado pode iluminar o futuro.
É importante distinguir entre esquecer e recordar o passado. Muitas vezes, a sabedoria espiritual nos aconselha a esquecer o passado, o que significa desapegar-se das emoções e experiências passadas para não revivê-las constantemente. Por outro lado, recordar o passado significa revisitá-lo com o objetivo de aprender, sem se apegar emocionalmente, mas utilizando o conhecimento adquirido para construir um futuro melhor.
Aqueles que conseguem recordar o passado com precisão aprendem com mais facilidade e, assim, estão mais bem preparados para construir o futuro que desejam.
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