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Este artigo para ensinar como reproduzir a Respiração Holotrópica e como seus praticantes podem maximizar seus resultados.
A palavra “Holotrópica” vem do grego (ὅλος) holos que quer dizer “inteiro” e (τρέπειν) trepein que quer dizer “ir em direção”. Assim podemos traduzir Holotrópico como “ir em direção a inteireza”. Trata-se de uma técnica criada por Stanislav e Christina Grof para atingir estados alterados de consciência com grande valor para o auto-conhecimento e resolução de conflitos internos. Caso não tenha ainda lido a biografia de Grof, linkada acima, recomendo fortemente que o faça agora.
Grof trabalhou muitos anos em pesquisas sobre o uso terapéutico do LSD e desde sua proibição em 1967 buscou um substituto a altura. Este substituto foram as suas Oficinas de Respiração Holotrópica. Para criar estas oficinas Grof usou tanto nosso conhecimento atual em neurociência como uma séria pesquisa antropológica envolvendo muitas práticas espirituais registradas pela história, em especial as várias cerimônias xamânicas espalhadas pelo globo. Posteriormente estas práticas foram aperfeiçoada por décadas de pesquisa e aplicação em centenas de pessoas.
A experiência da Respiração Holotrópica, quando corretamente executada pode ser bastante profunda, uma exploração existencial onde ao perder o senso de si as pessoas podem experimentar estados cósmicos nos quais se identifica com todas as pessoas, e mais do que isso com todos os animais, vegetais, minerais, e todas as coisas orgânicas e inorgânicas. É possível experimentar visões celestiais e angelicais de paraísos, bem como entrar em contato direto com os universais arquétipos. Alguns destes arquétipos podem ser assustadores como a grande deusa mãe Kali, sustentadora da vida, que também é um monstro aracnídeo com numerosos membros. Consideradas as possibilidades do que pode acontecer fica evidente a necessidade de um guia para essa jornada além dos limites habituais da mente e a melhor forma de conseguir isso é por meio do auxílio de alguém devidamente certificado pelo ‘Grof Transpersonal Training‘.
Assim antes de qualquer coisa os participantes das oficinas recebem sempre uma orientação teórica do que estão prestes a passar. Isso porque os fenômenos transpessoais são precedidos por momentos biográficos e perinatais que lhe servem com ponte e guardiões e podem ser bastante intensos. Saber o que temos em frente é assim uma parte importante. Para uma melhor comprensão deste percurso leia, A Cartografia da Consciência de Stanislav Grof.
Após isso é importante também o facilitador passar muita confiança a pessoa que vai se submeter e lhe garantir que não lhe causará qualquer dano ou abuso. Durante o processo em si não há grandes intervenções dos facilitadores pois a experiência é completamente interna e pessoal e o sujeito é encorajado a expressar completamente sua reação a cada momento, seja ela qual for. Entretanto estas reações podem ser projetadas no facilitador como desejos reprimidos, de cuidado, contato sexual ou conexão espiritual cabendo ao ele conduzir tudo de modo ético.
Música Holotrópica
O acompanhamento musical é uma parte importante do processo. Grof desenvolveu uma jornada musical de três horas para criar uma experiência transformadora e completa:
A primeira hora é concebida para facilitar relaxamento físico e dar suporte a respiração e inclui musica de batida ritmada, como por exemplo de sons tribais e alguns tipos de música eletrônica. Exemplos de artistas que podem ser usadas neste momento são Ganga Giri, Lost at Last, Brent Lewis, Juno Reactor, Babatunde Olatunji, Byron Metcalf, James Asher e Afro Celt Sound System.
A segunda hora é destinada a facilitar a liberação emocional e pode incluir artistas como Lisa Gerrard e Azam Ali, ou trilhas sonoras emocionalmente evocativas de artistas como Hans Zimmer, Thomas Newman, Howard Shore e James Newton Howard entre outros. Para exemplificar escute a músicas épicas de filmes como Two Steps From Hell e Audiomachine.
A terceira hora é pensada para facilitar a interação com a experiência e normamente inclui cantos sacros de artistas como Deva Premal, Jai Uttal e Lama Gyurme. Por fim os momentos finais muitas vezes incluem sons da natureza para trazer os participantes ao seus estados de consciência normais de modo pacífico.
Não pode haver intervalos perceptíveis entre as músicas e o ideal é que sejam mixadas de modo a fluírem de modo que possam fluir com facilidade. Também não é indicado vocais em línguas que as pessoas entendam, para não distraí-las. Este roteiro foi criado de forma estatística, mas cabe ao facilitador modificá-lo caso perceba que o grupo segue um padrão diferente.
Durante as oficinas existe ainda um tipo específico de trabalho corporal, auto-expressão criativa e dinâmicas de grupo que apoiam todo o processo, entretanto é a respiração em si que serve de âncora para toda a experiência e define a jornada individual de cada participante.
A Respiração Holotrópica
A Respiração Holotrópica busca criar mudanças no corpo e na mente que juntas ajudam a criar a experiência transpessoal. Não há grandes instruções senão simplesmente “respire mais fundo e mais rápido que o normal”. Depois de 15 ou 20 minutos o corpo normalmente encontra seu rítmo e você sequer precisa pensar sobre isso.
Entretanto para quem deseja alguma instrução adicional, participantes relatam que as sugestões a seguir facilitam o processos:
1) Faça respirações completas
Ou seja cada respiração deve ser cheia e profunda enchendo todo o pulmão cada vez que você inspira de modo que seu abdome deve se expandir um pouco a cada vez;
2) Mantenha uma respiração “circular”
Em outras palavras a respiração deve ser feita de modo que não exista intervalos entre cada respiração. Ou seja em nenhum momento você vi prender o ar. Quando seus pulmões estiverem cheios você começa a esvaziá-los. Quando estão vazios deve imediatamente enche-los. Isso cria um padrão respiratório onde você está sempre inspirando ou expirando criando um círculo de respiração.
3) Respire mais rápido do que o normal
Busque respirar um pouco mais rápido do que você normalmente respira. Entretanto não queira respirar tão rápido que isso gere tensão no seu corpo. Seu corpo e especialmente seus pulmões devem estar relaxados sem fazer força para que a respiração possa ser mantida por um longo período sem causar fadiga.
4) Respiração Bucal
A ideia é, entre outras coisas, hiper-oxigenar o cérebro. Assim muitas pessoas preferem respirar pela boca pois isso permite uma entrada maior e mais rápida de ar. Entretanto algumas pessoas sentem-se desconfortáveis, neste caso não há problema em respirar pelo nariz.
Nos casos das oficinas em grupo ocorre usualmente alguma discussão complementar feita depois de um intervalo razoável, mas no mesmo dia. Nestas o facilitador não faz interpretações nem analisa as experiências, em vez disso estimula o participante a elaborar e refletir sobre os insights que teve durante a sessão. A troca de experiências entre os participantes e a amplificação junguiana por parte do facilitador como referências mitológicas e antropológicos são enriquecedoras neste momento.
Postura da Morte e Contra-indicações
Quem tem um mínimo de conhecimento prático do trabalho de Austin Osman Spare certamente já percebeu que a Respiração Holotrópica guarda fortes semelhanças com a Postura da Morte do famoso percursor da hoje chamada Magia do Caos. Com o objetivo de atingir estados não-duais de consciência Spare usava uma combinação de concentração, respiração profunda e espasmódica, até a completa exaurição. Para isso Spare forçava o corpo ao extremo ficando na pontas dos dedos, com os braços fechados por detrás da cabeça da qual a transcedência se seguia. A Respiração Holotrópica busca prolongar este estado e duram entre duas horas e meia e três horas, mas isso pode variar.
Por sua intensidade, não devem se engajar neste processo pessoas com doenças vasculares e cardiovasculares, hipertensão severa, glaucoma ou pessoas que tenham passado por cirurgias recentes, sofram de epilepsia ou mulheres durante a gravidez. Além disso é importantíssimo destacar que a respiração holotrópica é uma técnica que pode evocar poderosas reações, entre elas o desencadeamento de poderosos traumas reprimidos. Desta forma ela deve ser feita sempre sob supervisão de um facilitador certificado. A melhor maneira de garantir isso é exigir a apresentação de um certificado emitido pelo ‘Grof Transpersonal Training’ que é mantido pelos criadores do método.
Tamosauskas
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