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A Superioridade Ilusória

Leia em 4 minutos.

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Antes de pensar no seu chefe ou formar uma imagem mental daquele chato que sempre conta vantagem em tudo, saiba que superioridade ilusória não é a mesma coisa que complexo de superioridade.

A superioridade ilusória é uma viés cognitivo que faz com que as pessoas superestimem suas habilidades positivas e subestimem suas qualidades negativas, em relação aos outros.

Antes de prosseguirmos uma breve pausa lexicômica.

Ilusões positivas são descritas como as atitudes positivas absolutamente e totalmente irrealísticas que os humanos tem em relação a si mesmos. Existem hoje basicamente três categorias diferentes e bem abrangentes de ilusões positivas:

1- a avaliação exagerada de nossas próprias capacidades;
2- o otimismo irreal sobre o futuro;
3- a ilusão de controle.

Fim da pausa.

A superioridade ilusória é uma ilusão positiva que vem sendo estudada de forma extensiva dentro da psicologia social e costuma ser referida em termos leigos como o Efeito Acima da Média. O Efeito Acima da Média faz as pessoas terem uma imagem própria mais positiva e menos negativa do que a imagem que as pessoas que a cercam tem dela.

Mas e o que eu posso ter remotamente a ver com isso tudo?

Todo mundo, e eu digo TODO MUNDO MESMO, desenvolve opiniões baseadas em comparações. Se não houvesse algo com o que se comparar não saberíamos se uma coisa é redonda ou quadrada, doce ou salgada, não haveria como formar uma escala de bom e ruim e o mundo seria possivelmente um lugar ainda mais sem graça de se viver.

Muitas pessoas, e eu digo MUITAS PESSOAS MESMO, formam suas opiniões tomando como base comparações sociais. Essas comparações podem ser baseadas no seu desempenho acadêmico, nos seus ambientes de trabalho ou em seu ambiente social – ou seja em qualquer lugar que não seja debaixo da sua cama ou dentro do seu lavabo[1].

Paralelo a isso, durante a vida uma pessoa tem uma visão bem específica a respeito de sua popularidade, sua honestidade, sua confiança e outros atributos que possa julgar desejáveis.

Agora como esses dois fatores se combinam para termos nossa ilusão positiva?

[Todo mundo precisa de um comparativo] + a grande parte das pessoas faz comparativos sociais] x [cada um de nós tende a ser mais otimista do que pessimista a nosso próprio respeito] = nem fodendo eu vou fazer papel de idiota, só porque aquele cara é formado não quer dizer que eu seja pior do que ele!

Assim, observe uma pessoa sem diploma de medicina, tentando discutir um diagnótico com um médico. Ou alguém que não sabe nada de mecânica tentando discutir com um mecânico na oficina. Ou tende reparar nos argumentos que um possível cliente usa para diminuir ainda mais o orçamento que você pediu para fazer determinado trabalho. A idéia não é querer mostrar que o outro está errado, mas que você – ou a pessoa – está em pé de igualdade, mas tem uma visão mais clara. Acaba funcionando quase como um sistema imunológico mental.

Já foi registrado que pessoas com um QI mais baixo possuem um senso de Superioridade Ilusória muito forte. Mas por que isso acontece? Em um mundo que tem Darwin como um de seus pilares não deveria favorecer os mais preparados? Por que os menos preparados são os que geralmente tem uma sensação de superioridade mais forte?

Em 1999 Justin Kruger e David Dunning realizaram uma série de experimentos que mostraram que quando falamos de habilidades como compreensão de leitura, operação de veículos motorizados, e jogar xadrez ou tênis, a “ignorância, com mais freqüência do que o conhecimento, gera confiança”. Analisando os resultados de seus estudos, dada uma habilidade típica que humanos possam possuir em maior ou menor grau, eles propuseram quatro hipóteses interessantes:

1. Indivíduos incompetentes tendem a superestimar seu próprio nível de habilidade;

2. Indivíduos incompetentes não reconhecem habilidade genuína em outros;

3. Indivíduos incompetentes não reconhecem o grau extremo de sua inadequação;

4. Se treinados substancialmente para melhorar seu nível de habilidade, estes indivíduos serão capazes de reconhecer e admitir sua prévia falta de habilidade.

Isso pode ser resumido da seguinte forma, a não ser que uma pessoa sem nenhuma habilidade passe por um treinamento e condicionamento extensivo, ela permanecerá tomando más decisões e chegando a conclusões errôneas e como bônus, sua incompetência lhes impedirá de apreciar e aprender com seus erros.

Ok, agora parece que estamos falando do seu chefe, mas se atente à sutileza. Em um estudo realizado em 2006, tentaram determinar o grau de inacuidade das pessoas em relação às suas reais habilidades como motoristas, como resultado, os testes mostraram que os motoristas sempre se qualificavam superiores à concorrência em mais de 18 ítens que tinham relação com sua habilidade de dirigir, claro que eles não sabiam qual era a finalidade do teste, que foi apresentado como um teste para determinar a percepção que cada um tinha de perigos no trânsito.

Outro efeito da superioridade ilusória é se criar uma ilusão que envolve sua capacidade de jogar e apostar. Por alguma razão as pessoas pensam com frequência que podem levar uma vantagem sobre jogadores profissionais de poker, deixando de lado qualquer bom senso relacionado às estatísticas sobre perdas e experiência, e claro que quando os jogos terminam, a culpa sempre recai sobre alguma falha externa ou algo que sua expertize não previu.

Tenha sempre em mente que provavelmente você não é tão esperto ou esperta quanto seu cérebro diz que você é. A humildade afinal pode ser a melhor maneira de hackear seu cérebro e não ser enganado por ele.


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