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Texto de G. B. Marian. Traduzido por Caio Ferreira Peres.
Como um filme realmente terrível de Arnold Schwarzenegger influenciou minha espiritualidade e arte.
Anteriormente, falei sobre a série de televisão Millennium, um programa brilhante que me impressionou muito como adolescente setiano na década de 1990. Houve outra brincadeira de terror com tema apocalíptico daquela época que também me impressionou muito, mas não foi tão notável. Na verdade, é uma produção terrível de qualquer maneira que se olhe. Mas naqueles dias loucos que antecederam o dia 1º de janeiro de 2000, quando muitas pessoas estavam meio preocupadas com a possibilidade de o mundo realmente desmoronar na véspera do Ano Novo, houve um filme nos cinemas que ousou explorar toda essa suculenta paranoia do fim dos tempos. E, por mais ruim que tenha sido, eu seria negligente se não falasse sobre a influência que ele teve sobre mim.
É isso mesmo, estou falando do primeiro e único Fim dos Dias (1999), aquele magnífico show de merda em que Arnold Schwarzenegger enfrenta o próprio Satã, que está rondando as ruas de Nova York no corpo de Gabriel Byrne. Oh, deuses, por onde eu COMEÇO com essa porra?
Certo, a história começa com um grupo de clérigos no Vaticano surtando por causa de um cometa e uma profecia sobre o nascimento de uma criança “satânica” em algum lugar. Então, na cidade de Nova York, Udo Kier mata uma cobra e batiza uma menina recém-nascida com seu sangue. Acontece que a menina nasceu com uma marca de nascença que se assemelha a algum tipo de glifo. Então, confusamente, avançamos para dezembro de 1999, quando uma criatura semi-invisível surge dos esgotos de Nova York para possuir um homem de negócios aleatório (Gabriel Byrne) e agarrar uma pobre senhora pelo seio, explodindo um restaurante. Em seguida, conhecemos Jericho (Arnold Schwarzenegger), um tipo de segurança particular cuja família foi assassinada e que está a um passo de se matar. Jericho é contratado para proteger o cara que está possuído por Satã, o que é útil quando um padre católico maluco e sem papas na língua tenta assassinar o cara.
Jericho faz seu trabalho, mas não gosta da maneira como as coisas acontecem. Assim, ele decide investigar o padre, o que de alguma forma o leva a encontrar Christine (Robin Tunney), a mulher que nasceu e foi batizada no início do filme por satanistas. Isso também é conveniente, pois acontece que Satã está procurando por ela. Aparentemente, Christine foi criada para ser sua noiva no Fim dos Dias. Se o demônio conseguir estuprar Christine ao bater a meia-noite na véspera do Ano Novo, isso permitirá que ele domine o mundo e queime tudo até ficar em cinzas. Tudo isso nos é explicado por outro padre católico (interpretado por Rod Steiger) que lidera um movimento clandestino para encontrar Christine e mantê-la em segurança. Mas, ao mesmo tempo, uma seita rival dentro da Igreja enviou um exército de assassinos para matar Christine antes que Satã possa chegar até ela. De qualquer forma, Arnold—quer dizer, Jericho—sente-se compelido a levar Christine para bem longe de todos. Tudo isso leva a uma missa negra à meia-noite nos esgotos, a uma cena de perseguição no metrô e a um confronto final em alguma igreja aleatória. Satã possui Jericho no último minuto antes da meia-noite, e tudo parece perdido; mas Jericho resiste à vontade do demônio de estuprar Christine e comete suicídio, salvando assim a pobre senhora e cancelando o apocalipse.
(Você está acompanhando tudo isso? É fascinante a quantidade de enredo que eles conseguiram enfiar nesse filme, especialmente considerando o quão superficial e vazio o filme realmente é!)
Fim dos Dias claramente não foi feito por cristãos dogmáticos; caso contrário, os roteiristas teriam adaptado o livro do Apocalipse de forma muito mais fiel (trocadilho intencional). É o ápice do absurdo quando Rod Steiger reclama sobre como Jericho deveria “ler a Bíblia” para entender o que está acontecendo, dada a ausência de qualquer conteúdo bíblico real nessa história. O fato de Steiger parecer irritado e repreensivo ao fazer isso também é definitivamente um ponto negativo. O filme se apresenta como uma tentativa de “assustar o público para que volte à igreja”, mas não se importa o suficiente para acertar em suas próprias besteiras! Em vez de realmente adaptar o livro do Apocalipse ou algo do gênero, esse é basicamente um filme do Exterminador do Futuro que troca o sobrenatural pela ficção científica.
Considere a versão do diabo desse filme, por exemplo. Outros adversários cinematográficos da época eram bem mais interessantes, como a versão de Al Pacino para Lúcifer em Advogado do Diabo (1997) e o confronto de Denzel Washington contra Azazel em Possuídos (1998). O diabo de Gabriel Byrne, no entanto, é pouco mais do que um vilão bidimensional de filmes slasher que persegue e mata pessoas. Isso também é uma pena, porque Byrne é um ator magnífico e poderia ter sido o dono desse papel se lhe fosse permitido. No entanto, ele apenas fica parado, diz alguns clichês e leva tiros. Suspeito que o diretor, Peter Hyams, seja o verdadeiro motivo pelo qual o desempenho de Byrne em Fim dos Dias parece tão esquecível. Talvez seja porque sou setiano e realmente conheço a complexa história da origem do “diabo”, mas pessoalmente prefiro que meus filmes de terror satânico sejam um pouco mais inovadores, instigantes e estranhos. (Aguarde meu PRÓXIMO sermão, no qual darei um excelente exemplo do que quero dizer!)
O magnífico Gabriel Byrne interpreta um dos diabos mais esquecíveis da história.
Também tenho duas objeções muito sérias em relação ao enredo. Primeiro, não gosto do fato de que toda a história se baseia na ameaça de estupro de Christine. E sim, estou ciente de que ela diz: “Estou com medo de QUERER dormir com ele” em algum momento; mas não me importo. Ser hipnotizada para fazer sexo com alguém AINDA CONTA COMO ESTUPRO. (Na verdade, há outras personagens femininas no filme que são estupradas dessa maneira). E como não há nenhuma menção ao diabo estuprando alguém no livro do Apocalipse, foi claramente tomada a decisão de capitalizar a histeria do Pânico Satânico aqui. Não só acho isso desagradável, como também repugnante. Eles poderiam facilmente ter escrito que Satanás precisa comer um sanduíche de presunto na véspera do Ano Novo para iniciar o apocalipse (o que teria sido muito mais divertido, na verdade!).
Minha segunda objeção se refere ao personagem principal, Jericho. Vamos ser honestos: Arnold Schwarzenegger não é exatamente o melhor ator que já existiu. Mas sua capacidade de atuação não é um problema para mim; eu o aprecio em muitos de seus filmes apenas por seu carisma. Não, o problema aqui é que Jericho é escrito como uma pessoa suicida que acaba TENDO que tirar a própria vida (e, na verdade, a pedido do deus cristão). Ele não tem nenhum arco de personagem para falar; ele nunca cresce ou aprende nada, ele simplesmente permanece exatamente o mesmo durante todo o tempo. Portanto, quando Jericho tem que se matar no final, não é como se ele dissesse: “Mas espere, não sou mais suicida!” ou algo do gênero. Não, longe de Fim dos Dias nos oferecer qualquer tipo de desenvolvimento de personagem. É mais como se Jericho estivesse esperando para se matar esse tempo todo, e agora ele pode finalmente acabar com isso. A mensagem que eu tiro disso é incrivelmente feia, tóxica e mesquinha. Parece que Fim dos Dias está dizendo: “Sentimentos suicidas são BONS porque tornam os homens mais HOMENS e nos tornam mais adequados para servir à vontade de Deus!” E essa não é uma mensagem com a qual eu possa concordar.
Cara, eu ADORO essa música.
A esta altura, você deve estar se perguntando como Fim dos Dias pode ter influenciado tanto minha espiritualidade ou minha arte, já que sou tão crítico em relação a esse filme. Bem, a resposta está, em parte, nas minhas críticas, que explicarei melhor daqui a pouco, mas também está, em parte, na trilha sonora. E não, não estou me referindo ao álbum de compilação com as músicas de Rob Zombie e Guns N’ Roses. Estou falando da trilha sonora instrumental do filme, criada por John Debney, que apresenta uma bela fusão de música coral, orquestral e eletrônica. Assim que ouvi esse material enquanto assistia ao filme no cinema, sabia que tinha que comprá-lo em CD. Eu detestava Fim dos Dias como filme, mas a trilha sonora de Debney continua sendo um dos meus discos favoritos de todos os tempos, mesmo hoje. Eu a ouvi todos os dias durante um tempo no ensino médio e ela me inspirou a tentar criar meu próprio filme de apocalipse maluco. Tentei escrever isso como um roteiro ou um romance durante anos, mas nunca consegui definir os detalhes de uma forma que me satisfizesse. Tudo o que eu sabia era que queria que fosse uma visão setiana do Armagedom, em vez de uma visão cristã (ou quase cristã). E agora, vinte anos depois, finalmente concretizei esse sonho sombrio em uma forma que outros podem apreciar: o álbum His Nocturnal Majesty (2020).
Mas, embora eu tenha desprezado Fim dos Dias em minha primeira exibição, algo no filme me fez querer revê-lo ao longo dos anos. Ainda acho que é um filme extremamente estúpido e nunca o recomendaria a ninguém. Mas, pelo menos agora, posso apreciar o filme por alguns motivos. Gosto bastante das sequências de ação; o diabo de Byrne é entediante, mas é divertido ver Schwarzenegger lançar granadas contra o bastardo. (Por algum motivo, gosto muito da sequência do metrô em particular.) Também gosto do fato de que, sempre que assisto a Fim dos Dias, ele me leva de volta a dezembro de 1999. Lembro-me de ser cético em relação ao bug do milênio e todas essas coisas; mas ainda havia uma pequena parte do meu cérebro que se perguntava: “E se o mundo realmente acabar hoje à noite?” na véspera do Ano Novo daquele ano. Fim dos Dias não é de fato um filme “religioso”, pois não tem nada de valor espiritual real a oferecer. Em vez disso, é um filme exploitation de grande orçamento e de primeira linha. O objetivo real era explorar todo o medo apocalíptico que todos estavam sentindo e nos mostrar o máximo possível de sangue e sujeira no processo. Embora eu preferisse muito mais que a história tivesse sido escrita sem nenhum estupro ou romantização do suicídio, tenho que admirar os cineastas por estarem tão ansiosos para desconstruir o apocaliptismo cristão dessa maneira.
Uma coisa que adoro em Fim dos Dias, no entanto, é a atitude de Arnold Schwarzenegger em relação a Satã durante todo o filme. Quero dizer, ele realmente diz ao demônio: “VOCÊ É UM MENINO DE COROA FODIDO COMPARADO COMIGO!” em um determinado momento. E por mais brega que possa parecer, eu adoro isso! Acho que isso exemplifica perfeitamente o que Set provavelmente pensa e sente sempre que Ele olha para Apep!
“Fuckin’ CHOIR BOY!”
Link para o original: https://desertofset.com/2020/12/02/its-the-end-of-days-as-we-know-it-and-i-feel-fine/
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