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André Correia (Conexão Pagã / @bercodepalha)
Por algum tempo no final dos anos 90, ouvi muitas falas que diziam que a bruxaria era (ou ainda é) uma religião marginal, se referindo ao fato de existir fora do eixo comum da sociedade e por seu caráter bastante acolhedor, sem preconceitos e muito receptividade às diversidades. Concordo bastante com essas afirmativas, a bruxaria realmente acolhe e mantem quem a busca.
O paganismo, o politeísmo e a magia são elementos que chamam bastante a atenção e são libertadores para aqueles que se sentem oprimidos por religiões mais tradicionais. Muito além das crenças, a Bruxaria também dispõe de toda uma sociedade underground em ascensão que dá voz e identidade para aqueles que sempre se sentiram mudos.
Muitas pessoas chegam no paganismo e na bruxaria em geral atraídos pela por essa identificação. Por não se enxergarem como pertencentes aos grupos de origem, abraçam a nova crença, a prática, a identidade visual, intelectual e cultural.
O que quero dizer, é que não são raras as vezes que pessoas que não se identificam com as crenças da família, que sofrem preconceitos em casa, na escola e no trabalho encontram na Bruxaria uma universo de pessoas que compartilham seus ideais ou que no mínimo respeitam a sua individualidade. Mas que antes disso passaram por dores emocionais, rupturas de vínculos afetivos, solidão, tristezas, etc. É obvio que isso não é uma regra, muitos chegam na bruxaria com muita tranquilidade, apoio de familiares e amigos e com muita disposição.
De forma geral, é sobre o colo da Grande Mãe e sob a proteção do Deus Galhado que encontram abrigo.
Com a exceção de alguns grupos elitizados, onde ainda há uma intenção de dividir pessoas em “castas”, a bruxaria moderna se apresenta bastante horizontal, onde compartilham conhecimentos, auxiliam um ao outro na divulgação de seus trabalhos, muitas vezes artesanais, e apoiam iniciativas individuais.
Porém, muito sintomática em alguns momentos, é a autoestima, depressão e a ansiedade de alguns integrantes desse meio. Provavelmente construídos durante um amadurecimento bastante dificil e doloroso, questionado em suas escolhas pessoais e apartado do grupo familiar logo que começou a colocar a sua opinião.
Por muitas vezes vejo pessoas expressando comportamentos que descrevem características depressivas e ansiosas desde o estágio inicial até o bastante avançado. O pior é que quando buscam auxílio psicológico e o terapeuta não compreende o viés mágico da fé daquele paciente. Interpretam errado, tratam o desnecessário e agravam o quadro.
Não raro, recebo mensagens e atendo pacientes pagãos, esotéricos e praticantes de bruxaria de todo o Brasil, exatamente pela identificação e conhecer o contexto espiritual.
Ainda mais grave é quando, de fato, o paciente possui alguma pré-disposição e imergiu tão profundamente em algumas crenças, que o concreto e o etéreo se confudiram de forma patológica.
Esses dias acompanhei uma conversa madura em um grupo de magia, que dizia exatamente isso: para praticar magia é necessário ter saúde mental. Pois cada desequilíbrio terá um impacto no resultado daquilo que se faz.
Espero e torço para que possamos encontrar caminhos de cura e qualidade de vida. Que possamos entender o quão importante é estar em paz com si próprio.
André Correia. Psicólogo atuante em clínica desde 2007, adepto da bruxaria eclética, construtor de tambores ritualísticos. Participa dos projetos Conexão Pagã e Music, Magic and Folklore. Coordenador do Círculo de Kildare e autor da obra musical Tambores Sagrados.
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