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Bruxaria e Paganismo

Santificada Wicca: Culto ao Evangelho das Bruxas num Convento Escocês

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Charles Godfrey Leland ( 1824 – 1903 ), é o autor de Aradia – O Evangelho das Bruxas; um dos livros mais polêmicos e respeitados do mundo do paganismo. Quando o escreveu, é bem provável que Leland não imaginasse que ele se tornaria livro de cabeceira de vários padres e principalmente freiras. Outra figura polêmica, Malachi Martin, escritor de razoável sucesso e ex-padre jesuíta, atribuiu a Aradia, a responsabilidade de ter transformado um convento escocês em um antro de bruxaria no final da década de 60.

Martin já havia abdicado da batina e do celibato quando soube através de um ex-companheiro de sacerdócio, o pandemônio em que havia se transformado um convento da Grã Bretanha. Quando enfim o Vaticano decidiu intervir no convento e exigir explicações da Madre Superiora; ficou abismado com o verdadeiro arsenal pagão em forma de grimórios e livros que ali foi encontrado.

Obras de Eliphas Lévi além de outras obras do próprio Leland, e até mesmo Os Demônios de Loudun de Huxley era parte integrante do cultivo espiritual daquelas esposas de Cristo. No entanto, indiscutivelmente, Aradia era o favorito delas, todos os feitiços praticados pelas freiras foram de inspiração direta encontrada nas páginas deste livro. É bem verdade que elas foram bastante criativas em relação aos nomes que davam aos seus rituais, entre eles: Os Ritos Negros da Wicca, então, uma proeminente forma de paganismo que fazia a cabeça, principalmente dos membros do movimento hippie; transformados em magia negra por elas.

O livro de Leland, dava as freiras, a visão de que elas eram com toda a razão, subestimadas, deixadas em segundo plano pelo cristianismo que professavam. Somente a subversão dos dogmas da igreja poderiam colocá-las no lugar em que mereciam: o sacerdócio; exercendo o matriarcado que a Wicca apontava.

Malachi Martin, que sempre foi criticado por seus oponentes por atacar seus desafetos dentro da igreja, mas que encobria as falhas de seus correligionários, inclusive, pegando bem leve com ao caso das freiras escocesas, citando-as apenas de relance. Somente uma circular do Vaticano de 1971, endereçada a Edimburgo fala mais claramente sobre o mal que se abateu sobre aquele convento:

“Toda sexta-feira às 11 da noite elas se levantam e reunem-se no jardim dos fundos. Despem-se completamente e, tendo debaixo dos braços os livros profanos, fazem uma fogueira e entoam cânticos pagãos, encontrados no livro de Aradia. Dançam ao redor de pentagramas traçados no chão; sangram umas as outras, insinuam relações sexuais entre elas, porém, contam com a ajuda de dois jovens padres com os quais fornicam e praticam feitiços, contra aqueles que se recusam a integrar a horda maléfica que entronizaram naquele solo sagrado. Roubam imagens de anjos ou dos santos para praticarem seus sortilégios. Fotos de nosso querido bispo foram encontradas, além de fotografias de outras irmãs e irmãos com quem elas certamente têm entreveros. Na horta que cultivamos com tanto amor e de onde tiramos alimentos para fazer refeições e distribuir entre os pobres, elas também utilizam hortaliças para rituais de Wicca. Foram encontrados enterrados; ossos de animais, crânios de gatos, restos de velas, cruzes e o que mais de bárbaro e repugnante Vossa Santidade puder imaginar.”

Especula-se que este texto tenha sido escrito por um capelão local, tendo como endereço um bispo do Vaticano. Entre os supostos “crimes” das freiras, constam abortos praticados em que o feto era utilizado em rituais de bruxaria. O calendário wiccano era seguido a risca pelas freiras, apenas fazendo alterações em que datas sagradas do catolicismo coincidiam com as mesmas do ano pagão. No entanto, Martin jamais admitiu que as freiras pudessem ir tão longe:”Os rituais, encantamentos, sortilégios, tudo isso para mim é compreensível, mas daí acusá-las de práticas violentas e sacrifícios da magia negra; disso ninguém irá convencer-me; atestou ele”. Mas voltamos então ao caso das freiras de Loudun. Suas práticas e sua volúpia, levaram um inocente para a fogueira; o que era diferente entre um caso e outro ? Simplesmente não há certeza nem respostas. Mas fica um dos principais rituais realizados pelas freiras, em que a inocente e dócil Wicca, ganha contornos de fúria só comparáveis aos dos cultos pagãos mais antigos.

A sagrada Virgem Negra ganhou uma nova concepção nas mãos das freiras; o ritual original é feito da seguinte forma:

Antigo Ritual para a Virgem Negra
Fonte: Fraternitas Bogomiliana

Em uma noite de Lua Nova, vista-se completamente de negro tendo a cabeça coberta com um lenço igualmente negro.
Preparar um pequeno altar com oferendas de vegetais de casca escura; incenso de aroma bem forte forte e uma Vela Verde Escura.
Prepare o altar voltado para o Norte, então acenda o incenso e a vela.

Deite-se no chão, com o rosto voltado para a terra, coloque os braços abertos ao lado do corpo e diga em voz baixa:

“PURIFIQUE-ME SENHORA;
PURIFIQUE-ME INTERNAMENTE E EXTERNAMENTE;
PURIFIQUE MEU CORPO, ALMA E ESPíRITO;
FAçA AS SEMENTES DE LUZ CRESCEREM DENTRO DE MIM;
TRANSFORME-ME EM TOCHA FLAMEJANTE DE TEU AMOR;
PARA QUE EU, TOMADO POR MINHAS PRóPRIAS CHAMAS;
TRANSFORME TUDO EM MIM E AO MEU REDOR EM LUZ”

Esta é a versão das freiras:

Em um sexta-feira de Lua Nova ou Cheia, treze freiras vestem-se de negro com um lenço vermelho no rosto mas que não cubra os olhos.

Um altar tendo uma imagem da Virgem Maria; acompanhado de velas vermelhas e incenso deve ser providenciado;

Vinho e Pão de Centeio em abundância;

Todas deitadas no chão formando um círculo em volta do altar e com as faces voltadas umas para as outras;

Faça o sinal da cruz de forma invertida por três vezes e inicie o cântico:

 “ABENÇOADO SEJA O PÃO E O VINHO DA MORTE;

 ABENÇOADO SEJA MAIS QUE MIL VEZES A CARNE E O SANGUE;

 SEU TÚMULO É A MINHA GLÓRIA;

 TEU SANGUE MEU ALIMENTO;

 PURIFICADA SEJA MINHA ALMA;

PURIFICADO SEJA O MEU CORPO;

LIBERTADO SEJA MEU ESPÍRITO;

POR ONDE FLANAREI LIVRE DE CULPA E TEMOR A DEUS;

 LIBERTAREMOS O ANJO DECAÍDO;

E TAMBÉM A NÓS MESMAS;

FORME-SE O COVEN;

FORME-SE A LUZ.”

Como podemos ver, as freiras sempre que podiam – optavam por fazer aquilo que muitos cultos satânicos, principalmente aqueles mais antigos ensinavam: subverter ao máximo as relíquias, símbolos e crenças cristãs de modo que isso ofendesse a igreja e seus dogmas. Fica por nossa conta, acreditar na versão do capelão, ou na versão do ex-jesuíta Malachi Martin. Mais uma vez relembramos: se as freiras de Loudun fizeram o que fizeram com Urbain Grandier levando um inocente à fogueira; é de se especular se as tais freiras escocesas eram mesmo inocentes e apenas perturbadas sexualmente como dizia Martin; ou realmente transformavam a inofensiva arte wiccana em práticas espetaculares de feitiçaria a frente de seu tempo.

Paulie Hollefeld


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