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André Correia (Conexão Pagã / @bercodepalha)
Em muitos momentos me vejo tentando entender a real definição de bruxa/o. Tento também me compreender dentro desse significado. Se é que essa palavra me define de alguma forma. Às vezes acho que sim, às vezes acho que não. Eu gosto de pensar que integro essa definição, mas fatores sociais me fazem dar um passo atrás sobre isso.
Estudando a respeito vejo que a indefinição que me abraça não é algo somente meu, mas um fenômeno histórico e antropológico, como diz Ronald Hutton no capítulo “Manifestações Universais” do seu livro “Witch: A history of fear, from Ancient times to the Present”, traduzido sem muito sentido para o Brasil como “Grimório das Bruxas”. Em poucas palavras, é interessante pensar como uma definição local, quando posta em comparativo com outras manifestações equivalentes de outros países e continentes, recebem nomenclaturas também equivalentes em significados, ações e reprentatividade social.
A bruxa (witch), quando recebe esse título, inicialmente é referida como uma pessoa que se comunica com o sobrenatural, utiliza-se dessa força para causar danos a vizinhos e pessoas das redondezas. Esse poder sobrenatural muitas vezes é relacionado a um possível trato ou pacto com entidades das sombras, o que se popularizou e se reforçou na idade média predominantemente cristã, como o diabo. Paralelamente, o mesmo fenômeno também ocorria em outras culturas, em proporções diferentes.
Identificando a bruxa como uma figura maléfica, uma resposta social ocorreu na tentativa de repreender, oprimir e punir tais pessoas. No entanto, existem muitas histórias em paralelo, que devem ser lembradas, que fazem menção a ganância das pessoas e da instituição religiosa dominante. Desse controle imposto pela igreja e população que temiam o desconhecido ou se impunham por poder, surge o Inquisito Hereticae Pravitatio ou somente a Santa Inquisição.
Proposta por Gregório IX em 1233 e encerrada por lei em 31 de março 1821, tendo teoricamente 4 passagens pelo Brasil, iniciada em Pernanbuco e na Bahia. A primeira visita foi de 1591 a 1595, a segunda de 1618 a 1621, a terceira de 1627 a 1628 e quarta supostamente teria ocorrido de 1763 a 1769.
Calcula-se que 400 pessoas foram acusadas de bruxaria pela Inquisição no Brasil e que 21 dessas, consideradas mais graves, foram queimadas na fogueira em Lisboa.
Hoje em dia, a bruxaria herda muito das sombras do que a Inquisição definiu como sendo a própria bruxaria. No entanto, a história e a antropologia dão muitas direções sobre a definição dessa prática. Sendo possível chamar de “bruxa” desde a anciã benzedeira, a erveira que manipula chás, passando pela sacerdotisa wiccana e chegando até mesmo ao satanista que não se reconhece como bruxo.
Talvez me identificar como bruxo seja uma maneira de entender que minhas crenças pagãs estão fora do eixo tradicional das religiões. É saber que transito em espiritualidades e práticas marginais, que ainda são mal compreendidas e de pouco interesse social em trazer tal tema ao debate sem que tochas sejam acesas. Afinal de contas, é comum que os dedos sejam apontados para fora e nunca para si.
André Correia. Psicólogo atuante em clínica desde 2007, adepto da bruxaria eclética, construtor de tambores ritualísticos. Participa dos projetos Conexão Pagã e Music, Magic and Folklore. Coordenador do Círculo de Kildare e autor da obra musical Tambores Sagrados.
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