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Bruxaria e Paganismo

Panteão Lusitano

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O Paganismo em Portugal ficaria incompleto sem uma referência aos cultos e Deuses que existiam no antigo território português, A Lusitânia. Sobre esta temática existe uma vasta obra do início do século escrita por J. Leite de Vasconcelos e intitulada “Religiões da Lusitânia”. É, uma obra, com o decorrer de investigações arqueológicas, foram substituídas ou refinadas.

Do ponto de vista sistemático e metódico os vários aspectos religiosos pagãos da Lusitânia.

Introdução Sumática

– Lusitânia

Nome dado a uma região do Oeste da Península Ibérica, incluindo grande parte do território português. Os limites da Lusitânia pré-romana (anterior a 29 ANE) diferem muito da romana. A primeira, cujos limites rigorosos não são conhecidos, estender-se-ia desde o rio Tejo para Norte até ao Cantábrico. De acordo com essa interpretação, os Celtas viviam no território entre o Tejo e o Guadiana; no litoral entre o Tejo e o Douro, habitavam os Vetões e os Túrdulos e no interior os Transcudanos e os Igeditanos; a Norte do Douro, em Trás-os-Montes, viviam os Bracários, os Leunos, os Seurbos e os Turodos; no Litoral habitavam os Calaicos e outros povos celtas. Estes povos recebem a designação colectiva de Lusitanos. A Lusitânia romana estendia-se do Douro para Sul, até à foz do Guadiana. Porém, no limite Este, o território ia até Salamanca e Toledo. A Norte do Douro ficava a Galécia (actual Galiza) cuja capital era Braga. Compunha-se de três circunscrições administrativas, com see em Beja, Mérida e Santarém e tinha várias povoações importantes, como Alacácer do Sal, Lisboa, Mértola e Tavira. Quando, em 155 ANE, os romanos invadiram a Lusitânia, encontraram uma terra de clima ameno, com rios ricos em peixe, uma fauna abundante e uma pecuária próspera, numerosasa fontes de água medicinal e jazigos de minérios.

– Lusitanos

Nome dado ao conjunto de povos da Lusitânia pré-romana e mais propriamente aos habitantes do território entre o Tejo e o Douro. De origem céltica ou pré-céltica, teriam migrado da Europa Central e provavelmente dos Alpes suiços, para a Península Ibérica. Essse eventual elemento étnico celta, aliado aos numerosos contactos com outros povos invasores, daria origen aos Lusitanos, que entre 193 e 45 ANE se bateram contra os romanos. Os Lusitanos eram gerrilheiros hábeis, que utilizavam punhais, espadas, dardos ou lanças de arremesso como armas ofensivas e pequenos escudos redondos como arma defensiva. Protegiam o corpo com couraças de linho grosso e capacetes metálicos ou de couro. Viviam em casas de pedra, cobertas de colmo e alimentavam-se uma vez por dia. Vestiam roupas de lã e linho e os seus objectos eram de cabedal ou esparto. Tinham artífices que faziam cerâmica e ourivesaria. Além de uma agricultura rudimentar, os Lusitanos da Idade do Ferro praticavam a pastorícia, a caça, a pesca e o comércio. Habitavam castros ou crastos, citânias ou cividades, povoado cercado por muralhas e edificadas em sítios de aesso difícil. As lutas entre Lusitanos e romanos começaram em 194 ANE, após a Segunda Guerra Púnica. Em 150 ANE o pretor Sérvio Galba, aliciando os Lusitanos com promessas de novas terras, conseguiu que depussessem as armas. Mandou então assassinar 9.000 Lusitanos e vendeu outros 20.000 como escravos. Este comportamento bárbaro acendeu ainda mais a revolta dos Lusitanos que, comandados por uma das figuras mais gradas deste povo, Viriato, não deram tréguas aos romanos entre 147 e 139 ANE. Políbio apresentava este guerrilheiro como o “máximo terror dos romanos”, já Lucílio o cognomia de “bárbaro”, Apiano considera a guerra contra Viriato perigosíssima para os romanos e Veleio adjectiva-a de “triste e desonra”.

Mas a estratégia de Viriato foi elogiada por Apiano e Frontino – “ciência de cautela”, “perícia para evitar os perigos”. As emboscadas e falsa fuga; a “surpresa” contra as “marchas em fila” das tropas romanas; as retiradas “estratégicas” os ataques de improviso aparente, com os seus guerreiros dispersos em pequenos grupos. Com armamento adaptado a este tipo de luta – capacete cónico e adaga curta e lança – surgiam em grupos de maneira inesperada.

Em 140 ANE, Viriato foi assassinado durante o sono por três companheiros, comprados pelo dinheiro dos romanos. A resistência Lusitana continuou, embora se tornasse cada vez mais reduzida à medida à medida que crescia a ocupação romana da Península Ibérica. Por fim, em 25 ANE, o território peninsular viria a ser incluído completamente na administração romana.

Panteão Lusitano

A

Atégina – Deusa Tripla: da Natureza, da Cura e da Morte. Identificada pelos romanos por Prosepina, daí ser considerada mais tarde, de Deusa Infernal, que desaparece no Submundo para depois renascer. Deusa de Turóbriga (Betúria Céltica), provém do céltico Ate- (irlandês antigo Aith) e gena, tendo o significado de Renascido, sendo uma Deusa da fertilidade e dos frutos da terra, que renascem todos os anos, portanto ligada à Terra e ao Renascimento. Era-lhe também prestada um culto de devotio, que consistia em invocar, através de certas fórmulas, divindades para prejudicar alguém (da simples praga até à morte). Era, contudo, também Deusa Curadora, como comprovam muitas inscrições. Tal como Endovélico, poderá ter sido a divindade principal de uma Trindade, a sul do Tejo, juntamente com um Arenito (Deus da Força) e de Quangeio(?) (Deus da Fertilidade).

B

Bandonga – Deusa conhecida por uma inscrição que contém uma interessante referência a um indivíduo de nome Celtius, podendo aqui referir não tanto um nome próprio mas mais um nome de proveniência racial, isto é, “dos Celtas”. O nome da Deusa parece comprovar esta teoria, pois Band significa em celta “ordenar” ou “proibir”, mas também um prefixo feminino (ainda hoje usado na Irlanda, com por exemplo em Banshee).

C

Cariocecus – Deus Lusitano da Guerra, equivalente a Marte (Ares). Segundo Estrabão, “ofereciam um Bode e os prisioneiros e cavalos (de guerra?)”. Como é sabido, os Lusitanos: “Tinham presságios da inspecção das vísceras dos prisioneiros de guerra, para o que os cobrem com saios…; cortando a mão direita dos cativos, consagram-nas aos Deuses”.

D

Durbedicus – Nome decomposto em Durb (irl. ant. drucht, “orvalho”) + ed + icus, estes últimos sufixos comuns entre os celtas. Seria assim, “o Deus que goteja”, ou seja, um Deus ligado à àgua, de uma fonte ou do rio Avus, que passa perto de Ronfe, onde a inscrição foi encontrada.

E

Endovélico – O mais conhecido dos Deuses Antigos da Lusitânia, semelhante ao Deus celta Sucellus de cujo o culto existem vestígios. O seu templo no outeiro de S. Miguel da Mota, perto de Terena no Concelho do Alandroal, no Alentejo, foi estudado abundantemente. Investigações recentes mostram que Endovellico está presente numa área geográfica maior do que se julgava e revelaram inclusive novos locais de culto de origem nitidamente indo-europeia, pelo que a atribuição de Endovellicus aos celtas é por muitos aceite. Leite de Vasconcelos explicou que o nome céltico Andevellicus, compara-o com nomes galeses e bretões, dando-lhe o significado “o Deus Muito Bom” curiosamente o mesmo espíteto do deus irlandês Dagda. Atribui-se-lhe a característica de Deus tópico do outeiro onde seu culto se realizava e também de um Deus da Terra e da Natureza. De origens antigas, foi no período celta que melhor se definiu (e daí o seu nome céltico), tendo os romanos prestado homenagem e culto, como se comprova pelos numerosos ex-votos por eles deixados. Endovélico poderá ter sido o Deus principal de uma Trindade juntamente com Atégina e um Runesocesius.

As provas arqueológicas remetem-nos para uma divindade do mundo subterrâneo dotada para a profecia e protectora da vida após a morte. Arcanjo Miguel assume, posteriormente, o papel de Endovélico, como patrono de Portugal (Lusitânia).

N

Navia (ou Nabia) – Deusa tal como Tongoenabiagus, é uma divindade da Água, associada a rios, pois existem vários com esse nome em alguns lugares em que apareceram as inscrições onde também passam rios. Significa “água corrente”.

Nantosvelta (Gaulesa) – Deusa da Natureza; esposa de Sucellus.

R

Runesocesius – Deus referido como Runesus Cesius, sendo a segunda partícula um epíteto. Atribuem-lhe origem céltica e significa “O Misterioso” do irlandês antigo Run-, “mistério”, e/ou de “armado de dardo”, que seria o seu epíteto segundo um mote celta. Ora, “O misterioso” pode ser considerado “O Deus”, sendo assim Runesocesius “O Deus dos Dardos” ou “O Misterioso armado do Dardo”. O seu carácter guerreiro é indiscutível.

S

Sucellus (Gaulês) – Deus da Agricultura, das Forestas e das bebidas alcoólicas (é muitas vezes representado a carregar um barril de cerveja, (suspenso numa estaca), e um martelo de Deus. A sua consorte é Nantosvelta.

T

Tongoenabiagus – Deus da(s) fonte(s) dos juramentos, porque existe na cidade de Braga uma fonte dedicada a este Deus, pelas promessas feitas junto da mesma. Compreende-se, portanto, que se fizeram juramentos por Ele, junto da fonte(s) da sua Invocação. E quem jurava, diria pouco mais ou menos o que num texto antigo da Irlanda acerca do festim de Bricriu (Fled Bricrend) se diz: “tong a toing mo thuath” (juro o que jura o meu povo).

Trebaruna – Divindade inicialmente doméstica, passando depois para a sua função mais conhecida de Deusa Guerreira, da batalha e da morte em batalha. Muitas inscrições referem-se a esta característica da nossa deusa. O nome, explica-o d´Arbois de Jubainville, eminente celtista do princípio do século, por Trebo + runa, isto é, “Segredo da casa”.

Turiacus – Divindade dos Gróvios (povo de Entre-o Douro-e-Minho), decompõe o nome em Turius + acus, e compara-o com uma inscrição irlandesa (Tor í rí no tighearna). É um Deus Poderoso, relativo ao poder, pois tor, significa, Rei ou Senhor.


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