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Bruxaria e Paganismo

O corpo como instrumento de bruxaria

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O Corpo é o nosso primeiro círculo. Primeiro é o ventre da mãe, a placenta que envolve e protege, depois o próprio corpo em si que contem os elementos que sustentam a vida: água para o sangue e para os sentimentos, vento para o fôlego e para o intelecto, fogo para a energia e motivação, terra para os ossos e para a estabilidade, equilíbrio e segurança.

Ser um bruxo é mais do que participar de rituais, fazer feitiços e encantamentos, praticar a arte da cura ou divinação. Ser um bruxo é pautar o seu cotidiano em crenças e valores espirituais referentes a sua tradição. É tornar o seu trabalho divino e utilizar as práticas e exercícios como instrumentos de qualidade de vida no seu dia a dia.

Um dos conceitos que eu mais gosto dentro da bruxaria é o de imanência, faz tempo que venho construindo esse reconhecimento em mim, de que tudo é sagrado e até pouco tempo acreditei que este estava bem assimilado até que uma pessoa próxima, que não segue a bruxaria mas tem uma visão espiritual das coisas chegou para mim e disse: “Se tu vir alguém varrendo um clips, ou jogando fora, não deixa. Isso aqui é amor de Deus. Amor de Deus em forma de trabalho e não deve ser desperdiçado, pois é com amor de Deus que trabalhamos e é pelo amor de Deus que podemos comprar as coisas.” Eu não levei muito a sério na hora, meu ouvido seletivo ouviu a palavra “Deus” no sentido patriarcal e o que veio depois foi um bocado de blábláblá. Mas aquilo me tocou, algo em mim se identificou e eu levei isso para a minha meditação diária. Cheguei ao insight de que o que ela falou é que realmente, tudo é Amor, e amor é o veículo divino senão a própria divindade em si. A partir do momento que reconhecermos tudo ao nosso redor como divino, as coisas deixarão de ser descartáveis. Desta mesma maneira tratamos o nosso corpo, como algo sujo, como algo fedido e também o usamos para castigar nosso self, para afastarmo-nos das dores e mágoas e o tratamos como mero objeto, uma casca, cuja mera função é servir a este “eu”. Nós bruxos devemos lembrar de que sim, este corpo é sagrado e é a extensão sólida de nossa alma, uma semente etérea, plantada no centro de nosso ser que vai se expandindo e materializando.

Um corpo saudável significa uma vida saudável e um trabalho mágico eficiente. O nosso corpo é veículo através do qual expressamos nossa divindade interior é o espelho de Gaia por isso para curar a terra devemos primeiramente curar a maneira como nos relacionamos com o nosso próprio corpo. O que fazemos para o corpo, fazemos para o planeta, num sentido mágico-energético-espiritual mas também num sentido psicológico. A dinâmica de comportamento é a mesma. Falamos em diminuir a emissão de carbono mas aumentamos a quantidade de cigarro que fumamos, falamos em diminuir a poluição dos rios e embebedamos o nosso corpo com excessos de álcool. O que está acima é como o que está abaixo.  Claro que não devemos ser rígidos com tudo e inflexíveis, já diz Apollo, “Nada em excesso”, mas veneno é veneno, mata, adoece, prejudica.

Pare e preste atenção em seu corpo, como ele se harmoniza com as leis divinas e cósmicas? Como o seu corpo pode ser a chave de conexão com os mistérios mais antigos? Como o seu corpo reflete a dinâmica divina. Faça silêncio, escute o seu corpo. Respire, lenta e profundamente. Comece deste ponto, o respirar. Os seus pulmões se inflam, até o limite, por um segundo ele para, o intervalo, e então expira, esvaziando-se por completo e então uma nova pausa. Um ciclo. Fluxo e refluxo, vai e vem, com intervalos, pequenas mortes. Ouça seu coração. Segue a mesma dinâmica. Pense no orgasmo, segue a mesma dinâmica. O orgasmo é um cone de poder natural, a energia que cresce, expande e explode. O útero da mulher representa estes ciclos através da menstruação, das contrações, da vida sendo construída. O pênis do homem representa esta dinâmica a cada orgasmo, inflando-se, crescendo, se torno rijo e endurecido, expelindo sua semente para o mundo e então morrendo, murchando, enfraquecendo-se. Deusa e Deus.

 

O corpo é a parte de nossa alma que nos permite experienciar o mundo físico ao nosso redor. Como coloca Starhawk em Truth or Dare “Os mistérios são tudo aquilo que consideramos selvagens em nós o que não pode ser contido ou contado, são também as coisas mais comuns: O sangue, o respirar, o pulsar do coração, o brotar da flor, a mudança de lua, nascimento, crescimento, morte, renovação […] A cada respirar nós vivemos os ciclos de nascimento, morte e renascimento. A força que empurra o sangue pelas veias é a mesma força que empurrou o universo inteiro de uma grande bola de fogo. Não sabemos o que é essa força. Nós a invocamos, mas não a controlamos, nem nos desconectamos dela. É a nossa vida, e quando morrermos, apodrecermos e nos decompormos, ainda assim, permaneceremos em seu ciclo”. Através de exercícios e meditações podemos refinar a maneira como captamos as energias sutis ao nosso redor e com consciência e foco direcionar nossas ações de acordo. O primeiro passo é a postura. T Thor Coyle coloca em seu livro “Evolutionary Witchcraft” que para nos tornarmos conscientes, presentes no momento agora e atentos precisamos nos conscientizar da maneira como expressamos nossos movimentos e na maneira como nos comportamos com ele. “Por onde flui o ar, flui a energia”, levando em consideração os ensinamentos Hindus de Pranayama, o ar pulsa com energia vital, solar. Ao respirarmos levamos esta energia para todo o nosso corpo e para isso precisamos liberar as vias aéreas para que o oxigênio tenha livre passagem. Nossa postura cotidiana comprime os pulmões impedindo que estes trabalhem em seu desempenho máximo. Então comece mantendo uma postura de coluna reta. No começo vai doer um pouco, seus músculos estão se acostumando com uma nova maneira de se posicionar, sua coluna esta se alinhando. A respiração é abdominal, para não comprimir o coração, o movimento torácico trabalha com outros tipos de energia.

Isto não é para ser feito somente nos rituais ou em meditações, nestes casos é essencial, mas sim no dia a dia, no seu trabalho, em sua casa, com seus amigos. Para manter a coluna reta ajuda ter os dois pés plantados no chão, criando uma base segura para o seu corpo. Sente mais na ponta da cadeira se os seus pés não conseguem se plantar confortavelmente no chão. Fazer exercícios como Yoga ou alguma arte marcial ajuda a manter o corpo em movimento, as energias fluindo e a postura correta.  Engana-se quem pensa que só pelo fato deste corpo conter todos os mistérios tudo o que eu faço é certo e está em harmonia. Existe um respeito e um comportamento que devem ser mantidos, o de sacralidade.

Outro exercício fundamental que necessita de uma postura adequada bem como uma respiração focada é a “Meditação da árvore da vida” que deve ser feita (ou técnicas semelhantes como “o pilar do meio”) antes de qualquer trabalho mágico para garantir um aumento do fluxo energético dentro do espaço sagrado e quando feito pelo menos uma vez por dia auxilia a desatrofiar os nossos sentidos psíquicos. Movimentar o corpo enquanto medita ajuda a manter o foco e a direcionar a energia que vem de cima e tanto quanto a que vem de baixo.

O trabalho com o corpo nos conecta diretamente com o Self-Jovem, Unihipili na tradição havaiana Huna. O Unihipili está diretamente conectado com o Uhane, o self discursivo e com o Aumakua, o self divino. É o que conecta Uhane com Aumakua. Muitas vezes nossas experiências são muito selvagens, cruas e profundas para serem expressas racionalmente, então o corpo ajuda neste processo, ajuda a informação ser assimilada pelo Aumakua. A dança espontânea, os cânticos guturais, os gestos, o toque. Tudo isso é mágico e nos remete a tempos primitivos, quando a magia dos Deuses estava a flor da pele.

Por Pythio


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