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“Os antigos videntes procuravam o máximo dentro do Conhecido – controle sobre o mundo – Poder. Achavam que o Desconhecido e o Incognoscível eram a mesma coisa. Tornaram-se perdidos neste poder, apesar de adquirirem um conhecimento enorme não conseguiram “abrir mão” dele em prol da Liberdade. Ainda hoje existem ecos desses homens”.
Os Ensinamentos de D. Juan
Os novos videntes (já sob influência do novo Æon) corrigiram este erro. Para eles e os de sua linhagem, o Desconhecido torna-se Conhecido em um dado momento – quando se completa a travessia do Abismo. Mas o Incognoscível ainda é, para eles, algo que jamais será conhecido e ainda assim está Ali, com sua vastidão. Com essa distinção começou o novo ciclo. Aleister Crowley percebeu esta distinção e as reformulações que fez frente às Ordens existentes visava este estágio: o Homem deve tornar-se o que sempre foi, i.e., Deus. Para ele o “Grau de Ipssissimus” era o ponto máximo que se pode atingir. O Desconhecido ser totalmente Conhecido.
Ainda durante esse período intermediário entre eras ocorre uma nova mutação: o Incognoscível torna-se passível de ser alcançado. A partir daí o ponto a ser alcançado pelos videntes do Novo Æon é o Nada – o Incognoscível.
A ÁGUIA
“O poder que governa o destino de todos os seres vivos é chamado a Águia…
… a Águia reflete equânime e subitamente sobre todas essas coisas vivas. Não há nenhum modo, portanto, do homem suplicar à Águia, pedir favores, esperar sua misericórdia.”
Do Regulamento do Nagual.
Para tentar entender a Águia é necessário entender a Consciência. E a primeira verdade sobre a Consciência é que o mundo não é realmente como pensamos. O mundo é como parece, e, entretanto não é. O mundo é uma ilusão e, no entanto, ele é real. Nós percebemos, isto é um fato. Mas o que percebemos não é um fato concreto porque nos é ensinado o que perceber desde pequenos. E, certamente, o homem médio não consegue testemunhar campos de energia.
“Algo “lá fora” afeta nossos sentidos. Esta é a parte que é Real. O que existe realmente são Emanações, fluidas, sempre em movimento e, no entanto, inalteráveis, eternas. Essa Força indescritível é a fonte de todos os seres sencientes. Os antigos videntes, da tradição indígena, a chamaram de Águia. É a Águia que concede consciência. Ela cria os seres para que estes vivam e enriqueçam a consciência, e depois, Ela “devora” essa consciência enriquecida. A grande dificuldade é que não há maneira de descrever em palavras o que são realmente as Emanações da Águia. É preciso Testemunhá-las”.
Os Ensinamentos de D. Juan
Por isso, desde a mais remota Antiguidade, os homens utilizaram metáforas poéticas, mitos e lendas para tentar explicar as Emanações da Águia.
De acordo com ‘Espada’, um oglala Teton dos Dakotas, “o mais poderoso de todos os wakans (espíritos) é Nagi Tanka, o Grande Espírito, que é também Taku Skanskan… quer dizer o azul… Wakan Tanka é como dezesseis pessoas diferentes, mas cada uma delas é Kan”. (J.R.Walker, The Sun Dance and Others Ceremonies of the Oglala Division of the Teton Dakota (Museu Norte-Americano de História Natural, Documentos Antropológicos, vol.XVI, parte II – 1917).
O Grande Espírito dos Oglala é o que chamamos Deus. Mas “Ele” é, ao mesmo tempo, emanação (as 16 pessoas ou kalas) do Grande Mistério. A Águia, no dizer de D. Juan.
Hancoka Olowampi – Canção da Meia-Noite – (Jamie Sans, autora de As Cartas do Caminho Sagrado, editado no Brasil pela Rocco, 1993.) chama a Fonte da Criação de Grande Mistério, o qual não tem limites e é o Criador mesmo do Grande Espírito. Ele é o Vazio, vive em Tudo, é Tudo, engloba Tudo na Criação. “Dentro” desta infinita Criação, representada pelo Grande Mistério, existe um Núcleo Vibracional ou fonte de energia primária, que denominamos “Grande Espírito”.
“A Raça Vermelha considera que o Grande Mistério é a Força Vital que rege toda a Criação. O Grande Espírito, por sua vez, é visto como sendo uma Força criativa ilimitada que atua ‘dentro’ do grande Mistério. Nada na Sabedoria Seneca limita o Grande Mistério a gênero, forma, textura, cor ou intenção… todas as Ideias presentes na Criação provêm do Grande Mistério, são reunidas pelo Grande Espírito e depois são utilizadas para alimentar o resto da Criação.”
No dizer de D. Juan, o Grande Mistério é a Águia, o Incognoscível, enquanto que o Grande Espírito é o Nagual, o Desconhecido. E Wakan é o Nagual de cada um.
Para os Gregos, o Início de Tudo eram as Trevas. E das Trevas brotou o Caos; e deles nasceu a Noite, deusa das Trevas e filha do Caos, mãe de todos os Deuses. A Noite, ou Eurínome, é, em Si mesma, a própria Treva, i.e., o Vazio. Seu movimento é o Caos, e através desse movimento Ela se manifesta e gera a si mesma e ao mundo. Mais uma vez vemos as Emanações da Águia (Trevas) gerando e movimentando os mundos.
Como sabemos, muito da Cosmogonia Grega foi tirada dos mitos egípcios. Podemos tecer comparações a partir de um trecho de um dos Textos das Pirâmides:
“No Início nada havia, nada existia, Tudo era Treva e escuridão.
Nada tinha forma e não se tomava consciência dos outros
Pois não havia como distingui-los porque não havia luz…
Mas neste abismo cósmico onde a possibilidade de tudo esperava,
Uma força, trazendo dentro de si a eternidade,
Como se fosse massa disforme, ali permanecia,
Silente… (…)”
Os antigos egípcios denominavam o estado de latência de Nun de Caos Primordial. “Dentro” deste Oceano (não confundir com as Águas Primordiais de Binah) havia uma força que trazia dentro de si a eternidade e a possibilidade de Tudo. Dessas Trevas surge Atum e diz:
“Eu sou um tornado dois. Eu sou dois tornado quatro.
Eu sou quatro tornado oito, mas Eu sou Um.”
No esquema conhecido por Árvore da Vida o Grande Mistério é localizado “acima” dos véus da negatividade, sendo o Grande Espírito a Primeira Manifestação de onde surgem todas as coisas.
“No globo Eu sou, em qualquer lugar o centro, enquanto Ela, a Circunferência, é em parte alguma encontrada.” – AL. II, 3.
“Eu sou o eixo da roda da revolução e o cubo no círculo.” – AL. II, 7.
Podemos apreender, então, que as Emanações da Águia formam tudo o que percebemos, vemos, conhecemos. Mas Ela não é manifestada, somente suas emanações. Por isso temos que testemunhá-las. Para tanto precisamos da nossa totalidade, pois Testemunhar as Emanações da Águia sem preparo prévio é a morte ou loucura. Mas o que é a totalidade de um homem?
- Juan nos fala do Tonal e do Nagual de cada um, da espreita e do sonhar, das atenções necessárias no Caminho, do Salto no Abismo.
O Tonal engloba tudo o que o intelecto pode conceber. É o Ego, que só trabalha na primeira atenção, a consciência “animal”, primária: os sentidos, o raciocínio, os hábitos plantados. É o que somos como homens comuns. Deve ser desenvolvido e conhecido ao máximo, pois é esse desenvolvimento que transforma o homem comum em Guerreiro. Esse é o ‘trabalhar a personalidade’ que tantas filosofias dizem ser fundamental. Foi isso que Aleister Crowley quis dizer com “é preciso exacerbar o Ego ao máximo”.
O Nagual é o caráter ou a Natureza do Homem. Aqui neste nível de realização, ou Segunda atenção, o Guerreiro atinge um estado mais complexo e especializado do brilho da consciência de quem é, o que é, e da meta a ser atingida. A Segunda atenção, para ser devidamente utilizada, requer quebra de hábitos, para o que se precisa de disciplina e concentração. O Nagual de cada um é o Indescritível, o espírito, o abstrato, o Sagrado Anjo Guardião; que se manifesta a todos a todo momento, mas só com o aprimoramento do Tonal e o desenvolvimento da Segunda atenção se pode sintonizar e perceber as revelações e sinais que Ele mostra.
A Totalidade do ser é atingida quando o brilho da Consciência se transforma em Fogo Interior. É a união total dos opostos. Seria como o “TONAGUAL” – a expansão máxima do Tonal engolfada pela consciência total do Nagual. O Desconhecido completamente Conhecido. A Terceira Atenção. E o ápice da terceira atenção, a Sabedoria unida ao Entendimento, é o único meio de ser, buscar e atingir o NADA. Qabalisticamente pode-se dizer que atingir e permanecer na terceira atenção é completar a travessia do Abismo, atingir e permanecer nas Supernas, e, então, Unificá-las (3 em 1). Este é o processo para transpor os Véus Negativos para além de Nox, para o Vazio – o NADA.
Fonte:
O Conhecido, o Desconhecido e o Incognoscível.
Revisão final: Ícaro Aron Soares.
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