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A magia que os antigos chamavam de santo reino ou Reino de Deus, sanctum regno, só é feita para os reis e sacerdotes… Os reis da Ciência são sacerdotes da Verdade e seu reino fica oculto para a multidão. Os reis da Ciência são os homens que Conhecem a Verdade e que a Verdade tornou livres… (LEVI. Dogma e Ritual da Alta Magia – p 72, 1983)
Um homem vai para o conhecimento como vai para a guerra, bem desperto, com medo, com respeito e com uma segurança absoluta. (CASTANEDA, 1968 – p 25)
Nem todos os Homens de Conhecimento são feiticeiros mas todo feiticeiro tem de ser, antes, um homem de Conhecimento e o Conhecimento somente pode ser conquistado por meio da disciplina do Caminho do Guerreiro. Em linhas gerais, esse Caminho exige quatro Atitudes:
- RESPEITO. Pelo Conhecimento que adquire ao longo de seu treinamento, respeito por todas as criaturas do mundo, respeito por si mesmo.
- TER MEDO. Aceitar o medo, reconhecer o medo e enfrentar o medo.
- Estar DESPERTO. Significa estar atento, manter a percepção aguçada em relação a todos os aspectos de uma situação ou realidade.
- CULTIVAR ATÉ POSSUIR uma CONFIANÇA inabalável em si mesmo. Os homens de pouca fé, jamais caminharão sobre as águas…
Para o ocultista ocidental europeizado, também existem regras quatro regras indispensáveis para chegar a possuir a Ciência [Conhecimento] e Poder dos Magos, regras que somente um Guerreiro determinado consegue observar:
- Uma inteligência esclarecida pelo estudo.
- Uma audácia que nada faz parar.
- Uma Vontade que nada pode quebrar ou enfraquecer.
- Uma discrição que nada pode corromper.
Estas regras são resumidas pelo mestre Eliphas Levi em quatro palavras: Saber, Ousar, Querer, Calar… Eis os quatro verbos do Mago. Estes quatro verbos podem combinar-se de quatro modos… (LEVI, 1985)
As atitudes de guerreiro estão relacionadas ao Conhecimento transcendente da Realidade porque este tipo de Conhecimento exige:
- Ousadia e coragem;
- O saber instintivo inicial de que o mundo e a realidade são muito mais, algo além do que pode ser percebido pelas aparências;
- Um caráter ou modo de ser repleto do mais rigoroso sentido de valor de dignidade e honra que nunca faz concessões à mediocridade das soluções mais fáceis, que nunca se vende;
- Uma disciplina impecável em práticas de treinamento (inclusive de preparação física) que jamais serão suficientes, são diárias, obrigatórias; práticas para a vida inteira.
Assim, quando um ser humano, homem ou mulher, resolve buscar o Conhecimento sobre-humano ele está fazendo uma escolha que significa trilhar um caminho árduo, frequentemente solitário e perigoso.
Escolher seguir esse caminho é escolher ir para a guerra. Uma guerra sem tiros e bombas, na qual os inimigos serão os apelos piegas de todos aqueles cruzam o caminho do guerreiro e, perplexos, não compreendem suas atitudes, sua sobriedade, sua recusa diante de situações, privilégios, mimos, confortos que seduzem a grande maioria dos mortais.
O guerreiro diz NÃO! Quando os outros dizem SIM! Não ao casamento convencional, não ao emprego convencional, não aos hábitos convencionais, não aos vícios da carne/corpo (alimentos preferidos, sexo, drogas, sono, por exemplo), não às mordomias ainda que tenha se tornado rico.
Porque o guerreiro sabe que entregar-se a essas “facilidades” ou “tentações” significa tornar-se escravo do corpo, vulnerável a tudo que, inevitavelmente, mais cedo ou mais tarde, vai transformá-lo em um fraco destruindo ou, no mínimo, adormecendo todo o poder conquistado. Um guerreiro domina seu corpo, jamais é dominado por ele.
Don Juan, o xamã de C. Castaneda, compara a formação de um guerreiro ao aprendizado de um caçador cujas principais estratégias são:
- Ser impecável em todas as suas ações e disciplinas;
- Estar sempre alerta, sempre pronto para o combate. Nada pode surpreender ou assustar um guerreiro por mais de uma fração de segundo.
- Não possuir rotina porque, assim, o guerreiro torna-se imprevisível.
- Alcançar o completo desapego a toda sua história pessoal vivida antes de começar a trilhar o Caminho do Guerreiro. Desapego em relação à família, aos amigos, ao mundo convencional e, apesar de desapegado, ainda ser capaz de amar sinceramente, principalmente as pessoas. Porque o amor não implica posse, controle, proximidade intermitente e apego.
Desapego do mundo convencional, “normal”, porém sem esquecer seu sistema, seu modo de funcionamento porque conhecer bem a normalidade do mundo é útil na hora de agir em inúmeras ocasiões. O guerreiro conhece as estratégias, a linguagem do mundo das convenções, mas o mundo das convenções não conhece as estratégias nem a linguagem do guerreiro.
O desleixo, a desatenção, a rotina, o apego e mesmo a própria identidade e a identidade dos seres amados pelo guerreiro, tudo isso é “calcanhar de Aquiles”, são pontos fracos que sempre poderão ser utilizados contra o guerreiro, para torná-lo refém de suas afeições.
Ou seja, um guerreiro não deixa pegadas no caminho, não morde iscas, conhece-as de longe. Suas atitudes não podem ser previsíveis porque isso o torna vulnerável e vulneráveis as pessoas que ele ama ou pretende proteger e ajudar.
Seguindo as Leis do Caminho o guerreiro torna-se inacessível e ninguém pode encontrá-lo a menos que ele queira.
“Ninguém sabe o seu nome… assim, a morte não o encontra” – WATERWORLD, o filme
Ligia Cabus
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