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por Völuspa
Não se deve descartar a possibilidade da realização de magia cerimonial: se existem cerimônias, dogmas, modus operandi, eles existem por algum motivo que foi testado e aprovado. E com certeza esses testes levaram uma vida inteira, ou até mesmo vidas inteiras, pois eles construíram as tradições. E você pode chamá-las de religiões, ocultismo, esoterismo, magia… Todo conjunto de práticas em que se tenha uma estrutura pré concebida, ritualística, composta de diversos simbolismos, tradições, enfim, tudo isso é considerado magia cerimonial.
Uma vez elucidada a prática e lembrando que sou adepta fiel das magias cerimoniais, vou contar um episódio interessante que me ocorreu quando estive viajando em terras distantes, sem meus apetrechos ritualísticos e necessitei realizar um ritual de galdr(1) e seidr(2). Nós praticantes da fé nórdica moderna costumamos dizer que podemos produzir magia com o que tivermos disponível e onde quer que seja. Pois bem: eu só tinha meu corpo.
Os mestres de galdra (ou galdr, galðr) ensinam que ”você deve galdrar as runas tão alto ou mais alto que o badalar dos sinos das igrejas ”. Eu não podia pois dividia quarto e estávamos todos extremamente cansados numa viagem a trabalho. Então criei uma sinfonia que conseguia solfejar sem que incomodasse ninguém.
Eu tinha comigo um caderno pequeno onde tracei uma bindrune(3) com parte de meu intento. E o único lugar onde consegui privacidade para realizar minha operação mágica foi o banheiro do hotel.
Mas como não se contaminar com as energias do local, especialmente sendo um banheiro? Pratiquem banimento, sempre, não só em vocês mesmos quanto no local onde irão utilizar para a realização de suas magias, independente de onde for e do quão sagrado é: banimento nunca é demais.
Usei exclusivamente meu corpo, minhas cordas vocais, meus sentidos. Iniciei com um banimento do local e posterior banimento em mim mesma. Invoquei as divindades das quais gostaria que intermediassem minha operação e fui guiada por elas. Galdr e seidr iniciados, apenas utilizando meu corpo.
A primeira coisa a se levar em consideração nessas horas é que se você se prende muito no que poderia ser, você terá problemas no resultado. Pensar no que poderia ter utilizado, que você não está com seu cajado, runas de trabalho ou chifre de beber (e obviamente não tem o que beber além de água) só vai fazer com que todo trabalho mágico seja apenas perda de tempo e nada funcione.
É você quem dá os comandos mágicos e é seu corpo quem realiza. É maravilhoso ter todos os apetrechos e o ambiente ideal para a magia cerimonial, assim como é maravilhoso ter a consciência do seu próprio corpo e de sua própria energia que ativa e produz magia.
Nos dias que se seguiram eu repetia sempre o mesmo galdra, invocava as divindades num ritual de corpo e mente e, por mais que experientes oraculistas tivessem me dito que o resultado nunca se concretizaria, o resultado de minha magia se tornou real em alguns dias. Eu também traçava a bindrune em todos os lugares e me conectava com a energia das Deusas que me auxiliavam no processo. Eu podia senti-las no ar gelado do vento, nas energias ao redor e fazer essas energias circularem até o meu objetivo.
Runas tem um poder absurdo especialmente quando você intensifica este poder através do galdr e da bindrune construídos de forma específica para cada intento e sentidas de forma profunda de corpo e alma.
Notas:
- Galdr: magia rúnica entoada ou cantada.
- Seidr: magia que se utiliza, dentre outras coisas, de runas. Foi ensinada ao Deus Odin, o Pai de Todos, pela Deusa Freyja após seu auto-sacríficio na Yggdrasil. Diz muito sobre os mistérios das runas.
- Bindrune: união de duas ou mais runas com um intento mágico.
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