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Feitiçaria a Meso-Americano

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Os “magos” indígenas meso-americanos, ao contrário dos ocultistas do ocidente europeizado, não têm nenhum problema em autodenominar-se, genericamente, de feiticeiros porém, possuem também uma expressão formal para definir com maior precisão a essência do que realmente são: Homem de Conhecimento.

Ser um homem de conhecimento significa antes de tudo possuir O Poder. O Conhecimento é o meio que torna possível alcançar esse Poder.

Os objetos de tal conhecimento são específicos e referem-se, genericamente, às forças ocultas na Natureza e, mais especificamente, no caso da magia meso-americana praticada pelo mestre de Castaneda, Don Juan de Matus, trata-se da ciência (do saber) sobre as propriedades psicotrópicas/psicodélicas que proporcionam de determinadas plantas.

As plantas do Poder são importantes, mas, não são indispensáveis. Seu papel é auxiliar o acesso ao Conhecimento. As plantas funcionam como um meio de abrir uma porta da mente que normalmente permanece trancada nas pessoas comuns.

* (Tradições e ciências mágicas de outras culturas utilizam outros métodos para fazer a mesma coisa: abrir a porta das Percepções).

Essa porta é lacrada pela educação convencional, por um condicionamento ou doutrinamento que começa na mais tenra infância no contexto da formação das pessoas chamadas civilizadas.

Por isso, a abertura dessa porta é sentida como uma estranha e muitas vezes, assustadora, alteração da consciência ou – mais apropriadamente – expansão da percepção.

As propriedades daquelas plantas, de fato, alteram a percepção da realidade aparente ou física para revelar os aspectos insuspeitados do mundo e suas criaturas, aspectos metafísicos ou – como denominou Castaneda estados da realidade não-comum (CASTANEDA, 1968 – p 10).

Ou seja, pela utilização correta dessas plantas seria possível VER além do que proporciona o simples OLHAR, ESTAR em “outro mundo” sem sair “deste mundo” e AGIR naquele plano ou dimensão, que é – “normalmente”, uma Realidade invisível e intangível.

A UTILIZAÇÃO CORRETA implica respeitar processos de cultivo, coleta, preparação, manipulação e, finalmente, uso das plantas. Esses processos têm um rigor variável mas, em ao menos um caso, especificamente, na utilização da chamada Erva do Diabo, a disciplina ao lidar com a planta pode ser considerada como um procedimento ritual que não  admite nenhum tipo de erro por displicência ou acidente.

Este é um ponto de congruência, um ponto em comum entre a chamada Alta magia Ocidental, o ocultismo Oriental e a magia indígena meso-americana: a disciplina e a renúncia a numerosos hábitos da vida do homem comum exigida do aprendiz e do praticante.

Essa disciplina e renúncia, constituem, em si mesmas um obstáculo definitivo ao aprendizado que poucas pessoas serão capazes de superar. Assim, a Magia meso-americana, tal como todas as formas de verdadeira Magia é o Poder de um Conhecimento reservado para uma elite de indivíduos fortes e determinados.

Aqueles que o mestre Eliphas Levi chamava explicitamente de verdadeiros sacerdotes e reis; aqueles a quem o mestre de Castaneda, Don Juan chama de Guerreiros.

Na didática que Castaneda aprendeu com seu mestre, Don Juan para tornar-se um Homem de Conhecimento é indispensável, entre procedimentos, requisitos e qualidades:

  1. Um Propósito inflexível
  2. Disposição para um trabalho exaustivo
  3. Clareza de espírito (mente aberta)
  4. Uma Aprendizagem na qual é preciso perseverar
  5. Um ALIADO (guia e fonte de poder) e O Mestre (que transmite Sabedoria ou o conhecimento da maneira certa de viver – CASTANEDA, 1968 – p 10). Estes termos, nas práticas de Don Juan ALIADO e MESTRE  não se referem à pessoas mas, a entidades metafísicas (que no decorrer do aprendizado de Castaneda serão definidas com Poderes) que são acessadas, reveladas ou manifestam-se através de um catalisador ou veículo, no caso, o consumo das plantas.

    No contexto de aprendizagem ou iniciação experimentado por Castaneda, tradição que pertence à cultura do Conhecimento do Oculto meso-americano, os possíveis ALIADOS foram REVELADOS por meio do consumo de duas plantas específicas: a chamada Erva do Diabo – que é uma planta chamada “estramônio ou Datura inoxia” * – o “Fuminho” ou fumo, como a designa Don Juan, uma espécie de cogumelo pertencente ao gênero Psilocybe (CASTANEDA, 1971) **.
    * Aqui Castaneda comete um pequeno equívoco em sua pesquisa acadêmica porque estramônio uma das espécies das plantas do gênero Datura; inoxia é outra espécie, embora ambas tenham propriedades semelhantes. A Datura estramônio, por sua ocorrência geográfica, América, parece ser a espécie específica mencionada no livro.
    **Portanto, todos aqueles que desde a década de 1970 mencionam Carlos Castaneda e, ao mesmo tempo associam a Erva do Diabo de Castaneda à maconha – cannabis sativa – enganam-se e demonstram que jamais leram um livro desse escritor.
    O Mestre é um só: O Mescalito, cuja presença se manifesta através do consumo em natura do botão que se extrai do interior do cacto chamado Peiote (Lophophora williamsii). Seu princípio psicotrópico ativo é a Mescalina.

  6. Trilhar o Caminho do Guerreiro e tornar-se um Guerreiro.
  7. Consciência de que ser um Homem de Conhecimento é um processo incessante

Portanto, se o leitor deste ensaio está procurando o Poder e Conhecimento através de rituais de almanaque, receitinhas bobas, simpatias patéticas, fórmulas rápidas, pode desistir agora mesmo porque não existe facilidade no Caminho dos sacerdotes, dos reis, dos guerreiros.

Ligia Cabus


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