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André Correia (Conexão Pagã / @bercodepalha)
Já há algum tempo que me questionam sobre Cernunnos e minha maneira de cultuá-lo. Por esse motivo, postei hoje um textinho básico a respeito.
Tenho buscado livros, traduzido artigos (não sou bom nisso, mas me esforço!) e conversado com alguns amigos para tentar fundamentar melhor para mim o mito que reforça a minha crença e prática. No entanto, tenho tropeçado em mitologias modernas, que percebo ser um monstro de Frankenstein para ligar Lé com Cré a qualquer custo.
Sabemos que muitas mitologias se fundem, se mesclam e mitos maiores absorvem mitos menores no decorrer dos séculos e milênios. É um processo natural, tal qual o sincretismo religioso. Mas é incrível o poder de mutação express que alguns mitos têm passado nos últimas décadas.
Eu sei e reconheço que deuses se modificam com o passar dos tempos. Essa mudança geralmente se dá lentamente, como uma erosão que molda lentamente uma grande rocha golpeada pelo vento. O que vem ocorrendo é uma modificação folclórica com picaretas e dinamites, não é uma erosão, mas sim uma depredação violenta!
Talvez seja uma necessidade moderna filtrar pontos convenientes, descartar os “excessos” e agregar aspectos para justificar a construção atual. Tenho a impressão que novos deuses e mitos foram criados e agora habitam em imagens antigas somente para ter uma credibilidade histórica. Mesmo que essa credibilidade não se sustente quando analisada mais a fundo.
Mesmo não sendo possível compreender e explicar racionalmente o que são os deuses, sem passar por espíritos, arquétipos, mitologia, folclore e etc, tento explicar para mim mesmo, que os deuses são expressões das forças da natureza, que não compreendemos, mas com as quais aprendemos a nos relacionar identificando a sua grandeza.
Já na atualidade, as pessoas estão buscando deuses que atendiam necessidades dos povos antigos e ao invés de compreendê-los nos dias atuais, estão os fracionando para torná-los mais palatáveis. Ou seja, estão os tornando menos agressivos, mais comercializáveis e menos cruéis. Tira-se a essência natural e cultua-se os Ursinhos Carinhosos e o Capitão Planeta! Mas eis o equívoco: se eles são expressões da natureza, são naturalmente amorosos e cruéis. Não são bons ou maus, mas eles são o que são. A vida e a morte, o caçador e a caça. O filhote e a mãe que o devora para sobreviver.
Seria mais justo, talvez identificarmos novos deuses que podem surgir espontaneamente a qualquer instante, como já acontece, a exemplo de Elen dos Caminhos. Pois faz parte da humanidade se relacionar com a natureza e “rotular” um grupo de elementos que caracterizam essa determinada divindade.
Deuses novos são bem vindos, mas penso ser de grande desrespeito mutilar a história para satisfazer as próprias carências.
André Correia. Psicólogo clínico formado em 2007, praticante e estudante de Bruxaria eclética há mais de 25 anos, construtor de tambores ritualísticos e autor do álbum “Tambores Sagrados“.
Co-fundador do canal Conexão Pagã, integrante do Music, Magic and Folklore (Brasil – Inglaterra) e eventual co-host do Bate-papo do Projeto Mayhem. Profundo desconhecedor de Astrologia.
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