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O estabelecimento da nova festa cristã não aconteceu de uma hora para outra; foi um processo que gerou controvérsias. O assunto foi discutido e pesquisado pelos doutores escolásticos. O fato embaraçoso é que nenhum dos evangelhos, nem canônicos, nem apócrifos registra o dia, mês e ano do nascimento de Cristo; falha imperdoável dos cronistas… Se não está nos evangelhos, resta apelar para a especulação. Uma das referências históricas mais citadas está em um trecho do relato de Lucas contendo indicações explícitas que resultam em deduções lógicas:
“Naqueles tempos apareceu em decreto de Cesar Augusto ordenando o recenseamento de toda a terra… [este censo tinha o objetivo de apurar a arrecadação de impostos]… Todos iam [eram obrigados a] alistar-se em sua cidade de origem. Também José subiu da Galiléia, da cidade de Nazaré, à Judéia, à Cidade de Davi, chamada Belém, porque era [ele, José e também Maria] da casa e família de Davi. para se alistar com sua esposa Maria, que estava grávida. Estando eles ali, completaram-se os dias dela. E deu à luz seu filho e reclinou-o num presépio [um presépio, antes der um monte de bibelôs é, antes de tudo, palavra sinônima de estábulo]. Havia nos arredores uns pastores que vigiavam e guardavam seu rebanho nos campos durante as vigílias da noite…”
Evidentemente, o texto fornece informações de valor histórico:
1. Jesus nasceu durante um censo memorável, de alta obrigatoriedade, que causou transtorno aos habitantes de Israel, como a José, que teve de se deslocar em penosa viagem mesmo estando Maria às portas do parto.
2. Naquela noite, havia pastores no campo fato que, considerando os ciclos das estações naquela região, indica clima ameno de primavera ou verão. Jamais um dia de inverno. Ali, novembro e dezembro [Kislev e Tevet] eram meses tão chuvosos e frios que os profetas Esdras e Jeremias comentam ser insuportável sair de casa em tal época do ano.
3. Lucas nomeia, ainda, o governante da Judéia época da Natividade: o judeu Herodes, o genocida da matança dos inocentes, pai do Herodes que anos depois participaria da responsabilidade sobre a sentença de crucificação.
Considerando tais informações, estudiosos concluíram que o menino Jesus veio ao mundo em algum mês de primavera ou verão; jamais em 25 de dezembro. Primavera e verão judaicos estão situados entre os meses de março, abril, maio, junho, julho e agosto. Clemente de Alexandria [150-215, teólogo e pesquisador, padre cristão primitivo em Alexandria] ouviu de sábios egípcios que a data correta era 06 de janeiro, hoje, o dia de Reis, dedicado aos Reis Magos mas também considerado o dia em que Jesus foi apresentado ao Templo. A discussão se aprofundava. Era preciso estabelecer a Epifânia!
Epifânia é a manifestação terrena – milagrosa – de Deus. Não se sabia o momento dessa manifestação: alguns defendiam o dia da Anunciação, ou seja, da concepção imaculada pela graça do Espírito Santo; outros consideravam que a Epifânia dava-se somente na Natividade, ou seja, no vir à luz, no nascimento da criança propriamente dito. As nuances complexas do problema clamavam solução para o quê era essencialmente insolúvel posto que nem a Anunciação, nem a Natividade [nem mesmo o a morte de Jesus] possui qualquer registro histórico confiável.
Em 221 d.C. Sextus Julius Africanus, viajante e historiador que Viveu o começo do século III d.C.. escreveu uma história do mundo, Chronagrafiai, em cinco volumes cobrindo desde a Gênese até o ano 221 d.C.. Segundo os cálculos de Sextus Julius, entre a criação do mundo e o nascimento de Cristo, a Natividade, haviam-se passado 5 mil e 500 anos data que no calendário Gregoriano corresponde a 25 de dezembro do ano 1 da Era Cristã. A Anunciação teria ocorrido em 25 de março.
Em 350 d.C., o Papa Julio I propôs que a data fosse fixada em 25 de dezembro. Finalmente, 354 d.C., o Papa Libério decretou que o Natal cristão era em 25 de dezembro mesmo e pronto! Não era um dado histórico porém, foi uma excelente decisão em termos de estratégia de marketing! Todavia, nem toda a comunidade cristã mundial aceitou esse Natal. Os conflitos doutrinários em torno do assunto se entenderam por vários séculos.
Foram os protestantes que se rebelaram e classificaram a data da Natividade como [mais uma] fraude dos papistas, manobra da própria Besta, do Diabo, para manter costumes pagãos. Em 1647, os puritanos ingleses no poder proibiram a celebração do Natal e quem ficasse em casa na data seria multado. O povo não gostou e se rebelou promovendo manifestações pró-Natal em várias cidades. Em 1660, a proibição caiu. Nos Estados Unidos, entre 1659 e 1681, a festa foi declarada ilegal em Boston mas o ânimo sempre festivo da plebe também reagiu a essa tentativa de suprimir um dia de “santos” folguedos e, em 1870 o Natal foi reconhecido como feriado nacional no país, não obstante o protesto de puritanos apegados à palavra da Bíblia e de nacionalistas radicais, que consideravam esse costume uma herança dispensável dos colonizadores ingleses.
Hoje, o dia 25 de dezembro é admitido como dia da comemoração do nascimento de Jesus pela Igreja Católica Apostólica Romana, pela Igreja Anglicana e alguns grupos protestantes. Para a Igreja Cristã Ortodoxa, o Natal é comemorado entre 6 e 7 de janeiro tendo como referência a apresentação de Jesus no Templo.
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