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Excerto de O Grande Computador Celeste (edição Rafael Arrais)
Anteriormente falamos sobre as origens da magia sexual, os Ritos na Suméria, o Hieros Gamos egípcio, as três principais divisões dos estudos iniciáticos e de como a Santa Igreja adora pegar expressões sagradas das outras religiões e transformar em palavras sujas.
Hoje vamos continuar nosso passeio através da história da magia sexual, de Roma até os dias de hoje.
Vou seguir com a narrativa por três pontos de vista diferentes: o masculino, do Templo Solar, que regeu basicamente os exércitos e guerreiros; o feminino, do Templo Lunar, que coordenava as sacerdotisas; e as Fraternidades Mistas, que formavam a maioria dos grupos envolvidos nas festividades pagãs do Hieros Gamos.
Prostitutas Sagradas
Voltando um pouco na nossa narrativa, ainda na Babilônia, o culto a Ishtar era famoso pelos templos dedicados a Inanna e Ishtar (ou Astarte), a grande deusa da Babilônia. Nestes templos, ficavam as mais sagradas das sacerdotisas, dedicadas à deusa do amor e da sexualidade. O nome Prostituta vem de “Aquelas que se prostram (diante de Ishtar)” ou “Aquelas que se expõem”.
Nestes templos, as “Ishtartu” ou “Damas dos prazeres” tinham o domínio sobre sua sexualidade, oferecendo-se para estranhos em troca de donativos para o templo, em rituais de adoração a Ishtar. Mulheres que desejavam se casar, para obter as bênçãos de fertilidade da deusa, precisavam passar um período de sete dias na porta do templo para obter dinheiro suficiente para a doação, no chamado “dote”. Este ritual pré-nupcial era chamado “Fornicatio”, de onde surgiu mais tarde a palavra “fornicação”, tão odiada pelos fundamentalistas.
O local onde ocorriam estas negociações era chamado de “Fornix” (Câmaras Arqueadas – mais tarde “Fornix” se tornaria sinônimo de bordel). Durante este tempo, recebiam instruções das sacerdotisas nas artes de amar e de agradar aos homens.
Muitas famílias nobres enviavam suas filhas para servirem como Harlots (o termo em inglês hoje em dia é utilizado com o sentido de prostituta, sem tradução para o português) por anos. A Harlot entrava em um templo como uma Virgem Vestal e sacrificava sua virgindade ritualisticamente para o sacerdote que a iniciaria nos mistérios do Hieros Gamos.
Esta primeira relação era muito importante, pois o sacrifício de sangue para Ishtar marcava a iniciação destas sacerdotisas e era algo considerado muito sério e muito importante (até os dias de hoje, dentro de algumas Ordens Invisíveis). O linho na qual ficavam as manchas de sangue era queimado e dedicado às deusas, consagrado em uma grande festa de acolhida.
Mais tarde, de uma maneira completamente deturpada pelos profanos, isto acabaria dando origem a dois costumes medievais: a “Prima Noche”, na qual o Senhor Feudal requisitava o direito de transar com qualquer mulher que fosse se casar e a exibição do lençol sujo de sangue como “prova” da virgindade da “mercadoria” com a qual o nobre havia se casado.
Outra curiosidade era que, se a garota não havia “dedicado” sua virgindade à deusa Ishtar, e transado sem as devidas ritualísticas (ou seja, fora do templo de Innana/Ishtar), dizia-se que havia “perdido” sua virgindade e não podia se tornar uma prostituta sagrada. Seu dote, obviamente, era muito menor do que o das Harlots.
As Harlots eram tão procuradas que, após este período de dedicação ao templo, havia muitos pretendentes que se apresentavam para pagar o dote dessas garotas a fim de poder se casar com elas.
Curiosamente, apesar de todo o culto de sexo sagrado, Ishtar é reverenciada com o nome de “a virgem”, implicando com isso que seus poderes e sua criatividade não dependiam de nenhuma influência masculina. As mulheres detinham o poder e o controle. Entre os gregos, era conhecida como Afrodite; e entre os romanos, Vênus.
A partir do Código de Hamurabi, em aproximadamente 1750 a.C., tudo isso mudou. A mulher passou a necessitar da permissão de seu marido ou pai para tudo, o poder das sacerdotisas foi massacrado e Innana e Ishtar perderam muito do prestígio que possuíam, tornando- se divindades menores e, posteriormente, demônios da luxúria.
Muitos dos templos, para não serem fechados por ordem dos governantes, precisaram forjar casamentos falsos para que pudessem continuar funcionando, mas as mulheres passaram a ter de obedecer a estes maridos, o que acabou dando origem aos primeiros “cafetões”. Em menos de 100 anos, os Templos de Prazer acabaram se tornando algo muito mais parecido com o que temos hoje, com o afastamento da ritualística e apenas a troca de moedas por sexo (geralmente para as mãos do homem que controlava estes grupos). A adoção de escravas para suprir as necessidades dos homens e a degradação do valor das mulheres acabou jogando estes locais para a margem da sociedade, onde estão até os dias de hoje, infelizmente.
Enquanto isso, no mundo dos machos…
Conforme estávamos discutindo, o Culto Solar era composto apenas por homens e girava em torno do uso da magia para expandir as habilidades de batalha, capacidade de raciocínio matemático, engenharia, construções utilizando a geometria sagrada, táticas de combate e filosofia.
Na medida do possível, eles tentavam proteger as sacerdotisas, mas o próprio fato de não haverem mulheres nos exércitos e as Ordens serem quase totalitariamente militares tornava tudo muito complicado. As Ordens lunares tornaram-se secretas, abrigadas entre os celtas e romanos e bem longe das garras judaico-cristãs. Já as solares haviam adquirido um poder sem precedentes.
Suas características ocultistas principais estavam no posicionamento e construção de obeliscos nas Linhas de Ley para marcar os principais locais de rituais e conectar outros monumentos nestas linhas invisíveis. Estes monumentos servem para ajudar a ajustar a Terra para permitir melhores colheitas, paz, harmonia e prosperidade nas regiões ao seu redor. Um Obelisco representa acima de tudo um Raio de Sol Petrificado (isso é bem óbvio, mas é uma coisa que as pessoas nunca param para pensar…) que cai sobre a terra em um ponto específico.
Uma segunda característica era muito importante dentro dos cultos solares, que era a iniciação de seus principais guerreiros e líderes. Como eu havia dito na outra coluna, esta iniciação dos comandantes era feita enviando-o para algum lugar bastante inóspito armado apenas com uma adaga e esperava-se que ele não apenas sobrevivesse como trouxesse uma prova de suas capacidades de caçador.
Esta prova era a pele do animal (um lobo, urso ou veado). Nos celtas, bretões e druidas, o mais tradicional eram os gamos ou alces, que o iniciado precisava também remover os chifres e traze-los presos em sua cabeça. A capa vermelha do rei simboliza a pele coberta de sangue do animal. As capas dos soldados romanos, dos exércitos de Esparta e dos guerreiros celtas (além das bandeiras nazistas) simbolizavam este poder. Nos nórdicos, eles vestiam as peles de ursos (Bersekir, da onde se originou o termo Berserker para designar os guerreiros imbatíveis do norte que lutavam sob o efeito de poderosos rituais xamânicos).
Os chifres na cabeça representam o deus das florestas encarnando naquele sacerdote/guerreiro, o que seria de vital importância no Hieros Gamos, pois mostraria que aquele iniciado estava apto a incorporar o avatar de Cernunnos/Baco/Dionísio/Dummuz nos rituais.
Este hábito iniciático de usar os chifres na cabeça do principal sacerdote do Hieros Gamos é a origem da COROA (que nada mais é do que chifres simbolizados em metal nas pontas da coroa, somados às joias da sabedoria divina). Estes chifres às vezes eram simbolizados por aquele “penacho” que vocês já devem ter visto nos legionários romanos, ou então pela coroa de louros dos imperadores.
Tropa de Elite, osso duro de roer…
Estas ordens solares (e consequentemente a maioria dos exércitos da Antiguidade) estavam organizadas da seguinte forma: Cada Centurião (também chamado Hekatontharchos em grego) comandava uma Centúria, que era formada por 100 soldados, organizados em 10 conturbernium, e comandada por um Decurion. Estas contubernia eram formadas por 8 combatentes (chamados de octeto) e mais 2 não combatentes (que cuidavam dos cavalos, comidas, armas e armaduras do octeto).
Estes grupos eram tão unidos que acabavam sendo punidos ou recompensados como um todo. Caso algum dos membros de um contubernium cometesse algum ato de covardia ou traição, o grupo todo era escolhido para pagar. Neste caso, os dez soldados pegavam palitos de trigo e aquele que tirasse o menor palito era apedrejado pelos nove colegas. Desta prática, chamada Decimatio, surgiu o conceito do “puxar o palito menor” como sinônimo de má sorte, além da origem da palavra “dizimar” como matança.
Cada seis centúrias formavam uma Cohorte e o conjunto destas cohortes formava a Legião. O Grão Mestre destas ordens era chamado de Monos Archen (que significa em grego “Um comandante”). Monosarchen é a origem da palavra Monarca (Monarch em inglês).
Ok, mas o que esta história sobre exércitos romanos têm a ver com a Teoria da Conspiração? MUITO… Mas por enquanto, não vou contar o por quê. No momento, basta que vocês saibam que uma Cohorte nos tempos de Jesus era formada por 600 homens pesadamente armados.
Celtas, Druidas e a Bruxaria
Fora dos cultos altamente secretos das Bacantes ou dos soldados do Templo Solar, o culto à natureza continuava a todo vapor entre os celtas, druidas e bretões.
Os druidas traçam suas raízes em 300 a.C. Os primeiros registros deles foram feitos pelo escriba grego Sotion de Alexandria no século II a.C. Os pitagóricos os chamavam de Keltois (Aquele que domina o carvalho). Em latim eram chamados de druides (que tem a mesma origem da palavra Dríade, que significam as “ninfas da floresta” na mitologia grega, que nada mais eram que as sacerdotisas celtas que realizavam seus ritos nas florestas).
Do Egito, os ritos migraram tanto para a Grécia quanto para as Ilhas Britânicas. Da mesma maneira que os sábios gregos construíam panteões, templos e obeliscos utilizando-se da geometria sagrada, os bretões e celtas erguiam círculos de pedra com a mesma função. Enquanto os gregos realizavam as Bacchanalias, os celtas e bretões realizavam os festivais de Solstícios e Equinócios, bem como as Festas de Beltane e Samhain, onde eram celebrados os Hieros Gamos.
Nos ritos sagrados, o aspecto masculino da divindade era representado primariamente por dois deuses: Cernunnos e o “Green Man” (Homem Verde). Cernunnos é o Deus Chifrudo das florestas, representando todas as forças viris da natureza. Seus chifres podiam ser tanto de carneiro (com toda a simbologia fálica que eu comentei noutros artigos) quanto de gamos (representando a iniciação dos sacerdotes dentro da tradição solar). De qualquer forma, era a personificação do poder masculino do universo. O Grande Deus. Era sempre representado vestindo peles de animais e muitas vezes com o casco de bode. Cernunnos possui as mesmas atribuições do deus Pan (grego) e do deus Pashupati (hindu). A título de curiosidade, o nome Pan vem do grego Paon, que significa “Pastor”… Ah, a ironia…
Agora… Deus chifrudo? Com pés de bode? Aparecendo nos Sabbaths? Onde a gente já ouviu falar disso? Ah, claro! A Igreja Católica espalhou pelo mundo afora que esta era a imagem do diabo (Do tinhoso! Do inominável! Do coisa-ruim!) que todos deviam
temer e fugir. Estes ataques virulentos continuam até os dias de hoje, não apenas pela Santa Igreja mas também por todas as suas descendentes evangélicas. Eles diziam (dizem) até que as bruxas transavam com bodes, com o demônio e com os outros sacerdotes durante os rituais “satânicos”.
Outra das personificações do Grande Deus era o chamado “Green man”. Uma imagem construída a partir da própria floresta, cujo rosto formado por plantas (ou um sacerdote com o corpo pintado de verde) representava a FERTILIDADE, o renascimento das plantas após o inverno…
Da parte da Deusa, as sacerdotisas representavam o poder feminino. Eu vou falar mais sobre os ritos quando falar especificamente sobre Bruxaria e as origens da Wicca. Por ora, basta dizermos que mulheres peladas dançando ao luar associadas a livres pensadores não agradavam em nada ao controle da Igreja e, desta forma, a nudez e o sexo foram automaticamente associados ao PECADO (até os dias de hoje).
Devemos grande parte disto a um babaca chamado Santo Agostinho, que por volta de 400 d.C. reescreveu a Gênesis associando a expulsão de Adão e Eva do Paraíso ao sexo e ao tal do “pecado original”.
A partir de então, bruxaria foi associada ao satanismo e qualquer desculpa era uma desculpa para mandar estas pessoas para a fogueira, e assim tem sido até os dias de hoje.
O Carnaval
Com a perseguição religiosa, os Hieros Gamos passaram a ser celebrados disfarçados de bailes de máscaras, também conhecidos como Carnavais. A origem do Carnaval remonta das Saturnálias, que eram festas romanas em honra ao deus Saturno, organizadas entre 23 de Dezembro e 6 de Janeiro, regadas a muito sexo, danças, sacrifícios aos deuses e troca de presentes entre as pessoas (Saturnalia et sigillaricia, que deu origem às trocas de presentes no natal). Para não coincidir com as festividades de Solis Invictus, os romanos acabaram jogando esta data mais e mais para a frente no calendário até chegar a janeiro/fevereiro.
A origem do nome Carnaval vem de “Carrus Navalis” (Carro Naval) simbolizando a barca de Apolo que era levada através das multidões nas ruas. Esta barca, desnecessário dizer, era a versão romana da Barca de Caronte, que por sua vez, era a versão grega da Arca da Aliança, que era a versão judaica da Barca de Ísis.
As máscaras de carnaval são versões das máscaras dos deuses egípcios nos rituais que eu mencionei aqui. Desta maneira, os sacerdotes dos deuses antigos (agora já totalmente escondidos em sociedades secretas) podiam se reunir em Bailes de Máscaras e, longe dos olhares da Igreja, realizar seus rituais em paz.
Ou seja, da próxima vez que você assistir um desfile de carnaval na televisão, lembre-se que tudo aquilo começou com as pirâmides da Atlântida e as iniciações dos Faraós… (dá vontade de chorar).
Magia sexual homossexual
Para finalizar, infelizmente, sinto dizer que não existem rituais sexuais homossexuais, por uma razão que, se vocês acompanharam estes textos desde o capítulo dos chakras, deve estar evidente. Todo o fluxo de energias sexuais, do tantra ao Hieros Gamos, opera na diferença energética entre os chakras masculinos e femininos, como uma bateria eletromagnética onde os chakras de cada participante fazem as vezes de polos positivos e negativos. No caso de APENAS pessoas do mesmo sexo (isso não vale, por exemplo, se estiverem duas mulheres e um homem ou dois homens e uma mulher em um ritual tântrico) esta conexão não funciona. É como tentar fazer uma bateria com dois polos positivos ou negativos.
As mulheres possuem uma vantagem sobre os homens neste aspecto. Durante a magia, a utilização de fluídos corporais potencializa os resultados do ritual. Em ordem de poder temos: a saliva, sêmen, líquidos vaginais, sangue e, finalmente, o mais poderoso de todos: o sangue menstrual (chamado Menstruum).
Por isso, determinados ritos femininos (as Bacantes, por exemplo) eram realizados em certas luas (e as leitoras sabem que quando muitas mulheres convivem juntas, os ciclos menstruais tendem a se alinhar). Desta maneira, as sacerdotisas estariam em seus períodos menstruais em determinados rituais e este “extra” compensa a presença de um homem.
Já para os homens, não há nada que se possa fazer.
Mas isto poderia ser contornado? Talvez, em teoria. Aleister Crowley foi um dos primeiros a estudar variações destes rituais para homossexuais masculinos, em 1874, chegando a inventar um 11º grau na OTO apenas dedicado a este tipo de magia (a OTO vai apenas até o grau 10). Oscar Wilde, George Cecil Ives e Montague Summers tentaram alguma coisa semelhante em 1899, através de uma Ordem Secreta composta apenas de homossexuais chamada “Order of Chaeronea”, que durou pouco tempo.
Talvez apenas o Dumbleodore saiba a resposta…
Alimente sua alma com mais:
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