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Bruxaria e Paganismo

A Mulher, A Igreja e a Bruxaria

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André Correia (Conexão Pagã@bercodepalha)

Nos contos de fadas, as bruxas sempre possuíram aparência decrépita e índole maléfica. Mexendo seus caldeirões com ingredientes macabros, transformando pessoas em animais, amaldiçoando vilarejos e envenenando mocinhas com a maçã do pecado original.

A história, que é viva, nos mostra que num passado de séculos, aqueles que não cediam às imposições de uma nova instituição religiosa que se apresentava, sofria grandes pressões sociais, financeiras, físicas e de saúde para que sucumbissem a nova ordem. Iniciando nos núcleos urbanos, onde os chefes de estado se encontravam, a igreja plantou a semente no coração de cada lugar, atrelando o poder de Deus ao dos líderes territoriais.

Quando a igreja começa a ganhar forças, impõe ao povoado que a fé em um Deus único e no seu filho ressuscitado é o verdadeiro caminho para a libertação, para a cura e para conquistar os reinos dos céus. Para que essa nova verdade fosse aderida pela população, era necessário encontrar ótimos motivos que motivassem as pessoas a abrirem mão da sua fé anterior para migrar para essa nova crença. Duas ferramentas foram usadas, uma muito promissora e outra bastante “incentivadora”. O que eu chamo de promissora, é que a igreja começa a pregar que os seres humanos herdarão os reinos dos céus, o paraíso e todas as benesses do divino… Mas isso só depois da morte. Aqui, na Terra, ainda era terra de ninguém. Já o motivo que chamo de “incentivador”, era algo que provocava todos a fugirem do inferno, da danação eterna e do tridente ardente do diabo: pecado, culpa e o perdão. Com isso, inicia-se então um enorme movimento de controle da mente das pessoas através de um instrumento muito poderoso e que se auto regula, o medo.

Pensa comigo: quanto mais pecados você tiver, mais medo de ir para o inferno e automaticamente você buscará a salvação na igreja. Assim, criou-se um mecanismo de dependência intelectual e moral sob os dogmas do cristianismo.

Com o comércio desvairado do perdão e das bênçãos, os pecados se tornaram cada vez mais rentáveis para a instituição que os definia, pois quanto mais “sujo” moralmente o fiel estivesse, mais ele se sentiria culpado e distante de Deus, assim buscaria a sua redenção no colo do deus pai, todo poderoso, que tem a igreja e seus sacerdotes como pedágio na autoestrada divina.
Até aqui, tudo compreendido, né? Então vamos em frente.
Quando os milagres de Deus não curavam os fiéis adoecidos, a população recorria a uma alternativa já muito conhecida e comum para todos, mas que se tornou uma opção não declarada para os males maiores. Essas mulheres sempre estiveram lá para acolher pessoas adoecidas, receitar chás, fazer partos, aconselhar, etc. Pela experiência de vida, tornavam-se muito sábias, herdeiras de conhecimentos passados oralmente por outras mulheres que vieram antes delas.
Em muitos casos, essas mulheres sábias, terminaram por transitar dentro de territórios cristãos, mimetizando as práticas da igreja, somente como uma forma de sobrevivência diante dos olhos castradores dos religiosos.
Então, pautada no princípio do pecado e na tentativa de tolher os concorrentes de Deus, a igreja torna pecado comportamentos que antes eram cotidianos e comuns para a população. Algo que era comum, como o sexo, por exemplo, se torna uma das principais ferramentas de controle do ser humano. Isso porque o sexo é instintivo, um impulso natural, seja pelo prazer ou para a procriação, é algo que está presente em todos. Assim, o sexo se tornando pecado, colocaria a culpa sobre todos os indivíduos. Mas isso não era o suficiente! Alguém teria que receber a culpa pela sexualidade também, e a mulher recebeu essa bagagem. Eram acusadas de seduzir, de atrair homens casados, de usar o sexo como ferramenta do diabo para corromper os homens.

Como o clero era basicamente formado por homens e a medicina popular praticada pelas mulheres, a igreja arrumou mais um motivo para acusá-las de vinculo com o diabo. Afinal de contas, quem não estava na igreja e curava as pessoas não poderia ser alguém do bem e essa “força” (que na verdade era a sabedoria) era transmitida por forças ocultas. Mais uma vez a mulher e o diabo levam a culpa. Dessa maneira começam as histórias famosas de bruxas em sabbaths, dançando nuas e copulando com Lúcifer.

Naquele tempo, assim como hoje, se a igreja perdesse fiéis e automaticamente dinheiro, o causador desse furo financeiro era automaticamente relacionado ao diabo. Assim, surgem as bruxas sedutoras, voluptuosas e também as bruxas decrépitas. A igreja determina que o ápice da sexualidade e sensualidade feminina é um símbolo em pecado, de expressão do diabo, pois segundo eles o sexo é sujo e os prazeres são somente por Deus. Já as senhoras, anciãs e marcadas pelo tempo, são pintadas mais fortemente com as marcas do tempo, flertando com a decadência do corpo humano no fim da sua existência. Assim, o que era digno de ser ouvido, compreendido, respeitado e honrado, se torna uma figura de repulsa e de espanto. Ledo engano, mas perpetuado pela ignorância daqueles que tem preguiça de pensar, mas que se conformam em dizer “amém”.

O sexo é sujo e a velhice desrespeitada.
Palavra do Senhor, Graças a Deus.


André Correia. Psicólogo atuante em clínica desde 2007, adepto da bruxaria eclética, construtor de tambores ritualísticos. Participa dos projetos Conexão Pagã e Music, Magic and Folklore. Coordenador do Círculo de Kildare e autor da obra musical Tambores Sagrados.

 


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