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por Eduardo Berlim.
Acredito veementemente que um bom magista deve, acima de tudo, ter um formidável arcabouço simbólico formatado em sua própria mente. Não são poucos os motivos disto, mas certamente posso destacar a comunicação com os espíritos como um dos mais evidentes. Sobre isso discorrerei no livro que venho escrevendo e esta é a primeira vez que o cito publicamente (até como uma forma de prometer a mim mesmo que o concluirei) e questiono a percepção do mago na presença das manifestações.
Ao evocar um anjo, como sua mente deve traduzir a informação daquilo que não tem forma para que você tenha certeza de sua identidade? Espíritos não falam, não possuem forma, cheiro ou identidade tal qual nós conhecemos e toda sua manifestação se dá através daquilo que nossa mente é capaz de compreender. Parafraseando a mim mesmo nesta futura obra, lhes digo:
A construção simbólica que a arte é capaz de trazer fomenta nossa mente com o arcabouço necessário ao ato mágico em si. Ao buscar o contato com um espírito bom o que você espera encontrar traduzido por sua mente, afinal? Ouvir uma voz doce como a de Idina Menzel cantando ‘Defying Gravity’ ou uma voz honesta em sofrimento como a de Tom Jobim em ‘Chega de Saudade’? Ele deve se portar como Guido de ‘La vita è bella’ ou como Jin de ‘Samurai Champloo’? Sua forma de falar deve lembrar-nos de Heitor na Ilíada ou como Lady Mcbeth de Shakespeare? O conteúdo enigmático de suas falas é mais adequado se inspirado no ‘Ortodoxia’ de Chesterton ou no ‘O Livro Vermelho’ de Carl Jung?
Compreender que a manifestação se dá através de uma espécie de dialética pessoal capaz de incluir imagens, cheiros, sons, sensações, emoções e, obviamente, diálogos é o que nos permite compreender porque certos espíritos se apresentam com diferentes formas para diferentes magos. Aqueles que transcendem seus próprios limites internos através da arte e do estudo me parecem mais capazes de compreender o que de fato manifestaram. Afinal, o Anjo que você chamou é de decretos positivos ou negativos? Bem, se seu Coro se manifesta com a voz de Pat Bateman existem problemas um tanto claros na tua evocação…
Proponho aqui um breve exercício de ampliar este nosso arcabouço através de algumas músicas pontuais. Cada uma delas possui um claro motivo de escolha e lhes legarei um breve trecho dando indicações do que pode ser buscado. É óbvio que há muito mais além do que cito aqui e que encontrar suas próprias conclusões é um fator crucial na formatação daquilo que cabe à cada um de vocês. Só estou aqui dando um leve empurrão inicial, pois sair da inércia é o que nos faz desafiar a gravidade.
Como lhes parece o caminho para os rumos celestes? Você crê que a Escada de Jacó é circular ou persiste que há alguma forma de comprar um caminho para o paraíso? Você dança quando o flautista lhe convida para subir uma escadaria de vento sussurrante ou toda agitação no teu ser uma limpeza de uma Ostara primaveril? O que isso te faz pensar, afinal?
Pode parecer estranho a primeira escuta, mas você é capaz de compreender os pormenores de uma música tão simples? Perceba que compreender os pormenores, as pequenas metáforas e poesias escondidas, é o que permite compreender a mensagem dos anjos ou do Liber Al Vel Legis. Consegue perceber que o menino juntava moedas para comprar seu berrante e imitar o boiadeiro? E consegue perceber que, ao juntar todas as moedas e ter seu berrante, o menino foi imitar seu herói atrás de um “boi sem coração”? Ou mesmo que o rangido triste da porteira após ver a imagem do menino é o berrante do menino desejando boa viagem ao boiadeiro?
As canções que são capazes de nos apresentar verdadeira magia e nos fazer viajar por lugares inimagináveis possuem um lugar especial no coração do divino. Todo um Novo Mundo se apresenta aos ouvidos atentos em buscar a verdadeira magia que existe dentro da Arte – e o tio Disney é possivelmente um dos maiores magos que já existiu e Alan Menken é um aprendiz de feiticeiro formidável. Se você não sabe como é a sensação de voar é porque não ouviu esta canção com atenção o bastante…
Mas voar é diferente de desafiar a gravidade! E o Mago deve ser capaz de mais do que operar milagres, deve ser capaz de desafiar as leis naturais propriamente! Existem tantos ensinamentos mágicos nesta canção que eu pretendo deixar apenas um bastante explícito: o Mago deve compreender quando as mudanças em si mesmo lhe fazem desejar algo diferente e deixar para trás o que não mais lhe serve!
Como é a tal “uma religião universal que só os homens não têm”? Oswaldo Montenegro questiona tudo o que lhe foi contado sobre a criação de Deus botando sua própria Lógica da Criação para fora. Ele questiona os planos divinos tais quais nos são apresentados, questiona as religiões e questiona a si mesmo, mas faz tudo isso compreendendo que o Criador não pertence a nenhum ser humano, fé ou religião particular, mas a todos os que Dele se aproximam.
Compreender a si mesmo é outra daquelas tarefas árduas do mago na medida em que nossa complexidade emocional é tema de estudos e conclusões erradas por toda a história humana. Tristeza e alegria podem concomitar e por vezes “vestir a fantasia” não lhe será o bastante para atuar. Afinal, você é apenas um palhaço! (quem disse foi Pavarotti, não eu).
“O amor é um pássaro rebelde que nada pode domar e é em vão para ser chamado se ele recusar”. Para quem já trabalhou com a linha das Ciganas essa música é um prato cheio para compreender a complexidade do amor que guarda a si mesmo em um cofre no coração. Inclusive costumo me perguntar se Anna Antonacci não está incorporada cantando isso…
Quando tratamos de músicas meramente instrumentais a dificuldade pode aumentar para ouvidos desacostumados, mas não são poucos os que conheci que compreendem que devem alguns trocados a Debussy pela efetividade de suas magias lunares. No momento em que seus ouvidos lhe permitem distinguir as quatro fases lunares e as estações do ano dentro desta belíssima canção, você certamente estará capacitado a ver uma beleza sem igual.
E já que estamos falando de grandes mestres, você é capaz de compreender que John Williams transformou o maravilhamento em notas musicais? Se você é como eu, certamente ficaria encantado se encontrasse dinossauros reais em um parque, mas no que esse maravilhamento é diferente daquele ritual de teurgia onde toda a criação natural do Universo se encontra brevemente no teu âmago?
E é claro que não poderia deixar de trazer algo para todos os amigos onironautas e suas viagens fantásticas. Conheço um ou dois que tiveram a experiência do sonho dentro do sonho e eles certamente acreditam que Hans Zimmer deve ter passado por algo similar, pois a perfeição de sua descrição auditiva é realmente impressionante. Deite-se confortavelmente, coloque a soundtrack inteira deste filme e respire lentamente em tempos de sete para ter uma boa viagem. Se você é das fragrâncias, um óleo essencial de lavanda ou um incenso de dama-da-noite lhe serão muito bem-vindos…
E pra ter um metalzinho também (ninguém é de ferro, né?), que tal compreender o processo de transformação pessoal através do teatro dos sonhos? Essa letra é capaz de trazer tantos significados através de uma poesia particular que atinge com contundência a alma dos que buscam o aperfeiçoamento pessoal alquímico, cabalístico, astrológico ou o que diabos for!
Eduardo Berlim é músico, tarólogo e estudante de hermetismo com vasta curiosidade. Tem apetite por uma série de correntes diferentes de magia e se considera um eterno principiante. Assumidamente fanboy dos projetos da Daemon e das matérias do Morte Súbita inc.
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