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Sobrevivendo no Inferno, Racionais MC’s

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Guardem as pedras. Todo top 100 deve vir equipado com alguns maus exemplos e este é o caso dos Racionais MC’s. Este disco obviamente não deve fazer parte de sua coleção para degustar os sentidos musicais ou a ideologia satânica, mas serve como um alerta da mais recente e desprezível face da moral judaico-cristiã, o Estado Paternalista. O estado no qual mérito não vale nada e as pessoas são protegidas das conseqüências de suas próprias decisões.

Não é a toa que a cruz um salmo estão na capa desta álbum. Sinais claros de que aqui é terra de podridão. Considere: Uma infinidade de famílias recebe sustento do governo, via Bolsa Família e outras esmolas eletrônicas pelo único e simples fato de existirem. Ao invés de ensinar as pessoas a caminharem com as próprias pernas, com escolas de qualidade e uma economia competitiva, a caridade estatal patrocina a vagabundice e conseqüentemente o crime e a pobreza. E o roubo diário em seu bolso premiando a falta de planejamento familiar e cultivando o parasitismo social é menor dos nossos males.

Considere apenas que não importa o quanto alguém tenha roubado, matado e estuprado, por lei o tempo total que um brasileiro pode passar na prisão nunca pode ser superior a trinta anos. Destes os prisioneiros cumpre em média apenas seis anos e saem por bom comportamento e demais benefícios.  O estado e oficialmente laico, mas a influência cristã é tão grande que os prisioneiros têm direito ao “indulto de natal”, um dia de liberdade para rever suas famílias. Todo Natal o Estado nos dá de presente milhares de criminosos dos quais uma boa parcela, obviamente não retornam mais.

Opondo-se a glamorização do crime de grupos como Racionais MC, o satanismo propõe uma ideologia severa e exige castigo e punição para aqueles que traíram a confiança da sociedade. Talvez seja hoje a única religião que ainda se recuse a passar a mão na cabeça dos assassinos. Enquanto houver neste país, covardes a ponto de não instituírem campos de extermínio no lugar de hotéis superlotados que soltam monstros pelas janelas seremos alvos desses caras que vão te esperar no próximo sinal vermelho com uma arma na mão e um cruz no pescoço.

Mesmo se seu próximo semáforo estiver livre, considere o roubo que acontece durante todo o ano. De acordo com estimativas do Departamento Penitenciário Nacional, cada presidiário custa em média $ 1.500 por mês no bolso do contribuinte. Em 2006 haviam 361 mil presidiários em todo o país, assim estamos falando de um gasto de R$ 6,5 bilhões por ano. Um valor altíssimo, especialmente quando comparado com o preço de uma injeção letal. Responda então sinceramente: porque obrigá-los a sobreviver no inferno se uma simples aplicação intravenosa pode levá-los para o céu?

Racionais MC’s ( Diário de um detento ) Sobrevivendo no Inferno

 

 

São Paulo, dia 1º de outubro de 1992, 8h da manhã.
Aqui estou, mais um dia.
Sob o olhar sanguinário do vigia.
Você não sabe como é caminhar com a
cabeça na mira de uma HK.
Metralhadora alemã ou de Israel.
Estraçalha ladrão que nem papel.
Na muralha, em pé, mais um cidadão José.
Servindo o Estado, um PM bom.
Passa fome, metido a Charles Bronson.
Ele sabe o que eu desejo.
Sabe o que eu penso.
O dia tá chuvoso. O clima tá tenso.
Vários tentaram fugir, eu também quero.
Mas de um a cem, a minha chance é zero.
Será que Deus ouviu minha oração?
Será que o juiz aceitou a apelação?
Mando um recado lá pro meu irmão:
Se tiver usando droga, tá ruim na minha mão.
Ele ainda tá com aquela mina.
Pode crer, moleque é gente fina.
Tirei um dia a menos ou um dia a mais, sei lá…
Tanto faz, os dias são iguais.
Acendo um cigarro, vejo o dia passar.
Mato o tempo pra ele não me matar.
Homem é homem, mulher é mulher.
Estuprador é diferente, né?
Toma soco toda hora, ajoelha e beija os pés,
e sangra até morrer na rua 10.
Cada detento uma mãe, uma crença.
Cada crime uma sentença.
Cada sentença um motivo, uma história de lágrima,
sangue, vidas e glórias, abandono, miséria, ódio,
sofrimento, desprezo, desilusão, ação do tempo.
Misture bem essa química.
Pronto: eis um novo detento
Lamentos no corredor, na cela, no pátio.
Ao redor do campo, em todos os cantos.
Mas eu conheço o sistema, meu irmão, hã…
Aqui não tem santo.
Rátátátá… preciso evitar
que um safado faça minha mãe chorar.
Minha palavra de honra me protege
pra viver no país das calças bege.
Tic, tac, ainda é 9h40.
O relógio da cadeia anda em câmera lenta.
Ratatatá, mais um metrô vai passar.
Com gente de bem, apressada, católica.
Lendo jornal, satisfeita, hipócrita.
Com raiva por dentro, a caminho do Centro.
Olhando pra cá, curiosos, é lógico.
Não, não é não, não é o zoológico
Minha vida não tem tanto valor
quanto seu celular, seu computador.
Hoje, tá difícil, não saiu o sol.
Hoje não tem visita, não tem futebol.
Alguns companheiros têm a mente mais fraca.
Não suportam o tédio, arruma quiaca.
Graças a Deus e à Virgem Maria.
Faltam só um ano, três meses e uns dias.
Tem uma cela lá em cima fechada.
Desde terça-feira ninguém abre pra nada.
Só o cheiro de morte e Pinho Sol.
Um preso se enforcou com o lençol.
Qual que foi? Quem sabe? Não conta.
Ia tirar mais uns seis de ponta a ponta (…)
Nada deixa um homem mais doente
que o abandono dos parentes.
Aí moleque, me diz: então, cê qué o quê?
A vaga tá lá esperando você.
Pega todos seus artigos importados.
Seu currículo no crime e limpa o rabo.
A vida bandida é sem futuro.
Sua cara fica branca desse lado do muro.
Já ouviu falar de Lucífer?
Que veio do Inferno com moral.
Um dia… no Carandiru, não… ele é só mais um.
Comendo rango azedo com pneumonia…
Aqui tem mano de Osasco, do Jardim D’Abril, Parelheiros,
Mogi, Jardim Brasil, Bela Vista, Jardim Angela,
Heliópolis, Itapevi, Paraisópolis.
Ladrão sangue bom tem moral na quebrada.
Mas pro Estado é só um número, mais nada.
Nove pavilhões, sete mil homens.
Que custam trezentos reais por mês, cada.
Na última visita, o neguinho veio aí.
Trouxe umas frutas, Marlboro, Free…
Ligou que um pilantra lá da área voltou.
Com Kadett vermelho, placa de Salvador.
Pagando de gatão, ele xinga, ele abusa
com uma nove milímetros embaixo da blusa.
Brown: “Aí neguinho, vem cá, e os manos onde é que tá?
Lembra desse cururu que tentou me matar?”
Blue: “Aquele puta ganso, pilantra corno manso.
Ficava muito doido e deixava a mina só.
A mina era virgem e ainda era menor.
Agora faz chupeta em troca de pó!”
Brown: “Esses papos me incomoda.
Se eu tô na rua é foda…”
Blue: “É, o mundo roda, ele pode vir pra cá.”
Brown: “Não, já, já, meu processo tá aí.
Eu quero mudar, eu quero sair.
Se eu trombo esse fulano, não tem pá, não tem pum.
E eu vou ter que assinar um cento e vinte e um.”
Amanheceu com sol, dois de outubro.
Tudo funcionando, limpeza, jumbo.
De madrugada eu senti um calafrio.
Não era do vento, não era do frio.
Acertos de conta tem quase todo dia.
Ia ter outra logo mais, eu sabia.
Lealdade é o que todo preso tenta.
Conseguir a paz, de forma violenta.
Se um salafrário sacanear alguém,
leva ponto na cara igual Frankestein
Fumaça na janela, tem fogo na cela.
Fudeu, foi além, se pã!, tem refém.
Na maioria, se deixou envolver
por uns cinco ou seis que não têm nada a perder.
Dois ladrões considerados passaram a discutir.
Mas não imaginavam o que estaria por vir.
Traficantes, homicidas, estelionatários.
Uma maioria de moleque primário.
Era a brecha que o sistema queria.
Avise o IML, chegou o grande dia.
Depende do sim ou não de um só homem.
Que prefere ser neutro pelo telefone.
Ratatatá, caviar e champanhe.
Fleury foi almoçar, que se foda a minha mãe!
Cachorros assassinos, gás lacrimogêneo…
quem mata mais ladrão ganha medalha de prêmio!
O ser humano é descartável no Brasil.
Como modess usado ou bombril.
Cadeia? Claro que o sistema não quis.
Esconde o que a novela não diz.
Ratatatá! sangue jorra como água.
Do ouvido, da boca e nariz.
O Senhor é meu pastor…
perdoe o que seu filho fez.
Morreu de bruços no salmo 23,
sem padre, sem repórter.
sem arma, sem socorro.
Vai pegar HIV na boca do cachorro.
Cadáveres no poço, no pátio interno.
Adolf Hitler sorri no inferno!
O Robocop do governo é frio, não sente pena.
Só ódio e ri como a hiena.
Ratatatá, Fleury e sua gangue
vão nadar numa piscina de sangue.
Mas quem vai acreditar no meu depoimento?

Dia 3 de outubro, diário de um detento.”

Tradução de Diário de um Detento

Eu podia tá matando..
Eu podia tá roubando…

 

Nº 88 – Os 100 álbuns satânicos mais importantes da história


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