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por Eduardo Berlim
Seria uma insanidade completa alegar que a música, dentre todas as artes, é uma das que mais influencia nos nossos estados de ânimo. O pior dos críticos à música popular é tão movido a se mover ao som do “batidão” quanto o menos culto dos ouvintes é de se emocionar com a Lacrimosa de Mozart. Independe de nossa vontade o poder que a música tem de nos influenciar e eu julgo impossível que alguém viva em um mundo disperso de música – mesmo os que alegam “não serem fãs de música” costumam buscar formas de artes como séries, filmes, animes e animações.
O poder exercido pela música é tamanho em nós humanos que é possível dizer, sem qualquer chance de erro, que com a trilha sonora correta o terrificante filme ‘It’ tornar-se-ia uma comédia com a trilha adequada. E se você realmente duvida disso, sou obrigado a lhe recomendar este pequeno vídeo que adiciona músicas engraçadas à cenas de terror clássicas:
Ou mesmo este exemplo de como uma cena de ‘O Rei Leão’ pode passar as mais diferentes emoções apenas com a troca da trilha sonora:
A música enquanto ferramenta de narrativa é possivelmente uma das mais antigas formas de arte humana. O que provavelmente se iniciou com imitação de sons dos animais ou com algum tipo de ritmo corporal, hoje toma uma proporção infinita com grande gama de instrumentos e possibilidades. No cinema, grandes nomes como Hans Zimmer e John Williams recebem contratos milionários por sua capacidade de nos imergir em universos fantásticos de forma natural. O mesmo ocorre no mundo da música pop, em que produtores e arranjadores com altos níveis de capacidade criativa e narrativa são muito bem pagos para arquitetar paisagens sonoras marcantes.
Não há Beatles sem George Martin da mesma forma que não há Michael Jackson sem Quincy Jones e é a essa capacidade específica a qual Robert Jourdain se refere em seu livro “Música, Cérebro e Êxtase”: a criação de paisagens sonoras perfeitas, capazes de qualquer mudança no ser humano.
É fácil arriscar dizer que uma nove dentre dez pessoas se sentirá automaticamente triste ao ouvir o inebriante Noturno Op. 9, no. 2 de Chopin ou que seu Estudo Op. 10, no. 3 (Tristesse) trará algum tipo de lamento fúnebre. Da mesma forma, dificilmente um anime como ‘Tokyo Ghoul’ poderia ser tão emblemático sem sua “Unravel” ou que Naruto construiria seus climas melancólicos sem sua “Sadness and Sorrow”. Mesmo em outra mídia, o mangá da obra ‘One Piece’ fez questão de trazer a música “Binks no Sake” para aumentar a imersão na obra, fazendo com que fãs do mundo inteiro criassem as mais impressionantes teorias a partir da parte musical de uma mídia escrita.
Da mesma forma, o Tony Stark dos cinemas precisou de uma ajudinha do AC/DC, Donnie Darko do Tears for Fears, Shrek do Smash Mouth e O Guarda-Costas de Whitney Houston. Isso sem falar de trilhas capazes de te afundar completamente em um filme como as presentes em Interestelar e A Origem. E olha que não cheguei nem a apelar e falar de filmes como Rocky…
Quando falamos de ritualística nos trabalhos de magia, falamos especificamente de uma série de condições que precisam te levar ao estado correto para um determinado fim. Isso inclui não somente os preparos para uma evocação ou cerimônia, mas também alcançar o estado de espírito correto para uma demanda teúrgica ou taumatúrgica. Incensos, velas, aromas e até lâmpadas inteligentes coloridas costumam fazer parte do psicodrama do próprio ritual, de forma que tudo conflua em direção ao estado alterado de consciência exigido ao operador.
Mas também não é incomum encontrarmos rituais que buscam um momento de catarse para se chegar na emoção adequada ao pedido a ser realizado. E é justamente aqui que a música pode ter um papel fundamental na prática mágica, levando o magista ao estado emocional perfeito sem que ele precise de qualquer esforço adicional.
É óbvio que existem sentimentos bastante pessoais e nem toda melodia funcionará adequadamente com qualquer ouvinte. Conforme Jourdain expõe em seu livro, não é tão difícil encontrar uma música triste ou que altere seu estado de ânimo positivamente, mas criar a melodia que faça um cliente fechar um aluguel de trinta meses contigo já é uma história bastante diferente. Teoricamente, combinações musicais são capazes de qualquer coisa, mas isso passa de ser simples.
Não descarto que ‘Money’ do Pink Floyd possa ser uma ótima pedida para aquela taumaturgia leve para ajudar com as contas no fim do mês ou que ‘While My Guitar Gentle Weeps’ possa ser parte de um trabalho que vise harmonizar o lar. Ter uma lista de músicas adequadas a si mesmo e suas próprias ritualísticas é uma ferramenta bastante poderosa para alcançar a catarse emocional adequada, o “estado de espírito” necessário para a comunicação com os seres evocados. Afinal, terreiros e igrejas nunca descartaram o uso de música, da mesma forma que sinagogas e mesquitas jamais o fizeram também.
Fora a vantagem natural da música na formação do imaginário e do repertório criativo do mago, mas isso é assunto para outro texto…
Eduardo Berlim é músico, tarólogo e estudante de hermetismo com vasta curiosidade. Tem apetite por uma série de correntes diferentes de magia e se considera um eterno principiante. Assumidamente fanboy dos projetos da Daemon e das matérias do Morte Súbita inc.
Alimente sua alma com mais:
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Uma resposta em “O uso da música como catarse emocional ritualística”
Como escrevo vendo isto como um Ato Mágicko, a Música tem um papel muito importante porque me faz entrar em um Transe apropriado para atingir sempre o que posso atingir com as Letras. Em Ritos, estou pensando em adicionar algumas sonoridades…