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Ghost: o sublime em Satanás

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O álbum de estreia de Ghost, ‘Opus Eponymous’ começa com uma primeira faixa composta de um minuto e meio de um inesperado e estranhamente belo órgão eclesial. A nona faixa de encerramento é um instrumental que traz à mente palavras como ‘épico’ e ‘magnífico ‘ a mente  e também possui uma sequência espirituosa de órgão. O que acontece entre essas duas faixas separa completamente Ghost de qualquer outra banda do metal.

A banda nasceu na Suécia em 2008 e rapidamente ganhou o amor ou o ódio do resto do planeta. Mesmo que não os conhece, os reconhece, pois podem ser facilmente identicados: cinco dos seis membros do grupo se vestem com mantos negros enquanto o vocalista é uma cadavérica encarnação do Papa do Inferno. Seus nomes e identidades reais sequer são conhecidos. O Vocalista apenas chama a si mesmo de “Papa Emeritus” e os demais membros de Ghouls. Já houveram duas versões do Papa Emeritus. Embora seja quase certo tratar-se do mesmo vocalista cada versão é supostamente um personagem completamente diferente. Papa Emeritus II recebeu o manto de seu precessor em 2012. O fato de terem aparecido juntos em dezembro de 2012 lança ainda mais dúvidas quando a quem está por trás da fantasia. Sobre o anonimato do grupo, um dos Ghouls disse em uma entrevista que “Eu não acho que isso realmente importe porque nós não somos de nenhuma banda grande como as pessoas tendem a acreditar.  Basta ver que não há muita herança de outras bandas suecas brilhando em nossa músicas.”

Este grupo de cavalheiros suecos nos trouxe um álbum de metal tradicional psicodélico com Opus Eponymous que só posso dizer, cheira a autenticidade. Os tambores de condução, os riffs melódicos e – o ainda não arrogante – vocal soar mais como um álbum do final da década de 70 do que de qualquer coisa que tenha sido trazido a luz recentemente. Enquanto Ghost demonstra uma habilidade incrível para escrever música que combina um baixo impactante com uma melodia única, o que realmente define a banda à parte são as letras. Para colocar de modo simples: essas letras são totalmente satânicas. A primeira palavra ouvida em gritos no álbum é ” Lucifer” e cada música está relacionado de uma maneira ou de outra a blasfêmias, heresias, sacrilégios e principalmente a Satanás, o Diabo ou alguns de seus demônios.

É verdade que letras satânicas não são nenhuma novidade no rock e o heavy metal em especial possui uma longa tradição de satanistas declarados. Mas existe uma diferença fundamental aqui. Em geral o gênero é geralmente tão dependente de gritos ou outros tipos de sons guturais que a letra só pode ser mesmo satânicas, isso quando podemos entendê-las. Mas não é assim com Ghost. Todos os vocais de Opus Eponymous são cristalinos e brindam o ouvinte com preciosidades tão líricos como:

“this chapel of ritual
smells of dead human sacrifices
rom the altar,”

“Esta capela de ritual /
cheira a sacrifícios humanos mortos
para o altar”

Ghost e Satanismo

E enquanto outras bandas de temáticas satânicas combinam sua adoração com música decididamente tenebrosa e extrema, a música de Ghost é honestamente muito bela. Quem entre seus críticos diz o contrário apenas mente. Mesmo quando o Ghost está recitando uma versão bastarda da oração “Pai Nosso” em “Ritual “, há ainda um grau de melodia que é impossível não apreciar, mesmo que você se odeie por isso. Este parece ser o truque de Ghost: ele sabe que sairá ganhando com suas bizarras e desconfortáveis
combinações de arte e heresia. Ao invés de lutar contra isso  a banda abraça a bizarrice e leva suas canções aos limites . O fato de que algumas suas harmonias mais belas ocorrem nas letras absolutamente mais blasfêmicas e perversas é uma prova disso.

Sobre sua relação com o satanismo temos a curta declaração de um Ghoul a revista Noisey “Se acreditamos em Satã? A única coisa que importa é que ele acredita em nós.”. Com mais palavras e filosofia o Papa Emeritus disse Pitchfork Media:

“Tematicamente, obviamente, é o alpha e o omega, é isso que estamos fazendo. O tipo de satanismo ou adoração ao diabo, que nós queremos retratar com Ghost é a antiga versão bíblica de adoração ao bode, aquele tipo de coisa que você vê nos filmes sobre o Pânico Satânico. E obviamente no teatro que é Ghost, tudo é feito para passar a experiência da adoração diabólica tradicional. Como parte da platéia você pode escolher acreditar no que você quiser.  Você pode escolher participar disto ou não.”

Há algo além disso que nos diferencia da maior parte das bandas de metal que também possuem algum tipo de interesse satânico. Muitos deles exigem uma postura de seus fãs, onde em várias ocasiões pregam que eles sejam tão devotados quando eles são. E há sempre um certo tipo de mensagem do tipo “Matem-se”. Enquanto isso nós somos como um reflexo no espelho, onde estamos tentando simplesmente refletir a “religiosidade”. Nós estamos basicamente recriando a Igreja Católica para o Diabo. E nós estamos fazendo isso porque esta é uma forma poderosa de fazer vocês e nós cientes da solenidade e seriedade disso, porque um cardeal, um clérigo, e uma Igreja é algo que as pessoas do ocidente associam com autoridade. Mesmo os ateus largam suas armas quando entram numa igreja, porque existe algo em seus domínios. Há algo entre seus muros que muitas pessoas entendem como poder. Algumas pessoas chamam isso de “Deus”, mas há muitas outras palavras para isso.

E este é um dos aspectos que nós estamos tentando tocar e nós estamos jogando com a ideia de divindade. Nós estamos usando os simbolismo diabólico como uma ferramenta mental pois isso é algo que vai além do intelecto. Considere que Ghost nasceu em um mundo pop-cultural onde rock n’ roll, vinil e filmes de horror são uma religião. E é por isso que é tão difícil de falar do que é divino na perspectiva de uma pessoa formada assim. Ghost trata de um tipo de devoção que só os jovens podem ter seja ao bode, à Deus ou aos homens. E este é o tipo de devoção que hoje os jovens só tem para os filmes de horror, os jogos violentos e o rock. Então faz muito sentido nossa proposta.”

“O Diabo e todo tipo de liturgia invertida, têm um apelo nos jovens – não no sentido de ser jovem, mas de apelar para aquela parte mais jovem dentro de cada um, ele toca o nervo – e eu penso que isso prova o nosso ponto”, completou um dos Ghoul em entrevista a Westword

Infestissumam

 

O grupo lançou seu segundo álbum Infestissumam em 2013 que não mudou a receita. Na verdade existe uma relação entre as duas orbras como Papa Emeritus II explicou:

“Tudo no primeiro álbum era sobre a chegada das trevas, uma danação que não pode ser parada. O novo álbum trata-se de algo presente, e literalmente, o novo álbum lida com a presença do Anti-Cristo, o Diabo. A última faixa de Opus Eponymous se chama “Genesis”, é o nascimento do Anti-Cristo e Infestissumam continua do nascimento do Anti-Cristo em diante.”

Para a gravação da segunda obra, que o correu inicialmente no Tennessee, o grupo teve dificuldades para encontrar grupos corais que concordassem em cantar suas letras e eventualmente tiveram que mudar de cidade. Da mesma forma tiveram problemas para encontrar gráficas para seus encartes o que atrasou consideravelmente o lançamento.

Quando questionados em uma entrevista se esta outra obra seria mais “amigável para tocar nas rádios” um dos Ghouls respondeu que eles já haviam sido banidos das maiores redes de lojas dos Estados Unidos e que a maior parte das estações de rádio e tv se recusavam a tocá-los, e concluiu “Então, sim, a América mainstream está nos esperando de pernas abertas.”

Podemos dizer que Ghost é uma banda de black metal? Ou mesmo de metal? Talvez não no sentido tradicional.

Os elementos progressivos são evidentes entre outras influências. Em entrevista a  Fullmetal Jackie Radio um Ghoul anônimo assim definiu o gosto do grupo:

“Nós escutamos muitos tipos diferentes de música o tempo todo e temos feito isso por muito tempo. Muito da pureza do metal vem de nossa perspectiva do metal, mas muitas coisas vieram antes. De acordo com nossa experiência este é o caminho para fazer uma experiência sonora prazeirosa, é sempre mais interessante a diversodade – você não pode comer a mesma comifa todo o tempo, seu intestino morreria (Risadas) Eu acho que é o mesmo com nossas mentes, mas claro,  isso é com cada um. As pessoas são movidas por diferentes coisas, nós apenas amamos muito a música.”

Mas se todos os aspectos de sua obra forem levado em conta, a atmosfera eclesial introduzida com o órgão, as letras em latim e seu conteúdo sinistro como um todo, o resultado é incrivelmente impressionante. Tanto Opus Eponymous como Infestissumam fazem você se sentir trancado no Templo de Satã com um artistas que se recusam a parar de tocar músicas para celebrar o diabo. Mas o que mais incomoda não é a música que está sendo tocada, mas o fato de você não querer que ele parem.


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