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S’ – S ≥ 0 – A Abolição da Emancipação (4 de 8)

Leia em 8 minutos.

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Schopenhauer em um belo dia, ou pode ter sido em uma bela tarde, inspirado por aquele maravilhoso sentimento que o tornou mundialmente conhecido declarou que “cada um acredita de si mesmo a priori que é perfeitamente livre, mesmo em suas ações individuais, e pensa que a cada momento pode começar outra maneira de viver […]. Mas a posteriori, através da experiência, ele descobre, para seu espanto, que não é livre, mas sujeito à necessidade, que apesar de todas as suas resoluções e reflexões ele não muda sua conduta, e que do início ao fim da sua vida ele deve conduzir o mesmo caráter o qual ele mesmo condena.”

Muitos podem considerar isso extremamente pessimista ou de mau gosto, mas a vida costuma ser assim para as pessoas que tentam ignorar os fatos. Lembra-se daquela proposta de exercício no primeiro capítulo? Voltamos a sugerí-la aqui: tente passar um dia andando pelas ruas sem as calças. Se acha isso extremo então um exercício mais simples.

Para os meninos: Compre um sapato de salto de 17cm e passe uma semana andando só de salto alto.

Para as meninas: Desenhe um bigode como o de salvador Dali no rosto e use o bigode por uma semana.

Caso queira aceitar a proposta simplesmente pare de ler, e depois de uma semana imprima este texto e o queime sem ler o resto. Caso ache isso um absurdo ou uma piada de mal gosto continue lendo.

Sabe por que você não consegue fazer isso?

Como já vimos Thomas Huxley certa vez, tomado pelo êxtase da ciência, escreveu que o mundo é um tabuleiro de xadrez, as regras do jogo são as leis da natureza, as peças são os fenômenos da natureza e que nós disputamos partidas com um adversário desconhecido, a única coisa que sabemos sobre ele é que “seu jogo é sempre imparcial, justo e paciente. Mas também sabemos, à nossa custa, que ele nunca deixa passar um erro nem dá a menor margem para a ignorância”.

Esta é uma visão particularmente bela e idiota das coisas. Claro que se você também está se inflamando com o éxtase da ciência pode concordar, ou achar bonito e tal, mas a verdade é um pouco mais fria e prática do que isso. Se o tabuleiro é o mundo (universo), as regras do jogo são as leis da natureza e as peças são os fenômenos da natureza é muita presunção nossa achar que estamos jogando este jogo. Nesta visão, a proporção correta seria nos colocar como as peças de xadrez que as peças maiores jogam. Nós não jogamos o jogo, somos jogados por ele.

Você se sente cansado ou cansada de parecer sempre dar mais do que obtém de volta? Parece que sempre trabalha mais do que devia, se envolve mais do que devia, se exercita mais do que devia e em troca ganha menos reconhecimento do que acha que merece, menos dinheiro do que acha que merece, menos afeto, menos respeito, perde menos peso do que deveria, etc? Se você se sente assim não se preocupe, isso está 100% correto.
Não importa o quanto você leia livros como O Segredo, vá a pais de santo, reze, ore, peça, se prostitua. Você vive em um universo regido por leis que ditam que você não podem tirar mais do que investe em algo. Na verdade você não pode nem tirar a mesma coisa que investiu. É como se a sua vida fosse o novo notebook da Apple ou o novo carro lindo que saiu no mercado. Agora isso tudo parece a coisa mais batuta do mundo, mas espere uma semana e tente revender pelo mesmo preço que você gastou para comprar e o que acontece? “Desculpe, sabe como é, isso já está meio ultrapassado, e usado, e pra que vou pagar um preço próximo de um novo, por mais novo que isto esteja, se por um pouco a mais posso comprar um novo de verdade?” E se você acha isso injusto responda sinceramente se você pagaria o preço integral por um carro que foi usado por uma semana apenas ou se tentaria pechinchar ou ainda preferiria gastar o mesmo dinheiro comprando um carro que não foi usado nem uma semana.

Sabe por quê?

Por causa d’Ela. De novo. Cedo ou tarde você vai ter que entender, como Alice entendeu, que todos os caminhos pertencem à Rainha Vermelha.

Todo o universo é o resultado de tranformações e processos. Se não fosse assim o esperma de seu pai nunca se uniria ao óvulo se sua mãe naquela tarde delirante de sexo selvagem, dando origem a você. Ou uma semente não viraria uma árvore. Ou as lâmpadas da sua casa não se acenderiam quando você apertasse o interruptor. Ou o esperma… perdão, já falamos de sua mãe pelada. Enfim, sem processos e tranformações não haveria água, já que átomos de hidrogênio não se uniriam a átomos de oxigênio, e em um universo sem água não podemos fazer sucos, refrigerantes ou cerveja e isso seria impensável.

Chamamos de processo o momento em que as propriedades de um sistema mudam, ou sempre que há uma mudança entre estados de equilíbrio. Mas eles não acontecem espontaneamente. Para que um processo ocorra é necessário que se invista energia. Quer tranformar um gelo em água? Adicione calor. Quer tranformar uma carteira vazia em uma carteira cheia? Adicione trabalho. Quer tranformar ovos em omeletes? Adicione energia cinética aos ovos, um pouco de sal, um pouco de queijo e talvez orgégano e então adicione calor. Toda situação em que energia é empregada para que se crie um processo e surjam transformações, obedece a 4 princípios básicos:

0- Dado tempo suficiente, um sistema isolado atingirá um estado final – o estado de equilíbrio;
1- A energia do Universo é constante (energia não cresce em árvores, nem brota do nada);
2- A entropia do Universo tende a um máximo, em sistemas isolados, transformações que impliquem uma diminuição em sua entropia jamais ocorrerão;
3- A entropia de uma substância cristalina pura na temperatura zero absoluto é zero;

[Pausa técnica]

Originalmente, “entropia” (troca interior) surgiu como uma palavra cunhada do grego de “en” – em, sobre, perto de – e “tropêe” – mudança, o voltar-se, alternativa, troca, evolução. Ela é utilizada para se determinar o “grau de desordem” de um sistema.

[Fim da Pausa Técnica]

Se formos traduzir esses quatro princípios básicos para linguagem mais leiga e vulgar podemos escrever:

0- Você tem que entrar no jogo
1- Você não consegue ganhar
2- Você não consegue empatar
3- Você não consegue parar de jogar

Parece injusto? Claro que sim! Justiça é um conceito humano criado na espectativa de se viver uma ilusão de que todos os seres – cidadãos de uma mesma  sociedade – são iguais. Se todos são iguais, tem direitos iguais. Lembra-se do sistema de casamento dos Karimera? Ele foi criado obedecendo, mesmo que instintivamente, à simetria dos Grupos. A justiça também é um conceito que visa se manter a simetria de um grupo criando aproximações para todos os elementos dos grupo. Justiça é uma idéia matemática que parte do principio básico de um acordo que objetiva criar e manter a ordem de um sistema. O problema é que fomos embutidos com um mecanismo que nos faz colocar a nós mesmos acima da média, criaturas dignas de uma justiça um pouco diferente da justiça geral e por isso acabamos achando que um sistema que não nos dê uma chance de vencer é injusto, a maior prova disso é a necessidade da criação de mecanismos “artificiais” para podermos medir o grau de justiça de um processo – esses mecanismos são conhecidos como “tribunais”.

As quatro regras básicas descritas acima, que são o sonho erótico de qualquer dono de cassino, originalmente foram “criadas” para se explicar sistemas termodinâmicos, tanto que elas são conhecidas hoja como as quatro leis da termodinâmica, e eram usadas para se explicar como o calor fazia engenhocas funcionarem. Com o tempo começaram a notar que elas não se aplicavam apenas a caldeiras e a cilindros cheios de gás, mas a tudo na vida. Nos anos 1980, Jeremy Rifkin, o presidente da Foundation On Economic Trends, publicou um livro entitulado Entropia, onde apresentou a tendência universal de todos os sistemas – incluídos os econômicos, sociais e ambientais – a passar de uma situação de ordem à crescente desordem. Desta forma torna-se claro aquele eterno conselho de: “trabalhe em algo que goste, viva com quem você ama, faça o que te dá prazer!” Caso contrário tudo o que fizer resultará em você gastar energia e tempo que não conseguirá de volta em algo que não te dá um retorno necessário. Quando fazemos o que gostamos ou estamos com quem gostamos, na verdade estamos criando um sistema onde conseguimos “gerar mais energia” e podemos esperar ter um retorno um pouco maior no “investimento” – já que não temos como diminuir a marcha do sistema para o Caos.

É por isso que você não pode ganhar mais do que está investindo em algo, nem pode esperar o mesmo retorno. É questão de saber observar em qual sistema está aplicando sua energia e observar os resultados.

Suponha que você tem um carro com tanque de 10 litros com um motor que faz 10 litros por quilómetro. Pode ter certeza que se o litro da gasolina estiver custando 2 reais você pode encher o tanque, gastando R$20,00 reais, mas não vai andar 100 quilómetros; a gasolina sempre acabará antes do seu odômetro marcar essa milhagem. E com certeza você não fará seu carro andar 150 quilómetros com um tanque cheio, a não ser que o empurre ou apenas percorra caminhos formados de descidas e fique com o motor desligado, mas neste caso você compensará a energia gasolina acrescentando a energia das suas costas ou a da força da gravidade.

Qual você acredita ser a função de gerentes e diretores em uma empresa? Apenas encher o saco dos funcionários? Servir de modelo do que pode acontecer a todos caso se esforcem? Ou simplesmente focar a energia dos funcionários no objetivo da empresa de forma que a perda seja mínima, as dispersões não ocorram e o processo continue sempre, avaliando quando uma das baterias, ou se preferir funcionários, deve ser trocada por uma nova? “Precisamos de sangue novo na empresa!”

As 4 regras da termodinâmica não apenas nos mostram quanta lenha uma locomotiva precisa para puxar um trem inteiro mas também qual a validade do seu relacionamento amoroso (por que a paixão esfria?), o quanto um funcionário pode receber de aumento (qual o mínimo de “combustível” que eu tenho que acrescentar em uma “peça” da “máquina” para que ela produza mais energia e maximize o processo?), quando um pais irá quebrar (quem nunca ouviu falar do lugar mágico conhecido como Europa?), ou mesmo quando uma crise vai varrer uma nação (e todo mundo acha que quanto mais casas se constróem, melhor economicamente está um pais). E isto é apenas o começo já que as mesmas leis que ditam como os sistemas que criamos e os relacionamentos que vivemos funcionarão, não importa o quanto tentemos tomar as rédeas de nossa vida, são as mesmas que ditam como nosso cérebro reage a esse sistema – o universo a vida e tudo mais.

Para se envolver mais com o abraço entrópico da Garota com o sol nos olhos, leia este artigo.

Para aprender mais sobre suas correntes, continue lendo.


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