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Sar Naquista
“Mas, amados, não ignoreis uma coisa, que um dia para o Senhor é como mil anos, e mil anos como um dia.”
– II Pedro 3,8
As Sagradas Escrituras ao nos contar a história da Criação, narra que Deus criou o mundo em seis dias. Na Tradição Martinista, como vimos neste artigo estas e outras narrativas possuem um profundo significado simbólico e o mito da criação não é exceção.
Se tomado em seu sentido literal os capítulos iniciais da Sagrada Escritura são até mesmo contraditórios, pois apenas no quarto Dia deus cria o sol e a Lua com seus ciclos periódicos que chamamos de dia e noite. Imaginar que um iniciado do porte de Moisés não tenha considerado isso é fazer pouco caso dos mestres do passado.
Realmente se pararmos para pensar, a passagem de dias e o próprio transcorrer do tempo não podem limitar o Pensamento, Vontade e Ação de Deus tal como faz para nós. Basta querer que algo seja e este algo é, qualquer intervalo de tempo ao falar do Mundo Divino é portanto é uma alegoria. Cabe a aqueles que trilham a senda da iniciação – o Homem de Desejo – contemplar estes mistérios.
Conforme ensina a Tradição Martinista cada “Dia da Criação” representa um dos Seis Pensamentos Divinos. Estes seis pensamentos, ensina Pasqually podem ser entendidos pela adição das três faculdades divinas que já vimos antes no artigo (As três Potências Martinistas):
1 – PENSAMENTO: O Pensamento de Deus, que é Uno e Indivisível como ele.
2 – VONTADE: sem a qual o Pensamento se anularia e nada produziria
3 – AÇÃO: sem a qual Pensamento e Vontade também se anulariam e nada produziriam.
O resultado da soma dessas três faculdades formam o mistério do Senério, ou seja, as três Potências e suas combinações
P – Pensamento
V – Vontade
A – Ação
P,A – Pensamento e Ação
P,V – Pensamento e Vontade
V,A – Vontade e Ação
O Sinédrio é mais facilmente compreendido pela Adição Teosófica: dos três primeiros Dias ou três Faculdades Divinas
1 + 2 + 3 = 6
Este número representa os Seis Pensamentos Divinos, as leis que formam o mundo temporal e regem a relação entre Deus e a Criação e formam o Tempo e o Espaço.
Com relação ao simbolismo do Espaço, basta lembrar que os antigos dividiam o céu em 12 partes (6 para o dia e 6 para noite), cada uma dessas partes um ocupando 30° das longitudes celestiais que são facilmente reconhecidas hoje pelos signos do zodíaco (30*12=360º).
Com relação ao Tempo, temos não apenas a narrativa dos Seis Dias da Criação mas também os 60 minutos que compõem a hora e nos 60 segundos que compõem o minuto. Segundo os mestres do passado 6 remetia ainda a duração de seis mil anos da Criação Universal. Mas conforme ensina Martines de Pasqually essa duração também é simbólica:
“Lembra-te ainda que os seis mil anos que dei para a duração da Criação Universal são muito curtos para ti, e ainda mais curtos para o Eterno, visto que, para Ele, mil anos são como um dia. Mas eu repito, não considere esse dia como um tempo, nem como um desses dias passageiros aos quais o Criador não pode estar sujeito. Cada um desses dias ou destes mil anos devem ser considerados apenas como a duração da realização dos Seis Pensamentos Divinos. Quando o efeito ou a realização de cada um destes Pensamentos se cumprir, o Criador a retirara para Si com o mesmo desembaraço e facilidade que dedicou para a Criação de Sua obra.”
Em outras palavras o nosso mundo existe apenas porque é constantemente sustentado no pensamento divino. Para entender melhor essa dinâmica precisaremos retomar o assunto da Imensidade Supraceleste e o Eixo ‘Fogo Central Incriado’ do qual falamos no artigo O Bem, o Mal e de volta outra vez“.
No esquema acima os pontos de 1 a 4 compõem a Imensidade Supraceleste. Abaixo dela temos a Criação Universal, cuja altura chamamos Longitude e a largura Latitude. Ela está envolta por um círculo menor que representa o Eixo ‘Fogo Central Incriado.”
Todas as partes deste esquema devem ser alvo de profunda contemplação do estudante, pois todas cumprem um propósito elevado e agem em conjunto para cumprirem o propósito de Deus que é a Reintegração Universal, ou seja o retorno a sua comunhão divina.
Assim nos diz Martinez de Pasqually:
“Considera, portanto, o que ocasionou a prevaricação dos maus Espíritos; reflita sobre a Criação, reflita sobre tua emanação e aprenderas a conhecer a necessidade de toda coisa criada e a de todo ser emanado e emancipado; verá que todas essas coisas são ordenadas pelo Criador para serem e agirem em estreita relação”.
Imensidade Supraceleste e Criação Universal
A Imensidade Supraceleste é um mundo intermediário entre o Mundo Divino além de toda limitação e o Mundo Material confinado pelo espaço-tempo descrito simbolicamente na Gênese bíblica. De forma intermediária a Imensidade Supraceleste reside em uma vasta imensidade que entretanto não é infinita como a Imensidade Divina. A Imensidade Supraceleste cumpre a função, entre outras coisas, de ser uma fronteira intransponível aos Espíritos prevaricadores contidos na Criação Universal.
Estes Espíritos estão portanto restritos a Longitude e Latitude marcadas na imagem acima até que se reintegrem. Estão assim dentro de uma imensa região delimitada por uma barreira que chamamos “Eixo ‘Fogo Central Incriado” da qual também ouvidos falar no livro de Gêneses quando lemos:
“E estabeleceu seus querubins e uma espada flamejante que se movia em todas as direções, evitando assim que alguém tivesse acesso à árvore da vida.”
– Gênese 3,24
Chamamos o fogo desta barreira de “Incriado” porque na verdade ele não faz parte da criação, mas foi emanada. Os “Espíritos menores ternários” que ao prevaricarem foram emancipados para formar esta barreira quando passaram a ser chamados “Espíritos inferiores ternários”.
Além de servir como barreira os Espíritos do Eixo ‘Fogo Central incriado’ tem a incumbência de criar a matéria que compõe todos os mundos inferiores. Mas note que, sendo seres de seres de Ação e não dotados nem de Pensamento nem de Vontade estes Espíritos inferiores ternários só podem usar sua capacidade criadora sob as ordens de Deus. Foi, portanto, sob o comando direto da ‘imaginação pensante” de Deus que eles realizaram a Criação.
Para cumprir estes designíos, os Espíritos inferiores ternários utilizaram uma capacidade especifica de sua natureza que lhes permite emanar de si mesmos as três “Essências Imateriais”. Essas Essências Imateriais que seguindo a tradição alquímica chamamos essas Essências Imateriais de Enxofre, Mercúrio e Sal são o que sustentam todos os corpos materiais.
Isso significa que sem ação ininterrupta desses Espíritos a matéria não poderia continuar existindo. Assim se entende porque a tradição esotérica diz que toda criação material é uma ilusão. A matéria só existe temporariamente enquanto esse fogo emanar suas essências e só faz isso segundo o pensamento e vontade de Deus que é a reconciliação. Quando todos os Espíritos forem reconciliados o mundo material não precisará mais existir.
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