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Martinismo

Os Iluminados, Swedenborg, Martinez e Willermos

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Papus

OS ILUMINADOS CRISTÃOS

A ROSA-CRUZ

É impossível compreender a essência do Martinismo de todas as épocas, se antes não estabelecermos a diferença fundamental existente entre uma Sociedade de Iluminados e a Maçonaria. Uma Sociedade de Iluminados liga-se ao Invisível por um ou por vários de seus chefes. Seu princípio de existência tem sua origem em um plano supra-humano; toda sua organização administrativa se faz de cima para baixo. Os membros da fraternidade obedecem a seus chefes, obrigação que se torna ainda mais importante à medida que os membros entram no círculo interior.

A Maçonaria não está ligada ao Invisível por nenhum vínculo. Seu princípio de existência tem sua origem em seus membros e em nada mais. Toda sua organização administrativa se faz de baixo para cima, com seleções sucessivas por eleição.

Infere-se disso que esta última forma de fraternidade nada pode produzir para fortificar sua existência a não ser cartas constitutivas e papéis administrativos, comuns a toda sociedade profana; enquanto as Ordens de Iluminados baseiam-se, sempre, no Princípio do Invisível que as dirige.

A vida privada, as obras públicas e o caráter dos chefes da maioria das fraternidades de Iluminados demonstram que esse Princípio Invisível pertence ao plano Divino, sem relação alguma com Satã ou com outros demônios, como insinuam os clérigos, assustados com o progresso dessas sociedades.

A Fraternidade de Iluminados mais conhecida, anterior a Swedenborg, a única da qual se pode falar no mundo profano, é a dos Irmãos Iluminados da Rosa-Cruz, cuja constituição e chave serão dadas dentro de alguns anos. Foram os membros dessa fraternidade que decidiram criar sociedades simbólicas, encarregadas de conservar os rudimentos da Iniciação Hermética, dando nascimento aos diversos ritos da Franco-Maçonaria. Não se pode estabelecer nenhuma confusão entre o Iluminismo, centro superior de estudos Herméticos, com a Maçonaria, centro inferior de conservação, reservado aos debutantes. Somente entrando nas Fraternidades de Iluminados, podem os Franco-Maçons obter o conhecimento prático desta Luz, quando então sobem de grau em grau.

SWEDENBORG

Através dos esforços constantes dos Irmãos Iluminados da Rosa-Cruz, o Invisível concedeu um impulso considerável à Humanidade, através da iluminação de Swedenborg, o célebre sábio sueco.

A missão de realização de Swedenborg consistiu basicamente na constituição de uma cavalaria laica do Cristo, encarregada de defender a idéia cristã, dentro de sua pureza primitiva, e de atenuar, no Invisível, os deploráveis efeitos das corrupções, das especulações de fortuna e de todos os processos caros ao “Príncipe deste Mundo”, realizados pelos Jesuítas, sob as cores do Cristianismo.

Swedenborg dividiu sua obra de realização em três seções:

– Seção de ensinamento, constituída por seus livros e pelo relato de suas visões;

– Seção religiosa, constituída pela aplicação ritualística de seus ensinamentos;

– Seção encarregada da tradição simbólica e da prática, constituída pelos graus iniciáticos do Rito Swedenborgeano.

Esta última seção nos interessa mais particularmente no momento. Ela foi dividida em três seções secundárias: a primeira era elementar e maçônica; a segunda preparava o recipiendário para o Iluminismo; a terceira era ativa.

A primeira seção compreendia os graus de Aprendiz, Companheiro, Mestre e Mestre Eleito; na segunda tínhamos os graus de Aprendiz Cohen (ou Mestre Eleito Iluminado), Companheiro Cohen e Mestre Cohen; na terceira, os graus de Mestre Cohen (destinado à realização elementar, ou Aprendiz Rosa-Cruz), Cavaleiro Rosa-Cruz Comendador, Rosa-Cruz Iluminado ou Kadosh (Mestre Grande Arquiteto).

Observa-se que os escritores maçônicos, entre outros, Ragon, não tiveram sobre o Iluminismo senão informações de segunda mão e não puderam fornecer os dados que hoje apresentamos, nem ver a chave da passagem de uma seção à outra, pelo desdobramento do grau superior de cada seção.

Observa-se, além disso, que o único verdadeiro criador dos altos graus foi Swedenborg, que esses graus ligam-se exclusivamente ao Iluminismo e foram diretamente hierarquizados e constituídos por Seres Invisíveis. Mais tarde, falsos maçons procuraram apropriar-se dos graus do Iluminismo e não conseguiram senão expor sua ignorância.

Com efeito, posse do grau de Irmão Iluminado da Rosa-Cruz não consiste na propriedade de um pergaminho ou de uma faixa sobre o peito; prova-se somente pela aquisição de poderes espirituais ativos, que o pergaminho e a faixa apenas podem indicar.

Ora, entre os iniciados de Swedenborg, houve um a quem o Invisível prestou assistência particular e incessante, um homem dotado de grandes faculdades de realização em todos os planos. Esse homem, Martinez de Pasqually, recebeu a iniciação do Mestre em Londres, sendo encarregado de difundi-la na França.

OS ILUMINADOS

O MARTINESISMO

Foi graças às cartas de Martinez de Pasqually que pudemos fixar a ortografia exata de seu nome, estropiado até então pelos críticos (1); foi ainda graças aos arquivos que possuímos e ao apoio constante do Invisível, que logramos demonstrar que Martinez não teve jamais a idéia de transportar a Maçonaria aos “princípios essenciais”, que sempre desprezou, como bom Iluminado que foi. Martinez passou metade de sua vida combatendo os nefastos efeitos da propaganda sem fé desses pedantes de lojas, desses pseudo-veneráveis que, abandonando o caminho a eles fixado pelos Superiores Incógnitos, quiseram tornar-se pólos no Universo e substituir a ação do Cristo pelas suas e os conselhos do Invisível pelos resultados dos escrutínios emanados da multidão.

Em que consistia o Martinesismo? Na aquisição pela pureza corporal, anímica e espiritual, dos poderes que permitem ao homem entrar em relação com os Seres Invisíveis, denominados anjos pela Igreja, chegando não somente a sua reintegração pessoal, mas também à reintegração de todos os discípulos de vontade.

Martinez fazia vir à sala de reuniões todos os que lhe pediam a luz. Traçava os círculos ritualísticos, escrevia as palavras sagradas, recitava suas orações com humildade e fervor, agindo sempre em nome do Cristo, como testemunharam todos aqueles que assistiram às suas operações, como testemunham ainda todos os seus escritos. Então, os seres invisíveis apareciam, resplandecentes de luz. Agiam e falavam, ministravam ensinamentos elevados e instigavam à oração e ao recolhimento; tudo isso ocorria sem médiuns adormecidos, sem êxtase, sem alucinações doentias.

Quando a operação terminava, os Seres Invisíveis tendo sido embora, Martinez dava as seus discípulos os modo de chegarem por si mesmos à produção dos mesmos resultados. Somente quando os discípulos obtinham sozinhos a assistência real do Invisível é que Martinez lhes outorgava o grau de Rosa-Cruz, como mostram suas cartas, com evidência.

A iniciação de Willermoz, que durou mais de dez anos, a de Louis Claude de Saint-Martin e da de outros, mostram-nos que o Martinesismo foi consagrado a outros objetivos, além da prática da Maçonaria Simbólica. Basta não ser admitido no pórtico de um centro real de Iluminismo, para confundir os discursos dos veneráveis com os trabalhos ativos dos Rosa-Cruzes Martinistas.

Martinez quis inovar tão pouco que conservou integralmente os nomes dados aos graus pelos Invisíveis e transmitidos por Swedenborg. Seria justo, então, utilizarmos a denominação de Swedenborgismo adaptado em vez do Martinesismo (2).

Martinez considerava a Franco-Maçonaria uma escola de instrução elementar e inferior, como prova se “Mestre Cohen” que diz: “Fui recebido Mestre Cohen, passando do triângulo aos círculos”. Isto quer dizer, traduzindo os símbolos: “Fui recebido Mestre Iluminado, passando da Franco-Maçonaria à prática do Iluminismo”. Pergunta-se igualmente ao Aprendiz Cohen: “Quais são as diferentes palavras, sinais e toques convencionais dos Eleitos Maçons Apócrifos?” E ele responde: “Para o Aprendiz, Jakin, a palavra de passe é Tubalcain; para o Companheiro, Booz, a palavra é Schiboleth; para o Mestre, Macbenac, a palavra é Giblin.”

Era necessário possuir pelo menos sete dos graus da Maçonaria ordinária para tornar-se Cohen. A leitura mesmo superficial dos catecismos é clara a esse respeito. Martinez procurava desenvolver cada um dos membros de sua ordem pelo trabalho pessoal, deixando-lhes toda a liberdade e toda a responsabilidade por seus atos. Ele selecionava com o maior cuidado seus iniciados, conferindo os graus somente a uma real aristocracia da inteligência.

Os iniciados, uma vez recrutados, reuniam-se para trabalhar em conjunto; essas reuniões eram feitas em épocas astrológicas determinadas. Assim se constituiu uma cavalaria de Cristo, cavalaria laica, tolerante e que se afastava das práticas habituais dos diversos cleros.

Procurava individual da reintegração pelo Cristo, trabalho em grupo, união de esforços espirituais para ajudar os principiantes: tal foi, em resumo, o papel do Martinesismo. Essa Ordem recrutava seus discípulos diretamente junto aos profanos, como foi o caso de Saint-Martin, ou, mais habitualmente, entre os homens já titulares de altos graus maçônicos.

Em 1574, Martinez encontrava-se em presença: 1º da Franco-Maçonaria oriunda da Inglaterra, constituindo a Grande Loja Inglesa da França (após 1743), que deveria, em breve, tornar-se a Grande Loja da França (1756), dando lugar às intrigas do mestre de dança Lacorne. Essa maçonaria era absolutamente elementar e constituída apenas dos três graus azuis (Aprendiz, Companheiro e Mestre); era sem pretensões e formava um excelente centro de seleção.

2º – Paralelamente a essa Loja Inglesa, existia sob o nome de Capítulo de Clermont um grupo praticando o sistema templário, que Ramsay acrescentou em 1728 à Maçonaria, com os graus designados “Escocês, Noviço, Cavaleiro do Templo”, etc. Uma curta explicação aqui é necessária: um dos representantes mais ativos da iniciação templária foi Fenelon. Em seus estudos sobre Cabala, entrou em relações com vários Cabalistas e Hermetistas. Após sua luta com Bosuet,(3) Fenelon foi forçado a fugir do mundo e a exilar-se quando preparou, com o maior cuidado, um plano de ação que deveria mais tarde proporcionar-lhe a revanche.

O cavaleiro de Ramsay foi cuidadosamente iniciado por Fenelon e encarregado de executar esse plano com o apoio dos Templários, que obteriam ao mesmo tempo sua vingança. O cavaleiro de Beneville estabeleceu em 1754 o Capítulo de Clermont, com seus graus templários. Ele perseguia um objetivo político e uma revolução sangrenta que Martinez não podia aprovar, como nenhum outro cavaleiro do Cristo aprovaria. Assim como Martinez, todos os discípulos de sua ordem entre os quais Saint-Martin e Willermoz, combateram energicamente esse rito templário, que alcançou parte de seus fins em 1789 e em 1793, quando mandou guilhotinar a maioria dos chefes Martinistas. Mas não nos antecipemos.

3º – Além dessas duas correntes, havia outros representantes do Iluminismo na França. Citemos, em primeiro lugar, Dom Pernety, tradutor da obra O Céu e o Inferno de Swedenborg, fundador do sistema dos Iluminados de Avignon (1766) e importante personagem na constituição dos Filaletes (1773). É necessário ligar ao mesmo centro a obra de Benedict de Chastenier, que lançou em Londres em 1767 as bases de seu rito Iluminados Teósofos, que brilhou particularmente a partir de 1783.

O Iluminismo criou vários grupos interligados por objetivos comuns e por Mestres Invisíveis oriundos da mesma fonte, que se reuniram posteriormente no plano físico. De Martinez de Pasqually vem a obra mais fecunda nesse sentido, pois foi a ele que o céu deu “poderes ativos”, lembrados por seus discípulos com admiração e respeito.

Do ponto de vista administrativo, o Martinesismo seguirá exatamente os graus de Swedenborg, como podemos constatar pela simples leitura da carta de Martinez de 16 de junho de 1760. Com efeito, o grau de Mestre Grande Arquiteto resume os três graus da terceira seção.

Sob a autoridade de um Tribunal Soberano constituíram-se Lojas e Grupos no interior da França, cujo nascimento e evolução poderemos constatar pela leitura das cartas de Martinez, por nós publicadas.

O WILLERMOSISMO

Dos discípulos de Pasqually, dois merecem particularmente nossa atenção pelas obras que realizaram: Jean Baptiste Willermoz, de Lyon, e Louis Claude de Saint-Martin. Inicialmente iremos nos ocupar do primeiro. Willermoz, negociante Lionês, era maçom quando começou sua correspondência iniciática com Martinez de Pasqually. Habituado à hierarquia maçônica, aos grupos e às Lojas, concentrou sua obra de realização no sentido do trabalho em grupo. Tendeu, pois, a constituir Lojas de Iluminados; enquanto Saint-Martin dirigiu seus esforços para o trabalho individual.

A obra capital de Willermoz foi a organização de congressos maçônicos, os Conventos, permitindo aos Martinistas desmascarar previamente a obra fatal dos Templários e apresentar o Martinismo sob seu real aspecto de universalismo integral e imparcial da Ciência Hermética.

Quando foi iniciado por Martinez, Willermoz era venerável da loja A Perfeita Amizade de Lyon, cargo que ocupou entre 1752 e 1763. Essa loja filiava-se à Grande Loja da França. Em 1760, uma primeira seleção foi realizada e todos os membros portadores do grau de Mestre constituíram uma grande Loja de Mestres de Lyon tendo Willermoz como Grão-Mestre. Em 1765, nova seleção foi realizada através da criação do Capítulo de Cavaleiros da Águia Negra, colocados sob a direção do Dr. Jacques Willermoz, irmão mais moço de Jean-Baptiste. Ao mesmo tempo, este abandonou a presidência da Loja ordinária e da loja de Mestres, em favor do Ir\ Sellonf, para colocar-se na chefia da Loja dos Elus Cohens, formada com os melhores elementos do Capítulo. Sellonf, Jacques Willermoz e Jean Baptiste formaram um Conselho Secreto, tendo os irmãos de Lyon sob tutela.

Abordemos agora a natureza dos trabalhos realizados na Loja dos Cohens, falando mais tarde dos conventos realizados.

Constata-se nos documentos depositados no Supremo Conselho da Ordem Martinista, vindos diretamente de Willermoz, que as reuniões, reservadas aos membros portadores do título de Iluminado, eram consagradas à oração coletiva e às operações, permitindo a comunicação direta com o Invisível. Possuímos todos os detalhes relativos à maneira de fazer essa comunicação; mas esses rituais devem ficar reservados exclusivamente ao Comitê Diretor do Supremo Conselho. Podemos revelar, contudo, lançando grandes luzes sobre muitos pontos, que os iniciados davam o nome de Filósofo Desconhecido ao ser invisível com o qual se comunicavam. Foi ele quem ditou, em parte, o livro Dos Erros e da Verdade de Saint-Martin, que somente adotou esse pseudônimo mais tarde, por ordem superior. Provamos essa afirmação em nosso volume consagrado a Saint-Martin.

A mais alta espiritualidade, a mais intensa submissão às vontades do Céu, as mais ardentes orações a Nosso Senhor Jesus Cristo jamais deixaram de preceder, de acompanhar e de encerrar as reuniões presididas por Willermoz (4). Apesar disso, se os clérigos ainda desejam ver um diabo peludo e cornudo em toda influência invisível e se estão dispostos a confundir tudo o que for supra-terrestre com influências inferiores, só poderemos lamentar uma posição desse tipo, que possibilita toda espécie de mistificação e de zombaria. O Willermosismo, assim como o Martinesismo e o Martinismo, sempre foi cristão e jamais clerical. Ele dá a César o que é de César e ao Cristo o que é de Cristo; jamais vende o Cristo a César.

O Agente ou Filósofo Desconhecido ditou 166 cadernos de instrução, possibilitando a Saint-Martin copiar os principais. Dentre esses manuscritos, cerca de 80 foram destruídos nos primeiros meses de 1790 pelo próprio Agente, para evitar que caíssem em mãos de enviados de Robespierre, que se esforçou para obtê-los.

OS CONVENTOS

Em 12 de agosto de 1778, Willermoz anunciou o Convento de Gaules, realizado em Lyon entre 25 e 27 de dezembro do mesmo ano. Esse convento tinha como objetivo apurar o sistema escocês e destruir todos os maus germens introduzidos no sistema pelos Templários. Sob a influência dos Iluminados de todo o País, saiu dessa reunião a primeira condenação do plano de vingança sangrenta, preparado em silêncio dentro de certas lojas. O resultado dos trabalhos desse convento está contido no Novo Código das Lojas Retificadas da França, mantido em nossos arquivos e publicado em 1779.

Para se compreender o grande esforço realizado no sentido da união dos maçons, é necessário lembrar que o mundo maçônico estava em plena anarquia.

O Grande Oriente da França fora fundado em 1772 graças à usurpação da Grande Loja por Lacorne e seus seguidores, dirigidos ocultamente pelos Templários. Estes, após terem estabelecido o Capítulo de Clermont, foram transformados em 1760 em Conselho dos Imperadores do Oriente e do Ocidente; em 1762, em Cavaleiros do Oriente, entrando, finalmente, no Grande Oriente através de Lacorne.

Graças à sua influência, o sistema de lojas foi profundamente modificado; em todos os lugares o regime parlamentar, realizando eleições de seus oficiais, substituiu a antiga unidade e autoridade hierárquica. Com a desordem causada em todas as partes por essa revolução, os Martinistas intervieram para trazer a todos a reconciliação. Eis a razão desse primeiro convento de 1778 e de seus esforços para impedir as dilapidações financeiras que se faziam em toda a parte.

Encorajado por esse primeiro sucesso, Willermoz convocou, a partir do dia 9 de setembro de 1780, “todas as grandes lojas escocesas da Europa ao Convento de Wilhemsbad, perto de Hanau” (5). O Convento de Wilhemsbad foi aberto em uma terça-feira, no dia 16 de julho de 1782, sob a presidência de Ferdinand de Brunswick, um dos chefes do Iluminismo Internacional. Desse convento saiu a Ordem dos Cavaleiros Benfeitores da Cidade Santa de Jerusalém e uma nova condenação do sistema Templário.

Como se observa, o Willermosismo tendeu sempre ao agrupamento de fraternidades iniciáticas, à constituição de coletividades de iniciados dirigidas por centros ativos religados ao Iluminismo. Não tem razão quem pensa que Willermoz tenha abandonado as idéias de seus mestres; pensar isso é conhecer mal seu caráter elevado. Sempre até a morte, quis estabelecer a Maçonaria sobre bases sólidas, dando como objetivo a seus membros a prática da virtude e da caridade; mas sempre procurou fazer das lojas e dos capítulos centros de seleção para os grupos de Iluminados. A primeira parte de sua obra era clara, a segunda oculta; é por isso que as pessoas mal informadas podem não ver Willermoz sob sua verdadeira personalidade.

Após a tormenta revolucionária, tendo seu irmão Jacques Willermoz sido guilhotinado, com todos os seus iniciados, havendo ele próprio escapado por milagre da mesma sorte, foi ainda ele quem reconstituiu na França a Franco-Maçonaria espiritualista, graças aos rituais que pôde salvar do desastre. Tal foi a obra deste Martinista, a quem consagraremos um volume, tão logo quanto possível, se Deus o permitir.

notas

1 – PAPUS. MARTINEZ DE PASQUALLY. Paris, 1895, in-18.

2 – “É dito nos mistérios do rito de Swedenborg que o homem, uma vez reintegrado por uma vida santa e exemplar em sua dignidade primitiva, uma vez tendo recuperado seus direitos primitivos, através de trabalhos úteis, aproxima-se então de seu Criador, conhecendo uma via nova, especulativa, animada pelo sopro Divino: ele é iniciado Elu Cohen: nas instruções que recebe, aprende as Ciências Ocultas em todas suas partes, que lhe fazem conhecer os segredos da Natureza, a alta Química, a Ontologia e a Astronomia. “(REVHELLINE, 2º vol.,p. 434, citado por RAGON, Orthodoxie Maçonnique.)

3 – Bispo francês (1627-1704), orador de grande reputação. Preceptor do príncipe herdeiro sob Luis XVI. Combateu os protestantes e condenou o Quietismo de Fenelon. Este, arcebispo de Cambraia (1651-1715), por suas críticas ao rei da França, foi obrigado a submeter-se e a retirar-se em seu arcebispado. O Quietismo foi uma doutrina mística combatida pela Igreja. Apoiava-se nas obras do padre espanhol Molinos e ensinava que a perfeição cristã é obtida pelo amor de Deus e pela anulação da vontade individual (sic!).

4 – “Conheci muitos Martinistas, tanto em Lyon como em diferentes cidades das províncias meridionais. Longe de parecerem ligados às opiniões dos filósofos modernos, demonstravam desprezo por seus princípios. Sua imaginação, exaltada pela obscuridade dos escritos de seu patriarca, deixava-os expostos a todo gênero de credulidade. Embora muitos fossem distinguidos por talentos e conhecimentos, tinham o espírito amiúde ocupado com fantasmas e prodígios. Não se limitavam a seguir os preceitos da religião dominante; mas livravam-se às práticas de devoção em uso na classe menos instruída. Em geral, seus costumes eram bastante regulares. Constatava-se grande mudança de conduta naqueles que, antes de adotar as opiniões dos Martinistas, tinham vivido na dissipação e na procura dos prazeres”. (NEUNIER. Influência dos Iluminados na Revolução. Paris, 1822, In-8, p. 157).

5 – RAGON. Ortodoxia Maçônica, p. 162.

6 – Ficamos surpresos por ver o judicioso autor da História da Fundação do Grande Oriente da França ter o prazer de diminuir “O Escocismo” reformado de Saint-Martin, no qual só encontra superstições ridículas e crenças absurdas. Não ignoramos que a maior parte das cópias existentes desse rito estão bastante alteradas, podendo induzir ao erro o homem mais instruído, mas, assinalemos: 1º que grandes luzes e o talento de escrever asseguram a Saint-Martin um lugar distinguido entre os “Sectários particulares”; 2º que foi pelo menos uma empresa louvável, ultrapassando o círculo estreito desse labirinto e pelo orgulho; 3º que a filiação dos graus de Saint-Martin apresenta, aparentemente, um sistema bastante coerente, um conjunto que pode conduzir facilmente todo o iniciado na arte real. Finalmente, cada grau em particular supõe um conhecimento profundo da Bíblia, que ninguém possuía melhor do que ele próprio dos textos originais, conhecimento bastante raro entre os maçons. Poder-se-ia talvez apenas censurar-lhe de ser muito preso aos detalhes. (DE L’AULNAYE. Le Thuilleur Géneral).

7 – Veja Cartas à Caton Zwach, de 16.2.1781.

8 – Iremos nos servir, para essas citações, da correspondência entre Louis Claude de Saint-Martin e o Barão de Kirchberger.

9 – Saint-Martin refere-se a Jacob Boheme.

Fonte: “Martinésisme, Willermosisme, Martinisme et Franco-Maçonnerie”

 


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